Qual será o primeiro ponto da
pauta – 2023?
“Acabou o choro, mas não ficou tudo lindo” (Luiz Galvão).
A
elite brasileira deseja que Lula estabeleça como primeiro ponto de pauta da sua
agenda de governo as reformas (administrativa e tributária). Diz que o
crescimento econômico só será garantido se partir delas. Mas, não será mais o
Paulo Guedes que tocará a Economia do país. Assim, existem outras prioridades
mais urgentes. É possível atender às demandas sociais retirando investimentos
em outras direções. Porém, esse descompasso será o tom de dança do novo governo
Lula com o mercado financeiro.
Pauta de otimismo e preocupações para 2023:
· Erradicar a fome, o combate ao racismo e a violência (sobretudo contra a mulher);
“Nosso
compromisso mais urgente é acabar com a fome outra vez. Não podemos aceitar
como normal que milhões de homens, mulheres e crianças nesse país não tenham o
que comer ou que consuma menos proteínas e calorias que o necessário. Se somos
o 3º maior produtor mundial de alimentos e o 1º de proteína animal, e temos
tecnologia e uma imensidão de terras agricultáveis, se somos capazes de
exportar para o mundo inteiro, temos o dever de garantir que todo brasileiro
possa tomar café de manhã, almoçar e jantar todos os dias. Este será,
novamente, com compromisso número 1 do meu governo” (Lula, no 1º discurso após
a vitória).
·
Liderar
a reconciliação do país – a cordialidade precisa substituir a grosseria herdada
da pior campanha eleitoral de nossa democracia, que agravou a cisão social, a
desconfiança nas instituições e o medo nos cidadãos – deixando sociedade e
instituições estressadas;
·
Montar
a equipe de governo (nomes com alta credibilidade);
·
Encontrar
os pontos de convergência que possam nos unir mais enquanto classe
trabalhadora;
·
Saber
por que chegamos à máfia extremista liderada por Bolsonaro e que tipo de
antídoto social produziremos para evitar uma nova queda;
·
Fazer
uma profunda reflexão humana sobre o que fomos, somos e o que desejamos
ser, a fim de reunir nossas melhores qualidades (tolerância, paciência,
habilidade, imaginação, amor, respeito, etc.) e afastar nossos piores defeitos
(intolerância, ódio, violência, autoritarismo, obscurantismo, etc.), a fim de
reconstruir a trama delicada da normalidade democrática;
·
Conter
o aumento da relação dívida pública/PIB nos próximos anos (para a taxa de juros
voltar a patamares razoáveis);
·
Combater
os jogos de corrupção e a fome voraz do mercado financeiro por privatização dos
bens estatais públicos;
·
Formar
um mutirão pelo ensino, resgatando com força a educação, a cultura e a ciência;
·
Retomar
o foco político nos programas sociais (reaproximar os políticos das pessoas
comuns);
·
Bolsonaro
foi derrotado, bolsonarismo, não (foram 58,2 milhões de votos no JB ou 48,91%), apenas 2 milhões a menos que Lula (60,2 milhões ou 50,89%);
·
Lidar
com um cenário global em risco de recessão, ao passo que enfrentar a “herança
maldita” deixada por Bolsonaro (inflação renitente, baixo crescimento,
desemprego, juros altos, bomba fiscal, fome e miséria);
·
Fortalecer
a Democracia e as instituições, com tudo o que tivermos (a retomada de conselhos e conferências
setoriais, movimentos sociais de
base e todas as medidas de participação da sociedade civil). É preciso superar o colapso do diálogo político no país e dar
protagonismo para a democracia que é, antes de tudo, um sistema de legitimação
da pluralidade de ideias (com limites à “opinião idiota”, claro!);
·
Restaurar
a plena vida democrática nacional na esfera das instituições e, também, na das
relações sociais e interpessoais. Afinal, o bolsonarismo segue entre nós e
forma uma nuvem escura sobre a democracia brasileira;
·
Enfrentar
o desafio de retomar o Orçamento;
·
Encarar
uma realidade nacional muito diferente de 20 anos atrás;
·
Retomar
o protagonismo do Brasil na luta contra a mudança climática;
·
Combate
do desmatamento na Amazônia e proteção dos biomas;
·
Refazer
a imagem do país no exterior (voltar a dialogar com as grandes potências),
reintegrando à comunidade internacional que aposta no esforço humano para
sobreviver num planeta em crise;
·
Promover
cursos que ensinem os cidadãos a usar seus próprios filtros para resistir à
tentação das Fake News;
·
Distinguir
conservadores de reacionários num país de alto sincretismo religioso, e mostrar
aos religiosos de boa-fé que se equivocaram ao acreditar em líderes espúrios
como Jefferson e Bolsonaro;
·
Promover
o avanço tecnológico e superar o atraso do parque fabril e o baixo capital
humano. É preciso reduzir o atraso na educação, melhorar na segurança pública e
nas condições para empreender, a fim de não alimentar mais a saída de recursos
e de talentos;
·
Retomada
da política habitacional e urbana: proteger pessoas e famílias que vivem em
situação de rua com a retomada do programa Minha Casa Minha Vida. De volta o
foco no tema da habitação (e a casa engloba também a infraestrutura, os
serviços públicos, os equipamentos sociais, a mobilidade). Afinal, habitação é
cidade. Tem larga repercussão na economia, na política, na saúde, na educação,
na cultura e até no planeta (a cidade é o lugar da maioria da população
mundial, no nosso caso, de 85% dos brasileiros). Logo, tratar bem da cidade significa
cuidar do povo;
·
Trata-se,
portanto, de uma escolha política: tolerar ou não a extrema pobreza. Afinal, os
números mostram o crescimento dela. Em uma década, passamos de pouco mais de 6
mil favelas (2009) para quase 14 mil (2019). O Censo deste ano deverá revelar
um crescimento ainda maior dessas comunidades. Devemos refletir mais do que celebrar:
reflexão sobre o racismo e a exclusão social que marcam a história do país.
Sobre como as escolhas políticas dos últimos 100 anos fizeram com que a
sociedade brasileira aceitasse a naturalizasse a existência de territórios onde
a dignidade humana não está assegurada.As favelas são um polo de criatividade,
inovação, cultura e empreendedorismo que abriga mais de 17 milhões de pessoas. Favelas
são espaços de potência e oportunidade. Cabe à sociedade brasileiro criar
estratégias para livrar esses territórios da âncora da pobreza.
·
A
participação social na elaboração dos programas de governo, dando protagonismo
ao cidadão e à família nas escolhas de “como”,
“onde” e “em que condições”.
·
A
ideia de um revogaço das normas e decretos, infralegais, nas áreas do
armamentismo e do meio ambiente é excelente. Mas não é o suficiente. Já há um
exército civil armado no Brasil, com mais armas do que as polícias militares.
Eles já se aproveitaram de tudo o que permanecerá em vigor até o ano que vem. É
preciso desarmar o país!
·
Na
área de energia: continuar ou não subsidiando os combustíveis? Custa R$ 52
bilhões a isenção de impostos federais.
·
Na
expansão da energia será preciso resistir à tentação de construir grandes
hidrelétricas na Amazônia. Aliás, na área ambiental, o crime cresceu, se
fortaleceu, se armou e criou rede.
·
Semear
e plantar colheitas futuras.