Onde está o começo ou o fim?
É um filme de ficção científica, bonito
de se ver, mas um tanto difícil de se compreender. Alienígenas descem à Terra,
mas não sabemos quais as reais intenções dA CHEGADA dos visitantes. Qual é a
base da nossa civilização? A linguagem ou a ciência? Deste questionamento nasce
o que parece ser o tema central do filme – a comunicação. Sim, o mundo seria um
lugar melhor se melhorássemos a nossa capacidade de comunicação. Para decifrar
o enigma, entram em cena uma linguista e um físico. Ambos precisam responder à
pergunta "o que vocês querem?" que outras onze equipes no mundo
também tentam. Mas a política, interesses e diferenças culturais entrarão no
caminho da ciência. Mas, por que um filme aparentemente comum se torna
complexo? Essa dificuldade é construída ao se conjurar uma história pessoal com
um enredo mais abrangente. O filme se
propõe a narrar um drama pessoal – uma perda na vida da protagonista – com a
iminente extinção da vida na Terra – a ameaça, em si.
Até então eu ficava me perguntando qual
era a razão de, volta e meia, Louise (a protagonista) ficar lembrando de
momentos com a filha. A primeira resposta, e a mais óbvia, é que fatos do
presente estavam fazendo ela relembrar de momentos com Hannah. Essa é a forma
linear de pensar, acreditando que a vida tem começo, meio e fim e que,
consequentemente, nossa memória também funciona assim. Só que Louise descobre
depois de investigar a linguagem dos extraterrestres que eles não tinham uma
forma de comunicação linear. A “viagem” do argumento de Arrival é que se eles
não tinham uma linguagem linear, eles também não pensavam ou viam a realidade
de forma linear. Desta forma, de fato não existiria passado, presente e futuro,
mas todo o conhecimento de alguém que tivesse essa forma de comunicação e,
consequentemente, este mapa mental seria também não-linear. Ou seja, atemporal.
A genialidade de Arrival ao ter este argumento é que conforme a especialista em
linguística Louise ia realmente entendendo a forma de comunicação não-linear,
ela própria passava a ver o mundo desta maneira. Assim, ela passou a vivenciar
o futuro com a filha que nem havia nascido. Genial, não?
Enquanto todos os outros estavam com
pensamento linear, Louise começou a enxergar a realidade de forma não-linear.
Mas a compreensão dela, assim como a de qualquer um de nós que se aventura em
um novo idioma e em uma nova forma de pensar, vai acontecendo aos poucos e de
forma gradativa. Só perto do sinal que ela tem tudo claro. Quando Louise passa
a pensar da mesma forma que os extraterrestres, ela tem conhecimento sobre todo
o espaço temporal, inclusive do que acontece no futuro. Isso não impede, claro,
que ações diferentes dela no presente não modifiquem o futuro. Mas ela tem
acesso a conhecimentos prováveis do futuro e, com isso, consegue agir no
presente e tomar decisões.
Qual é o propósito dos extraterrestres?
O que eles querem com a visita, ou melhor, A CHEGADA na Terra? Bem, vieram
entregar a sua forma de se comunicar e de “pensar” para que tenhamos um
entendimento completo do tempo. Eles estão “ajudando” a Humanidade desde os
primórdios.
É o tipo de filme que convida ao final:
vamos debater o que significa ser humano ao cercar-nos de desconhecidos? O
temor não está somente na atitude que os Heptapods
podem vir a tomar contra a raça humana e sim, também, no comportamento dos
próprios humanos, quando as diversas raças atingidas, em clima de tensão
política ofuscam suas descobertas nas interações com eles e correm o risco de
tomar decisões que afetem uns aos outros.
O filme desbravar outros dos principais
dilemas individuais e coletivos das sociedades.
1.
É
mais que uma produção sobre extraterrestres, esta é uma produção sobre pessoas,
seres humanos.
2.
O
que é o tempo? Afinal, em que momento os acontecimentos que abrem o filme estão
situados? O filme começa com memórias e depois parte para os fatos.
3.
O
mau hábito de outros filmes e nossa “tendência” para a guerra nos deixam
tensos, esperando um confronto entre humanos e extraterrestres, mas, não, é um
olhar muito mais cuidadoso, atento, e que observa, sobretudo, o nosso
comportamento em relação ao diferente e ao estranho.
4.
Uma
aula de linguística com altruísmo: é preciso sair do “modelo mental” humano e
buscar conhecer a forma com que os seres de fora da Terra pensam. Ou seja, quando
uma pessoa realmente mergulha em um outro idioma, ela passa a pensar de outra
forma, a ter a compreensão do mundo modificada e, consequentemente, começa a
“sonhar” naquele idioma.
5.
Apesar
do início as diferentes nações colaborarem entre si, passado algum tempo
predomina a característica egoísta e competitiva do ser humano. Isso é
demonstrada pela “guerra fria” entre a China, os Estados Unidos e outros
países. A tão falada geopolítica se apresenta com toda a sua divisão quando
alguns países se sentem ameaçados e querem demonstrar mais força que os outros.
6.
Primeiro,
o pavor e o medo das pessoas sobre o desconhecido. Há revolta, depredação e
falta de civilidade em várias partes do globo quando as naves aparecem. Depois,
conforme o tempo passa e as nações não encontram respostas, a insegurança dos
governos também marca posição. Como aconteceu com o 11 de Setembro e em outras
ocasiões, a resposta para o medo é a ameaça e o confronto. Primeiro acabam as
cooperações entre os países e, depois, muitos se armam para confrontar uma
presença que eles não entendem. E quando você não entende, você se sente
ameaçado.
7.
O
filme apresenta um conceito interessante e diferenciado sobre o que motivaria a
“visita” de extraterrestres na Terra, mas também nos coloca frente a um grande
espelho. Como sugere um dos extraterrestres, eles estão “ajudando” a Humanidade
desde os primórdios e, desta vez, vieram entregar a sua forma de se comunicar e
de “pensar” para que tenhamos um entendimento completo do tempo. Desta forma,
se este conhecimento for bem utilizado, catástrofes podem ser minimizadas e
guerras podem ser evitadas. Em troca os extraterrestres querem ajuda nossa no futuro.
Fica em aberto a razão para isso, mas não deixa de ser inteligente.
8.
Como
você agiria frente a uma criança que você sabe que vai morrer e que é a sua
filha? Você cuidaria para que ela fosse o mais feliz possível ou, de alguma
forma, você evitaria aquele sofrimento. Viver ao máximo ao lado de quem ama,
cuidando para dar todas as oportunidades de felicidade para ela e sem escapar
da dor. Tocante. E nos faz pensar sobre as nossas próprias escolhas e sobre a
vida. Ela é bela não porque não tenha dor e sofrimento, mas porque aprendemos
com absolutamente tudo, especialmente na relação amorosa com as pessoas, e
nisto está a sua beleza.