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São Francisco do Conde, Bahia, Brazil
Professor, (psico)pedagogo, coordenador pedagógico escolar e Especialista em Educação.
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"Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber" (Art. 205 da Constituição de 1988).

Ø Se eu sou um especialista, então minha especialidade é saber como não ser um especialista ou em saber como acho que especialistas devem ser utilizados. :)



“[...] acho que todo conhecimento deveria estar em uma zona de livre comércio. Seu conhecimento, meu conhecimento, o conhecimento de todo o mundo deveria ser aproveitado. Acho que as pessoas que se recusam a usar o conhecimento de outras pessoas estão cometendo um grande erro. Os que se recusam a partilhar seu conhecimento com outras pessoas estão cometendo um erro ainda maior, porque nós necessitamos disso tudo. Não tenho nenhum problema acerca das ideias que obtive de outras pessoas. Se eu acho que são úteis, eu as vou movendo cuidadosamente e as adoto como minhas” ("O caminho se faz caminhando - conversas sobre educação e mudança social", Paulo Freire e Myles Horton: p. 219).

terça-feira, 12 de junho de 2018

Por que brincamos?


Relatos de um coordenador...

A mamãe está ocupada e a criança ficou ali no chão, sozinha. A criança pega um carrinho ou uma boneca. Se a mãe entra para a cozinha, o carrinho é empurrado para longe. Se a mãe se volta para perto da criança, o carrinho chega ao destino... A criança faz de conta, e vai representando aquilo que a anseia...

Não é só brincar que é interessante na criança. Interessante é o modo como ela brinca. Uma observação atenta do brincar pode revelar as quatro operações necessárias para a formação do eu, claro, de forma velada ou simbólica. Vamos dá um exemplo.

Uma criança da Creche Escola Rural do Gurugé está em cima do colchonete. Ela tem um carrinho, preso a um fio, e alternadamente ela joga o carrinho para fora do colchonete e o puxa para cima, exprimindo vocalização característica a cada um dos momentos. Nesse brincar, a experiência real é representada pela fantasia, substituída simbolicamente. Interpretando os gestos simbólicos dessa criança, temos:

O objeto. A professora/cuidadora representa a imagem do carrinho; assim como a professoras/cuidadora vai e vem, dividida entre seus afazeres e os cuidados a si, o carrinho aparecia e desaparecia de seu campo visual, em cima e fora do colchonete.
A posição. A experiência passiva de está largada ali sozinha, de ser deixada ali pela professora/cuidadora e de ser reencontrada a qualquer momento por elas é transferida pela experiência ativa de controle da situação, assumindo a manipulação do fio.
A relação. O desprazer gerado pela ausência da atenção da professora/cuidadora pelo prazer causado pelo brincar.
O modo. O objeto inerte, representado pelo carrinho amarrado a um fio de linha, por um objeto investido pelo dom amoroso da professora/cuidadora.

No ato de brincar, a criança fantasia e recria a realidade. O produto desse processo é a formação do EU.

A criança que aprendeu a fantasiar, ou seja, representar simbolicamente a realidade, e tirar proveito e prazer disso, aprendeu a suportar a ausência do mundo. Isso significa que ela está formando um EU. Trata-se, portanto, de quatro maneiras diferentes de realizar uma negação: do objeto, da posição, da relação e do modo. No conjunto, esse é o primeiro grande movimento que a criança deve realizar para formar um eu.

Há uma espécie de descompasso entre o que o adulto faz e o que a criança, de fato, recebe e interpreta. Além disso, o adulto reconhece essa ilusão como tal e a sustenta desse modo. A criança tem consciência das imagens sensoriais que a circundam, mas não tem consciência de que possui consciência nem de que essas imagens implicam uma ilusão relativa. Por isso brincamos com nossas crianças. Por isso elas “entram no clima” e brincam com a gente. Compartilhamos dessa ilusão inteligente.

O G3 andou usando a brincadeira para construir disciplina.
Neilton Lima
Coordenador Pedagógico Escolar. 

terça-feira, 5 de junho de 2018

Limitar é censurar.


Cada um de nós decide o que tem significado artístico. Portanto, cabe uma interrogação ao final da frase: “devem existir limites para a arte?”. A paixão oferece, por natureza, um componente necessário para que se dê qualquer contribuição significativa ao conhecimento.

Não se pode perder o equilíbrio argumentativo, mesmo diante do debate e do diálogo sobre gênero, diferença e diversidade. Temas outros de interesse para a vida contemporânea também seguem essa lógica, tais como aqueles que estão no centro da grande discussão pública atual: liberdade de expressão e de escolha, a censura, o acesso ao conhecimento, a verdade dos fatos e as notícias falsas, a difamação e seu impacto social, a tal liberdade de imprensa e seus impactos na democracia.

A censura, seja ela de natureza política, ideológica ou artística, esbarra sobre uma questão basal: o argumento que limita, transforma-se em uma característica subjetiva, que se dissemina pelo território da vontade de cada um, subjugado ao próprio desejo individual. Impor limites à arte seria restringir a produção de conhecimento, porque a arte não é outra coisa. Ela revê muitas das concepções do passado e aponta para outras tantas visões de futuro. Impedir o acesso ao conhecimento também é uma forma de censura.

A Arte é um campo do conhecimento gerado pela expressão, como uma forma de manifestação da criatividade. Sua existência está garantida pela Constituição, logo, é desnecessária uma discussão sobre seu direito de existir, seja numa perspectiva do “como”, do “quando” e da “forma”. Assim, a arte, seja através da sua realidade material ou de seu poder simbólico, não produz objetos criminosos. O máximo que pode acontecer é, ao olharmos para objetos artísticos, projetamos neles nossos preconceitos, crenças e desejos de acordo com expectativas e experiências de vida. Não é diferente de nosso comportamento em relação ao outro.

Nossa liberdade reside em termos a mais ampla possibilidade de escolha, sabendo de antemão que estamos elegendo aquilo que desejamos, de acordo com nossas crenças, história de vida, sensibilidade, generosidade e disposição, na sua presença ou na falta delas.
Neilton Lima
Coordenador Pedagógico Escolar

Rede desigual & uma Associação da Internet.


Na gestão do então presidente norte-americano, Barack Obama garantiu um decreto da “neutralidade da Internet” que ganhou força de lei nos EUA. Segundo esse conceito, o mundo virtual seria composto de uma estrada única, na qual os dados de todos os sites correm na mesma velocidade.

Acontece que, um aval do presidente Donal Trump reverte essa decisão por meio da FCC (Comissão Federal de Comunicação, uma tal de Anatel americana). Sem a neutralidade, as operadoras de telefonia, que controlam a tal estrada, conseguiriam privilegiar certas empresas, como acontece aqui no Brasil – criando duas estradas: uma rápida, pela qual trafegariam aqueles que pagam um “pedágio”; a outra lerda e esburacada, para quem não tem verba para tanto. Aqui em São Francisco do Conde são várias estradas, muitas de chão, que nunca viram sequer uma brita.

A reação foi imediata dos gigantes da Internet. Os representantes da indústria da tecnologia prometeram processar o governo norte-americano (com processos judiciais sobre a FCC) na tentativa de reverter a decisão.  Netflix, Twitter, Pinterest, Kickstarter, Google e Facebook defendem a neutralidade, inovação, liberdade de expressão e, sobretudo, a internet aberta.

O consenso é que existe a necessidade de preservar o acesso igualitário à web para que a competição pelo mercado on-line seja justa para todos. Ou seja, não alimentar uma desigualdade na disputa comercial. O Governo nem pensa em acabar com a neutralidade na rede (o daqui e o de lá).


Neilton Lima
Coordenador Pedagógico Escolar

sexta-feira, 1 de junho de 2018

Advocacia no paredão...


Temos assistido a ascensão do autoritarismo no Poder Judiciário e no Ministério Público. A advocacia nunca foi tão ultrajada e humilhada por juízes, delegados e promotores. O paradoxo é que é justamente nestes momentos que a profissão de advogado se torna ainda mais imprescindível. Pois, é quando o arbítrio e a injustiça se instalam que a advocacia se torna imperiosa.

Não existe área do Direito que não tenha sido afetada pela inflexão autoritária que ocorreu nos últimos anos no Brasil. A advocacia criminal, por lidar diretamente com a liberdade alheia e se colocar como um contraponto ao poder punitivo, é quem primeiro sente na pele a mudança autoritária. Os exemplos recentes dessa mudança são muitos: a expulsão de um advogado do Plenário da suprema corte, quando atuava em defesa dos direitos de um acusado; as medidas de restrição do Habeas Corpus nas cortes superiores e no STF; a impossibilidade de acesso aos autos em famigeradas operações policiais; e até a despreocupação de ministros do STF quanto ao respeito à Constituição da República de 1988.

A advocacia trabalhista, por sua vez, sofre com os efeitos da alteração radical do sistema de regulação social do trabalho e de sua proteção, uma construção ao longo de décadas no Brasil. O desmonte da CLT em 2017 é eixo central do golpe parlamentar contra a presidente Dilma Rousseff e se insere em um processo mundial de reorganização do capitalismo, com o ataque e retrocesso em conquistas importantíssimas da classe trabalhadora, ameaçando também suas formas próprias de organização e sociabilidade.

Devemos agir não motivados por questões corporativas, mas porque o exercício pleno da defesa, nesses tempos em que o autoritarismo se impõe como regra no sistema de Justiça, é um antídoto fundamental em defesa da própria democracia. É preciso lutar arduamente contra o autoritarismo legislativo e apresentar propostas para reafirmar e valorizar a advocacia e a democracia.
Neilton Lima

Coordenador Pedagógico Escolar

Estratégia quase suicida: o que tivemos foi o bloqueio da reprodução material da vida.


A paralisação dos caminhoneiros dos últimos dias, que tomou as estradas para expressar as mais difusas insatisfações com o governo e o estado de coisas, serviu para algo – demonstrar que o descontentamento com o sistema político e a condução do país é ainda mais intenso do que antes.

Os dez dias de greve de caminhoneiros levaram ao desabastecimento do país e ao colapso da gestão Michel Temer (MDB). O sofrimento social causado pelos anos de recessão econômica e a quebra de expectativa de que o país melhorasse com a saída de Dilma Rousseff (PT), o que não aconteceu, uniram a população em torno da pauta dos caminhoneiros. Mas, o que de fato a população queria provar? Que pode “desligar os aparelhos do governo”.

A sociedade atentou contra a própria sobrevivência. Ela aceitou o próprio sufocamento para demonstrar revolta contra o sistema político. O que tivemos ameaçou o abastecimento, a produção, a circulação. Vimos a sociedade ameaçando o sistema político de sufocamento. Mas não é um sufocamento do sistema político, é um sufocamento da própria sociedade, que é quem vai ficar sem alimento, sem remédio, sem circulação, sem emprego. Ainda assim, a sociedade resolveu que a única maneira de dizer para o sistema político o quão insuportável está o sofrimento aqui embaixo é sufocando a nós mesmos, até o limite do estrangulamento.

Chegamos ao ponto em que a sociedade aceitou uma coisa absurda, o limite de seu próprio sufocamento para demonstrar a revolta que sente em relação ao sistema político. O governo já acabou, o ponto é saber se Temer chega ao final do mandato. Se depender da grande mídia, sim! Se depender da gente, talvez! Afinal, quem melhor iria substitui-lo nesse curto período de tempo da corrida eleitoral? O clima em que acontecerão as eleições presidenciais, em outubro, depende da construção de um pacto entre as forças políticas que promova alguma estabilidade no país até o fim do ano.
Neilton Lima
Coordenador Pedagógico Escolar