“Nada que é vasto entra na vida dos mortais sem trazer uma maldição”.
(Sófocles)
-
PONTOS POSITIVOS: a contrarreação dos usuários.
1. As redes abriram
possibilidades até então inimagináveis de interação;
2. Famílias e
amigos havia muito distantes se reencontraram no Facebook;
3. Campanhas de doação
de órgãos deram mais esperança aos transplantes compatíveis;
4. Explosão dos
grupos que unem gente de todo o mundo com interesses comuns;
5. Deram a milhões
de anônimos a chance de, pela primeira vez na história, expressar opiniões;
6. As redes
trouxeram um maior espaço para vozes que antes não tinha acesso à mídia
tradicional;
7. O uso delas como instrumento de mobilização política em larga escala, como aflorou por aqui durante as manifestações de 2013. A maioria dos atos foi organizada pelo Facebook e divulgada em tempo real no Twitter.
8. Reuniram membros perdidos de famílias.
9. A internet é o caminho para vender e consumir livros, e as redes sociais podem ser utilizadas para esse propósito. Aliás, a nova tecnologia e a leitura tradicional precisam andar lado a lado. Embora estejamos num mundo tecnológico, a leitura é fundamental para percepção de mundo e desenvolvimento de pensamentos críticos.
-
PONTOS NEGATIVOS: a influência negativa das redes.
1. Veio a intensa
polarização e os discursos de ódio que passaram a ser uma ameaça à democracia.
2. Veio, também, as
Fake News, que destroem reputações, influenciam de forma suja os processos
eleitorais e circulam em uma velocidade seis vezes maior do que as notícias
verdadeiras (os boatos e teorias conspiratórias são sempre mais chamativos do
que o mundo em preto e branco da realidade). Alguns exemplos emblemáticos: num
caso tráico, a veiculação de conteúdo odioso no Facebook levou ao massacre da
minoira muçulmana em Mianmar, em 2018. O submundo das redes influenciou o
Brexit, a eleição de Trump nos EUA e de Jair Bolsonaro no Brasil.
3. São dominadas
por um modo específico de funcionar dos
algoritmos: as ferramentas de inteligência artificial que interpretam e se
antecipam aos desejos das pessoas nas redes. É um expediente que simplifica
bastante as coisas.
4. Parece que não,
mas no fundo, Facebook, Instagram, Twitter, YouTube e companhia não estão
primariamente interessados no bem-estar das pessoas ou países, mas em obter
lucros. E para isso, essas companhias não medem artifícios para manter as
pessoas conectadas pelo maior tempo possível, tornando-se, portanto, altamente
viciosas.
5. As companhias
detentoras das redes sociais vendem a seus anunciantes a possibilidade de
atingir seus usuários, que navegam ali despreocupados. “Se você não está
pagando pelo produto, então você é o produto!”. Esse produto-você é algo mais
sutil: a gradativa, leve e imperceptível mudança em nosso comportamento e
percepção operada pelas redes. “Esta é a forma de eles ganharem: mudar o que
você faz, o que você pensa, quem você é”.
6. No afã de serem
cada vez mais eficientes na tarefa de prender a atenção dos usuários, as redes
sociais se valem de seus eficiente algoritmos para rastrear a vida, os gostos e
opiniões das pessoas. “Muitos pensam no dia em que a inteligência artificial
dominará os humanos. Esse dia já chegou – são as redes sociais”.
7. Nosso cérebro,
que levou milhares de anos para adquirir sua excepcional capacidade de
processamento e raciocínio, agora tem de competir com supercomputadores que usam um volume colossal de informação para
perpetrar a tarefa de nos influenciar,
manipular e prender.
8. As redes sociais
recorrem a truques de persuasão
psicológica que exploram desejos e
medos atávicos, e de eficácia tão cirúrgica quanto imperceptível.
9. Há fatores que
assemelham o vício em redes sociais à dependência em drogas: durante o uso das
redes, o fato frugal de dar ou receber likes, por exemplo, ativa a área do
córtex relacionada à sensação de recompensa, liberando no organismo uma
torrente de dopamina, neurotransmissor ligado ao prazer e ao bem-estar.
10. O vício nas
redes tem uma agravante em relação a outros: sua ação silenciosa. “Vivemos em
ambientes permissivos ao uso do celular, então é mais difícil perceber quando
alguém está com problemas”.
11. Há tremendos
efeitos deletérios dessa dependência sobre a vida pessoal. As vítimas
principais são os jovens da chamada Geração Z, que nasceram a partir de 1996 e
já cresceram imersos na fissura das curtidas.
12. Há um aumento
vertiginoso na taxa de suicídios. Por exemplo, entre meninas americanas quando
as redes sociais se tornaram amplamente disponíveis por meio de smartphones,
entre 2011 e 2018, o número de suicídios cresceu 150% entre garotas de 10 a 14
anos.
13. O narcisismo
inerente às redes fez surgir até novos distúrbios, como a “dismorfia do
Snapchat” – tentativa das meninas de mudar o corpo para se adequar ao padrão
característico das fotos naquela plataforma.
14. No plano
coletivo, o impacto das redes não é menos preocupante. Ao permitirem e
estimularem a customização da vida social conforme os anseios (e
suscetibilidades) de cada usuário, elas criaram bolhas de realidade peculiares,
que não se comunicam entre si. As pessoas passaram a viver a ilusão de um
Matrix personalizado: cada um agora vive em seu mundo próprio, onde interagem
só com quem comunga das mesmas opiniões,
preocupações e, não raro, pirações.
15. Onde tudo isso nos levou? A um mundo em
que a crença em maluquices como o terraplanismo se exibe sem pudor e
em que a polarização atinge níveis tóxicos e perigosos. A democracia é,
obviamente, a vítima em potencial da história.
16. A utilização da
Internet ampliou sua importância na disputa presidencial de 2018, já sob a
sombra da desconfiança. Principal ferramenta de campanha de Bolsonaro, passou a
ser vista como fator de distorção, em razão das suspeitas sobre o uso massivo
de robôs e de fake News, enquanto fugiu o tempo todo dos debates presenciais.
Empossado, Bolsonaro reforçou o uso das redes sociais como ferramenta política
ao transformá-las em uma espécie de canal oficial de veiculação dos
acontecimentos do Governo e das suas opiniões sobre temas variados. Um pedaço
de sua militância utiliza esses canais, às vezes com o apoio do próprio
presidente, para mobilizar atos contra a democracia, agredir personagens de
outros poderes da República, distribuir insultos, mentiras e toda sorte de
baixarias digitais contra adversários.
17. Temos eleições municipais no meio de uma Pandemia do novo coronavírus, que limitou a campanha de rua, o que potencializa o papel desempenhado pelas redes sociais que vão determinar uma eleição em que tudo é resolvido em tempo real. E o pior, estamos falando de política na era em que as fake News são mais rápidas que os fatos (um estudo diz que Fake News no Twitter se espalha 6 x mais rápido do que notícia verdadeira). Como vai ser o mundo quanto 1 tem 6x mais vantagem do que o outro? Informação falsa dá mais dinheiro às empresas do que a verdade. É lucro por desinformação. A verdade é chata!
18. As redes sociais invente e reinventa seus próprios prazeres – uma babel digital. Das fake News, a contas de robôs, do ódio até a manipulação de opiniões com a publicação de conteúdos que põem as pessoas em risco durante a pandemia do coronavírus.
19. Algoritmos e políticos manipuladores estão se tornando tão bons em aprender como nos provocar, ficando tão bons em criar Fake News, que absorvemos como se fosse a realidade, nos confundindo em acreditar nessas mentiras. É como se tivéssemos menos controle em quem somos e no que acreditamos.
20. Em 4 anos, caiu o número de leitores no país. A amizade com os livros anda abalada, sobretudo entre os mais jovens. De 2015-2019, o número de leitores no país caiu de 56% para 52%. A maior perda de leitores foi registrada entre a faixa etária de 14-17 anos (de 75% para 67%) seguida pela faixa etária de 18-24 anos (de 67% para 59%). A concorrência com a tecnologia deixa o desafio de atrair os adolescentes ao mundo dos livros ainda maior. O que seduzirá o jovem para fazê-lo sair do game e encontrar o livro?
21. Cada pessoa tem a sua própria realidade com os seus próprios fatos. Aparentemente, isso parece bom, pois, imitaria a liberdade. Todavia, com o tempo, você tem a falsa sensação que todo mundo concorda com você, mas o que se criou ali foi um grupo homogêneo, filtrado e desprovido da democracia.
Não é só a Covid-19 que está se espalhando rápido. Há um poderoso fluxo de desinformação online sobre o vírus. Estamos sendo bombardeados por boatos. Mas, imagina um mundo onde todos acreditem que nada é verdade (que tudo é mentira, é teoria da conspiração, de que eu não devo confiar em ninguém)... É um mundo onde a Democracia está ruindo rápido, porque está enfrentando uma crise de confiança. O que estamos assistindo é um ataque global contra a Democracia. A maioria dos países-alvos são países que realizam eleições democráticas. E isso está acontecendo em escala, através de agentes do Estado, pessoas com milhões de dólares querendo desestabilizar ali e acolá.
Os criadores da "Indústria da Tecnologia" criaram as ferramentas para desestabilizar e desfazer o tecido da sociedade. Cada país, todos ao mesmo tempo e em toda parte. Algumas das nações mais "desenvolvidas do mundo", tais como Alemanha, Espanha, França, Austrália, Brasil... Elas estão sendo implodidas. É como se fosse uma guerra de controle remoto: um país pode manipular o outro sem invadir as suas fronteiras físicas.
Queremos esse sistema à venda pelo lance mais elevado? Que a Democracia fique totalmente à venda para se chegar à mente que quiser? Criar uma mentira para uma população específica e criar guerras culturais? Queremos isso?
Muitos desses problemas
discutidos, como a polarização política, existem aos montes na televisão a
cabo. A mídia tem exatamente o mesmo problema, onde o modelo de negócios deles,
no geral, é vender a nossa atenção aos anunciantes. Inclusive, essa polarização
é extremamente útil para manter as pessoas online. A Internet é só mais uma
nova e eficiente forma de fazer isso. As pessoas acham que o algoritmo é
projetado para dá o que elas querem, mas na verdade eles são projetados para
conduzi-las à "toca do coelho". Cada vez mais inteligentes, eles
negam a ciência e afirmam o absurdo se preciso for para te capturar (como
movimentos antivacinas, terraplanistas, pizzagates, etc.).
CONCLUSÃO: Então...
*Onde estão as pessoas?*
Se fosse mais um tempo atrás, a gente responderia que *as pessoas estariam na frente da TV.* Mas, não, as pessoas estão mergulhadas mais profundamente nas redes sociais. E isso incomoda muito as grandes emissoras de televisão que tentam desesperadamente resgatar seus telespectadores e sua posição preferida na sala de estar.
De um lado, as grandes emissoras de TV, do outro, enormes companhias de redes globais como o Facebook, o Twitter, o Instagram e o Google. Uma guerra tecnológica? Sim! E o pior é que você não pode mudar o sistema de dentro dele. Menos provável ainda consiga muita coisa se afundando na areia movediça das programações televisivas ou navegando sem rumo nas redes sociais, cujo uso excessivo e descontrolado pode mesmo é causar insanidade, agressões à democracia e até uma guerra civil no curto prazo.
A TV mente e manipula tão bem quanto o esgoto das Fakes News nas redes sociais, ambas uma máquina que dissemina mentiras mais rapidamente que a verdade. Na batalha de quem mente mais e melhor sob o pretexto de restabelecer a confiança nos fatos, é preciso ter muito discernimento e disposição para impor limites à invasão de nossas vidas e filtrar as informações confiáveis.
Felino não acredita na benevolência da TV, muito menos no mundo das redes sociais. Mas, inevitavelmente, já está dentro desse universo digital e o jeito foi dá um mergulho mais fundo nele para arrancar os pontos positivos e as influências negativas das redes sociais que você viu acima.
Abraços!
ACRÉSCIMOS DO FELINO...
Pensar em tecnologia como uma
ameaça existencial? Ou é a capacidade da tecnologia despertar o pior da sociedade?
E o pior da sociedade é ser a ameaça existencial: caos em massa, revolta,
incivilidade, falta de confiança uns nos outros, solidão, alienação, mais
polarização, mais fraude eleitoral, mais distração e incapacidade de focar nos
verdadeiros problemas...
A corrida para capturar a atenção
das pessoas não vai desaparecer. Mas, se prosseguir do jeito que está a
previsão é catastrófica do atual status quo: num horizonte a curto prazo (20
anos), uma guerra civil. Destruiremos a civilização através da pura ignorância,
falharemos no desafio de reverter a mudança climática, vamos degradas as
democracias mundiais e elas cairão num tipo de disfunção autocrática bizarra,
vamos arruinar a economia global e rumamos a uma incapacidade existencial de
sobrevivência.
Como se acorda da simulação
quando ainda não se sabe que está nela? Os incentivos financeiros dominam o
mundo... Vivemos num mundo em que uma árvore vale mais financeiramente morta do
que viva. O que eu vejo é um monte de pessoas aprisionadas em um modelo de
negócio com incentivo econômico e pressões dos acionistas que torna quase
impossível fazer alguma coisa.
Enfim, esses mercados minam a
Democracia e minam a verdade, e devem ser banidos. Isso não é uma proposta
radical. Há outros mercados que nós já banimos, como os de órgãos humanos e
escravagistas, porque eles têm consequências destrutivas inevitáveis.
Não é a coisa legal que deve ser feita. É a coisa certa que deve ser
feita. Que prevaleçam nossas metas, nossos valores e as vidas! Todas as formas
de vida importam! Nós construímos essas coisas e temos a responsabilidade de modificá-las!
Nós não queremos submeter os seres humanos a um modelo de distração ou atenção.
Podemos ter um tecido social saudável!
Podemos exigir que esses produtos sejam projetados de forma humana.
Podemos exigir não sermos tratados como recurso extraível. Como tornamos o
mundo melhor? Isso é burrice, podemos fazer melhor! As críticas levam ao
aperfeiçoamento. As críticas são os verdadeiros otimistas.
Olá! O milagre para nos tirar da direção da distopia é o desejo
coletivo. Temos um fracasso de liderança nas tecnologias: de pessoas chegando e
tendo conversas francas. Nunca aceite uma coisa, sempre queira escolher. Esta é
uma forma de lutar!
Eu adoro quando você recomenda uma coisa para desfazer o que você fez.