Enquanto se mostra crescente a
aceitação, legalização e descriminalização da maconha, o mais completo estudo
já conduzido sobre a droga (Jama e Unifesp) traz evidências do grande mal que
ela causa no cérebro, sobretudo dos adolescentes.
O namoro de Bolsonaro com Trump aponta
para outra breve polêmica brasileira – a liberação da erva por aqui. Mais um
tema que costuma dividir as gerações e provocar opiniões apaixonadas. Afinal, ela
já esteve em discussão no Supremo Tribunal Federal com um placar de 3 a 0 a
favor da descriminalização, mas felizmente foi paralisada. Dos 50 estados
existentes nos EUA, 33 deles já descriminalizaram o porte da maconha para uso
recreativo ou medicinal — e em 11 houve liberação de venda. Nesse precipício já
se jogou o Uruguai, um país que se tornou o primeiro a legalizar a produção, o
comércio e o uso (em 2013). Se o Brasil tomar como exemplos, estamos maconhados
(quer dizer, perdidos!).
Saber que um dos componentes da maconha
faz bem tem o mesmo valor de entender, em detalhes, os mecanismos químicos que
levam ao mal, sobretudo até o início da vida adulta. Então, vamos lá...
A maconha é originária da planta
asiática Cannabis sativa, que contém
480 compostos. Nunca se usou tanta maconha como agora. Dos 180 milhões de
consumidores no mundo, 3 milhões estão no Brasil — o dobro em relação há uma
década. 6 em cada 10 usuários são adolescentes — dos quais cerca de 30% fumam
acima de um cigarro por semana. Em média, estima-se que no Brasil são cerca de
540 000 adolescentes que estão consumindo a droga.
Enquanto as autoridades discutem a
questão no campo jurídico e comportamental, fica de escanteio o hábito dos
jovens e sua saúde física e mental. Aliás, as consequências tardias podem
contribuir para a maconha ser subestimada e ter fama de inofensiva – e esse é o
maior perigo da droga. O mais recente estudo científico baseado em evidências
comprova que:
1.
É
na adolescência que a maconha inflige seus maiores danos. Os efeitos deletérios
são detectados a partir de 4 cigarros semanais, ao longo de pelo menos 1 ano —
quantidade que define o consumo crônico da droga.
2.
Explicação
científica: “O motivo da agressão tem origem na própria constituição do
organismo humano. Nenhuma droga encontra tantos receptores prontos para
interagir com o cérebro como a maconha. Tal efeito vem sobretudo de um dos
compostos da erva, o tetraidrocanabinol (o THC, isolado e reconhecido como o
principal responsável pelo efeito há apenas meio século, pelo Centro de
Pesquisas de Dor da Faculdade de Medicina da Universidade Hebraica de Jerusalém).
Ele imita a ação de substâncias produzidas naturalmente, os endocanabinoides,
neurotransmissores que participam da comunicação entre os neurônios, as
chamadas sinapses. Interferir nesse mecanismo pode tornar as sinapses
ineficientes. É o que faz o THC, ao ocupar o lugar dos endocanabinoides. No
corpo jovem, isso pode deixar marcas indeléveis. Da puberdade até por volta dos
25 anos, o cérebro vive um processo conhecido no jargão científico como poda
neural. Nela, as sinapses modificam-se intensamente, para se consolidar na fase
adulta. A presença da maconha, nessa sinfonia, desafina a orquestra, e os
neurônios passam a fabricar sinapses frágeis. É ineficiência que, tendo começado
cedo, pode se perpetuar.
3.
O
usuário adolescente pode vir a ter, mais tarde, também dificuldades permanentes
de concentração, raciocínio e planejamento, mesmo quando deixa de usar a droga.
Assim, se o adulto que fumou maconha de modo crônico na juventude se considera
bem, intelectualmente apto e ágil, a medicina revela que ele muito
possivelmente está aquém do que poderia ter sido.
4.
Há
áreas em que a perigosa afinidade neural com a maconha é ainda mais intensa.
Uma delas é o córtex frontal, associado a habilidades como aprendizado,
memória, atenção e tomada de decisões. Ou a região parietal, que responde pela
percepção de estímulos sensoriais. Quando essas áreas são afetadas pelo THC,
dá-se o aumento do risco de depressão e tentativa de suicídio na vida adulta. Pessoas
que usam maconha quando jovens têm risco maior de se tornar adultos com
depressão (37% acima da média populacional), ter pensamentos suicidas (50% a
mais) e são três vezes mais propensas a tentar tirar a própria vida.
5.
Se
compararmos os efeitos do álcool e da cocaína com o da maconha... Os efeitos
diretos do álcool e da cocaína sobre o cérebro é o de liberar grandes
quantidades de dopamina, o hormônio do prazer, quese dissipam, na maioria das
vezes, com mais facilidade, poucos dias depois de interrompido o consumo —
embora, ressalve-se, os distúrbios provocados pelo uso contínuo de álcool e
cocaína sejam devastadores. Já os efeitos da maconha, o relaxamento e o torpor,
caem como uma luva para o adolescente, que está numa fase da vida em que não se
encaram grandes responsabilidades práticas mas se experimenta uma
montanha-russa de comportamentos e emoções provocados pelas alterações
hormonais. Mais: a maconha é barata. Com cerca de 4 reais compra-se 1 grama, o
suficiente para um cigarro.
6.
Alguns
anos pra cá alastrou entre os usuários jovens o skunk (gambá, em português), uma variedade de planta da maconha com
maior concentração de THC. O skunk costuma conter mais de 10% de THC. A maconha
comum, por volta de 2% a 4%. O preço de 1 grama de skunk chega a ser até vinte
vezes mais alto — e a ação, muito mais agressiva. O risco de consumidores do
skunk ser acometidos de psicoses, como delírios e alucinações, pode ser até
três vezes maior em relação aos jovens que nunca usaram a maconha.
7.
A
outra maneira agressiva de consumo é pelo estômago. Proliferam (nos EUA e
Europa) alimentos preparados com maconha. Há de tudo: balas, pirulitos, bolos,
cereais matinais, doces. No
Brasil, proliferam em festas e grupos de amigos os alimentos feitos de modo
caseiro com a erva. Na internet, há receitas do “chocotonha”, “brigadonha” e
“bolonha”. Parte do sucesso nesse tipo de uso é a crença de se tratar de uma
via menos agressiva em relação à droga fumada. Não é verdade. O estômago
absorve o THC mais lentamente que os pulmões — após a ingestão, uma pessoa pode
levar de meia a uma hora completa para sentir os efeitos. E tende-se a comer
mais porque não se sente o efeito imediato da droga.
Apesar de a maconha conter algumas
propriedades medicinais, como o CBD, principal composto responsável pela ação
terapêutica da planta, Marijuana faz
mal, muito mal!