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São Francisco do Conde, Bahia, Brazil
Professor, (psico)pedagogo, coordenador pedagógico escolar e Especialista em Educação.
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"Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber" (Art. 205 da Constituição de 1988).

Ø Se eu sou um especialista, então minha especialidade é saber como não ser um especialista ou em saber como acho que especialistas devem ser utilizados. :)



“[...] acho que todo conhecimento deveria estar em uma zona de livre comércio. Seu conhecimento, meu conhecimento, o conhecimento de todo o mundo deveria ser aproveitado. Acho que as pessoas que se recusam a usar o conhecimento de outras pessoas estão cometendo um grande erro. Os que se recusam a partilhar seu conhecimento com outras pessoas estão cometendo um erro ainda maior, porque nós necessitamos disso tudo. Não tenho nenhum problema acerca das ideias que obtive de outras pessoas. Se eu acho que são úteis, eu as vou movendo cuidadosamente e as adoto como minhas” ("O caminho se faz caminhando - conversas sobre educação e mudança social", Paulo Freire e Myles Horton: p. 219).

segunda-feira, 31 de outubro de 2022

O PT de volta ao Poder – desafios.

 Mais do que retomar a racionalidade no governo, é preciso também recompor as relações políticas, intersociais, familiares, todos os tecidos nos quais o bolsonarismo se infiltrou e nos quais provocou danos profundos, por ora difíceis de sanar.

·       É a 10ª eleição pós-redemocratização.

·       O PT foi vencedor de 05 disputas presidenciais desde 1989.

·       Elegeu 04 governadores e a 2ª maior bancada do Congresso.

·       O PT volta ao Poder após duas profundas crises nos últimos 6 anos: o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016; e a prisão de Lula, em abril de 2018, pela operação Lava-Jato, seis meses antes da derrota de Fernando Haddad para Bolsonaro. Solto em novembro do ano seguinte, o ex-presidente retornou de vez à cena política em março de 2021, quando o STF anulou suas condenações e sua pré-candidatura ao Planalto foi lançada pelo PT.

·       Será o terceiro mandato de Lula (que foi presidente entre 2003-2010).

·       Bolsonaro foi derrotado, bolsonarismo, não (foram 58,2 milhões de votos no JB ou 48,91%), apenas 2 milhões a menos que Lula (60,2 milhões ou 50,89%).

·       O petista assumirá um país bem diferente do que recebeu em 2002, com níveis de pobreza e de circulação de armas em alta, além da perspectiva de avanço da inflação em um cenário de desarranjo fiscal deixado por Bolsoanro.

·       A parcela de evangélicos na sociedade (30%) se mostrou com a mais resistente a Lula e à esquerda.

·       No Congresso, terá de lidar com uma ampla bancada de oposição encabeçada pelo PL, partido de Bolsonaro, que terá 99 deputados e 14 senadores.

·       1º discurso: unificar o país, o resultado reforçou divisões geográficas, combate à fome como prioridade, combate à desigualdade, a retomada de programa habitacional, o respeito à democracia, respeito ao STF, a retomada de conselhos e conferências setoriais, busca de governabilidade, política externa atenta à América Latina e África, reverter o isolamento internacional do Brasil no mundo, zerar o desmatamento (a alta do desmatamento nos 3 primeiros anos do atual governo chega a 73%), atenção à religião dos eleitores (evangélicos 30%)...

·       Lula vai governar num contexto novo para ele: enfrentará uma oposição aguerrida, organizada e sem problemas de consciência com a falta de escrúpulos (algo que o PSDB jamais conseguiu ser?);

·       Uma parte dos votos de lula não é da esperança que sua plataforma ou figura inspiraram, mas da aversão que parte do eleitorado tem a JB

·       Vai governar um país rachado, mais à direita.

·       Bozo continuará liderando quase metade do país em termos de votos. Seu partido, o PL, tem a maior bancada na Câmara. No Senado, elegeu 20 dos 27 senadores. Tem força nos canais tradicionais da política e também no arsenal de artilharia fincada nas redes sociais. Ali o bolsonarismo ainda é hegemônico. Tem ao seu lado as igrejas evangélicas. O capitão passa agora à posição de estilingue, podendo apontar os erros do adversário. Na vida real JB será o líder do exército de antipetistas.

·       Lula 3 enfrentará uma orgia fiscal que foi executada neste ano na desesperada tentativa de Bolsonaro reeleger-se. Logo, se quiser reduzir as taxas de juros e de inflação, será tentado a aplicar uma política fiscal rigorosa.

·       JB foi abatido, mas o que ele representa precisa ser derrotado – o bolsonarismo.

Hoje é dia de celebrar...

“Hoje é dia de celebrar. Porém, conscientes de que não nos espera um jardim florido, uma amanhã que canta... Pelo contrário, há muitas pedras no caminho” (Fernando Gabeira).

Celebrar em nome de quê?

Da opinião sensata, que diante de tantas “opiniões idiotas”, se serviu da suposta liberdade de expressão para opinar o caminho das trevas, da ignorância e do obscurantismo fúnebre.

Da floresta, dos povos originários, que seriam destruídos sem piedade com a sequência da política bolsonarista.

Da humanidade, que diante da possibilidade de proteção da Amazônia, respira um pouco mais aliviada tendo em vista a ameaça das mudanças climáticas.

Das crianças brasileiras, que terão a oportunidade de um mutirão pelo ensino, depois da tempestade perfeita: pandemia e uma sequência de incompetentes ministros da Educação.

Pela paz, uma vez que é possível reverter a política que inundou o país de armas e transformou a sala de jantar de bolsonaristas num arsenal de fuzis e granadas.

Pela cultura, que emergir desse clima de guerra criado por teóricos da extrema direita.

Pela ciência, que poderá florescer diante de negacionistas que se recusam a admitir a existência de um perigoso vírus ou mesmo a aceitar a forma real do planeta Terra.

Enfim, pelas relações humanas um pouco mais verdadeiras, pois temos a chance de substituir os falsos discursos sobre defesa da família pela reconciliação de primos, irmãos e amigos, sem que isso represente uma capitulação diante das preferências do outro. Vamos aceitar a diferença de uma vez por todas e despir-nos do clima de ódio. Vamos celebrar em nome do Amor!

Lula/Amor, Campeão!

“Não existem dois Brasis”.

Resgatamos nossa bandeira!

Foi a mais acirrada disputa pelo Planalto já ocorrida! Enfrentamos ódio, fascismo e o uso pesado da máquina do Estado a favor da barbárie. Não estava em jogo apenas uma vitória, mas a própria Democracia. Apesar de todos os obstáculos, alcançamos a chegada, vitoriosos (com o recorde de 60,3 milhões de votos ou 50,89% contra x 58,2 milhões de votos no JB ou 48,91%, apenas 2 milhões a mais) demos um basta ao autoritarismo tóxico e aos desmandos contumazes do fracassado JB (único presidente no mandato a não conseguir reeleição).

Lula se torna o primeiro político brasileiro a conquistar três mandatos nas urnas (democraticamente). Será o mais velho a assumir o cargo, em 1º de janeiro, aos 77 anos. Concluído seu 3º mandato, Lula terá ficado 12 anos no poder (período superado apenas pelo ditador Getúlio Vargas). A vitória foi fruto de um imenso movimento democrático que se formou acima dos partidos.

Lula deseja conversar com todos os setores da sociedade para construir consensos. Aliás, capacidade de diálogo e negociações é uma das suas principais qualidades. Logo, vai precisar jogar muito para reerguer o país dos escombros do bolsonarismo.

“A Constituição rege a nossa existência coletiva, e ninguém, absolutamente ninguém, está acima dela, ninguém tem o direito de ignorá-la ou afrontá-la” (Lula, em seu discurso da vitória).

A direita espera que Lula aja como líder de uma frente plural, não como ungido por uma facção. Espera-se que ele se aproxime mais do Centro com mais viés político e menos ideológico. Será uma disputa acirrada nos diagnósticos e nas definições de prioridades, no tocante à competência de execução das políticas públicas. Assim, a direita está cheia de perguntas: qual sua proposta para substituir o teto de gastos e se equilibrar nas contas públicas? Que fará a respeito da reforma trabalhista e das privatizações? Que tem a dizer sobre as reformas tributária e administrativa? Qual será o papel dos investimentos do Estado e dos bancos públicos? Enfim, o Congresso trocou seu poder legítimo, de legislar e fiscalizar o Executivo, pela prerrogativa ilegítima de desviar larga parcela dos recursos públicos por meio do “orçamento secreto”. Terá Lula a ousadia de mobilizar o capital eleitoral acumulado para formar uma maioria parlamentar disposta a derrubá-lo?

Mais recentemente, em nome de uma “democracia militante” ausente das leis brasileiras, confundiram o indispensável combate ao golpismo com o direito de censurar a opinião idiota. Lula terá a coragem de explicitar os limites entre justiça e política, tanto pelo uso da palavra presidencial quanto por suas indicações ao STF e à PGR? E essa facção de altos oficiais militares da reserva que instilou a política no interior dos quartéis? São centenas de postos na administração direta e estatais em que se empregou militares. A “anarquia militar” voltou a rondar o Brasil. Terá Lula o desassombro de reverter inteiramente esse curso de militarização da vida pública, começando a tarefa pela nomeação de um civil para a Defesa e concluindo-a pelo patrocínio de legislação que vete a atividade política a militares da reserva remunerada?

Em termos monetários, será preciso um esforço fiscal na casa de R$ 240 bilhões, sem contar as despesas represadas, como reajuste do funcionalismo, as medidas eleitoreiras de difícil reversão ou as promessas de campanha que representam despesas extras acima de R$ 100 bilhões.


Essa direita traça dois perfis de Lula:

1º) O social-democrata (da 1ª metade do 1º mandato): defendeu um ajuste fiscal de longo prazo capaz de reduzir a dívida pública, aumentou o superávit primário, promoveu reformas para melhorar o ambiente de negócios, aperfeiçoou instrumentos de crédito e reduziu restrições à concorrência no setor privado.

2º) o nacional-desenvolvimentista (que veio em seguida): apoiou o aumento dos gastos, a distribuição de benefícios aos aliados do governo, setores e empresas escolhidos a dedos em troca de apoio ao projeto de governo e que se expôs a golpes como o da Lava-Jato e muitas acusações infundadas de corrupção.

 

Assim, resumiria a direita: “Lula está lá não apenas por ser Lula, mas sobretudo por não ser Bolsonaro”. Dele espera um líder da coalizão plural pela democracia que o devolveu ao poder. Não creio que a gigantesca tarefa de recolocar o Brasil no rumo dependa apenas de um novo presidente, mas não seria possível fazê-lo sem ele. O processo de redemocratização que nos trouxe do exílio vive uma nova chance. Agarremo-la com força!

Enfim, o triunfo de Lula representa o êxito da Democracia, ameaçada nos últimos quatro anos pelo bolsonarismo. A história do nosso novo presidente é repleta de reveses e superação ao longo de toda a sua vida. Estamos em boas mãos!

Pauta – 2023.

Qual será o primeiro ponto da pauta – 2023?

“Acabou o choro, mas não ficou tudo lindo” (Luiz Galvão).

A elite brasileira deseja que Lula estabeleça como primeiro ponto de pauta da sua agenda de governo as reformas (administrativa e tributária). Diz que o crescimento econômico só será garantido se partir delas. Mas, não será mais o Paulo Guedes que tocará a Economia do país. Assim, existem outras prioridades mais urgentes. É possível atender às demandas sociais retirando investimentos em outras direções. Porém, esse descompasso será o tom de dança do novo governo Lula com o mercado financeiro.

 Pauta de otimismo e preocupações para 2023:

·       Erradicar a fome, o combate ao racismo e a violência (sobretudo contra a mulher);

“Nosso compromisso mais urgente é acabar com a fome outra vez. Não podemos aceitar como normal que milhões de homens, mulheres e crianças nesse país não tenham o que comer ou que consuma menos proteínas e calorias que o necessário. Se somos o 3º maior produtor mundial de alimentos e o 1º de proteína animal, e temos tecnologia e uma imensidão de terras agricultáveis, se somos capazes de exportar para o mundo inteiro, temos o dever de garantir que todo brasileiro possa tomar café de manhã, almoçar e jantar todos os dias. Este será, novamente, com compromisso número 1 do meu governo” (Lula, no 1º discurso após a vitória).  

·       Liderar a reconciliação do país – a cordialidade precisa substituir a grosseria herdada da pior campanha eleitoral de nossa democracia, que agravou a cisão social, a desconfiança nas instituições e o medo nos cidadãos – deixando sociedade e instituições estressadas;

·       Montar a equipe de governo (nomes com alta credibilidade);

·       Encontrar os pontos de convergência que possam nos unir mais enquanto classe trabalhadora;

·       Saber por que chegamos à máfia extremista liderada por Bolsonaro e que tipo de antídoto social produziremos para evitar uma nova queda;

·       Fazer uma profunda reflexão humana sobre o que fomos, somos e o que desejamos ser, a fim de reunir nossas melhores qualidades (tolerância, paciência, habilidade, imaginação, amor, respeito, etc.) e afastar nossos piores defeitos (intolerância, ódio, violência, autoritarismo, obscurantismo, etc.), a fim de reconstruir a trama delicada da normalidade democrática;

·       Conter o aumento da relação dívida pública/PIB nos próximos anos (para a taxa de juros voltar a patamares razoáveis);

·       Combater os jogos de corrupção e a fome voraz do mercado financeiro por privatização dos bens estatais públicos;

·       Formar um mutirão pelo ensino, resgatando com força a educação, a cultura e a ciência;

·       Retomar o foco político nos programas sociais (reaproximar os políticos das pessoas comuns);

·       Bolsonaro foi derrotado, bolsonarismo, não (foram 58,2 milhões de votos no JB ou 48,91%), apenas 2 milhões a menos que Lula (60,2 milhões ou 50,89%);

·       Lidar com um cenário global em risco de recessão, ao passo que enfrentar a “herança maldita” deixada por Bolsonaro (inflação renitente, baixo crescimento, desemprego, juros altos, bomba fiscal, fome e miséria);

·       Fortalecer a Democracia e as instituições, com tudo o que tivermos (a retomada de conselhos e conferências setoriais, movimentos sociais de base e todas as medidas de participação da sociedade civil). É preciso superar o colapso do diálogo político no país e dar protagonismo para a democracia que é, antes de tudo, um sistema de legitimação da pluralidade de ideias (com limites à “opinião idiota”, claro!);

·       Restaurar a plena vida democrática nacional na esfera das instituições e, também, na das relações sociais e interpessoais. Afinal, o bolsonarismo segue entre nós e forma uma nuvem escura sobre a democracia brasileira;

·       Enfrentar o desafio de retomar o Orçamento;

·       Encarar uma realidade nacional muito diferente de 20 anos atrás;

·       Retomar o protagonismo do Brasil na luta contra a mudança climática;

·       Combate do desmatamento na Amazônia e proteção dos biomas;

·       Refazer a imagem do país no exterior (voltar a dialogar com as grandes potências), reintegrando à comunidade internacional que aposta no esforço humano para sobreviver num planeta em crise;

·       Promover cursos que ensinem os cidadãos a usar seus próprios filtros para resistir à tentação das Fake News;

·       Distinguir conservadores de reacionários num país de alto sincretismo religioso, e mostrar aos religiosos de boa-fé que se equivocaram ao acreditar em líderes espúrios como Jefferson e Bolsonaro;

·       Promover o avanço tecnológico e superar o atraso do parque fabril e o baixo capital humano. É preciso reduzir o atraso na educação, melhorar na segurança pública e nas condições para empreender, a fim de não alimentar mais a saída de recursos e de talentos;

·       Retomada da política habitacional e urbana: proteger pessoas e famílias que vivem em situação de rua com a retomada do programa Minha Casa Minha Vida. De volta o foco no tema da habitação (e a casa engloba também a infraestrutura, os serviços públicos, os equipamentos sociais, a mobilidade). Afinal, habitação é cidade. Tem larga repercussão na economia, na política, na saúde, na educação, na cultura e até no planeta (a cidade é o lugar da maioria da população mundial, no nosso caso, de 85% dos brasileiros). Logo, tratar bem da cidade significa cuidar do povo;

·       Trata-se, portanto, de uma escolha política: tolerar ou não a extrema pobreza. Afinal, os números mostram o crescimento dela. Em uma década, passamos de pouco mais de 6 mil favelas (2009) para quase 14 mil (2019). O Censo deste ano deverá revelar um crescimento ainda maior dessas comunidades. Devemos refletir mais do que celebrar: reflexão sobre o racismo e a exclusão social que marcam a história do país. Sobre como as escolhas políticas dos últimos 100 anos fizeram com que a sociedade brasileira aceitasse a naturalizasse a existência de territórios onde a dignidade humana não está assegurada.As favelas são um polo de criatividade, inovação, cultura e empreendedorismo que abriga mais de 17 milhões de pessoas. Favelas são espaços de potência e oportunidade. Cabe à sociedade brasileiro criar estratégias para livrar esses territórios da âncora da pobreza.

·       A participação social na elaboração dos programas de governo, dando protagonismo ao cidadão e à família nas escolhas de “como”, “onde” e “em que condições”. 

·       A ideia de um revogaço das normas e decretos, infralegais, nas áreas do armamentismo e do meio ambiente é excelente. Mas não é o suficiente. Já há um exército civil armado no Brasil, com mais armas do que as polícias militares. Eles já se aproveitaram de tudo o que permanecerá em vigor até o ano que vem. É preciso desarmar o país!

·       Na área de energia: continuar ou não subsidiando os combustíveis? Custa R$ 52 bilhões a isenção de impostos federais.

·       Na expansão da energia será preciso resistir à tentação de construir grandes hidrelétricas na Amazônia. Aliás, na área ambiental, o crime cresceu, se fortaleceu, se armou e criou rede. 

·       Semear e plantar colheitas futuras.

domingo, 30 de outubro de 2022

Ansiedade antecipatória

 Nosso organismo responde igualmente a uma ameaça real ou imaginária.

Quem nunca ficou com o coração na boca às vésperas de um evento tão esperado? As emoções intensas “de uma final”, tais como: angústia, estresse, irritação, dificuldades para dormir e se concentrar nas tarefas do dia a dia, podem trazer riscos ao organismo – é o quadro de “ansiedade antecipatória”.

A ansiedade antecipatória está associada a uma sensação de incerteza e falta de controle sobre um evento ou situação futura. Ou seja, faz com que a pessoa se sinta mal no presente, pensando em algo que pode acontecer no futuro. Isso acontece porque, em geral, pessoas com ansiedade antecipatória tendem a pensar nos piores cenários em relação ao futuro.

“A sensação de certeza e controle é importante para o bem-estar psicológico de seres humanos, e isso tem uma explicação evolutiva. Era importante que nossos ancestrais sentissem angústia quando confrontados com a incerteza sobre sua próxima refeição, por exemplo, ou com a falta de domínio sobre a segurança, já que desses fatores dependia a própria sobrevivência. O problema é que nosso organismo responde igualmente a uma ameaça real ou imaginária” (Anna Lucia Spear King, psicóloga).

Isso significa que trouxemos dos nossos antepassados para o mundo contemporâneo a herança de alterações neuro-hormonais, que visam preparar o organismo para aquele perigo que está por vir. É a chamada reação de luta ou fuga. Qual o problema disso? Imediatamente, o cérebro entende isso como uma ameaça, e o mero pensamento do desdobramento desfavorável daquela situação desencadeia uma resposta fisiológica. Há um aumento do nível de substâncias como o cortisol, que é conhecido como o hormônio do estresse, e dos neurotransmissores adrenalina e noradrenalina. Tudo isso pode provocar alteração da pressão arterial, irritação, angústia, dificuldade de concentração, insônia, hiperventilação, dor no peito, tensão muscular, ruminação, tensão, hipervigilância, falta de ar, batimentos acelerados, dor de cabeça, fadiga, sudorese, dor de estômago, micção frequente ou diarreia, alteração da frequência cardíaca, da temperatura corporal, da abertura da pupila e do aumento do fluxo de sangue nos músculos. E é essa resposta fisiológica que desencadeia o estado de apreensão e todos os sintomas físicos e mentais sentidos pela pessoa com “ansiedade antecipatória”.

Bem, como lidar com isso? Como controlar essa sensação e conseguir desempenhar as tarefas cotidianas até o horário da fatídica decisão? Realizando atividades que liberem energia, tais como: exercícios físicos e práticas que ajudem a viver o presente, como meditação e técnicas de respiração. Também a leitura ou o próprio trabalho. Elas são eficazes porque ajudam a liberar ou drenar a energia para outras atividades. Igualmente, deve-se evitar substâncias que potencializem os estímulos já radicais, como café, energéticos e chás, ou os que ajudam a aliviar a tensão, mas que são prejudiciais, como álcool, cigarro, drogas.

Porém, nada se compara ao grande dia ou momento da explosão. Se antes a emoção já estava à flor da pele, durante o evento ela extravasa. O coração bate tão forte que parece prestes a sair pela boca. O que acontece? Impossível ficar sentado ou parado, gritos, palavrões... Isso ocorre porque ajuda a aliviar a tensão. O sistema cardiovascular é o mais afetado nos momentos de ansiedade, angústia e estresse prolongados. Inclusive pode acarretar em incidência de emergências cardíacas – infarto, angina e arritmia.

“A ansiedade e o estresse causam vasoconstrição, aumento da frequência cardíaca e geram sobrecarga no sistema cardiovascular. Isso pode representar um risco, em especial para pessoas com idade mais avançada e doenças prévias” (Leandro Echenique, cardiologista).

Embora viver emoções fortes possa ser uma fonte de “estresse emocional intenso” que pode aumentar temporariamente os marcadores de inflamação e constrição dos vasos sanguíneos, essa também é uma atividade extremamente prazerosa. Há também aí emoção positiva que aciona a liberação de neurotransmissores associados à felicidade e ao prazer, como dopamina e serotonina. É por isso que nos divertimos tanto numa final esportiva, num show de calouros ou assistindo a um bom filme. Logo, há várias atividades que estão associadas a algum risco, mas ao mesmo tempo também são importantes para a qualidade de vida, como ver esporte, fazer exercício físico e sexo. Não dar para evitar todos esses gatilhos porque equivaleria evitar a própria vida. Assim, o segredo é ter moderação e controle.

Enfim, você controla suas emoções ou são suas emoções que controlam você? Afetos no ponto certo são uma maravilha, mas seu excesso ou falta é prejudicial para o coração. Então, cuidado! Esse aperto no peito pode ser espetacular ou fatal! 

sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Divã Eleitoral - 4 teses.

 

Tese 1. Relações civilizadas são fundamentais para a saúde mental. Necessitamos de um ambiente social saudável para lidar com nossas crises internas. Acontece que o Governo Bolsonaro abriu a caixa das perversões humanas, e permitiu que o coletivo social ultrapassasse limites que não podem ser ultrapassados na vida em sociedade. Vai nos custar muito trabalho refazer esses limites e resgatar nosso equilíbrio social.

Tese 2. A relação do sujeito é com o desejo do “outro”, e esse “outro” pode tomar a forma do próprio adversário político. E ninguém merece olhar para a cara do companheiro e ver Bolsonaro. Ou olhar para a cara da companheira e ver a Damares. Já pensou olhar para o amigo e enxergar o Paulo Guedes? E muitos outros reflexos desagradáveis mais...

Tese 3. Também vale destacar as redes antissociais, sempre incendiárias, causam muitos conflitos. Nelas, existem os ataques pessoais e os linchamentos coletivos, sem falar daquela figurinha desgraçada que nos tira do sério ou daquele vídeo ou fala descontextualizados.

Tese 4. Como eu me posiciono diante da diferença radical? Como posso lidar com a minha singularidade, o que já não é simples, diante de relações assimétricas, em que o outro não é o que eu gostaria que ele fosse e não me dá o que eu gostaria que ele me desse? Não há um encaixe perfeito, nem da vida cotidiana nem na política, mas alguma gestão disso é possível.

terça-feira, 25 de outubro de 2022

Lei de alimentos gravídicos.

Lei pouco conhecida (de 2008). Sobre o direito antes de nascer: pensão para despesas da gestação. “Pedido de alimentos gravídicos”: um tipo de pensão direcionada à mulher para despesas da gravidez. A Lei busca contribuir para a proteção da mãe e do bebê durante os 9 meses de gestação.

Detalhes:

1.     A lei prevê auxílio de custo para cobrir alimentação especial, assistência médica e psicológica, exames complementares, internações, parto e medicamentos, entre outros itens;

2.     O valor em questão, que considera a parte de pai nos gastos, é definido pelo juiz e devido, em geral, a partir de sua citação no processo.

3.     Depois do nascimento, a quantia estabelecida é automaticamente convertida na pensão alimentícia convencional;

4.     Não é necessária a requisição de teste de DNA para a solicitação de alimentos gravídicos, mas é imprescindível que a mulher comprove a existência de relação com indícios de paternidade (o relacionamento pode ser provado por conversas de WhatsApp, fotos, vídeos ou testemunhas que evidenciem que aquele parceiro é o pai);

5.     O objetivo é garantir a segurança e prestar apoio a essa mulher em um momento delicado da sua vida. Muitas não conseguem arcar sozinhas com os custos da gravidez, outras não recebem apoio da família e ainda há casos que acabam culminando em desistência da gravidez ou aborto.  

6.     A ação de alimentos está sob o princípio jurídico de irrepetibilidade: isso que rdizer que não é possível solicitar a devolução dos valores pagos, mesmo se, após o exame, for negada a paternidade. Isso acontece porque o valor é concedido com a intenção de garantir a sobrevivência, logo não há possibilidade de restituição (a exceção acontece quando fica clara a má-fé da solicitante, o que não é comum).

"Imposto de alternância."

Basicamente, a forma como trabalhamos atualmente é em si uma distração. Há uma quantidade enorme de apps nos rodeando, e seu uso excessivo acaba por reduzir a produtividade.

O excesso de recursos de tecnologia vem sobrecarregando funcionários e tornando suas jornadas mais árduas e desarticuladas. Provocando o efeito oposto, eles não têm agregado valor às tarefas, causando esgotamento e dificuldades de foco nos trabalhadores. Tudo isso gera o “imposto de alternância”.

Os psicólogos costumam chamar de “mudança de contexto” – um hábito que dificulta o foco e, com o tempo, nos estressa.

Enfim, a frustração com tecnologia pode gerar desencanto, apatia e evasão. Cuidado! 

GraphoGame – o “aplicativo milagroso”.

Política educacional atabalhoada

Em mais uma de suas falas transloucadas, Jair Bolsonaro afirmou que detém um aplicativo capaz de alfabetizar a “garotada” em apenas 6 meses.

Vejamos que história é essa.

O GraphoGame é um aplicativo criado por pesquisadores finlandeses e foi adaptado para o Brasil pelo Instituto do Cérebro, da PUC do Rio Grande do Sul. Por enfatizar bastante as relações entre letras e sons – um dos pilares da política de alfabetização do atual governo –, o aplicativo foi anunciado em 2020 com pompa e circunstâncias pelo MEC. Se essa régua inventada por Bolsonaro for a utilizada para avaliar a iniciativa, será fácil concluir que ela é um completo fracasso. Vejamos por quê...

Acontece é que há estudos internacionais mostrando que o aplicativo pode contribuir para aprimorar a compreensão fonética, mas nenhuma pesquisa séria concluiu que isso é capaz de alfabetizar de fato uma criança em 6 meses.

“O aplicativo pode ser uma ferramenta de apoio, mas sozinho não é capaz de alfabetizar. Este não foi e não é o objetivo da inciativa e dos pesquisadores em nenhum momento. Para uma criança ser alfabetizada, ela precisa de instrução sistemática e consistente, de vivências, e, sem dúvida alguma, do apoio da Escola, especialmente de educadores” (fala dos próprios pesquisadores do Instituto do Cérebro).

Ainda não há avaliação feita no Brasil para mensurar o que disse Bolsonaro. Sua fala soa mais ironicamente com o fechamento presencial das escolas no auge da pandemia. De lá para cá colhemos uma queda significativa nos indicadores de alfabetização.

A utilização de jogos como apoio à aprendizagem mais prazerosa encontra fundamentos. Mas, dessa forma como foi trazida por Bolsonaro, operanda como milagre, não dá para creditar. Interesses comerciais ou políticos não podem transformar programas de suporte em receitas simples para problemas complexos. Enfim, em Educação, isso nunca dá certo!

Sem renda do trabalho.

Tragédia Social: empobrecimento da população.

38,7 milhões de brasileiros vivem em lares sem nenhuma renda do trabalho – é o equivalente à população inteira do Canadá! Ainda numa faixa de 2% da população, estão 4 milhões que não recebem nenhum tipo de remuneração (não contribuíram para a Previdência o suficiente para se aposentar ou não têm idade nem preenchem as condições necessárias para receber o BPC: ter mais de 65 anos e comprovar ser incapaz de se sustentar sem o auxílio).

Hoje, 25,7% da população nordestina vive em domicílios sem renda de trabalho e, dos ocupados, 57,1% estão na economia informal.

Um cenário social de extrema dificuldade...

Nunca se trabalhou tão pouco no Brasil! Isso joga as pessoas na dependência de auxílios do governo para sobreviver (rendas assistenciais, estratégias precárias e de previdência de baixa remuneração), e somente educação pode mudar esse estado de coisas. Pandemia, desemprego, informalidade, baixa qualificação, empobrecimento, vínculos mais frágeis com o mercado de trabalho... Muitos perderam o pouco capital que tinham, coisas simples, como uma barraca, um carrinho de pipoca, para conseguir se manter ou pelo menos alugar.

A economia não cresce, ou cresce pouco, sem gerar empregos e renda na medida que as famílias precisam. Mesmo no mercado informal. O Brasil precisaria de um crescimento estável na faixa de 4% ao ano para reativar os investimentos na economia e gerar empregos de qualidade.

E há ainda mudanças que estão ocorrendo no mercado de trabalho. Tarefas simples, repetitivas e manuais são cada vez mais substituídas por máquinas e sistemas de inteligência artificial. Os empregos formais estão sendo criados para tarefas não repetitivas que exigem capacidade de negociação e análise. O avanço tecnológico já afeta o emprego no Nordeste, para onde foram grandes centrais em busca de mão de obra farta e barata. Com o avanço da automatização, a região passou a perder essa vantagem na atração de certo tipo de empresas.

Enfim, é preciso melhorar com urgência a qualidade do ensino público básico, investir em cursos profissionalizantes e a qualidade do ensino nas universidades. Não há escapatória.

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Novo x Velho (Testamento).

 No dia de Nossa Senhora Aparecida, a milícia bolsonarista perseguiu padres em Aparecida, vaiou a homilia da missa principal, gritou palavrões e ainda fez brindes com latas de cerveja dentro da igreja. Atacam os padres durante os sermões, destroem imagens de santos e correm atrás de quem veste batina. O cristianismo (como filosofia) nasceu em meio ao descalabro da escravidão, da pobreza brutal e da miséria civilizacional – pedofilia, satanismo, matanças entre os clãs e abusos de poder. Enfim...

Os loucos às vezes se curam; os imbecis, nunca (Oscar Wilde).

Quem mente a si mesmo e escuta as próprias mentiras chega ao ponto de já não poder distinguir a verdade dentro de si mesmo (Dostoiévski). 

A democracia tem suas falhas e precisamos estar preparados para o caso de elas ocorrerem.

É impossível existir um desenho eleitoral perfeito, que não venha a ter risco de gerar o resultado exposto anteriormente. No fundo, é por isso que estamos inseguros quanto ao resultado final do pleito.

Onde mais erramos? Fizemos o jogo do bolsonarismo ao ceder nossas emoções às polêmicas inflamadas de sua agenda ideológica de ataques a muitas linhas de frente. Perdemos a oportunidade racional de tentar unir o país em torno de uma pauta. O povo de coração incendiado levado ao desejo de combater uma grande injustiça, que tal? Afinal, o movimento abolicionista nos ensinou que é possível derrubar um regime inteiro com essa estratégia.

Enfim, no meio desse caminho uma pedra: o problema do incentivo e do censo de coletividade. Estivemos tão separados em bolhas que não sabemos onde tudo isso vai dar. Uma espécie de “cada um por si e Deus por todos”. O problema é que o mote do bolsonarismo é “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”.

sábado, 22 de outubro de 2022

Indecisos, Traidores e Abstenções.

A decisão será dos voláteis.

A decisão do 2º turno presidencial será dos indecisos (5% sem preferência) e dos traidores (6% não convictos) = 11%.  Há também as abstenções (20,95% no 1º turno). Aqueles que ainda não escolheram seu candidato ou aqueles que podem mudar de lado é que decidirão o futuro líder da nação. Um contingente de 17,16 milhões de eleitores (Bolsonaro precisa conquistar 6,2 milhões deles ou 1 a cada 3). Segundo algumas estatísticas, se a abstenção chegar a 24%, Bozo também tem boas chances de se eleger.


Poderíamos comparar essas Eleições Polarizadas 2022 com um racha agressivo de torcidas organizadas de futebol ou com o clima belicoso dos antigos coliseus romanos. Mas, elas estão sendo incomparáveis tamanha é a imprevisibilidade.

A indecisão não é um mal em si. Ruim é essa gritaria vã, cozida num caldeirão de tolices aquecido pela guerra religiosa e pelas fake news. A estridência é o pior dos caminhos, desnecessária fervura que mais afasta do que agrega. Porém, entre todos os fatores que podem influenciar a escolha dos “voláteis”, só um tem data marcada: o debate na TV Globo, no dia 28, na sexta-feira anterior ao voto.

Enfim, quem ainda não sabe se tecla 22 ou 13 ou os que podem pular de lado definirão o pleito. É o eleitor indeciso quem decidirá.


Perfil desse grupo:

·       É primordialmente feminino (mulheres acima de 45 anos) e pouco engajado politicamente.

·       Não costuma pautar suas decisões no discurso ideológico, e sim em questões práticas da vida cotidiana.

·       A divergência que mais se ressalta entre eles é a presença maciça de evangélicos entre os não convictos – o que explica a batalha religiosa dos últimos dias e sugere uma vantagem para Bolsonaro.

·       O que mais os preocupa é a economia e a fome, miséria e desemprego. Logo, o bolso ganha disparado, mais do que na média da população em geral, onde a vulnerabilidade econômica também bate forte.

·       Eles se concentram primordialmente na Região Sudeste (SP, RJ e MG), têm renda familiar de até 5 salários mínimos, são de ambos os gêneros e de faixas etárias diversas.

·       “Nenhuma campanha que pretenda sair vitoriosa pode desprezar ele eleitorado. Aliás, tem, isto sim, de mirar nele”.

Estratégias das campanhas para atraí-lo:

·       Voto volátil se define por novidade. Alguma coisa está guardada na manga, porque pauladas na “corrupção” (antipetismo) e na “má gestão da pandemia” (antibolsonarismo) já demonstram sinais de cansaço.

·       Ciscar o território alheio, sempre lembrando pacotes de bondades para atrair eleitores.

·       “Nunca em uma eleição presidencial um candidato invadiu tanto a agenda do outro”. O objetivo é abocanhar nacos do eleitorado do adversário, tudo do jeito que for preciso.

·       As campanhas sinalizam que, no próximo embate, haverá temperatura elevada e chumbo grosso, sempre com o objetivo de influir no julgamento de quem ainda não sabe em quem vai votar.

Particularidades desse pleito:

·       São dois polos muito intensos, capazes de mover paixões e multidões.

·       Uma percepção de que é preciso criar fatos novos o tempo todo, estragar a imagem um do outro, garantir superioridade e fidelizar os eleitores já marcados.

·       Grupos monitorados acham que Bolsonaro “não tem propostas” e que Lula “se rende muito ao passado”.

·       O que expõe a mais gritante particularidade deste pleito: a decisão, de fato, dependerá de quem reluta em decidir.