Precisamos de bons resultados,
e rápido. É a democracia que está em jogo!
Apesar de assumir a responsabilidade de
abrir novas perspectivas para os de baixo, Lula precisa investir na nova massa
trabalhadora, os que têm renda familiar de 2 a 5 salários mínimos (um grupo
intermediário em que o Bolsa Família não os alcança e onde Bolsonaro teve 9 p.p
a mais antes da eleição). 36% deles reprovam Lula (índice que é de 47% na população com renda familiar mensal de 5 a 10 salários mínimos) - na média geral fica em 29% que avaliam a gestão como ruim ou péssima. E há urgência de resultados na sua atual gestão. Estamos
falando do estrato acima dos mais pobres e abaixo da classe média, que se
mostrou poroso aos “soldadores ideológicos”
bolsonaristas (evangélicos e militares).
“Dois grupos específicos, os evangélicos e os militares,
funcionaram como ‘soldadores ideológicos’ de bloco bolsonarista. E seguirão
assim!”
Esse é o núcleo mais ideologicamente
organizado, que deseja um país cristão, ao passo que ameaça uma base
fundamental do Estado brasileiro, a laicidade. Quanto aos militares, tende a
haver uma forte influência do bolsonarismo nesse grupo, que é também muito
numeroso e capilarizado. Muitos, da ativa e da reserva, optaram por participar
de um governo de extrema direita. A questão militar é muito importante e
difícil, mas precisa ser enfrentada não no sentido de se combatê-la
politicamente, e sim de como equacioná-la com a defesa da democracia. Os
indivíduos na reserva têm direito de ter suas opiniões e participar da cena
política, desde que não comprometam as corporações.
A chave da distribuição
política e eleitoral do Brasil.
Sabemos que houve um forte crescimento
de Lula entre os mais pobres (faixa de renda familiar de até 2 salários
mínimos) com a expansão de programas sociais – o “lulismo”. Lula precisa manter
esse desempenho, e avançar no extrato que vem logo acima deste (a nova massa de
trabalhadores que um dia já foi da Classe C). Bolsonaro perdeu a oportunidade
de tentar uma guinada semelhante, bem feita. Afinal, no Brasil há um problema
grave de segurança pública e o fundamentalismo evangélico diz que, se você se
esforçar, vai melhorar.
Uma série de medidas com foco
na classe média. E
Lula pode reduzir a rejeição da Classe Média e aquecer a Economia ao mesmo
tempo, aumentando-lhe o seu poder de compra – como redução dos juros no cartão
de crédito, facilidades de empréstimos em bancos públicos e uma linha do Minha
Casa, Minha Vida para famílias com renda de até R$ 8 mil, financiamento de
propriedades rurais e programa para estimula a energia solar. Sim, atração pelo bolso, com crédito e alívio na dívida.
Sobre essas ações, vale ressaltar que o custo
para instalar os equipamentos em uma residência pode variar de R$ 15 mil a R$
30 mil. No fim de março, o governo zerou até dezembro de 2026 os impostos
cobrados sobre painéis solares. Também a abertura de linhas de financiamento
para médios produtores rurais é dentro do Plano Safra. O governo estuda atingir
donos de propriedades de até 100 hectares. Um pedido de atenção aos médios
produtores. Enfim, as resistências históricas da classe média ao petismo vão
além da economia. A rejeição também é motivada em parte pelos supostos
escândalos de corrupção que atingiram o partido nos governos anteriores e
valores e uma visão de mundo que o PT não conseguiu compreender. O PT gosta, em
alguns momentos, de demonizar a classe média, talvez confundindo-a com elite,
mas com certa razão.
Em outras palavras, é preciso gerar
emprego e renda, porque a questão material tende a prevalecer no Brasil em
relação a questões de ordem moral e dos costumes, cujo papel é diferente em
países com situação geral de renda e bem-estar mais consolidados.
Em 2018, houve uma reação geral do
eleitorado contra a política, e Bolsonaro foi visto como um sujeito fora do sistema,
embora não fosse. Agora em 2023, há uma urgência maior por resultado porque
temos uma grave ameaça à democracia batendo à porta e espreitando tudo o que
acontece para achar uma nova oportunidade de adentrar.
O bolsonarismo e seus ataques são uma
espécie de show, mas um espetáculo de consequências graves. É um fenômeno que
deseja ser aceitável, naturalizado, normal. Mas, não é como uma novela que você
desliga a TV e outra vida segue. É um fenômeno que causa estragos reais, mesmo
desligando a TV. Atos de selvageria travestidos de roupagem midiática, com
capacidade de arrebentar os prédios mais importantes do sistema político
brasileiro. E esse bolsonarismo não pode ser considerado parte normal do jogo
democrático. Bozo é um líder que usa o radicalismo como estratégia. Mas também
joga dentro das instituições, por exemplo, disputando eleições. Isso precisa
ser interrompido.
Há um risco potencial de “refluxo
autocrático” do verme, capitaneado por apoiadores do ex-presidente Jair
Bolsonaro, que já deram fortes sinais de ruptura democrática. Talvez Bolsonaro
suceda ele próprio, pois outro nome não existe ainda. Bolsonaro perdeu, mas com
uma boa capacidade de comunicação popular. Não existe isso em Tarcísio de
Freitas nem Romeu Zema. E a esquerda também tem esse problema. Lula se
consolidou como uma grande liderança popular. Mas, ambos, estão sem sucessores
claros, e seguirão sendo as duas figuras centrais. É por isso que a polarização
veio para ficar, com a bipolaridade no horizonte. E com pouco espaço para o
centro.
Enfim, a chave para o governo Lula
prevalecer sobre a agenda moral bolsonarista é gerar emprego e renda. Para
Lula, há muito peso da agenda econômica! Nós vamos conseguir, de novo!