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São Francisco do Conde, Bahia, Brazil
Professor, (psico)pedagogo, coordenador pedagógico escolar e Especialista em Educação.
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"Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber" (Art. 205 da Constituição de 1988).

Ø Se eu sou um especialista, então minha especialidade é saber como não ser um especialista ou em saber como acho que especialistas devem ser utilizados. :)



“[...] acho que todo conhecimento deveria estar em uma zona de livre comércio. Seu conhecimento, meu conhecimento, o conhecimento de todo o mundo deveria ser aproveitado. Acho que as pessoas que se recusam a usar o conhecimento de outras pessoas estão cometendo um grande erro. Os que se recusam a partilhar seu conhecimento com outras pessoas estão cometendo um erro ainda maior, porque nós necessitamos disso tudo. Não tenho nenhum problema acerca das ideias que obtive de outras pessoas. Se eu acho que são úteis, eu as vou movendo cuidadosamente e as adoto como minhas” ("O caminho se faz caminhando - conversas sobre educação e mudança social", Paulo Freire e Myles Horton: p. 219).

domingo, 31 de março de 2024

Desvios da racionalidade.

 Foda-se! Primeiro eu ganho, depois eu penso?

Somos naturalmente conservadores porque tendemos a ganhar de forma imediata, sem muita disposição para medir as consequências. É por isso que nossa política é tão apressada, corrupta e desastrosa. 

A nossa racionalidade é preciosa e frágil, facilmente desviada pelas emoções, percepções, pressões do meio, tentações e instintos. Não nascemos racionais, tornamo-nos. E nem sempre morremos lúcidos. Logo, a racionalidade não prescinde de contextos e pressupostos, mas é forjada e levada por eles. Assim, é irracional imaginar uma racionalidade operando bem com recursos muito limitados ou em seu exagero absoluto, assim como avaliar sendo igualmente importante uma perda e um ganho, porque a perda tem uma probabilidade maior de ser definitiva. Enfim, precisamos saber mais sobre a nossa irracionalidade para nos equilibrarmos melhor na corda bamba do ser racional.

Tem gente que acredita que alguns milhares de anos de produção filosófica e, em especial, alguns séculos de formalismo matemático aplicado ao comportamento humano levaram à instalação de certezas dogmáticas no âmago das representações dominantes sobre o funcionamento da mente, as manifestações da ética e a consistência do comportamento humano.

Entretanto, a racionalidade tem mais rupturas do que imaginamos, seja pelo desejo ou o seu rechaço. Assim, dor e prazer, por exemplo, possuem importância assimétrica nas tomadas de decisão, com a primeira valendo mais que o segundo. A mente, muito mais do que uma dicotomia inconsciente x consciente, é um sistema dinâmico bifásico, em que as coisas são primeiramente processadas de tacitamente (implicitamente, de forma oculta) para, então, serem submetidas a processos analíticos.

Do ponto de vista psicanalítico, parte importante da psicanálise diz respeito à função das ausências. O desejo é, em si, uma falta (daquilo que permitiria que fosse saciado), que caso a caso nos define. Do ponto de vista filosófico, e sendo realista sobre a condição humana, as pessoas são mais sensíveis ao medo de perder ou sofrer que ao prazer de ganhar ou viver coisas incríveis.

O porquê é claro: você só é destroçado pelo inimigo feroz uma vez. Só uma vez, o frio te converte em um bloco de gelo. Infelizmente, só é possível morrer uma vez. Já o prazer é a chama que renasce todo dia. Não é por acaso que ninguém fica traumatizado de prazer. As áreas cerebrais de processamento de estímulos negativos são maiores, as tintas da dor e do medo, mais intensas, e a transmissão cultural do rechaço é muito mais forte que a da atração e da beleza. Isso acontece justamente porque somos animais bem-adaptados.

O que é matematicamente irracional faz pleno sentido em termos existenciais: a satisfação proporcionada por ter mais uma casa, por exemplo, nem de longe é comparável à dor de perder o teto único. É isso que molda as nossas intuições, não as forças do além. As consequências são profundas em vários campos e dimensões. As pessoas já ricas se tornam muito mais com o tempo, posto que se sentem mais confortáveis para apostar pelo medo de perder (negócios, especializações, etc.) do que pelo prazer de ganhar. Agora troque “ricas” por qualquer predicado desejável e perceba a abrangência do princípio.

Não é só. Tem outra questão. A reiteração do prazer vai nos tornando menos responsivos a ele. Após o primeiro show, o roqueiro está eufórico. Após o quinquagésimo, está apenas satisfeito. Agora, no polo da dor, as coisas são diferentes. O primeiro tombo dói demais, o quinquagésimo dói quase o mesmo. A consequência é que o medo de perder vai se tornando ainda mais relevante que o prazer projetado no ganhar, conforme as coisas vão dando certo.

Ou seja, quando a gente vai só ganhando, vamos ficando acomodados, irresponsáveis. O prazer nos amortece. Quando somos afligidos pelo incerto e pela grande possibilidade de perder, de faltar, vamos ficando atentos, atraídos, fisgados. O medo e a dor nos determinam mais. É isso o que explica porque a taxa de psicopatia é alta entre os que constroem impérios: à medida que recompensas têm retorno marginal decrescente (cada uma reduz o valor da próxima), o tempo se encarrega de levar o indivíduo a intuir que o melhor a fazer é segurar firme o que se tem em vez de arriscar e correr o risco de sofrer (esse sistema de dor, sofrimento e remorso não funciona na psicopatia, que possui um componente neurofisiológico, daí a ambição se torna infinita e o acúmulo eventualmente segue junto – se o sujeito não terminar preso ou sofrer um AVC, é claro). Portanto, do ponto de vista da maximização utilitária contextualizada, a psicopatia é utilitária, algo que é amplamente reconhecido entre os lobos de Wall Street.

Já no polo da derrota, não é preciso ser um tipo muito distinto, em termos neurofisiológicos e comportamentais, para ir da perda do salário à do carro na mesa de apostas. Perder o salário dói demais; tentar recuperá-lo parece intuitivo. Entende o problema da legalização de cassinos e outras modalidades de jogos de azar? Percebe também porque programas como Datena faz uma abordagem sensacionalista, destacando os aspectos mais chocantes ou violentos dos eventos noticiosos? Isso pode criar uma impressão de que tais eventos são mais comuns do que realmente são. A tendência dos noticiários de focar em histórias ruins pode fazer com que as pessoas superestimem a prevalência da violência e do crime. Isso é conhecido como viés de negatividade, onde informações negativas têm um impacto maior na percepção do que as informações boas. Um viés que é uma das causas do nosso subdesenvolvimento, traduzido no Brasil como complexo de vira-lata, que faz o ruim parecer e ser pior.

Tudo isso quer nos parecer que a vida dá mais importância aos perigos que às oportunidades, ou seja, é basicamente conservadora, porque seu objetivo mais imediato é permanecer viva e se reproduzir. Seria irracional ponderar igualmente um ganho e uma perda de igual valor, pois a perde dificulta a minha capacidade de manutenção em maior grau do que um ganho a facilita.

Até aqui já é suficiente para revelar por que fama, reputação e riqueza tendem a forjar tipos conservadores. Se a meta é “subir na vida”, sim, tendemos ao conservadorismo com o passar dos anos condicionados por um sistema de recompensas, somado a um cérebro com dificuldade de se manter na delicada corda bamba da racionalidade, abalado pelo medo e pela perda. As pessoas se tornam mais ou menos abertas a experiências em face da dinâmica de recompensas vivenciadas. Em cima disso, acomodam crenças e valores condizentes com o seu momento de vida e relacionamentos, o que irá fazer com que se enxerguem – e as enxerguemos – como mais liberais ou conservadoras.

Assim, a grosso modo, há duas formas básicas de pensar: uma é rápida, intuitiva e emocional (atividades mentais de força emocional com as quais nascemos, impulsiva e propensa a exibir vieses inconscientes e uma confiança imprudente em regras duvidosas - Sistema UM); a outra, mais lenta, deliberativa e lógica (atividades analíticas e racionais, mais complexas, envolvendo experiências e exigindo esforço - Sistema DOIS). Ambas possuem capacidades extraordinárias - e também defeitos e vícios – sobretudo do pensamento rápido. Também há influência das impressões intuitivas nas nossas decisões. Comportamentos tais como a aversão à perda, o excesso de confiança no momento de escolhas estratégicas, a dificuldade de prever o que vai nos fazer felizes no futuro e os desafios de identificar corretamente os riscos no trabalho e em casa só podem ser compreendidos se soubermos como as duas formas de pensar, rápido e devagar,  moldam nossos julgamentos. O medo de perder é mais forte do que o prazer de ganhar. Enfim, nem sempre podemos confiar em nossa intuição e precisamos usar diferentes técnicas para nos proteger contra falhas mentais que muitas vezes nos colocam em apuros.

Já deu para perceber que o assunto aqui é Economia, uma disciplina que se baseia na Psicologia. A economia tradicional, pautada no exercício matemático e em consequências puramente lógicas, acredita que os seres humanos geralmente agem de maneira totalmente racional e que quaisquer exceções tendem a desaparecer à medida que os riscos aumentam. Já a economia comportamental pensa menos rápido sobre isso e, devagar, mostra que há vieses mentais que podem distorcer o julgamento, muitas vezes com resultados contraintuitivos. São as “falhas universais” do cérebro. A mais importante é a aversão à perda, que dói cerca de duas vezes mais do que o mesmo ganho. Uma tolice em muitos casos, já que a predominância da dor pode levar a uma cautela excessiva e autodestrutiva, assim como um comportamento pautado apenas no prazer de ganhar pode nos tornar magnatas conservadores e inconsequentes. Logo, a razão humana, deixada por conta própria, tende a cometer uma série de falácias e erros sistemáticos. Então, se quisermos tomar decisões melhores em nossas vidas pessoais, coletivas e como sociedade, devemos estar cientes desses vieses e procurar soluções alternativas. 

Enfim, pessoas respondem mais à dor e ao medo que ao prazer. Por isso que o preconceito crescente é consequência extrema deste modus operandi em situações de desequilíbrio social. Isso explica em muito a postura de Bolsonaro e as táticas da extrema direita ou elite nesse campo, acompanhada pela veneração a super-heróis e do gosto pelo mito – as práticas cotidianas na política polarizada e seus condicionamentos sociais e lavagem cerebral. Todavia, lei universal é para os lacaios. O contexto marxista, este sim, é para os fortes.  

Memes de grupos conservadores.

Analise como a extrema direita faz a sua lavagem cerebral.

 Legenda faz referência ao slogan de Donald Trump, “make America great again”.

Meme exalta a família heterossexual ao debochar de gays. 

Meme mostra Donald Trump como Capitão América. 

Meme mostra o premiê indiano, Narendra Modi (de azul) levantando halteres. 

Meme debocha do ex-deputado federal Jean Wyllys. 

Manchas na Democracia.

De uma investigação correta a um exemplo de como o crime organizado se infiltra no Estado.  

A resolução de parte do caso Marielle Franco pela Polícia Federal (PF) abre esperança para se acreditar na segurança pública do Brasil. Isso porque, foram presos suspeitos não apenas de mandar matar Marielle, mas também de sabotar as investigações para proteger os executores e a própria organização criminosa.

No emaranhado de fatos envolvendo o crime, ainda há muitos fios a puxar. Há indícios de que a Polícia Civil do Rio recebia propina para engavetar a apuração de homicídios da contravenção. Também, ainda não foram esclarecidas mortes de suspeitos vinculados aos acusados de tramar o assassinato – e “apagados” no caminho como queima de arquivo. Como esses acusados ascenderam na estrutura do Estado e quem lhes abriu as portas do poder?

Entretanto, o que ficaram evidentes nessa história toda foram as muitas manchas. Vieram à tona investigações com rotina de omissão e destruição de provas, muitas suspeitas de sabotagem, celulares e inquéritos desapareceram, testemunhas que não foram ouvidas, pistas descartadas pela Delegacia de Homicídios, muitos indícios de omissão proposital, etc e tal. Ou seja, o grau alarmante de contaminação institucional revelado pelas investigações do caso Marielle deveria servir de alerta às autoridades. O envolvimento da polícia com o crime organizado é “extremamente grave”. Essas instituições necessitam de refundação!

Foi preciso e necessário Lula.3 chegar ao poder para dar mais força e autonomia à Polícia Federal, coisas minguadas no governo anterior. A PF, corporação mais imune à contaminação que as polícias estaduais, tem demostrado independência para investigar casos que estas preferem abafar. Ela deve ser o eixo de uma força-tarefa nacional para desarticular o crime organizado, envolvendo as demais forças de segurança, Ministério Público, juízes especializados, Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e Receita Federal. Como em toda iniciativa de sucesso capaz de desarticular máfias incrustadas no Estado mundo afora, investigar o rastro do dinheiro é fundamental para asfixiar financeiramente as organizações criminosas e impedir que continuem a alimentar a barbárie.

É preciso agir contra o crime organizado antes que a contaminação institucional cresça, o que implica enfrentar as máfias que aterrorizam o país. Mídia, Governo Federal e estados, polícias, forças de inteligência e investigação, bem como toda a sociedade devem combater organizações criminosas que agem como multinacionais do crime. Para isso, é preciso dispor dos recursos financeiros e dos meios necessários para isso.

Enfim, alguns avanços sinalizam para uma nova política de segurança pública nacional, no caminho que impeça o avanço do crime organizado sobre as instituições.  É preciso reerguer a política de segurança pública no Brasil. A investigação correta de um crime é a semente de uma força-tarefa que asfixie a tentativa de crime entranhado nas instituições. Só com um comando central, a atuação de uma força-tarefa que integre as diversas instituições e um plano de segurança robusto, será possível vencer o crime organizado no país.


O oportunismo sobre a dor.

Os trechos mais marcantes da fala da mãe de Marielle, a Marinete Silva:

·       “Vazamento de informações sensíveis e tapinhas nas costas que não nos traziam nenhum conforto”;

·       “Autoridades que, num primeiro momento, nos acolheram enquanto sofríamos e chorávamos a morte dela, participaram do plano que tirou a vida da minha filha. Nos prometeram justiça, mas tramaram contra a vida dela. Não realizaram as diligências necessárias, sabotaram o processo”...

·       “Vejo, mais uma vez, pessoas de todos os campos políticos tentando se promover em cima da memória de Mari, com uma investida de várias partes, tentando ganhar notoriedade e se apropriar politicamente do caso”...

·       “O caso da minha filha é uma mancha na democracia do nosso país e nossa democracia só voltará a viver tempos verdadeiramente melhores quando tivermos respostas e justiça – responsabilização dos executores e dos mandantes desse crime político, uma justiça que responsabilize os autores do crime, com reparação para nós e que garanta a não repetição com outras pessoas”.

sábado, 30 de março de 2024

Os acertos de Lula e os erros das esquerdas.

 

"As esquerdas perderam a capacidade de mobilizar e de sustentar atividade política forte no enfrentamento da extrema direita? Estão elas confundindo o papel do governo federal com os dos partidos políticos? Ora, a disputa política ocorre em duas vias principais: uma é pelo confronto de negações excludentes (que é mais apropriada aos partidos); a outra, pela construção de direção e sentido (mais própria dos governos). Aqui, Lula e sua equipe estão fazendo muito bem o dever de casa. Quem está fazendo falta são os sindicatos, a sociedade civil, os movimentos sociais e os partidos políticos".

São marcas da política brasileira suas crises intermináveis e a falta de perspectiva para o povo. 

Tendo sido malsucedido em seus dois momentos cruciais de fundação: a Independência e a Proclamação da República, o país produziu mais líderes políticos "fracos" e dependentes de "forças auxiliares ou de forças mercenárias para governar". Sem autonomia, "ou eles perdem o poder, ou fazem enormes concessões aos aliados e terminam fracassados". 

Esse quadro desalentador foi, evidentemente, agravado pela pandemia do novo coronavírus, quando o inelegível foi "contrário à liberdade, à democracia, ao Estado de Direito e à Constituição", exibindo seu descaso para com as vítimas no Brasil.

Esse nosso fracasso decorre da inexistência de uma estratégia inovadora de mudança e de líderes dotados de virtù, genuinamente populares e competentes, justos e capazes de subordinar sua ambição pessoal à ambição da grandeza do Estado. Felizmente, o Brasil possui uma rara exceção. Ela se chama Lula.3.

O jogo das aparências é um elemento constitutivo da política. Mesmo sabendo que tem adversários e inimigos, o presidente deve guiar-se pela máxima de que “o príncipe guerreiro e incrédulo deve proclamar incessantemente a paz e a fé”. É isto que está fazendo vô Lula.

Nossa conjuntura atual ainda é a de um país enredado com a fracassada tentativa de golpe e com o alto grau de polarização política. Logo, a responsabilidade ou tarefas do governo são:

1.     Deslocar grupos polarizados para um campo despolarizado (aqui entram militares, evangélicos, etc.). O atual momento não é de estimular divisões. Aqui, o objetivo é enfraquecer os inimigos e agregar força, seja por adesão ou neutralização;

2. Fechar as portas para o pronunciamento político da caserna, orientando-a para as missões profissionais e constitucionais. Aqui o objetivo é colocar um ponto final na intervenção militar na política, seja pela via de uma nova doutrina ou pela vedação legal e punição exemplar, seja pelo Judiciário, dos envolvidos na tentativa de golpe.

Foi certeira a lei do atual ministro da Defesa e o comandante do Exército que vedou o envolvimento eleitoral e partidário de militares da ativa e de sua participação em ministérios. A esquerda já deveria ter fechado legalmente as portas da participação dos militares na vida política e partidária desde a redemocratização!

Lula está acertando. Presidente é sinônimo de Ética, de responsabilidade, presidir “todo” o povo, ponto de convergência da unidade nacional, e agir para que ela se efetue ao máximo possível, dados os conflitos diversos inerentes à sociedade.

Agora, se o Governo está acertando, cadê o papel da sociedade e dos partidos? Desses, fraqueza e imobilismo. Esquerdas perderam a capacidade política de enfrentar a extrema direita, foi isso? Estão terceirizando tudo ao governo ou ao STF? Afinal, os debates e protestos contra o golpe, os atos de repúdio aos 60 anos do levante militar, a defesa da democracia e o combate ao golpismo bolsonarista é também, e sobretudo, de responsabilidade da sociedade civil, sindicatos, dos movimentos sociais e dos partidos políticos.

Enfim, o que Lula e os integrantes do governo podem e devem fazer, neste momento de embates, eles já estão fazendo – reforçar o discurso em defesa da democracia e dos benefícios que ela pode suscitar para a sociedade, para a justiça social e para a liberdade. E estão fazendo muito bem, diga-se de passagem. Entretanto, a disputa política não ocorre apenas pela construção de direção e sentido, mais própria dos governos. Ocorre também pelo confronto de negações excludentes, que é mais apropriada aos partidos, e da mobilização e tomada de espaços públicos, tarefa de sindicatos e da sociedade civil. É disso que estamos sentindo falta, muita falta.

A Rússia e o sorriso de Putin.

 

Há uma recusa histórica da Rússia em tornar-se um país europeu. É a “Rússia eterna” ou um monólito adornado pela face de Putin – o nacionalismo grão-russo.

A guerra da Ucrânia/OTAN contra a Rússia é um conflito de “nação moderna” que tenta se impor por fora ao país. Por fora, mas também por dentro, abaixo da superfície congelada, a oposição ocidental deseja infiltrar.

Ao longo de séculos, a elite russa oscilou entre tal recusa e uma tentação intensa de ser Europa. A Rússia da esquerda resistente ressurge na guerra imperial na Ucrânia. Para ela, Putin é uma espécie de Lênin reciclado. Uma Rússia verdadeira, que tenta resistir na projeção da imagem de Putin, mas atacada com as armas militares e ideológicas do Ocidente.

Diante desse conflito, algumas conclusões:

1.     A Rússia de um PT embevecido pelo “feito histórico” da reeleição de Putin com 87% dos votos é outra: a potência nuclear que faz contraponto ao “imperialismo americano”;

2.     Na Europa, o século 20 ensinou à esquerda o valor da democracia e de uma ordem internacional baseada em regras;

3.     Na América Latina predomina ainda uma esquerda resistente, mas relegada à caverna do terceiro-mundismo e à figura incrível de Che Guevara;

4.     O militante identitário e iludido quer um Congresso “mais representativo” pela introdução de cotas raciais no sistema eleitoral, “corrigindo” a vontade do eleitorado;

5.     Cada um tem a sua própria Rússia, mas a de Putin é mais verdadeira que a de Volodymyr Zelensky.

Enfim, a “alma profunda” das nações faz gato e sapato do conceito de representação nessa história toda. Desse ponto de vista, necessário! Ou assim ou o dito modernismo europeu se infiltrará no realismo socialista, esterilizando-o. E a Rússia não seria o monólito resistente, sempre igual a si mesmo, como o sorriso de Putin. 

Filosofia da tecnologia.

 Pensar em IA como ameaça nos distrai de seus problemas reais.

Pense no tamanho do problema: o Brasil é um grande usuário de redes sociais, mas 1 em cada 10 pessoas é analfabeta funcional. O país tem 9,3 milhões de pessoas com mais de 15 anos analfabetas (dados de 2023). E esse número cresce conforme vai aumentando a idade. 

As consequências são gigantescas! Sabemos que a IA molda o ecossistema de conhecimento de uma forma que amplia a desinformação e as possibilidades de manipulação. Se temos pessoas que não só não são educadas para lidar com a IA como ainda por cima não sabem interpretar textos, elas podem ser presas fácies, fornecendo seus dados sem saber que o estão fazendo ou sendo manipuladas, recebendo informações falsas. 

Olhando para esses números, fica evidente que precisamos das habilidades básicas [de leitura e interpretação de texto] e também de uma alfabetização extra em IA, que implica na ética da IA. A educação é absolutamente fundamental!

Repare ainda que: a persistência do analfabetismo envergonha o Brasil. A meta de erradicar chaga neste ano não será cumprida. Embora apenas 5,4% da população brasileira seja analfabeta, é gente demais: 9,3 milhões! Faltam recursos, gestão eficiente e campanhas de incentivo para levar os adultos à sala de aula. 90% dessas analfabetos (8,3 milhões) são adultos com mais de 40 anos. Logo:

A.    Os esforços das últimas décadas junto a crianças e adolescentes têm surtido efeito – aconteceram melhorias na educação básica no país;

B.    Na faixa de 15 a 17 anos, o analfabetismo é de apenas 0,05%;

C.    O problema é localizado: o analfabetismo no Nordeste (11,2%) é quase o quádruplo do verificado no Sul (2,8%) e no Sudeste (2,9%);

D.    Os números refletem a ineficácia – ou, no mínimo, insuficiência – das políticas públicas para a EJA, destinadas a quem não cursou ensino fundamental ou médio. Infelizmente, nos últimos anos, os governos não têm dado a atenção necessária a elas. Em 2014, foram destinados R$ 820 milhões à EJA. Em 2021, os recursos alcançaram o menor patamar, apenas R$ 6 milhões;

E.     Ainda temos o problema da alfabetização sem letramento, ou seja, mesmo alunos considerados alfabetizados encontram obstáculos para ler e escrever;

F.     O mínimo que o Estado pode lhes oferecer é a oportunidade de estudar, não importando a idade. Mas, não basta abrir as portas da escola. É preciso incentivá-los a frequentar a sala de aula e terem êxito. 

Diante disso, estamos vivendo hoje o “tecnofeudalismo”, em que os “senhores feudais” são as big techs, e todos os demais, os servos, que pagam “alugéis da nuvem” pelo direito de acessar o que essas organizações possuem. A situação é de uma diferença gigantesca de poder entre as big techs e os cidadãos comuns, que praticamente não têm influência em relação ao que essas empresas fazem. Precisamos clicar em “aceitar os termos de uso”. Mas isso não consiste exatamente em um acordo com os usuários. Ou seja, as diferenças de poder são enormes! 

Entretanto, ainda vivemos numa forma de capitalismo. Ele está mudando, mas ainda é um capitalismo. Um exemplo: imagine um governo mais à esquerda que quer fazer algo acerca dessas diferenças de poder e consegue criar um sistema de justiça social no seu país. O problema é que, com essas empresas, essas diferenças de poder se manifestam em uma escala global. Surge então um desafio: é muito difícil fazer algo no seu país se tecnologias que são desenvolvidas em outro lugar têm tanta influência. Existe, portanto, um problema relacionado a soberania e ao poder da política democrática na era digital. 

Os riscos existenciais (da IA) é uma projeção sobre um futuro distante. As big techs nos distrai na medida em que falam dos problemas da IA - mas do que aconteceria se ela dominasse o mundo. Porém, essa não é a principal questão. No que se refere à Inteligência Artificial (IA), a ideia de que ela ameaça a humanidade nos distrai de seus problemas reais, ou seja, focar demais os perigos de uma IA "superinteligente" nos distrai dos perigos das demais IAs, quais sejam: 

- a regulação da tecnologia, a relação de máquinas com a ética e a interação entre tecnologia e moralidade;

- as limitações de tecnologias como o ChatGPT, de modo que os usuários consigam entender que ele não é uma "máquina da verdade". Se as big techs optam por abrir essas tecnologias para uso geral, elas também deveriam apontar suas limitações; 

- também estamos vendo com cada vez mais frequência IAs sendo usadas para fins militares, e há um risco nisso. Mas não é o ChatGPT que está fazendo isso.

·       A popularidade do bot ChatGPT, tão facilmente usado hoje, como por exemplo para escrever, provoca: qual será o efeito disso?  O que ele está fazendo é realmente escrever? Se sim, como isso difere da escrita humana? Quanto queremos dar a ele esse papel?

·       Qual o limite entre humano e máquina? Como o desenvolvimento tecnológico molda o futuro do trabalho? O que é “aprendizagem de máquina” e “ciência de dados” e que impacto elas têm sobre nossas vidas?

·       As próprias Ias deveriam ter direitos? Se todas essas máquinas inteligentes têm as mesmas habilidades que os humanos, também precisamos conceder direitos a elas? Transumanismo? É um ser senciente [capaz de ter sensações e impressões] ou consciente? Não!

·       Como é a situação das grandes empresas de tecnologia, que monopolizam cada vez mais o mercado?

·       O “status moral” de máquinas fica como? Como isso impacta as leis que criamos para regulá-las?

·       Debruçar sobre os vieses algorítmicos e relações de poder no mercado de tecnologia;

·       Como conceitos como transumanismo, isto é , a ideia de que o ser humano pode ser aprimorado por meio da ciência, se encaixam nesse debate?

·       Tornar conscientes inovações da IA já incorporadas invisivelmente em sistemas tecnológicos de uso cotidiano, ao mesmo tempo que relativiza a expectativa de que ela possa resolver as crises social, climática e racial do mundo atual.

·       Precisamos nos tornar conscientes das inovações da IA já incorporadas invisivelmente em sistemas tecnológicos de uso cotidiano, com impactos de responsabilidade e privacidade, com foco em formulação de políticas públicas que possam ajudar a enfrentar os presentes desafios nesse campo – de preferência antes que seja tarde demais.

Enfim, perigo! As máquinas realmente estão perto de tomar o controle. Isso não é ilusão, sobretudo quando pensamos na tecnologia já disponível hoje. Precisamos pôr os humanos humanistas no controle de toda essa tecnologia. É uma questão de responsabilidade social, de prestação de contas com a vida no planeta: temos que conseguir responder a quem é afetado pela IA. 

quinta-feira, 28 de março de 2024

Casamento: + tarde, por – tempo.

 Amores líquidos.

“Todo esse estudo serve como um importante instrumento de acompanhamento da evolução populacional brasileira, possível parâmetro para estratégias de implementação de políticas públicas”. 

Quando o assunto é “estado civil”, os brasileiros se casam mais tarde e se divorciam mais cedo (mostra IBGE). O país tem alta de uniões homoafetivas e de guarda compartilhada dos filhos. 

(Fonte: pesquisa de Estatísticas do Registro Civil divulgada ontem pelo IBGE, referente ao ano de 2022 e ao primeiro trimestre de 2023 – o período é incluído para englobar números que possam ter sido represados). 

Os principais pontos do atual panorama das uniões civis no país são:

·       O Brasil teve 970.041 casamentos em 2022. O número 4% maior que no ano anterior confirma uma retomada pós-pandemia, mas ainda está abaixo da média de 1.076.280 entre os anos de 2015 e 2019;

·       Os registros civis confirmam que fevereiro é para os relacionamentos sem compromisso do carnaval. Foi quando os brasileiros menos se casaram em 2022, com 63.351 celebrações. Na outra ponta, o Natal e o Ano-Novo não impediram dezembro de ter o maior número de casamentos, com 101.712 registros. Um número que deixa distante os 79.113 de maio, o mês das noivas (IBGE);

·       Houve mais casamentos no segundo do que no primeiro semestre. De janeiro a junho, nenhum mês chegou a 80 mil registros, e na metade final do ano, a marca só não foi ultrapassada uma vez: se maio não é mais o mês dos casamentos, a tradição que liga agosto ao azar ainda parece pesar, e foram celebrados apenas 77.138 uniões; 

·       Os brasileiros em média têm casado mais velhos (31,5 anos os homens, 29 as mulheres). Em 2010, os casamentos eram firmados em média entre homens de 29 anos e mulheres de 26.

·       O fim da relação vem acontecendo mais cedo: em metade dos divórcios o vínculo não chega a 10 anos;

·       O número de casamentos entre pessoas do mesmo sexo cresceu 20% em um ano;

·       No quesito “casamentos homoafetivos”, houve 6.632 casamentos entre pessoas do sexo feminino e 4.390 do sexo masculino. Porém, o aumento no número de matrimônios entre homens (21,9%) foi maior que os entre mulheres (18,4%). Aqui, a idade média dos casais masculinos é de 34,3 anos; e a de mulheres, é de 32,7 anos; 

·       Outra tendência é a alta de guarda compartilhada dos filhos, que saltou de 7,5% em 2014 para 37,8% dos casos;

·       O número de mulheres jovens grávidas diminuiu: Vejamos...

·       Número de mães com menos de 20 cais no país. Queda é observada ao longo dos últimos 12 anos. Parcela de mulheres que têm filhos a partir dos 30 anos aumenta e chega a quase 40% do total em 2022, e percentual das que têm 40 ou mais dobra desde 2000. Em miúdos:

A)   Houve queda relevante nos últimos 12 anos em relação ao número de mulheres que se tornaram mães jovens, com 20 anos ou menos. Em 2000, 21% das mães que registraram seus recém-nascidos estavam nessa faixa de idade. Em 2010, o percentual caiu para 18,5%. Há dois anos, representaram apenas 12%.

B)    Entre as mães de 20 a 29 anos: elas ainda representam a maioria, mas se eram 54,5% do total no início do século, em 2022, esse percentual caiu para 49%. Em contrapartida, mulheres que deram à luz com 30 anos ou mais representam quase 40% do total registrado há dois anos.

C)    A parcela das mães de 30 a 39 anos eram 22% em 2000 e passaram a representar 34,5% do total em 2022. Já o percentual de mães com 40 anos ou mais no mesmo período mudou de 2% para 4% (idade em que muitas estão deixando para ter os filhos, depois da prioridade de dedicar ao trabalho).

D)   Relatos: “Sempre gostei muito de crianças e achava que queria ter filho, mas não tinha aquela paranoia de ter a qualquer custo”; “Tornou-se mais comum mais mulheres se focarem na carreira e por isso engravidarem mais tarde”; “Acho também que a quantidade de filhos diminui, pelo menos na classe média”. 

·       A mãe é a única responsável pelas crianças em 50% das separações (eram 85%), situação vivida pelo pai divorciado em só 3,3% das vezes;

·       Compartilhamentos dos filhos é tendência;

·       Os registros de 2022 apontaram que em 47% das separações registradas, os casais tinham filhos menores de idade, 29,4% não tinham filhos, 15,8% tinham filhos maiores de idade e 7,2% têm filhos maiores e menores de idade. Há um impacto direto em relação a esses filhos pequenos na guarda de menores, tarefa que vem mudando bastante de figura desde 2014, quando a guarda compartilhada passou a ser prioridade aos olhos da Justiça;

·       Se há 10 anos, em 85,1% dos casos de separação, as crianças ficavam com a mãe, esse número foi despencando ano a ano até chegar em 50,3% em 2022. Ao mesmo tempo, os 7,5% dos casos de guarda compartilhada em 2014 foram escalando até alcançar 37,8% há dois anos. Ou seja, a guarda compartilhada tem crescido ano a ano. 

·       O número de cônjuges que se casaram solteiros ainda é maioria (69% do total). Mas teve uma queda e ficou abaixo dos 8,7% de 2002 e 78,2% registrados dez anos depois;

·       O número de viúvos ou divorciados que voltaram a se casar aumentou. Em 2002, os noivos já divorciados ou viúvos eram apenas 12,8%, o percentual chegou a 21,4% em 2012 e atingiu 30,4% em 2022 (nestes casos, as mulheres têm uma idade média de 41 anos e, os homens, de 45). “O primeiro amor passou / O segundo amor passou / O terceiro amor passou / Mas o coração continua” (Carlos Drummond de Andrade). 

 No geral, a maioria dos óbitos é de homens (uma proporção de 121 óbitos masculinos para 100 femininos), mas no recorte a partir dos 80 anos, as mulheres morrem mais (100 óbitos para cada 63 masculinos). O maior contraste entre os sexos ocorre na faixa etária entre 20 e 24 anos, em que os homens morrem cerca de 4x mais que as mulheres: proporção de 401 mortes masculinas para 100 femininas. Crianças, contudo, estão morrendo 27% mais por problemas respiratórios. 

·       Brasil tem queda de 16% nas mortes pós-pandemia. A maioria das mortes (90,7%) se deu por causas naturais. Mas há possibilidade de subnotificação de óbitos por causas consideradas externas – como violência urbana ou acidentes, por exemplo (sobretudo no RJ e na BA).

·       O número de óbitos registrados em todo o país entre 2022 e o primeiro trimestre de 2023 caiu 15,8% em relação a 2021, quando a pandemia da Covid-19 ainda estava no ápice. Mas, apesar de ser a primeira queda no índice, pelo menos desde 2010, o número ainda é considerado alto pelos especialistas. Houve 1.504.763 mortes em 2022 conta 1.786.347 no ano anterior.

·       O aumento nas mortes de crianças de 0 a 14 anos chamou a atenção dos pesquisadores. Entre meninos e meninas de 1 a 4 anos, houve um aumento de 27,7%; de 5 a 9 anos, o crescimento foi de 19,3%. Grande parte foi por conta de doenças respiratórias. No entanto, surpreende essa alta logo no período posterior ao pior momento da pandemia. 

·       Nascimentos ou natalidade em 2022 caem em todas as regiões do país (comparado a 2021). Número é 11% menor em relação à média anterior à pandemia (aponta IBGE). A redução do número de nascimentos é uma tendência histórica, que vem desde os anos 1970, quando a análise começou.

·       A pesquisa retrata as mudanças na sociedade, de valores e comportamento. A queda no número de nascimentos, número de filhos por família só confirmam tendências que a gente já observa, como o empoderamento da mulher, que, já há anos, passa a estudar, entrar no mercado de trabalho, a ter maior aceitação ao não priorizar filhos e casamento.

·       O saldo entre a queda no número de nascimentos e o aumento da população idosa, que vem morrendo menos, tende a impactar o INSS, já que poderá haver menos gente contribuindo para o fundo de aposentadoria a longo prazo.

·       Nordeste se destaca com a maior queda de natalidade. No Sudeste, SP foi o estado em que mais crianças foram registradas em 2022.

·       Ao todo, foram registrados 2.542.298 nascimentos no Brasil – 93,5 mil a menos que no ano anterior (-3,5%) e 308 mil registrados abaixo da média anual anotada entre 2010 a 2019, de 2.850.430 (-10,8%).

·       Segundo o estudo a queda de natalidade foi mais alta no Nordeste (-6,7%), Norte (-3,8%) e Sudeste (-2,6%). Paraíba, Maranhão, Sergipe e Rio Grande do Norte puxam a fila, enquanto SP foi disparado o estado em que mais crianças foram registradas: 512.611 (20% do total). 

Enfim, os brasileiros estão esperando mais para assumir nos cartórios seus relacionamentos – e menos para reconhecer quando eles não deram certo. 


Outros dados relacionados: 

·       Gravidez infantil: meninas de 10 a 14 anos. Em números absolutos, os partos tiveram uma leve queda de 28.967, no ano 2000, para 27.048, uma década depois. Posteriormente, foi registrada uma redução acentuada, para 14.293 no ano retrasado. Na comparação entre os Censos, houve diminuição no total de meninas dessa faixa etária. Em termos proporcionais, a taxa caiu de 3,38 para 2.14 gestações a cada mil garotas, uma redução de 37% em pouco mais de duas décadas. Apesar da queda dos números de gravidez infantil (com 4,72 gestações a cada mil meninas de 10 a 14 anos, enquanto a taxa nacional é de 2,14 e o índice global é de 1,54, enquanto na Europa e na América do Norte é 0,1), o Brasil segue acima da média mundial. Apenas Sul e Sudeste aparecem abaixo da média mundial. Situação no Norte é delicada, e realidade de Sul e Sudeste escancaram desigualdade internas no país. Esses dados são de 2022. A gravidez antes dos 14 anos é considerada de risco para a vida da gestante. Além disso, no Brasil, a lei define qualquer relação sexual com menores dessa idade como crime de estupro de vulnerável. O problema tem diversas causas: início prematuro da vida sexual aliado à falta de informação ou baixa adesão a métodos contraceptivos, além dos altos índices de violência sexual e da dificuldade de acesso a serviços de saúde. A incidência é maior nas camadas sociais mais pobres. 


REFORÇANDO OS DADOS

·       Há uma evolução comportamental em curso no mundo todo, e o Brasil a acompanha. Modernização de costumes, sociedade mais urbana, com ampliação do conceito de família (incluindo as formadas por casais do mesmo sexo) e abertura de mais espaço para as mulheres. Há conquistas expressivas em campos como casamento e guarda dos filhos.

- cai o número de nascimentos, reduzindo a taxa de crescimento populacional, tendência generalizada no planeta;

- a população tende a envelhecer;

- houve queda expressiva na proporção de jovens que se tornaram mães com 20 anos ou menos: de 21% (em 2000) para 12% (2022). Reflexo do avanço da educação formal das mulheres e outras aspirações além da maternidade, em especial no campo profissional.

- a idade das mães está em alta. Há 23 anos a faixa etária entre 20 e 29 anos representava 54,5% do total de mães, agora caiu para 49% (2022). Enquanto isso, a proporção de mães com mais de 30 anos subiu para 34,5%. O segmento de 40 anos ou mais dobrou de 2% para 4% em pouco mais de uma década.

- casamentos mais velhos: em 2010, os noivos tinham em média 29 anos e as noivas 26; agora são 31 e 29, respectivamente (2022). O enlace de casais mais maduros costuma evitar dificuldades no relacionamento, comuns quando casais mais jovens passam a morar sob o mesmo teto.

- as separações se tornaram mais frequentes (em 2022 o total ficou quase 9% acima de 2021). Os divórcios com dez anos ou menos de união passaram, entre 2010 e 2022, de 37,4% para 47,7% do total. Está nesta faixa a maioria das separações.

- A guarda dos filhos menores depois do divórcio costuma ser motivo de desentendimento. De 2014 a 2022, porém, cresceu a proporção da guarda compartilhada (de 7,5% para 37,8%), a solução mais equilibrada que reflete o amadurecimento da sociedade. Há dez anos, o encargo dos filhos, em 85,1% das separações, ficava exclusivamente com a mãe.