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São Francisco do Conde, Bahia, Brazil
Professor, (psico)pedagogo, coordenador pedagógico escolar e Especialista em Educação.
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"Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber" (Art. 205 da Constituição de 1988).

Ø Se eu sou um especialista, então minha especialidade é saber como não ser um especialista ou em saber como acho que especialistas devem ser utilizados. :)



“[...] acho que todo conhecimento deveria estar em uma zona de livre comércio. Seu conhecimento, meu conhecimento, o conhecimento de todo o mundo deveria ser aproveitado. Acho que as pessoas que se recusam a usar o conhecimento de outras pessoas estão cometendo um grande erro. Os que se recusam a partilhar seu conhecimento com outras pessoas estão cometendo um erro ainda maior, porque nós necessitamos disso tudo. Não tenho nenhum problema acerca das ideias que obtive de outras pessoas. Se eu acho que são úteis, eu as vou movendo cuidadosamente e as adoto como minhas” ("O caminho se faz caminhando - conversas sobre educação e mudança social", Paulo Freire e Myles Horton: p. 219).

terça-feira, 13 de julho de 2021

Relatório FAO 2021

O estado da insegurança alimentar e nutrição no mundo.

Indicador: prevalência de insegurança alimentar.


Aumenta a população que passa fome por causa da pandemia (?). Fonte: FAO.

·         10% da população global ou 768 milhões de pessoas passaram fome em 2020 (é um aumento de +118 milhões em relação a 2019).

·         A pandemia provocou restrições brutais e prejudicou o acesso aos alimentos.

·         2,3 bilhões de pessoas não tiveram alimentação adequada durante todo o ano de 2020!

·         A prevalência de insegurança alimentar, moderada ou grave saltou em 1 ano, tanto quanto os 5 anos anteriores somados!

·         As crianças pagaram um preço alto: em 2020, foram 149 milhões de crianças menores de 5 anos que sofriam de atraso no crescimento

·         Aqui no Brasil, os hábitos alimentares, 49% dos brasileiros afirmaram que os hábitos alimentares mudaram durante a pandemia. Esse número sobe para 58% em famílias com crianças e adolescentes abaixo dos 17 anos. Desnutrição no Brasil: 60% dos lares nacionais têm algum grau de insegurança alimentar.

·         Há desigualdade na qualidade das dietas no Brasil. Pessoas mais pobres, as que perderam os empregos, e moradores do Nordeste, relataram um aumento no consumo de alimentos processados em lugar dos produtos frescos.

·         É necessário promover políticas para uma dieta saudável, e apara amparar as populações mais vulneráveis. É preciso também um esforço enorme para que o mundo possa cumprir a promessa de acabar com a fome até 2030. 

·         Um décimo da população global – até 811 milhões de pessoas – enfrentaram a fome no ano passado.

·         No geral, mais de 2,3 bilhões de pessoas (ou 30% da população global) não tinham acesso a alimentação adequada durante todo o ano: esse indicador – conhecido como prevalência de insegurança alimentar moderada ou grave – saltou em um ano tanto quanto nos cinco anos anteriores combinados.

·         A desigualdade de gênero se aprofundou: para cada 10 homens com insegurança alimentar, havia 11 mulheres com insegurança alimentar em 2020 (comparados a 10,6 em 2019). Quase um terço das mulheres em idade reprodutiva sofre de anemia.

·         A má nutrição persistiu em todas as suas formas, com as crianças pagando um preço alto: em 2020, estima-se que mais de 149 milhões de crianças menores de 5 anos sofriam de desnutrição crônica, ou eram muito baixas para sua idade; mais de 45 milhões tinham desnutrição aguda, ou eram muito magras para sua altura; e quase 39 milhões estavam acima do peso.

·         A alimentação saudável permaneceu inacessível para três bilhões de adultos e crianças, em grande parte devido ao alto custo dos alimentos.


Uma criança ou um adulto que se alimentam mal ou que se alimentam de forma insuficiente terão impactos muito amplos e muito profundos em sua saúde: na sua imunidade, capacidade de cicatrizar feridas, capacidade de força física, motora, de coordenação, aprendizagem, de empregabilidade... Tudo isso gera um profundo custo para a sociedade, pois esse déficit, seja ele qual for, pode se transmitir inclusive à sua prole.

 

Os principais determinantes da insegurança alimentar:

1.      Lutando contra a alta desigualdade.

2.      A pandemia que provocou ou aprofundou recessões brutais.

3.      Nações afetadas por conflitos.

4.      Extremos climáticos.

5.      Recessões econômicas.

O que pode ser feito? "caminhos de transformação":

1.      Combatam a pobreza e as desigualdades estruturais – por exemplo, estimulando cadeias de valor de alimentos em comunidades pobres por meio de transferências de tecnologia e programas de certificação;

2.      transformar os sistemas alimentares é essencial para alcançar a segurança alimentar, melhorar a nutrição e colocar dietas saudáveis ao alcance de todos.

3.      um "conjunto coerente de políticas e investimentos" para combater os determinantes da fome e da má nutrição.

4.      Integrem políticas humanitárias, de desenvolvimento e de consolidação da paz em áreas de conflito – por exemplo, por meio de medidas de proteção social para evitar que as famílias vendam bens escassos em troca de alimentos;

5.      Aumentem a resiliência climática em todos os sistemas alimentares – por exemplo, oferecendo aos pequenos agricultores amplo acesso a seguro contra riscos climáticos e financiamento baseado em previsões;

6.      Fortaleçam a resiliência dos mais vulneráveis à adversidade econômica – por exemplo, por meio de programas em espécie ou de apoio em dinheiro para diminuir o impacto de choques do tipo pandêmico ou volatilidade dos preços dos alimentos;

7.      Intervenham ao longo das cadeias de abastecimento para reduzir o custo de alimentos nutritivos – por exemplo, incentivando o plantio de safras biofortificadas ou facilitando o acesso dos produtores de frutas e vegetais aos mercados;

8.      Fortaleçam os ambientes alimentares e mudem o comportamento do consumidor – por exemplo, eliminando as gorduras trans industriais e reduzindo o teor de sal e açúcar no abastecimento alimentar, ou protegendo as crianças do impacto negativo do marketing alimentar.

domingo, 11 de julho de 2021

Problemas de Matemática e da Política.

Se você pegar o valor total que é gasto com o Congresso Nacional e dividir pelo número de parlamentares, verá que cada um deles custa, arredondando, R$25 milhões por ano! Depois, se você pegar esse valor e dividir pela renda média do brasileiro, também verá que o valor é o equivalente a 528 vezes a renda média de quem ele representa! Tudo isso comprova que o Brasil é o país mais caro do mundo em termos de representação política!!!

O mesmo vale para os partidos políticos. 33 legendas estão registradas no TSE (e as 7 que possuem mais de 1 milhão de filiados são: MDB, PT, PSDB, PP, PDT, PTB e DEM). Dessas legendas, 16 têm relevância no Congresso. A cada ano, em média, esses partidos políticos recebem 446 milhões de dólares! A criação do “Fundão Eleitoral” para financiamento dos partidos, distribuiu para eles R$ 2 bilhões nas últimas eleições. Enquanto isso, as pesquisas indicam que partidos políticos são as instituições em quem os brasileiros menos confiam. Será que uma coisa tem a ver com a outra? Temos também a maior dispersão partidária do planeta, campeões na quantidade de dinheiro repassada aos partidos!

Quem se lembra das calçadas forradas de santinhos deve não sentir saudade do desperdício do dinheiro público. A verdade é que campanhas eleitorais se fazem cada vez mais através dos meios digitais e os gastos não se tornaram mais necessários porque elas também não melhoraram nossa democracia. Os vídeos bizarros, os memes ridículos e a fábrica de fake News tiraram os lixos eleitorais das calçadas e levaram tudo para as redes digitais. Muito dinheiro, pouca evolução cidadã.

Nosso sistema incentiva os deputados a formarem amplas redes de clientela, operando em centenas de municípios. Isso inclui a farta distribuição de emendas parlamentares e um vasto entourage de cabos eleitorais e estruturas para deslocamentos de região para região. No final, nem o eleitor sabe exatamente quem o representa, e o deputado a quem ele representa. Tudo com um certo jeito de jogo de faz de conta, ao qual já nos acostumamos.

Dói muito ver todo esse dinheiro sacado do nosso bolso de contribuinte quando olhamos para o nível dos debates e das campanhas eleitorais que financiamos. Era pra ser melhor, muito melhor, uma democracia de verdade! Mas, todos esses números mostram que equidade é só uma palavra bonita, perfeita para alimentar o status quo e nosso gosto pelo autoengano.

Então, veja só, a Emenda que vitaminou, e muito, o Fundo Eleitoral. Compare o montante de dinheiro que vai financiar os partidos nas eleições de 2022, comparado com as eleições de 2018 (mais de 3x!). Para ter uma noção das prioridades e dos gastos, veja o que estava previsto para o Censos Demográfico 2021, e comparte com esse valor, que sofreu sucessivos cortes até ser adiado para 2022 (e que está ainda sem verba definida)!  

Diante disso tudo, um componente ético incomoda muito: qual a autoridade de um Parlamento com o maior custo per capita do mundo para fazer uma Reforma Administrativa dura, que vai mexer no bolso de nós, funcionários, cujo vencimento médio (no Executivo) não chega a 1000 reais? Isto é: menos da metade do que cada deputado dispõe apenas para despesas médicas. Isso também vale para a Reforma Tributária, como o governo está fazendo agora com a proposta de aumento de impostos, enquanto nosso dinheiro de contribuinte é gasto de modo inteiramente irracional. E olha que nem mexemos ainda na elite empresarial, mas essa elite política, tanto quanto aquela, deveriam dar o exemplo. Cortar na própria carne. É isso o que o país deveria exigir.

Não é difícil discutirmos os problemas do Brasil porque uma boa parte de nossos problemas é perfeitamente evidente, e é fácil saber o que deve ser feito. O problema é daí pra frente. É sobre como lidar com um país cuja tragédia não é ter um sistema de poder que beneficie não só as elites, mas fundamentalmente a ele mesmo (e na maioria das vezes a elite e a classe política é um balaio só). Não penso que sair disso seja uma equação fácil, mas tratar as coisas com a crueza que elas têm, por vezes, é o melhor caminho para mudar e seguir em frente.

 

Enfim, já sabemos como chegamos nessa situação. Resta agora achar uma boa saída dela...

#Lula2022! 



sábado, 10 de julho de 2021

Ponte Quebrada.

 Sim, há uma ponte desfeita no caminho da Educação. E ela é geradora de desigualdade! 

Na perspectiva do capitalismo, o populismo é uma ameaça. Então é preciso acalmar as revoltas populares com uma ideia de mobilidade social pela meritocracia. Entretanto, esses meritocratas podem se tornar uma aristocracia – e isso acontece quando se recolhe as pontes transitadas para bloquear a passagem da segunda geração.

 Para se proteger da Covid-19, um diploma universitário é quase tão bom quanto a vacina. Ele é um instrumento importante para evitar que um revés temporário se torne permanente. Ou seja, escolarização e alguma estabilidade no mercado de trabalho podem evitar que as pessoas percam seus rendimentos quando ficam doentes. Ou que percam a saúde quando estiverem sem renda.

 A maioria que tem seu diploma e emprego, está sentada em casa, trabalhando com segurança no Zoom ou no Google Meet. Já as pessoas sem diploma universitário e baixa escolaridade que estão lá fora, trabalhando nas lojas ou nas fábricas de alimentos, estão morrendo. Então, é como se metade da população estivesse morrendo enquanto a outra metade está enriquecendo. Você começa a pensar que talvez a desigualdade por si só seja o problema, não importa se as fortunas venham de origens conhecidas.

Segundo um estudo do MEC, a conclusão de um curso universitário representa uma aumento de +182% na renda mensal dos estudantes. Isso explicaria a corrida motivacional ao ensino superior? E mais, isso também explicaria a grande competitividade e a quebra de pontes, sem que todos tenham cruzado? 

 O que ocorre é que colocamos em um pedestal as pessoas que vão para a faculdade. E dessa forma criamos uma sociedade dividida. Um terço das pessoas pertence à elite educada e os outros dois terços se tornaram uma espécie de classe ignorada, sem influência política, sem perspectiva, com escolas ruins para seus filhos, e daí por diante.

 Isso também cria desigualdade. Aliás, existem muitas formas diferentes de desigualdade em curso. A desigualdade educacional é uma delas. Há um grupo de pessoas muito bem-educadas e outro com baixa escolarização. Junto desta há a desigualdade de representação política – há os que defendem o capitalismo e os que defendem o populismo. É extremamente importante atentarmos a esse tipo de desigualdade de participação política na sociedade.

 Nos países ricos, os partidos de esquerda tiveram suas bases nos sindicatos ou nos trabalhadores, se tornaram intelectualizados e se juntaram à elite educada. A direita continuou representando o dinheiro que rende juros. Então não sobrou nada para o povo que costumava ser representado pelos partidos de esquerda. Olhe o exemplo do Partido Democrata nos EUA, que se tornou um partido de elite educada e de minorias, e deixou todas as pessoas brancas menos educadas de fora e com pouquíssima voz política.

Mas, não se trata apenas de um viés privado e particular do indivíduo. Pensando na coletividade, por isso é importante o que chamam de Rede de Segurança Social (sem ela, uma legião de pessoas é jogada facilmente no empobrecimento). E não é só o Bolsa Família que ajuda de forma imediata a maioria das pessoas simplesmente ultrapassar a linha da pobreza (uma forma rápida, pontual e eficiente de assistir os que estão precisando de ajuda urgente), mas não é suficiente para que haja de fato mobilidade social. Aí devem entrar outras atitudes mais abrangentes, como seguro-desemprego e cobertura de saúde.

 Temos que enfrentar ainda outras duas coisas paralelas:

1) o setor informal que é muito grande;

2) alguma forma de renda básica universal, mas sem abrir mão de programas mais direcionados.

 As pessoas da direita querem adotar a renda básica universal, mas desde que se acabe com o resto da rede de segurança. E é por isso que sou esquerda. Do outro lado, a esquerda quer ir além, criar esse benefício universal e ampliar, também, a rede de segurança atual (que a direita julga inviável porque “é extraordinariamente caro”). É por isso que, embora os dois lados defendam a renda básica universal, no fundo eles estão falando sobre coisas muito diferentes.

 Então, a grande pergunta: qual é a origem da desigualdade?

Vejamos mais de perto essa tal reformulação do Currículo Nacional em uma Base Comum que precisa ser tomada na perspectiva da meritocracia x oportunidade e desesperança. As maiores empresas do nosso século só pensam em tecnologia e oportunidades, com um alto potencial para pular etapas e apressar aquilo que desejam. Há um discurso com introdução muito bonita, quando diz, por exemplo, que é preciso de mais oportunidades para que crianças talentosas em todo o Brasil entrem nas escolas e descubram suas habilidades. Até aqui, a meritocracia em seus primeiros estágios é ótima, porque você pode ter pessoas talentosas fazendo trabalhos importantes. Mas aí vem o segundo estágio que iniciamos esse texto, e com o qual se deve ter muito cuidado, pois quando a primeira geração de meritocratas passa ela pode recolher as pontes depois que passam, para bloquear a passagem da segunda geração – e com isso se torna uma aristocracia reinante. Como esse grupo que aí está pode permitir a próxima geração?