A política tem a ver com todos nós, assim todos devemos estar
envolvidos nesse debate.
“Não podemos prever como os outros vão nos ver no futuro, nem se
aquilo que nos parece senso comum será visto como plausível para nossos
descendentes” (Georg Hegel).
“Política é uma questão muito séria para ser deixada para os
políticos” (Charles de Gaulle).
Fazer com que o presente faça sentido
exige um entendimento da variedade de ideias e teorias políticas concebidas ao
longo da história. Essas ideias servem como uma explicação das possibilidades
do presente, bem como uma advertência contra o excesso de confiança em nossos
próprios valores políticos, e nos lembram que as exigências pela organização e
governança da vida coletiva da sociedade mudam de maneiras que não podemos
prever com certeza.
Conforme surgirem novas possibilidades
para o exercício do poder, também surgirão novas demandas pelo seu controle e
pela prestação de contas, e com elas virão novas ideias políticas e teorias. Assim,
vejamos:
A política como luta para
satisfazer as necessidades materiais em condições de escassez.
A política existe porque não
podemos ter tudo o que queremos na hora em que queremos. A experiência humana
exige concorrência, embates, concessões e luta pelas coisas. E nisso está
envolvida a linguagem de interesses, tanto de indivíduos quanto de grupos –
para explicar e justificar nossas demandas e para desafiar, contradizer ou
satisfazer as dos outros. Mas, também
pode ser a linguagem de valores, tais como direitos e liberdades ou divisão
igualitária e justiça.
A política é uma atividade
complexa. No seu cerne está o desenvolvimento de ideias e conceitos que nos
ajudam a estabelecer o que queremos e a defender nossos interesses. Em outras
palavras, quem fica com o quê, onde, quando e como.
A política como decisão de
regras para viver e a busca coletiva de objetivos.
Com o advento de sociedades
complexas, surgiram outras questões: quem deve governar? Que poder devem ter os
governantes políticos e como as exigências para legitimá-los podem ser
comparadas às outras fontes de autoridade, tais como a família ou as
autoridades religiosas?
Nessa linha, o homem é melhor
numa sociedade complexa do que abandonado e isolado. Existe, portanto, algo
essencialmente humano a respeito das perspectivas de como as questões de
interesse público devem ser decididas.
Quais fins ou qual é a
finalidade da política? Quais os objetivos que a política pode ou deve atingir?
·
MORALISTAS
POLÍTICOS (foco na moralidade): para esses, a vida política é um ramo
da ética (filosofia moral). A política deve ser direcionada à conquista de
objetivos relevantes, ou que os arranjos políticos devem ser organizados para
proteger certas questões, tais como valores políticos: justiça, igualdade,
liberdade, felicidade, fraternidade ou autodeterminação nacional. Crítica: em sua face
mais radical, o moralismo produz descrições de sociedades políticas ideais
conhecidas como utopias. O pensamento político utópico pode ser perigoso
(quando justifica a violência totalitária) ou não perigoso (quando é parte de
um processo de luta por uma sociedade melhor, sugerindo valores a serem
buscados ou protegidos).
·
REALISTAS
POLÍTICOS (foco no poder): a política tem a ver com o poder, que é
o meio pelo qual os fins são alcançados, os inimigos derrotados, e as
concessões, mantidas. Sem a habilidade de alcançar e exercer o poder, os
valores – a despeito de quão nobres possam ser – são inúteis. Logo, eles
concentram sua atenção no poder, no conflito, na guerra, e são, em geral,
cínicos a respeito das motivações humanas. Crítica: os piores excessos são os fins justificarem os meios brutais
ou injustos.
·
PRAGMÁTICOS
POLÍTICOS (foco na utilidade): deixa os filósofos
políticos anteriores de lado para se preocupar com o alcance dos melhores
resultados possíveis – tradição pragmática. Retira o foco do problema da guerra
e do conflito, bem como dos valores políticos, para se ocupar com o progresso,
seja pelo desenvolvimento constitucional, a determinação de políticas ou a
garantia de que os governantes tenham a maior estabilidade possível. Enfim, o pragmatismo
está associado às habilidades e virtudes de um conselheiro sábio para retirar o
melhor proveito delas. Crítica: ao reduzir os acontecimentos a um foco puramente de utilidade, os pragmáticos políticos podem relativizar barbáries, legitimar desigualdades, rentabilizar crises ou esvaziar a sociedade de sentidos e valores humanos gratuitos.
·
IDEÓLOGOS POLÍTICOS (foco nas ideias): ideias são peculiares a períodos
históricos distintos. Isto é, as ideias de cada período histórico diferem
porque as práticas e instituições das sociedades são diferentes, e o
significado das ideias muda com a história. E as fontes de políticas
ideológicas são diversas: 1) classes sociais; 2) liberalismo; 3) conservadorismo;
4) socialismo; 5) nacionalismo... Assim, quais seriam os motivos de algumas
ideias, como a igualdade, terem se tornado importantes, enquanto outras, como a
escravidão e o direito divino dos reis, terem caído em desuso? Crítica: se as ideias
fossem apenas um reflexo dos processos históricos, isso significaria que os
indivíduos envolvidos nesses processos desempenhariam essencialmente um papel
passivo, e que a deliberação racional
e a argumentação teriam valor
limitado.
Excentricidades
políticas.
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Aristóteles achava que não se deveria permitir a todos os seres
humanos a participação na atividade política: no seu sistema, as mulheres, os
escravos e os estrangeiros estavam excluídos desse processo;
·
Platão e Aristóteles pensavam a democracia como um sistema perigoso
e corrupto, ao passo que a maioria das pessoas no mundo moderno a veem como a
melhor forma de governo;
·
O italiano Nicolau Maquiavel: sua visão da natureza humana enfatiza
que os homens são “mentirosos ingratos”; não são nobres nem virtuosos. Logo, as
motivações políticas têm riscos que vão além das preocupações com o exercício
do poder;
·
O inglês Thomas Hobbes diz que o “estado de natureza” sem lei é
aquele da guerra de todos contra todos. Por meio de um “contrato social” com
seus súditos, um soberano exerce o poder absoluto para salvar a sociedade do
seu estado bruto;
·
Regimes autoritários contemporâneos são encorajados a se
democratizarem;
·
A escravidão já foi pensada como uma condição natural que excluía
muitos de qualquer direito, e, até o século XX, a maioria das mulheres não era
considerada cidadã;
·
A luta ideológica pode ser mais bem vista como uma competição entre
times de futebol. A paixão, em vez da razão, seria mais importante na escolha
por um time, e a vitória, em última instância, é o que conta. Muitos se
preocupam que a política ideológica resulta nos piores excessos do realismo, no
qual os fins justificam meios brutais ou injustos. A política ideológica parece
ser uma luta perpétua, ou guerra, entre campos rivais e irreconciliáveis;
·
Quando Marx propôs como solução para o problema do conflito político o triunfo revolucionário das classes
trabalhadoras e a vitória tecnológica
sobre a escassez, não foi ele um tanto otimista? A mudança revolucionária
não é a substituição de um tipo de tirania por outro? Assim, o marxismo e
outras ideologias não seriam apenas a versão mais recente de um moralismo
utópico irrealista?
·
Há uma tentação moderna que não é simples. O início do Estado
moderno é quase o fim da história. É muito fácil ver-nos como a era mais
progressiva, iluminada e racional de todos os tempos – afinal, acreditamos em
democracia, direitos humanos, economia aberta e governo constitucional. Mas,
essas não são de maneira alguma ideias simples e não são compartilhadas por
todas as sociedades ou povos, nem mesmo hoje;
·
Os últimos 80 anos de história mundial viram o surgimento de novos
estados-nações como resultado da retração e da descolonização imperial.
Federações como a Iugoslávia e a Tchecoslováquia se fragmentaram em novos
estados, assim como a ex-União Soviética. O desejo pela soberania nacional
também é forte em lugares como Quebec, Catalunha, Curdistão e Cachemira. Ainda
assim, enquanto povos lutam por seu Estado, outras nações desejam federações e
uniões políticas complexas. As últimas três décadas viram a criação da União
Europeia, que aspira maior união política, bem como área do NAFTA e muitas
outras organizações para cooperação regional (como o BRICS). Enfim, velhas ideias de soberania
estatal têm um papel incômodo na nova política mundial de soberania
compartilhada, cooperação econômica e globalização.
ALGUMAS CONCLUSÕES:
1. A
vida política é em parte uma resposta necessária aos desafios da vida cotidiana
e o reconhecimento de que a ação coletiva é quase sempre melhor que a
individual;
2. A
política é a nobre atividade na qual os homens decidem as regras pelas quais
viverão e os objetivos que querem buscar coletivamente;
3. A
política é o direito de governar a si mesmo e aos outros;
4. A
política é a única atividade coletiva direcionada a certas metas e fins comuns;
5. A
sociedade política existe com a finalidade das nobres ações, não por mero
companheirismo;
6. As
ideias estão vinculadas aos interesses das classes sociais, tais como os
trabalhadores ou capitalistas, os quais serviram de base aos grandes “ismos” da
política ideológica, do comunismo e o socialismo ao conservadorismo e ao
fascismo;
7. As
ideias políticas são uma abstração da vida de uma sociedade, Estado, cultura ou
movimento político. Para que essas ideias façam sentido, bem como as
instituições e os movimentos que elas explicam, é preciso examinar sua história
e seu desenvolvimento. Tal história é sempre um relato de como chegamos ao
ponto em que estamos hoje. O cuidado é ao olhar adiante e ver qual o
rumo da história queremos tomar...
8. O
entendimento só acontece muito bem em retrospectiva. Daí, o cuidado que se deve
ter com o otimismo de desenvolver ideias sobre os rumos do futuro. A política é dinâmica e um tanto imprevisível.