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São Francisco do Conde, Bahia, Brazil
Professor, (psico)pedagogo, coordenador pedagógico escolar e Especialista em Educação.
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"Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber" (Art. 205 da Constituição de 1988).

Ø Se eu sou um especialista, então minha especialidade é saber como não ser um especialista ou em saber como acho que especialistas devem ser utilizados. :)



“[...] acho que todo conhecimento deveria estar em uma zona de livre comércio. Seu conhecimento, meu conhecimento, o conhecimento de todo o mundo deveria ser aproveitado. Acho que as pessoas que se recusam a usar o conhecimento de outras pessoas estão cometendo um grande erro. Os que se recusam a partilhar seu conhecimento com outras pessoas estão cometendo um erro ainda maior, porque nós necessitamos disso tudo. Não tenho nenhum problema acerca das ideias que obtive de outras pessoas. Se eu acho que são úteis, eu as vou movendo cuidadosamente e as adoto como minhas” ("O caminho se faz caminhando - conversas sobre educação e mudança social", Paulo Freire e Myles Horton: p. 219).

quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

“Plano Motosserra” (Javier Milei, Argentina).

 

“As coisas vão piorar antes de melhorar”. Prometeu e está cumprindo o ultraliberal que se elegeu com a promessa de enxugar ao máximo a máquina pública.

- Os combustíveis subiram cerca de 60% nas duas primeiras semanas após a posse de Milei;

- O preço da carne saltou 73%;

- Itens como fraldas dobraram de preço;

- Milei corta 5.000 servidores federais (contratos temporários assinados pelo antecessor) e derruba barreira a importado. Em meio a crise e enxugamento, argentino revisa outros 45 mil termporários.

terça-feira, 26 de dezembro de 2023

A mente moralista.

 

“A razão é escrava das paixões” (David Hume). 

Somos tentados por um viés de confirmação para satisfazer nossa exibição moral.

A mente moralista não costuma ceder espaço para um pensamento exploratório.

Nossa natureza está diretamente relacionada ao senso de superioridade moral e propensa ao julgamento. Todo mundo (menos você) é hipócrita. Eis porque a compreensão humana é um milagre e nossa eterna segregação e conflitos uma maldição.

Somos de fato hipócritas egoístas tão habilidosos em encenar a virtude que enganamos a nós mesmos. O moralismo nos segrega, limita nossos potenciais e dificulta a compreensão de nós e do outro. Ficamos cegos para os mundos morais alternativos quando encontramos pessoas ou grupos que compartilham de nossas narrativas.

Os julgamentos morais não surgem da razão, mas das emoções. Isso explica o colapso da cooperação entre diferentes inclinações políticas. Logo, só uma mente moralista superada é capaz de abrir mão da raiva e tomar o caminho da compreensão. Afinal, compreender como a moralidade pode variar nas mais diversas situações é um dos primeiros passos para entender sua mente moralista.

A racionalização não costuma buscar a verdade, mas sim razões para endossar nossas paixões. É por isso que temos uma reação emocional toda vez que há uma contestação de nossos costumes ou crenças. Logo, a razão está jogada nos bastidores da mente humana. A maior parte da ação na psicologia moral vem de processos automáticos derivados de nossas reações emocionais. Nesse contexto, o desejo e a razão nos colocam em diversos conflitos.

A aparência e a reputação são mais importantes para as pessoas do que a realidade. Costumamos fazer as coisas mais populares, não as certas. Damos muita importância para a opinião pública e para os julgamentos dos outros. A sobrevivência dos nossos ancestrais parece ter sido derivada mais da reputação do que da verdade. Somos muito convencidos da própria virtude e criamos uma série de justificativas, muitas vezes infundadas, para endossar nossas crenças. Para isso, os truques mais sujos de retórica costumam ser usados. Como bons argumentadores, estamos em busca dos melhores argumentos que fortaleçam nossos pontos de vistas. Procurar evidências que não sustentem nossa visão de mundo é uma tarefa árdua.

Eis a tendência da mente humana (moralista): o viés de confirmação representa a procura de novas evidências para confirmar aquilo que já se pensa. O autointeresse, a identidade social e as emoções são poderosos fatores que nos afastam de um pensamento exploratório e nos levam para um confirmatório. Eles nos induzem a chegar a uma conclusão predeterminada.

Enfim, cientes disso, por mais brilhante que sejamos, devemos ser cautelosos com a capacidade de raciocínio de qualquer indivíduo. Mesmo nas universidades, o viés de confirmação e a exibição moral fez com que muitos cientistas perdessem os valores da ciência.

NOTA: as críticas, sugestões e apoios são importantes para o desenvolvimento do trabalho.

Inclusão, produtividade e sustentabilidade.

Caminhamos na direção de 3 megatendências –as transições energéticas, demográficas e tecnológicas.

O Banco Mundial sugere um contrato social que combine as demandas entre esquerda e direita. Na esquerda, a demanda típica por inclusão e cidadania; na direita, a exigência por produtividade. O futuro necessário: crescimento sustentável.

Para ativar esse círculo virtuoso de inclusão, produtividade (cidadania) e sustentabilidade, o País precisa corrigir distorções históricas – refletidas nos “muitos Brasis” – que determinaram a distribuição desigual de ativos e a disfuncionalidade das instituições que governam seu uso. Ao mesmo tempo, precisará transformar megatendências – como as transições energéticas, demográficas e tecnológicas – em oportunidades.

Essa construção de um novo contrato social perpassa por três focos:

1.     Ampliar a confiança na capacidade do Estado de entregar suas promessas (através de mecanismos de governança que melhorem a responsabilização e transparência);

2.     Ampliar a confiança das pessoas na capacidade do Estado de mantê-las seguras (reduzindo fatores de risco sociais e individuais da violência e implementando intervenções que viabilizem a resolução pacífica de conflitos);

3.     Reduzir a fragmentação social (diminuindo a disseminação de desinformação e promovendo reformas que construam confiança, cidadania e inclusão).

Diante disso, 6 áreas críticas merecem reforma:

1.     Ampliar a produtividade no setor privado para promover o crescimento sustentável;

2.     Preparar a educação para fechar lacunas entre habilidades e empregos;

3.     Fortalecer a relevância e sustentabilidade dos sistemas de proteção social;

4.     Remodelar uma política fiscal limitada;

5.     Melhorar o acesso à infraestrutura;

6.     Construir um sistema tributário mais equitativo e eficaz.

Os 200 anos de Brasil independente tem muito que de celebrar e lamentar.

Celebrar:

·       A restauração da democracia, em 1988;

·       Mercados mais abertos e inclusivos;

·       Plano Real que estabilizou a macroeconomia;

·       Brasil economia de renda média alta entre as 10 maiores do mundo;

·       Ampliação da igualdade e da proteção social;

Lamentar:

·       Ainda assim, o Brasil é só 11% tão rico quanto os EUA, por exemplo;

·       Enfrentou uma recessão que enfraqueceu o mercado de trabalho;

·       Aumentou a pobreza, a desigualdade e dívida pública;

A depender do sucesso ou fracasso dessas medidas, o Brasil está sujeito a 4 cenários:

1.     “A Distopia Brasileira”: perpetuaria o círculo vicioso de baixa produtividade, baixa inclusão e degradação ambiental. Por falta de reformas, os serviços desiguais e o desemprego alto estimulariam convulsões sociais, incentivando políticas populistas e clientelistas;

2.     “A Estagnação Unida”: seria o progresso somente na inclusão. Mas o foco na redistribuição seria insuficiente para o crescimento do País em um mundo altamente tecnológico e produtivo;

3.     “A Grande Divisão”: seria o progresso só na produtividade. As elites enriqueceriam, mas os pobres seguiriam na vala comum do desespero, onde cairiam porções crescentes das classes médias. As tensões sociais e tentações autoritárias cresceriam, prejudicando o potencial para o comércio global e investimentos;

4.     “A Usina de Energia Latino-Americana”: o País proveria acesso igual à infraestrutura e mercados de crédito. As divisões sociais diminuiriam, fundando os alicerces para reformas ambiciosas. Com um contrato social forte e o crescimento inclusivo da produtividade, os benefícios das mudanças tecnológicas e de uma melhor educação seriam sentidos por todos. O Brasil manteria sua diversidade – social, econômica e política –, mas os muitos Brasis se aproximariam e progrediriam juntos.

Enfim, o futuro do Brasil é incerto, mas as megatendências globais podem ser transformadas em oportunidades e está nas mãos dos brasileiros aproveitá-las para construir uma Nação mais produtiva, inclusiva e sustentável.

Créditos para 2024...

 

·       As eleições municipais são sempre um estímulo adicional para a aprovação de gastos sem qualidade;

·       Os sinais de desaceleração da economia têm encorajado os defensores do gasto público a retomar a carga por medidas do passado, a reeditar tentativas de driblar a regra fiscal e apostar em estatais como motor de desenvolvimento;

·       No exterior, os conflitos entre Rússia e Ucrânia e Israel e Hamas continuarão a dominar o cenário internacional, bem como as incertezas sobre a economia nos EUA, Europa e China.

·       O mundo assiste incrédulo às preparações para as eleições americanas. Se Trump vencer e voltar ao poder, acontecerá um impacto profundo tanto na democracia americana quanto na ordem mundial.

·       No mundo, uma revolução tecnológica – que inclui internet, redes sociais, smartphones e inteligência artificial – dá mais poder aos indivíduos e, portanto, dificulta a vida de qualquer instituição cujo trabalho inclui controlá-los. As energias sociais que estavam adormecidas e foram liberadas nos ameaçam com o caos (adeus consenso moral, tchau certeza no progresso, descrença na bondade do homem e na democracia).

·       A loucura pode estar só começando em 2024: as pessoas não veem mais os mesmos programas de TV, nem estudam mais o mesmo currículo e pouco menos votam nos mesmos partidos. O novo normal acabou com os bons e velhos tempos. A divisão se impõe o tempo todo e, junto com ela, o populismo.

·       A “loucura” está aí, não irá embora e não dá para proibi-la. É preciso mergulhar de vez nas novas águas e aprender a jogar o jogo do debate público, alargando nossa concepção do que é aceitável.

·       Será impossível acabar com as fake news, mas será necessário entender porque tanta gente está tão ávida por acreditar nelas e aprender a conquistar  a confiança do público.

·      A tecnologia não retrocederá. O controle da opinião e da informação não é mais possível. A casta dos especialistas não mais será tão boa assim. O ressentimento explodiu, porque a maioria das pessoas não está mais excluída do poder. Não aposte no sufocamento. Técnicos e instituições não dão mais conta de todo problema social. A própria noção de verdade entrou em xeque. O que voltou a existir é a política, ou seja, o conflito irremediável entre diferentes grupos humanos e diferentes visões de mundo, que jamais serão resolvidos pela pura discussão técnica.

·       Enfim, agora só resta correr em pânico, numa fuga desesperada, porque tudo é catástrofe, com subtexto político?

A agenda responsável e articulada de Haddad.

 Os méritos de Fernando Haddad:

1.     Deu fim ao desmoralizado teto de gastos e propôs um novo arcabouço fiscal em seu lugar;

2.     Aos trancos e barrancos e sob muito ceticismo, conseguiu apoio para as medidas que podem ampliar a arrecadação no ano que vem por meio da taxação dos fundos exclusivos e offshore, apostas esportivas e a regulamentação das subvenções de ICMS;

3.     A reforma tributária sobre o consumo foi finalmente aprovada pelo Congresso;

4.     A economia também conseguiu andar com as próprias pernas. O desempenho do agronegócio deve garantir um crescimento de 3% ao PIB neste ano, o BC tem vencido a resistência da inflação pós-pandemia e o desemprego segue em patamares historicamente baixos;

5.     O Brasil tornou a ser visto como um porto seguro para investidores, sobretudo depois que voltou a se comprometer com o avanço da agenda ambiental e o combate ao desmatamento;

Enfim, o desafio continua gigante. Haddad terá que vencer as pressões sobre o reequilíbrio das contas públicas e conter a trajetória de crescimento da dívida pública, garantido os investimentos sociais. Ele terá que ter sabedoria para fazer boas escolhas (entre elas, em quais batalhas entrar), dividir o mérito com o Executivo, saber negociar com o Congresso para sua agenda avançar e resistir no caminho da responsabilidade social.

segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

Fim da reeleição? Nãããoo!

 

A ideia em curso de fim da reeleição é, na realidade, um verdadeiro “presente de grego”. O Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, disse que vai colocar em pauta uma proposta que prevê o fim da reeleição para caros no Executivo.

Movimento pelo fim da reeleição porque existiria uma vantagem desproporcional do incumbente: 1) tanto por ser mais conhecido; 2) pelo risco de manipular a máquina pública para se reeleger. 3) gera uma preocupação excessiva do incumbente, fazendo que a atuação do governo se transforme em uma espécie de companha perpétua de sua manutenção no poder.

Em defesa da reeleição: 1) uma chance de o eleitor avaliar retrospectivamente a performance de um governante, premiando ou punindo pelo seu desempenho; 2) ao ampliar o horizonte temporal do governante no poder, cria uma estrutura de incentivos para o bom comportamento e para que o governante alinhe a sua conduta às preferências do eleitor mediano; 3) sem a reeleição, o eleitor só teria o elemento prospectivo da democracia como fonte de informação; ou seja, o olhar para frente a partir das propostas e promessas de campanha dos candidatos, sem a possibilidade de complementar a sua avaliação a partir da atuação concreta do incumbente ao longo do governo. 4) é da combinação do voto retrospectivo com o voto prospectivo que a democracia é exercida na sua plenitude; 5) o risco de perder o poder é justamente a força motriz que incentiva o governante de plantão a não “dormir tranquilo”. A ambição de se manter no poder via reeleição, ao produzir insônia no governante, tem o potencial de gerar bom governo; 6) os políticos que são fiscalmente responsáveis durante seus mandatos aumentaram as suas chances de reeleição. Enquanto os que foram fiscalmente oportunistas diminuíram suas chances de se manter no poder. Ou seja, déficit fiscal não é recompensado nas urnas, independentemente da sofisticação dos eleitores; 7) Uma forma de diminuir uma suposta vantagem desproporcional ou de potenciais comportamentos oportunistas do incumbente é fortalecer a independência e capacidade organizacional das instituições de controle, como tribunais de contas, justiça eleitoral controladorias, Banco Central etc.

Apreço ao bom jornalismo.

 

O bom jornalismo é aquele que não se contenta com rumores infundados, com boatos inventados por imaginações febris. Ela informa com fatos, com resultados, sem julgar as intenções, mantendo a legítima diversidade de opiniões, num plano equânime, sem descer ao ataque pessoal.

É difícil que haja verdadeira convivência onde falta verdadeira informação; e a informação verdadeira é aquela que não tem medo da verdade e que não se deixa levar por desejos de subir, de falso prestígio ou de vantagens econômicas.

Logo, é preciso se contrapor a uma doença cultural do nosso tempo: o empenho em confrontar verdade e liberdade. Frequentemente as convicções, mesmo quando livremente assumidas, recebem o estigma de fundamentalismo. É o covarde recurso de rotular negativamente quem pensa de modo diverso. Impõe-se, em nome da liberdade, o que se poderia chamar de dogma do relativismo. Esta relativização da verdade não se manifesta apenas no campo das ideias. De fato, tem inúmeras consequências na prática jornalística. 

Enfim, informar não é ficar a meio caminho entre a verdade e a mentira. O bom jornalismo é aquele que aprofunda, vai atrás da verdade que frequentemente está camuflada atrás da verdade aparente. É, sobretudo, aquele que não se esconde por trás de uma neutralidade falsa e cômoda.

Morte e Renascimento.

Qual é o lugar da Natureza em nossa consciência?

“Os animais têm pouca consciência, mas muitos impulsos e reações que apontam para a existência de uma psique; os povos originários fazem coisas cujo significado lhes é desconhecido. Mas perguntar ao homem de hoje sobre a árvore de Natal seria vão, já que as pessoas não têm a mínima noção do sentido desse costume” (Carl Jung).

Para começar, é voltar a ter um lugar. Mesmo pessoas que dominavam a escrita e o conhecimento racional no Renascimento reconhecia a lumen naturae. Parece que o problema foi se agravando com o advento tecnológico que trouxe uma perda de capacidade de explicar hábitos – uma queda do conhecimento contemporâneo sobre o mundo natural.

Por muito tempo a observação da vida ao redor era a leitura do livro do mundo. O guia maior para o conhecimento humano. Era um conhecimento derivado das lições dadas pelos ciclos naturais e expresso por ritos, especialmente os ligados aos temas da morte e do renascimento. Aí veio a vida intelectual da escrita que, graças ao toque cristão, definiu a natureza como mestra por ser criação divina. Essas duas forças paradoxais foram canalizadas pelo Cristo que morre e renasce na eternidade. Um caráter de nascimento duplo, material e espiritual.

Até aí, tudo bem! Mas veio a tecnologia nefasta. Uma bomba atômica sob a forma de luz de um sol negro que não é a natural. A grande explosão que marcou a perda radical da consciência da natureza pelo homem. Natureza e conhecimento se separaram no homem, pelo homem. Digamos que, o que Deus uniu a Tecnologia separou.

Essa natureza original, ainda hoje, está forte nos ecos de mitos, presentes, por exemplo, nas palavras de uso diário: o sol nasce, o dia morre. O que significa dizer que psique é muito mais do que consciência, e que ambas não são tábulas rasas no nascimento. Há instintos específicos; há vestígios de evolução.

Logo, o problema atual é o de recuperar o potencial de conhecimento necessário para lidar com a natureza, na consciência moderna. “Abre-te Sésamo! Quero sair!”.

Enfim, é preciso recolocar de volta a Natureza para a nossa consciência, sem mitos fanáticos, mas recriados e adaptados às exigências contemporâneas, saudavelmente.

domingo, 24 de dezembro de 2023

A política em 2024...

 As questões cruciais que vão impactar as eleições do próximo ano...

1.     Quanto a polarização nacional vai interferir nas eleições municipais?

2.     Disputas na base vão afetar a governabilidade da gestão Lula?

3.     Quais temas vão pautar as campanhas nas cidades?

4.     A inteligência artificial vai turbinar a propagação das fake news?

1.     Quanto a polarização nacional vai interferir nas eleições municipais?

Qual é o peso que Lula e Bolsonaro terão nas campanhas de 2024? Até que ponto conseguirão transformar a corrida por prefeituras e câmaras de vereadores em um “terceiro turno” das eleições de 2022, a mais acirrada desde a redemocratização?

·       Haverá um peso de temas locais.

·       O embate entre Lula e Bolsonaro se concentrará nas metrópoles.

·       Os dois buscam pautar disputas em grandes centros e ampliar sua base de prefeitos.

·       A importância da questão local é uma lei de ferro nas eleições municipais, difícil de ser quebrada. Logo, há dúvidas sobre a capacidade de figuras nacionais ditarem a agenda de eleições que, via de regra, se voltam para temas locais. O TP vai tentar um “efeito Lula”, mas isso não ocorre em todas as regiões. E a agenda de valores mobilizada pelo bolsonarismo pode ser muito abstrata no contexto dos municípios. 

·       A polarização pode ter papel significativo, mas em diferentes perfis de disputas. A polarização deve ser mais decisiva nas metrópoles, e o debate deve se concentrar nas gestões locais nas cidades pequenas e em regiões em que o voto foi mais homogêneo na eleição presidencial. 

·       Nas metrópoles, é o prefeito que pode vetar ou dar vazão aos debates sobre as escolas municipais abordarem sexualidade ou não, sobre qual vai ser o livro utilizado. A polarização vai chegar nas eleições municipais. 

·       Há expectativas de nacionalização em 2024, quanto da intenção de lideranças nacionais de assumirem as rédeas da campanha.

·       A eleição de SP é o terceiro turno de 2022. Lula teve mais votos do que Bolsonaro na cidade, e entende que se vencer ali de novo sai fortalecido para 2026.

·       Bolsonaro e Lula têm influência, mas sozinhos não elegem prefeitos. Em muitos casos, vai depender do patamar de rejeição desses gestores.

·       Para alimentar rejeição entre si, será forte outra vez a agenda de costumes, que costuma ser mobilizada em municípios menores, sob o formato de “campanha suja”. Isso se mistura a uma dinâmica quase de fofoca, mas tem efetividade grande. 

2.     Disputas na base vão afetar a governabilidade da gestão Lula?

As disputas entre partidos da base de Lula, que se enfrentarão em 22 das 26 capitais, vão respingar na governabilidade do presidente?

·       Há movimentação de integrantes de partidos da base de Lula que ensaiam embates na maioria das capitais. É preciso evitar atritos que afetem a governabilidade. Afinal, entreveros em disputas municipais já tiveram impacto em alianças partidárias nacionais. Acenos do PT a siglas de esquerda e do Centrão sugerem preocupação em blindar o governo de eventuais fissuras nos municípios.

·       É preciso cautela em cidades onde mais de um partido da base lançar candidato. Esta será a situação de 22 das 26 capitais (as exceções são BH, Manaus, Macapá e Porto Velho).

·       O PT tende a evitar campanhas “com sangue nos olhos” mesmo em capitais onde estiver disposto a enfrentar aliados. 

·       O PT, ao tentar ampliar sua base de prefeitos a reboque da volta do partido à Presidência da República, pode entrar em conflito com interesses locais de aliados, com risco de eventuais fissuras na base governista. A briga para abrigar nomes vistos com potencial eleitoral é mais um foco de tensão na coalizão de 13 siglas que apoiam o governo. 

3.     Quais temas vão pautar as campanhas nas cidades?

Praticamente certo é que temas ligados à oferta de serviços públicos, e não a política nacional, vão pautar as campanhas. A agenda é mais concreta e conectada com a vida cotidiana nas cidades. 

·       Meio ambiente, geralmente visto como uma questão mais nacional, é citado, devido às recentes ondas de calor e as fortes chuvas.

·       A mobilidade urbana (incluindo a tarifa zero, ônibus lotados, cidade e sua conservação), saúde (embora não seja uma atribuição dos municípios) e segurança pública. Debates sobre privatizações do acesso à água e das empresad de energia. 

4.     A inteligência artificial vai turbinar a propagação das fake news?

E, na primeira eleição brasileira após a popularização de ferramentas de IA, resta saber se essas novas tecnologias vão potencializar a disseminação de fake news. Quais as formas de combatê-las? 

·       Mais da metade dos brasileiros (51%) acredita que a inteligência artificial deve agravar a disseminação de fake news entre a população (pesquisa Ipsos). Por aqui, 74% das pessoas avaliam que esse tipo de tecnologia já contribui para a criação de imagens e histórias falsas, independentemente do que venha a acontecer no futuro. Ainda assim, entre os brasileiros, 72% têm confiança de que são capazes de discernir uma notícia verdadeira de uma falsa – o índice está acima da média global, de 66%. 

·       Primeira eleição brasileira após popularização da IA será ‘laboratório’ para possível manipulação de vídeos, textos, áudios e imagens (para plataformas como Instagram, TikTok, WhatsApp); estudiosos defendem aplicação da mesma tecnologia para combater seu mau uso. Elas podem ajudar a reduzir custos e automatizar peças de propaganda, e tornam mais complexas as campanhas de desinformação, ao produzirem conteúdos que são mais difíceis de se detectar como falsos ou editados.

·       Quanto à disseminação de desinformação, uma das principais preocupações é com os chamados deepfakes, vídeos que, em geral, combinam falas a imagens já existentes. Teremos montagens, deepfakes e uso de IA para manipulação de imagens e informações de forma mais generalizada. Você consegue fazer criações ou alterações de contexto de uma forma muito mais simplificada.

·       O exemplo argentino: IA utilizada para produzir materiais de campanha. Um caso com ampla repercussão foi o de um vídeo manipulado em que inseriu o rosto de Massa no lugar do de outro homem que aprecia em imagens de 2016 cheirando um pó branco. O objetivo era associar o candidato, que acabou derrotado, ao uso de cocaína. Mais recentemente, uma imagem falsa mostrou Milei ajoelhado diante do presidente da China, Xi Jinping.

·       Há espaço para o uso de Ias em tarefas e estratégias menos visíveis das campanhas, como o direcionamento de propaganda e a criação de chat bots para interagir com eleitores ou para alimentar contas falsas.

·       A disputa municipal é uma eleição de teste por ser mais pulverizada. Logo, monitorar casos de desinformação associados ao uso dessas novas tecnologias será um desafio ainda maior no contexto dos pleitos municipais. A disputa em 2024 é mais capilarizada e há diferenças nas estruturas dos tribunais regionais eleitorais nos estados. Nenhuma campanha vai viralizar por conta própria. Terá que gastar com internet ou ter um alvo.

·       A disputa municipal é um “aquecimento” para 2026. O impacto pode ser mais evidente nas grandes cidades, em que há candidatos com maior estrutura para investir nessas tecnologias. Do ponto de vista das instituições, será preciso buscar formas de aplicar a própria tecnologia para detectar seu uso. “Você tem que criar máquinas de IA para ajudar na checagem do uso da IA para distorcer o processo eleitoral (práticas antiéticas e ilegais)”.

·       A experimentação com Ias pelas campanha já deve ocorrer logo no primeiro semestre, período que servirá como um termômetro para as eleições.

Enfim, o Congresso precisa criar urgentemente uma legislação específica para responsabilizar quem utiliza a tecnologia para tentar influenciar de forma irregular o voto de eleitores. A lei também precisa ser mais rígida e célere, provocando a cassação e inelegibilidade de candidatos que utilizarem IA para desvirtuar o debate eleitoral.

sábado, 23 de dezembro de 2023

Os tons de pele do Brasil.

 O “desbranquamento” do Brasil.

Todos contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e a Intolerância. 

·       Uma inédita (pela primeira vez na história) mudança na forma como os brasileiros se veem: os que se dizem pardos superam os que se consideram brancos (IBGE, 2022). Os números confirmam a tendência de mudança do pertencimento étnico e racial dos brasileiros.

- Pessoas pardas: 92.083.286 (45,3%);

- Pessoas brancas: 88.252.121 (43,5%);

- Pessoas pretas: 20.656.458 (10,2%);

- Indígenas: 1.694.836 (0,8%);

- Amarelas: 850.130 (0,4%).

·       O crescimento do número de pardos também está ligado ao aumento do chamado letramento racial adquirido ao longo da última década. A autodeclaração parda está atrelada à quebra de preconceitos raciais. O estigma sobre o que é ser negro faz com que muitos pardos, inclusive em sua família, se declarem brancos. O letramento racial é importante pra entendermos o que é uma pessoa negra e que essa pessoa tem uma diversidade de tons de pele, que inclui o pardo. Antes, a nossa cor era declarada no nascimento, por médicos. Hoje, isso já é fruto de uma autoidentificação que perpassa experiências de vida.

·       O Censo mostrou que a população parda é predominante nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, e a branca é maioria no Sul e Sudeste. As pessoas com cor ou raça preta têm maior preso relativo no Nordeste. A população amarela tem maior presença no Sudeste, e os indígenas, no Norte.

·       A distribuição por cor ou raça predominante por município aponta que 58,3% das cidades brasileiras (3.245) são ocupadas majoritariamente por pessoas de cor ou etnia parda. Os brancos são maioria em 2.283 municípios (41%), os indígenas, em 33 (0,6%), e os negros, nem nove (0,1%).

·       O importante é cruzar esses indicadores com outras variáveis e construir as políticas públicas para área de saúde, educação, assistência social...

·       A população indígena cresceu e o número de pessoas amarelas despencou.

·       Isso retrata a diversidade da população e uma salutar conscientização e valorização racial dos brasileiros.

·       Esses números ajudarão a basear políticas públicas, como uma nova orientação de cotas nas universidades.

·       IBGE considera raça como uma categoria construída na interação social, e não como um conceito biológico. No Censo, cada pessoa informou a sua percepção sobre a cor ou raça a que pertence, baseado em critérios como origem familiar, cor da pele, traços físicos, etnia e pertencimento comunitário.

·       Destaca-se o crescimento de 42,3% da população preta e de 11,9% dos pardos. Houve um decréscimo de 3,1% de brancos. Há um forte avanço da população não branca. Os habitantes do país passaram a enxergar a cor e raça de um espectro diferente, valorizando mais a miscigenação e a variedade dos tons não brancos.

·       No primeiro Censo, de 1872, se interpretava o Brasil como um país europeu formado majoritariamente por brancos, alfabetizados e católicos. Essa interpretação, que encobria o que era o povo brasileiro, foi desmontada pela pesquisa.

·       A população preta é a única em que o número de homens supera o de mulheres (100 mulheres pretas para 104 homens pretos). Na média nacional são 100 mulheres para 94,2 homens.

·       O IBGE investiga as 5 categorias étnico-raciais : branca, preta, amarela, parda e indígena.

·       Ao longo dos últimos 31 anos, a população branca ocupava a liderança em todas as faixas etárias. Agora, há um crescimento de pretos e pardos em todos os grupos de idade, e o inverso ocorreu entre a parcela da população que se declara branca. Mas mesmo com a perda de representação, ela ainda é predominante entre os mais velhos. A preponderância da população branca se concentra nas pessoas a partir de 45 anos de idade ou mais.