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São Francisco do Conde, Bahia, Brazil
Professor, (psico)pedagogo, coordenador pedagógico escolar e Especialista em Educação.
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"Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber" (Art. 205 da Constituição de 1988).

Ø Se eu sou um especialista, então minha especialidade é saber como não ser um especialista ou em saber como acho que especialistas devem ser utilizados. :)



“[...] acho que todo conhecimento deveria estar em uma zona de livre comércio. Seu conhecimento, meu conhecimento, o conhecimento de todo o mundo deveria ser aproveitado. Acho que as pessoas que se recusam a usar o conhecimento de outras pessoas estão cometendo um grande erro. Os que se recusam a partilhar seu conhecimento com outras pessoas estão cometendo um erro ainda maior, porque nós necessitamos disso tudo. Não tenho nenhum problema acerca das ideias que obtive de outras pessoas. Se eu acho que são úteis, eu as vou movendo cuidadosamente e as adoto como minhas” ("O caminho se faz caminhando - conversas sobre educação e mudança social", Paulo Freire e Myles Horton: p. 219).

sexta-feira, 26 de julho de 2019

Livro 01: E o Dente ainda Doía.


É um livro de ficção, escrito e ilustrado pela gaúcha Ana Terra, da edição especial da Fundação Itaú Social, editora DCL (Difusão Cultural do Livro), editado em São Paulo no ano de 2012.

Ele conta a história do coitado de 01 Jacaré que sofria de algo horrível. Quem descobriu que se tratava de uma forte dor de dente foram 02 coelhos ligeiros. Um deles receitou roer uma cenoura, mas não resolveu. 03 corujas entraram na conversa e sugeriram que usasse um graveto para cutucar o dente bem forte, mas, ainda assim, a dor persistiu. Foi então que chegaram bem quietinhos 04 tatus e indicaram ao Jacaré que mordesse um pedregulho... E o dente ainda doía! 05 patinhos saíram da água para ver, mas nem com um carinho conseguiram resolver. Será que a dor passaria se cobrisse o dente dolorido do Jacaré com um pedaço de sabão? Não! Essa ideia foi dos 06 ratinhos e também não solucionou. 07 toupeiras surgiram de um buraco e recomendaram ao Jacaré que mastigasse uma raiz-forte, mas ele não ficou bom. Será que uma mosca lambida seria o melhor remédio? A ideia foi de 08 sapos que também não conseguiram curar o pobre Jacaré. Foi então que uma família grande de 09 esquilos receitou um punhado de nozes, mas ainda assim, o dente causava dor. Parece que agora vai: 10 passarinhos vieram tentar resolver o problema, e receitaram ao Jacaré que botasse uma pena no focinho. Não foi, o dente ainda incomodava.

“Mas nada resolvia. O Jacaré roía a cenoura, cutucava com o graveto, mordia o pedregulho, recebia carinho, cobria o dente com sabão, mastigava raiz-forte, lambia a mosca, colocava nozes na boca, botava a pena bem na frente do nariz... E o dente ainda doía!”.

Calme aí... Depois de sofrer tanto e aplicar nove receitas diferentes, uma delas parece ter surtido algum efeito... O Jacaré bufou, ficou ofegante e espirrou. O dente, junto com toda aquela panaceia, foi cair bem longe. Parece que a pena receitada pelos dez passarinhos fez uma coceirinha no nariz do Jacaré, e o incômodo o fez espirrar. No impulso do espirro o dente se soltou, e finalmente a dor passou. Agora o Jacaré já podia matar a fome que sentia com um bom lanchinho. E toda a bicharada deu no pé. Claro, néh? Ninguém (0 – zero) quis ficar por perto para ser o almoço dele.

Há males que não podemos remediar. Então, é preciso extrair eles de uma vez por todas das nossas vidas.

Uma criança possui 20 dentes de leite ou dentes decíduos; já um adulto tem 32 dentes permanentes. Cada um deles necessita de cuidados, como alimentação saudável e hábitos de escovação. Aliás, nossa autora Ana Terra só tem 31 – acho que ela perdeu o outro em algum lugar.

Leia para uma criança! Essa foi uma ótima escolha, então tenha uma ótima leitura!

#issomudaomundo.


Livro 02: O Sonho de Tebi.


É um livro de literatura infanto-juvenil da pedagoga mineira Frances Rodrigues Pinto, ilustrado por Márcio Luiz de Castro, da Editora FAPI, 2003. Apaixonada por literatura infantil, a autora escreveu as coleções “Francesinha”, “Divertindo-se com os Numerais” e o “Dia a dia do Professor – Datas Comemorativas”.

Tebi é um garoto que sonha em ser astronauta para poder viajar pelo Universo e conhecer todos os planetas do nosso Sistema Solar (além da Terra, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno), e a Lua. Todas as noites, ele ficava namorando as estrelas e quando avistava algum astro cadente, fazia o pedido de realização do seu grande sonho. Porém, Tebi era um aluno que não gostava de estudar, pois a sua preocupada mãe sempre o alertava para se dedicar mais aos estudos e parar de viver no mundo da lua.

Certa vez quando observava o céu noturno e pensava sobre seu grande sonho, uma luzinha muito brilhante ofuscou os olhos de Tebi, e ele desmaiou. Ao acordar, deparou-se com o lindo cometa Cabeleira, que havia sido enviado pela amiga estrela cadente. Parece que o pedido de Tebi havia sido atendido, e o desejo dele estava prestes a ser realizado. Tebi subiu na cauda do Cometa e fez um passeio inesquecível pelo espaço – cruzou a imensidão do céu e avistou de perto tudo o que existia nele.

O cometa Cabeleira e Tebi se depararam com a estrela cadente, que deixou o garoto de olhos bem arregalados. A estrela o cumprimentou e esclareceu o que estava acontecendo, por meio de uma boa conversa. A estrela disse que não só havia ouvido o pedido dele, como também observava tudo o que acontecia na Terra, inclusive a falta de gosto e dedicação aos estudos do garoto. Tebi ficou envergonhado com o sermão da estrela, e se deu conta que precisa modificar seu modo de ser e se dedicar mais aos estudos. Como foi um bom garoto, a estrela cadente permitiu que ele desse uma volta pelo espaço na cauda do amigo cometa Cabeleira para realizar o que sempre quis: conhecer um planeta de cada vez.

Ao chegar em casa, Tebi passou a duvidar sobre o que havia imaginado. Tudo teria sido um simples sonho ou realidade? Mas, ao olhar pela janela, viu o cometa cabeleira indo embora. Foi então que o garoto passou a cumprir o que havia prometido para a estrela cadente, e começou a estudar com entusiasmo. O tempo passou e o garoto Tebi se tornou um grande astronauta. Toda vez que ele ia para o espaço, visitava os amigos que havia feito por lá. E Tebi tirou uma grande lição de vida da sua própria história: “Eu consegui chegar até aqui porque acreditei no meu sonho. Se você tem um sonho, não desista dele. Basta acreditar e estudar, que um dia ele irá se realizar”.

Quando uma “estrela cadente” não for o suficiente para realizar os nossos sonhos, precisamos estudar muito para terminar de concretizá-los. Afinal, não basta desejar, precisamos batalhar pelo que queremos ser e ter.


Livro 03: Uma Tartaruga a mil por hora.

É um livro infantojuvenil da escritora e fonoaudióloga Márcia Honora e ilustrado por Lie A. Kobayashi, impresso na China em 2008, da Editora Ciranda Cultural das Diferenças, localizada em São Paulo.

Existem tartarugas grandes e pequenas, que vivem em aquários e preferencialmente livres no mar. Dizem que a má fama delas é a lentidão. Pois bem, esse não é caso do rápido e agitado Tobias. Na Escola Concha da Alegria, que fica no fundo do mar, todas as tartarugas passam por lá para aprender tudo o que precisam saber para viver. E foi justamente lá que a preocupada mãe de Tobias o matriculou, deixando a diretora e todos os demais ansiosos por conhecê-lo. No seu primeiro dia de aula, Tobias aprontou: já entrou na escola correndo, apressado demais para o que era considerado normal e, antes mesmo que sua calma e paciente professora, a Dona Tânia, o apresentasse aos seus novos amigos, lá estava ele correndo dentro da sala de aula. 

Nem deu tempo a professora Tânia ensinar as regras da nova escola, e Tobias virou toda a sala de pernas pro ar. Por onde ele passava ficava um rastro de bagunça, deixando a todos assustados com sua alta agitação. Ninguém conseguia segurar o Tobias, nem fazê-lo ficar sentado na carteira. Sem mais recursos, a sábia professora teve a atitude de chamar a mãe do Tobias para conversar e ela contou que ali já era a terceira escola que ele frequentava, e que já havia levado o filho ao médico, o qual receitou um remedinho para diminuir toda aquela agitação. Ambas não gostaram da ideia do médico, e decidiram tentar outra estratégia: “colocá-lo num curso de natação na superfície para que gastasse as energias”. A ideia transformou Tobias – ele se transformou num excelente nadador, e venceu todas as competições de que participou. A tartaruguinha frequentou a Escola Concha da Alegria por algum tempo e, além de um aluno mais tranquilo, se transformou num verdadeiro campeão.

Às vezes, o melhor remédio para os nossos problemas é uma simples chance de construção. Precisamos investir nossas energias em algo bom e produtivo, transformando o caos em oportunidades de crescimento. Afinal, por trás de aparentes desordens podem esconder grandes talentos.

Você é mais agitado ou tranquilo? É mais paciente ou inquieto? Nem toda agitação excessiva é sinal de transtorno, mas quando é constante e extrapola todos os limites é sinal de alerta. Por exemplo, o TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade) é uma desordem neurobiológica, de causas genéticas, caracterizado pelos sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade. Como consequências, principalmente na infância e na adolescência, a pessoa apresenta mais problemas de comportamento e dificuldades na escola e no relacionamento com as demais crianças, pais e professores, sobretudo por não respeitar regras e limites. Para agravar ainda mais o quadro, a falta de um diagnóstico cauteloso e de acompanhamento por profissional leva ao preconceito, rotulando o portador de “avoado”, que “vive no mundo da lua” e, geralmente, sendo taxado de “estabanado”, “bicho-carpinteiro” ou alguém “ligado na tomada” (isto é, não para quieto por muito tempo).

Falta de atenção e foco virou doença. O nome? TDAH - Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade. A suposta solução? A “droga da obediência”. O remédio tarja preta ou a famosa Ritalina (cloridrato de metilfenidato), do qual o Brasil é o segundo maior consumidor do mundo (atrás apenas dos EUA), é receitado ou muitas vezes oferecido “off label” (sem receita). Psiquiatras culpam o cérebro; profissionais culpam a escola ou a família, outros, a sociedade. Entretanto, nenhum medicamento no mundo daria conta da complexidade que é o processo de atenção de aprendizado de uma criança, que sabemos envolver vários fatores como afetividade, desejo e outras tantas representações que a criança cria. Talvez a Ritalina ou ouras docas tenham sua importância e função na dose certa indicada pela área medicinal, desde que havendo diagnósticos profissionais corretos e prescrições responsáveis. O que não se pode é confundir diferenças com doenças e, muitas vezes, o melhor remédio na educação é o esporte, a ludicidade, os jogos e brincadeiras, as produções artísticas, a música, a dança, o respeito às diferenças e a capacidade de lidar com elas, e todas as atividades capazes de transformar agitação em talentos.



terça-feira, 23 de julho de 2019

Saúde privada.

Desde 2014, foram 3 milhões de brasileiros que deixaram os Planos de Saúde. Muitos deles perderam esse benefício porque ficaram desempregados. E quais são as opções para quem não quer ficar dependendo da fila longa do SUS? Clínicas Populares e aplicativos (de múltiplas especialidades, mas sempre com um PREÇO a pagar) para marcar consultas. São empresas interessadas em dinheiro, usando a estratégia de preços mais acessíveis.

Sem emprego, sem plano de saúde, muitos recorrendo ao SUS... No meio de tudo isso, a população jogada aos cães do mercado. Tanto que o número de clínicas especializadas em saúde vem disparando em todo o Brasil (veja a foto).

E o que faz o Ministério da Saúde do atual Governo diante da voraz iniciativa privada? Nada, aliás, com o abandono da eficiência pública tem estimulado a saúde privada. Cadê os investimentos nas Equipes de Saúde da Família? Onde está a ampliação de verbas para os municípios que estenderem o horário de atendimento da população (isto é, investimento na eficiência da iniciativa do serviço público)? Ou seja, existem muitas outras formas de melhorar o serviço público de saúde da população, mas, o povo foi abandonado à própria sorte (e à fome de lucro das empresas particulares).

Com Bolsonaro ficou assim: as pessoas jogadas à margem do sistema e, ainda assim, sugadas por ele até a morte, no seu momento de maior vulnerabilidade.

quarta-feira, 10 de julho de 2019

Esse é o melhor momento para dá mais dinheiro para as Campanhas Eleitorais Municipais?


O Congresso pode mais que dobrar o valor do dinheiro do Fundo Eleitoral a ser gasto nas Eleições Municipais do ano que vem (muito mais do que da eleição presidencial do ano passado!). A justificativa? São 5.700 municípios (com vários candidatos a vereadores e prefeitos com um país que tem 35 partidos).

Bota dinheiro para as campanhas eleitorais, falta dinheiro nas outras áreas como, saúde, segurança e nossa calejada Educação. Mas, para isso tem reformas, neh? Povo descarado!


terça-feira, 9 de julho de 2019

Nosso país é um dos mais violentos do planeta!


Olhando nos mapas veremos o quão crítica é a situação do mundo e na nossa região. A quantidade de pessoas assassinadas no mundo todo (464 mil) no ano de 2017 ultrapassa o número de pessoas mortas em conflitos armados e atos de terrorismo (89 mil mortes). As Américas Central e do Sul têm as piores taxas de homicídio do planeta!

Ou seja, 01 em cada 07 homicídios no mundo ocorre aqui no Brasil. É o que aponta as Nações Unidas. E entre os vizinhos, o Brasil só fica atrás da Venezuela!!!

As estatísticas da violência por aqui são bem grossas. Também possuímos uma das maiores taxas de mortes de civis por policiais. A polícia brasileira é uma das que mais matam no mundo (e morre um bocado também, dos dois lados). No ano de 2015, a quantidade de mortes atribuídas a policiais foi de 1.599 (Fonte: Escritório da ONU para Drogas e Crime).

O número geral de homicídios no Brasil passou de 26 mortes/100 mil habitantes (em 2012) para 30,5 mortes/100 mil habitantes (em 2017). Entre os anos de 1991-2017 tivemos 1,2 milhão de pessoas assassinadas no Brasil!

E todos esses dados surgem no momento em que Bolsonaro empurra para a sociedade brasileira a flexibilização da posse e do porte de armas. As pesquisas mostram que, quanto menos armas em circulação, menos crimes (sobretudo os homicídios que, aqui no Brasil, 72% deles envolvem armas de fogo).

Assim, fica uma questão no ar: nessa agenda, podemos apontar o aumento das armas em circulação (flexibilização da posse e do porte) como um solução para a segurança pública e a redução dos homicídios?
Clique sobre as imagens para ampliá-las.

domingo, 7 de julho de 2019

PARTE I: Política é fazer supermercado.


Se eu pudesse comer o que quisesse e na hora em que quisesse e o quanto quisesse, não haveria fome. Do mesmo modo, se todos pudessem ter o que quisessem na hora em que quisessem, não haveria aquilo que chamamos de política. Política é uma atividade complexa porque tem diversas maneiras de ser compreendida (é um conceito multirreferencializado, diria Roberto Sidnei Macedo).

Não somos como as plantas privilegiadas, que realizam a fotossíntese. Se não temos a capacidade de autoproduzir o próprio alimento, precisamos exercer a árdua atividade de trabalhar. Assim, podemos concluir que a experiência humana nunca nos dá tudo o que queremos. Por isso mesmo, há concorrência, embates, fazemos concessões e, muitas vezes, temos de lutar pelas coisas. É no centro dessa luta que está a atividade política, onde se encontra o desenvolvimento de ideias e conceitos que nos ajudam a estabelecer o que queremos e a defender nossos interesses.

Podemos então dizer que certas ideias e conceitos, isto é, o desenvolvimento de uma linguagem para explicar e justificar nossas demandas (como fazer a feira ou “supermercado”) e para desafiar, contradizer ou satisfazer as dos outros (o almoço compartilhado): é a própria atividade política. Quer dizer, essa pode ser uma linguagem de interesses, tanto de indivíduos quanto de grupos, ou pode ser a linguagem de valores, tais como direitos e liberdades ou divisão igualitária e justiça. Ou seja, no final das contas política é uma feira de supermercado feita com uma incógnita:

Comeremos o banquete sozinho ou chamaremos outros para dividir a comida?

PARTE II: Quando comemos juntos, comemos mais felizes.

“Política é fazer supermercado” sugere que a política possa ser reduzida a questões tais como quem fica com o quê, onde, quando e como. Até aqui, a política foi apenas a luta para satisfazer as necessidades materiais em condições de escassez. Mas, isso não é tudo. Há algo mais...

A vida política é em parte uma resposta necessária aos desafios da vida cotidiana e o reconhecimento de que a ação coletiva é quase sempre melhor que a individual. Quem disse isso foi o filósofo Aristóteles: “O homem é por natureza um animal político”. Ou seja, o homem é melhor numa sociedade complexa do que abandonado e isolado. E algo mais profundo ainda: existe algo essencialmente humano a respeito das perspectivas de como as questões de interesse público devem ser decididas. O que isso significa? O prazer, a satisfação e a felicidade em compartilhar o banquete. A política é a nobre atividade na qual os homens decidem as regras pelas quais viverão e os objetivos que querem buscar coletivamente. Nas palavras do próprio Aristóteles: “A sociedade política existe com a finalidade das nobres ações, não por mero companheirismo”.

Estamos falando do direito de governar a si mesmo e aos outros com nobres ações. Mas, com quais fins? E aqui retornamos à perspectiva multirreferencializada de Roberto Sidnei Macedo. Ou seja, há muitas repostas...

PARTE III: À mesa, muitos convidados, muita conversa e muitos pontos de vista.


Durante um banquete coletivo, os comes e bebes são intermediados por muitas conversas. As pessoas riem, falam ou simplesmente observam enquanto comem (que é o meu caso rsrs). Se o assunto for política haverá muito que discutir. Se a política é a única atividade coletiva direcionada a certas metas e fins comuns, realmente precisamos esclarecer que fins são esses, ou seja, os objetivos que a política pode ou deve atingir.  Existirão muitos pontos de vista porque existem muitos fins sugeridos ao ato político.

Todavia, é possível pelo menos apontar três grandes visões políticas que tentam dar sentido à experiência política e à relação dessa com as outras questões da condição humana. Assim, podemos resumi-las:

1.      Moralismo político: política é vida moral e ética, com valores políticos. A política deve ser direcionada à conquista de objetivos relevantes ou à proteção de certas questões: justiça, igualdade, liberdade, felicidade, fraternidade ou autodeterminação nacional. Em sua melhor versão, o moralismo político é parte de um processo de luta por uma sociedade melhor, que sugerem valores a serem buscados ou protegidos. Em resumo, a política existe para oferecer valores éticos e morais, tais como felicidade ou liberdade (Paulo Freire e Roberto Sidnei Macedo estão no grupo de pensadores que focam na moralidade como ato político. Também posso citar o Thomas More e o Robert Nozick).
2.      Realismo político: a política tem a ver com o poder, que é o meio pelo qual os fins são alcançados, os inimigos derrotados, e as concessões, mantidas. Ou seja, essa corrente rejeita a anterior, pois sem a habilidade de alcançar e exercer o poder, os valores (mesmo a despeito de quão nobres possam ser) são inúteis. Assim, os realistas concentram sua atenção no poder, no conflito, na guerra, e são, em geral, cínicos a respeito das motivações humanas. Geralmente seus contextos são de guerra civil e desordem. Aqui os homens são “mentirosos ingratos”; não são nobres nem virtuosos, com sérios riscos de motivações políticas que vão além das preocupações com o exercício do poder, um “estado de natureza” sem leis sérias em que vigora uma guerra de todos contra todos. Por meio de um “contrato social” com seus súditos, um suposto soberano (o “Príncipe”) exerce o poder absoluto para salvar a sociedade do seu estado bruto. Esse tipo de política é muito ideológico, pois resulta nos piores excessos do realismo, no qual os fins justificam meios brutais ou injustos. A política ideológica aqui parece ser uma luta perpétua ou guerra, entre campos rivais e irreconciliáveis. Eu ainda poderia comparar essa luta ideológica com uma competição entre times de futebol: a paixão, em vez da razão, seria mais importante na escolha por um time, e a vitória, em última instância, é o que conta (a maior parte da política feita em São Francisco do Conde foca nas fontes e no exercício do poder como ato político. Também posso citar o Nicolau Maquiavel e o Thomas Hobbes).
3.      Conselheiro sábio: esse assume uma posição pragmática que está preocupada com o alcance dos melhores resultados possíveis. Um mediador, que fica entre o realismo e o moralismo, ao lado dos filósofos políticos, como o pensador ou um poeta tipo o Alexander Pope que diz: “deixe os tolos discutirem a forma de governo. O mais bem administrado, seja qual for, é o melhor”. Isso porque, o “conselheiro sábio” sabe que o problema da guerra e do conflito jamais será erradicado, e argumentos a respeito da relação entre os valores políticos como liberdade e igualdade talvez nunca estejam resolvidos, mas talvez possamos progredir no desenvolvimento constitucional, na determinação de políticas e na garantia de que os governantes tenham a maior estabilidade possível (aqui estou eu, um admirador das habilidades e virtudes de um “conselheiro sábio”, como o filósofo chinês Confúcio).

Assim, a gente é aquilo que come. E eu como comida e livros.

PARTE FINAL: A digestão do banquete.

Cada banquete é único. Do mesmo modo, ideias são peculiares a períodos históricos distintos. Ou seja, as ideias de cada período histórico diferem porque as práticas e instituições das sociedades são diferentes, e o significado das ideias muda com a história – trata-se do pensamento político ideológico.

Cada banquete é único porque cada anfitrião que o preparou tem seu jeito e suas próprias condições de prepará-lo. Assim, também, as ideias estão sujeitas à mudança histórica e vinculadas aos interesses das classes sociais, tais como os trabalhadores ou capitalistas, os quais serviram de base aos grandes “ismos” da política ideológica, do comunismo e o socialismo ao conservadorismo e ao fascismo.

Ao ser processada na boca e no estômago a comida passa pela digestão. Eu diria que a história é o sistema digestor das ideias. É ela quem processa os fatos, tornando alguns importantes e outros em desuso. Alguns exemplos de “excrementos históricos”: Platão e Aristóteles pensavam a democracia como um sistema perigoso e corrupto, ao passo que a maioria das pessoas no mundo moderno a veem como a melhor forma de governo. Regimes autoritários contemporâneos são encorajados a se “democratizarem”, como está acontecendo com o fascismo atual de Bolsonaro, um verdadeiro bueiro ou sistema excretor do Brasil. De maneira similar, a escravidão já foi pensada como uma condição natural que excluía muitos de qualquer direito, e, até o século XX, a maioria das mulheres não era considerada cidadã.

A ideia política de que uma classe dominante cria uma falsa argumentação para subjugar uma classe dominada, bem como da história como um biodigestor de fatos e valores é de Karl Marx e Georg Hegel. Aliás, Hegel dizia que as ideias políticas são uma abstração da vida de uma sociedade, Estado, cultura ou movimento político. Para que essas ideias façam sentido, bem como as instituições e os movimentos que elas explicam, é preciso examinar sua história e seu desenvolvimento. Tal história é sempre um relato de como chegamos ao ponto em que estamos hoje (“a coruja de Minerva só voa no crepúsculo”, isto é, a sabedoria ou o entendimento só acontece em retrospectiva). Ou seja, o surgimento de uma ideologia. Além das classes sociais de Marx, existem outras fontes de política ideológica mais recentes, que surgiram das evoluções ocorridas dentro do liberalismo, do conservadorismo, do socialismo e do nacionalismo.

Vivemos um presente e viveremos um futuro de disputa. Karl Marx dizia que “os filósofos têm apenas interpretado o mundo... A questão, porém, é transformá-lo”. Essa transformação ou saída do problema do conflito político viria do triunfo revolucionário das classes trabalhadoras e a vitória tecnológica sobre a escassez. Porém, Hegel adverte que não podemos olhar adiante e ver qual o rumo da história, isto é, nada de se ter o mesmo otimismo histórico de ideias sobre os rumos do futuro. Ou seja, a única certeza que temos sobre o futuro político é a incerteza. Uma incerteza recheada de disputas. Portanto, isso estremece a quem achar ser muito fácil ver-nos como a era mais progressiva, iluminada e racional de todos os tempos – afinal, acreditamos em democracia, direitos humanos, economia aberta e governo constitucional. Porém, essas não são de maneira alguma ideias simples e não são compartilhadas por todas as sociedades ou povos, nem mesmo hoje.

As últimas décadas nos mostraram muita instabilidade, o contrário do que esperamos dos políticos. Vimos o surgimento de novos estados-nação como resultado da retração e da descolonização imperial ou a fragmentação de novos estados; de um lado vemos o forte desejo pela soberania nacional e a luta de povos por seu Estado, enquanto de outro lado vemos nações desejarem federações e uniões políticas complexas, prezando pela união política e muitas outras organizações para cooperação regional. É justamente sobre essa dúvida do futuro que a Hegel se dá razão, pois velhas ideias de soberania estatal têm um papel incômodo na nova política mundial de soberania compartilhada, cooperação econômica e globalização.

Diante das incertezas e da fome violenta, apenas duas coisas são seguras: comida é uma questão muito séria para ser deixada apenas para os MasterCheffs. Todos nós precisamos saber lidar com a arte de cozinhar como uma questão de sobrevivência. Do mesmo modo, diria Charles de Gaulle: “Política é uma questão muito séria para ser deixada para os políticos”. Apenas os políticos... 

quarta-feira, 3 de julho de 2019

Brincadeiras e comidas: “mostre-me como você come e eu direi quem você é!

Comer bem é um dos imperativos do nosso tempo (frutas, legumes, verduras, grãos, etc.). Mas, não é o único. O cenário social também clama por educação saudável – e a ludicidade é um desses ingredientes. Através do lúdico a criança tem acesso à cultura, à autoria nas produções, ao protagonismo compartilhado, ao desenvolvimento da criatividade (amo demais!), a descoberta, a inventividade, o interjogo entre as experiências internas e externas, a potencialização da sensibilidade (tenho muito), a experimentação, a performance e o imaginário (Cristina D’Ávila & Tânia Ramos Fortuna, pp. 15-16).

Quer saber “o que uma pessoa é” ou “como ela é”? Bote-a para comer. O jeito de comer revela o tipo de pessoa que você é: se a pessoa come apressada demais, ela pode ser ansiosa; se come mais do que deve, é gulosa; se come pouco demais é besta; se come e conversa com a boca cheia, é mal educada; se come cheia de rituais e requintes é fresca; se come fora dos horários, é desorganizada; se come só frituras, doces e salgados é uma pessoa mal instruída e pode ficar doente; se come mal é porque vai mal; se não tem comida na dispensa ou na geladeira, é pobre; se tem comida demais e joga fora ou desperdiça, é rica e burra (só uma pessoa ignorante é capaz de jogar comida fora, óbvio!). E por aí vai...

Assim também é com a Educação e a Ludicidade. Quer saber “o que uma pessoa é” ou “como ela é”? Bote-a para brincar/jogar. O jeito de brincar e viver revela o tipo de pessoa que você é: se brinca sozinha, é um criativo solitário; se não gosta de brincar, tem muitos problemas para esconder; se joga só para ganhar é um compulsivo perigoso; se joga só para perder é um idiota; se sabe jogar e brincar com os outros, é um cooperativo; se brinca para machucar os outros é um cretino em potencial; se brinca de escolinha poderá vir a ser professor; se brinca de médico poderá ser doutor; se brinca só de paciente poderá ser passivo; se só observa os outros brincando é besta (nem sabe o que está perdendo...). Enfim, por aí vai...

A ludicidade é um pêndulo que se move entre a fantasia e a realidade. O jogo ou a brincadeira é um modo de ser. Logo, uma boa maneira de conhecer e avaliar nossos alunos é observar cuidadosamente como eles brincam e jogam. “[...] quem joga não somente revela habilidades, dificuldades, temores e desejos, mas, sobretudo, torna-se quem é. Frente a isso, pode-se afirmar, desde já, que brincar forma” (Tânia Ramos Fortuna, p. 20). Por isso que tem gente que não gosta de jogar/brincar, porque tem medo de mostrar alguma coisa que “não deve”, algo a esconder (algum segredo, algum temor, alguma fraqueza, alguma tristeza). Brincar ou jogar é se libertar.

Portanto, se hoje você é uma pessoa saudável e com um forte sistema imunológico, você deve isso ao leite materno e aos alimentos saudáveis que comeu. Do mesmo modo, se você hoje é uma pessoa criativa, imaginativa e sonhadora, que encara os desafios da vida com dinamismo, você deve isso às brincadeiras da sua infância. A ludicidade não desaparece quando a infância acaba, mas se transforma em algo bom dentro de cada um de nós. “Ela não só persiste na vida adulta, como se metamorfoseia, assumindo formas que participam ativamente de nosso modo de ser, de pensar, de aprender e ensinar – de viver, enfim” (Tânia Ramos Fortuna, p. 20). Pessoas muito magras, vazias, ranzinzas e amarguradas da vida tiveram na infância insuficiência de duas coisas: brincadeiras e comida. Assim, tem bons motivos para se permitir a uma formação lúdica, e ser lúdico com os alunos que pretendem ensinar. 

Enfim, o nível de bom ou mau humor que temos na vida adulta é indicativo da dose de ludicidade que recebemos na infância. Eu tomei muitas gotinhas, por isso não tenho medo de ser livre, nem tenho nada a esconder. Você tem? Se não tem, então venha brincar, e comer comigo... A gente vai se lambuzar de felicidade.