A nova juventude brasileira é uma geração sem tabu. A turma não se curva às tradições e se sente mais à vontade para cutucar vespeiros.
A juventude é a janela de tempo compreendida entre a infância e a vida adulta, ou seja, dos 16 aos 24 anos – logo, a nossa nasceu no início deste século. Essa transição foi marcada de diferentes formas na história das civilizações, geralmente com ritos de passagem em que, de uma hora para outra, meninos e meninas assumiam responsabilidades que cabiam aos mais velhos.
E não se reconhecia (reconhece) fase tão marcante na existência dos indivíduos que essa dinâmica juventude. Ela se manteve praticamente inalterada até o século XX, quando ganhou uma característica bastante singular – uma turma de pouca idade precocemente constituindo famílias e estreando no mercado de trabalho. Ou seja, a invenção da juventude tal qual a conhecemos só veios a se sedimentar após a II Guerra Mundial, quando as primeiras vozes dessa faixa etária, massacrada no conflito, se elevaram e conquistaram espaço. A partir daí, transcorreu um período no qual rebeldia e transgressão formaram um caldeirão tão potente que eles, os jovens, assumiram de vez o leme das transformações sociais, culturais e políticas. E o mundo nunca mais foi o mesmo.
Um ponto essencial que caracteriza a nossa nova juventude é a determinação de deixar por terra vários tabus arraigados em outros estratos da população. No geral, eles têm a cabeça aberta, afeita à tolerância e à diversidade em seu sentido mais amplo, e são menos amarrados a convenções que tanto balizaram as últimas décadas, seja no trabalho, seja no campo das relações familiares e amorosas.
Vejamos algumas outras características da juventude do Brasil atual:
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Fica mantido o DESEJO DE CHACOALHAR VALORES preestabelecidos;
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Eles simplesmente encaram A VIDA COMO ELA É – e joga luz em
assuntos que fogem do figurino comum;
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Tem como lema FALAR É PRECISO, pois, enfrentando depressão e
ansiedade, costumam romper o silêncio que ainda ronda os males da mente;
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São ULTRACONECTADOS. Isto é, não da para compreender o jovem
moderno sem entender o seu entorno, bombardeado por uma quantidade de estímulos
muito maior do que as gerações anteriores;
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Tem VISÃO LIVRE NO CAMPO DA SEXUALIDADE. Superando em 4x a média
nacional, eles se declaram bissexuais ou pansexuais (aqueles que se veem
atraídos por gente de todos os gêneros e orientações sexuais). E se declaram,
pois para eles é libertador não se esconder – um legado da nova geração. Eis aí
o avanço civilizatório – eles relatam não terem sentido nem culpa nem
preconceito ao virem à luz do jeito que são.
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Não segue modelos rígidos de hierarquia e tem uma maneira
própria de encarar o sucesso, entrelaçada com a ideia de felicidade.
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Os laços matrimoniais também não são vistos como algo
determinante para essa turma, que, ao contrário de outras faixas, dá menos
importância ao tradicional enredo de casar e ter filhos – para muita gente, uma
linha quase que obrigatória;
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Eles também são mais incidentes em admitirem a possibilidade de
um relacionamento aberto do que o restante dos brasileiros (8% versus 2%);
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A grande revolução sexual que aconteceu nos anos 1960, com a
pílula, a contracultura, o feminismo e o movimento hippie trouxe hoje o
resultado de anos de luta que se aprofundou ao longo do tempo. Os jovens, que
naturalmente têm menos compromisso com filhos e família, podem e querem se
abrir a essas experiências. Ou seja, as gerações que os antecederam (a era dos hippies e os movimentos feministas),
evidentemente, deixaram bem plantada a semente da mudança, que germina agora
como nunca antes;
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É uma geração com uma maior abertura para se posicionar sobre
qualquer assunto e com menos preconceitos diante de todos os aspectos da vida.
Nos dias de hoje, o que pega mal para eles são os prejulgamentos (resta saber
se são leitores vorazes e maduros os suficientes para escolher e defender
posições acertadas sobre temas tão amplos e complexos, como a descriminalização
da maconha e a liberação do aborto). Aliás, motivo de tantos conflitos entre
pais e filhos, o uso de drogas é encarado com mais naturalidade pela geração Z –
1 de cada 5 indivíduos entre 16 e 24 anos se revela a favor da
descriminalização da maconha, índice acima da média nacional.
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As causas ambientais e
sociais costumam incendiar esta geração;
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Para eles, o ativismo se dá em boa medida nas redes, ambiente
onde o jovem se sente à vontade para fazer amigos e cancelar sem dó quem se
posiciona de maneira contrária a ele;
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O universo virtual é o preferido para tecer contatos de todo
gênero;
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O trabalho remoto prevalece sobre o presencial no gosto dessa
turma. Aliás, o futuro profissional é uma incógnita que paira sobre suas
cabeças e os angustia – “atualmente, há muito mais incertezas no horizonte de
quem está percorrendo a travessia para a vida adulta, pois o mercado de
trabalho não tem mais as mesmas garantias de antes”;
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A saída arquitetada pela maioria é se tornar dono do próprio
negócio. Costumam não ter a mesma satisfação pessoal em um emprego comum.
Desejam trabalhar de qualquer lugar do mundo (montar uma agência de
intercâmbios, por exemplo);
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São muito atraídos pelo AMOR SEM CULPA. Mesmo os que cresceram
às voltas de uma ideia inescapável de futuro – casar e ter filhos, a suposta
única forma de ter “uma família abençoada”, costumam mudar radicalmente a rota
(“hoje, tenho relacionamentos com diversos gêneros, exercendo o amor sem culpa”);
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PORÉM, viver imerso neste terreno de altas trepidações e
instabilidades tem suas consequências – e elas vêm sendo mensuradas. A
prevalência de ansiedade e depressão é maior entre a população que se aproxima
da vida adulta.
· Uma das grandes fontes de insegurança juvenil é com o próprio corpo. Porém, 51% dos jovens já procuraram ajuda de um profissional para cuidar da saúde mental ou cogitam fazê-lo. É preciso cutucar esse tema (o que não é problema para eles).
Enfim, se é bom combater a cultura de
não falar sobre certos assuntos espinhosos, falemos! E vamos falar de forma
democrática e construtiva, de modo a criar uma rede saudável de apoio. Afinal,
assim vai caminhando a jovem parcela da humanidade, cada vez mais disposta a
derrubar tabus.