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São Francisco do Conde, Bahia, Brazil
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Ø Se eu sou um especialista, então minha especialidade é saber como não ser um especialista ou em saber como acho que especialistas devem ser utilizados. :)



“[...] acho que todo conhecimento deveria estar em uma zona de livre comércio. Seu conhecimento, meu conhecimento, o conhecimento de todo o mundo deveria ser aproveitado. Acho que as pessoas que se recusam a usar o conhecimento de outras pessoas estão cometendo um grande erro. Os que se recusam a partilhar seu conhecimento com outras pessoas estão cometendo um erro ainda maior, porque nós necessitamos disso tudo. Não tenho nenhum problema acerca das ideias que obtive de outras pessoas. Se eu acho que são úteis, eu as vou movendo cuidadosamente e as adoto como minhas” ("O caminho se faz caminhando - conversas sobre educação e mudança social", Paulo Freire e Myles Horton: p. 219).

terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Filme: Arrival (A Chegada).

Onde está o começo ou o fim?

É um filme de ficção científica, bonito de se ver, mas um tanto difícil de se compreender. Alienígenas descem à Terra, mas não sabemos quais as reais intenções dA CHEGADA dos visitantes. Qual é a base da nossa civilização? A linguagem ou a ciência? Deste questionamento nasce o que parece ser o tema central do filme – a comunicação. Sim, o mundo seria um lugar melhor se melhorássemos a nossa capacidade de comunicação. Para decifrar o enigma, entram em cena uma linguista e um físico. Ambos precisam responder à pergunta "o que vocês querem?" que outras onze equipes no mundo também tentam. Mas a política, interesses e diferenças culturais entrarão no caminho da ciência. Mas, por que um filme aparentemente comum se torna complexo? Essa dificuldade é construída ao se conjurar uma história pessoal com um enredo mais abrangente.  O filme se propõe a narrar um drama pessoal – uma perda na vida da protagonista – com a iminente extinção da vida na Terra – a ameaça, em si.

Até então eu ficava me perguntando qual era a razão de, volta e meia, Louise (a protagonista) ficar lembrando de momentos com a filha. A primeira resposta, e a mais óbvia, é que fatos do presente estavam fazendo ela relembrar de momentos com Hannah. Essa é a forma linear de pensar, acreditando que a vida tem começo, meio e fim e que, consequentemente, nossa memória também funciona assim. Só que Louise descobre depois de investigar a linguagem dos extraterrestres que eles não tinham uma forma de comunicação linear. A “viagem” do argumento de Arrival é que se eles não tinham uma linguagem linear, eles também não pensavam ou viam a realidade de forma linear. Desta forma, de fato não existiria passado, presente e futuro, mas todo o conhecimento de alguém que tivesse essa forma de comunicação e, consequentemente, este mapa mental seria também não-linear. Ou seja, atemporal. A genialidade de Arrival ao ter este argumento é que conforme a especialista em linguística Louise ia realmente entendendo a forma de comunicação não-linear, ela própria passava a ver o mundo desta maneira. Assim, ela passou a vivenciar o futuro com a filha que nem havia nascido. Genial, não?

Enquanto todos os outros estavam com pensamento linear, Louise começou a enxergar a realidade de forma não-linear. Mas a compreensão dela, assim como a de qualquer um de nós que se aventura em um novo idioma e em uma nova forma de pensar, vai acontecendo aos poucos e de forma gradativa. Só perto do sinal que ela tem tudo claro. Quando Louise passa a pensar da mesma forma que os extraterrestres, ela tem conhecimento sobre todo o espaço temporal, inclusive do que acontece no futuro. Isso não impede, claro, que ações diferentes dela no presente não modifiquem o futuro. Mas ela tem acesso a conhecimentos prováveis do futuro e, com isso, consegue agir no presente e tomar decisões.

Qual é o propósito dos extraterrestres? O que eles querem com a visita, ou melhor, A CHEGADA na Terra? Bem, vieram entregar a sua forma de se comunicar e de “pensar” para que tenhamos um entendimento completo do tempo. Eles estão “ajudando” a Humanidade desde os primórdios.

É o tipo de filme que convida ao final: vamos debater o que significa ser humano ao cercar-nos de desconhecidos? O temor não está somente na atitude que os Heptapods podem vir a tomar contra a raça humana e sim, também, no comportamento dos próprios humanos, quando as diversas raças atingidas, em clima de tensão política ofuscam suas descobertas nas interações com eles e correm o risco de tomar decisões que afetem uns aos outros.

O filme desbravar outros dos principais dilemas individuais e coletivos das sociedades.
1.      É mais que uma produção sobre extraterrestres, esta é uma produção sobre pessoas, seres humanos.
2.      O que é o tempo? Afinal, em que momento os acontecimentos que abrem o filme estão situados? O filme começa com memórias e depois parte para os fatos.
3.      O mau hábito de outros filmes e nossa “tendência” para a guerra nos deixam tensos, esperando um confronto entre humanos e extraterrestres, mas, não, é um olhar muito mais cuidadoso, atento, e que observa, sobretudo, o nosso comportamento em relação ao diferente e ao estranho.
4.      Uma aula de linguística com altruísmo: é preciso sair do “modelo mental” humano e buscar conhecer a forma com que os seres de fora da Terra pensam. Ou seja, quando uma pessoa realmente mergulha em um outro idioma, ela passa a pensar de outra forma, a ter a compreensão do mundo modificada e, consequentemente, começa a “sonhar” naquele idioma.
5.      Apesar do início as diferentes nações colaborarem entre si, passado algum tempo predomina a característica egoísta e competitiva do ser humano. Isso é demonstrada pela “guerra fria” entre a China, os Estados Unidos e outros países. A tão falada geopolítica se apresenta com toda a sua divisão quando alguns países se sentem ameaçados e querem demonstrar mais força que os outros.
6.      Primeiro, o pavor e o medo das pessoas sobre o desconhecido. Há revolta, depredação e falta de civilidade em várias partes do globo quando as naves aparecem. Depois, conforme o tempo passa e as nações não encontram respostas, a insegurança dos governos também marca posição. Como aconteceu com o 11 de Setembro e em outras ocasiões, a resposta para o medo é a ameaça e o confronto. Primeiro acabam as cooperações entre os países e, depois, muitos se armam para confrontar uma presença que eles não entendem. E quando você não entende, você se sente ameaçado.
7.      O filme apresenta um conceito interessante e diferenciado sobre o que motivaria a “visita” de extraterrestres na Terra, mas também nos coloca frente a um grande espelho. Como sugere um dos extraterrestres, eles estão “ajudando” a Humanidade desde os primórdios e, desta vez, vieram entregar a sua forma de se comunicar e de “pensar” para que tenhamos um entendimento completo do tempo. Desta forma, se este conhecimento for bem utilizado, catástrofes podem ser minimizadas e guerras podem ser evitadas. Em troca os extraterrestres querem ajuda nossa no futuro. Fica em aberto a razão para isso, mas não deixa de ser inteligente.
8.      Como você agiria frente a uma criança que você sabe que vai morrer e que é a sua filha? Você cuidaria para que ela fosse o mais feliz possível ou, de alguma forma, você evitaria aquele sofrimento. Viver ao máximo ao lado de quem ama, cuidando para dar todas as oportunidades de felicidade para ela e sem escapar da dor. Tocante. E nos faz pensar sobre as nossas próprias escolhas e sobre a vida. Ela é bela não porque não tenha dor e sofrimento, mas porque aprendemos com absolutamente tudo, especialmente na relação amorosa com as pessoas, e nisto está a sua beleza.