Bolsonaro foi eleito e assumiu o mandato
criticando o “toma lá, dá cá” – a troca de votos no Congresso por cargos em
Ministérios e Estados. A isso damos o nome de “Velha Política”, cujo representante
maior é o Centrão – uma base no Congresso formada por partidos que podem barrar
o que for inconveniente para o Governo.
Em outras palavras, o Centrão refere-se
a um conjunto de partidos políticos que não possuem uma orientação ideológica
específica e tem como objetivo assegurar uma proximidade ao poder executivo de
modo que este lhes garanta vantagens e lhes permita distribuir privilégios por
meio de redes clientelistas.
Na verdade, tudo indica que o presidente
sempre desejou aquilo que criticava, mas, para esconder o seu desejo, passou a
ter uma conduta condenável, especialmente após o início da Pandemia de
Covid-19. O desentendimento com governadores e prefeitos, a defesa do fim do
isolamento social e o apoio a atos antidemocráticos imploravam, no fundo, um
pedido de Impeachment. Agora que o impedimento ameaça ser real, Bolsonaro o
justifica como a causa de sua aproximação com o seu antigo objeto de desejo –
um Centrão.
O resultado disso é um caldeirão ainda
mais borbulhante da política brasileira, com pessoas entrando para o Governo
indicadas por partidos do Centrão, como o PL, o PP e Republicanos. Esses
partidos têm muita força nas votações mais importantes da Câmara. Até agora, as
nomeações do Governo para agradar o Centrão foram:
1. Fernando
Marcondes de Araújo Leão (ligado ao partido AVANTE). Assumiu a direção geral do
DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, que faz parte do
Ministério do Desenvolvimento Regional), sempre cobiçado por partidos, pois tem
um orçamentode R$ 1 bilhão para a construção de barragens e perfuração de poços
artesianos, principalmente aqui no Nordeste.
- Aqui, Jair
Bolsonaro manteve no Conselho de Administração da Hidrelétrica de ITAIPU dois
ex-deputados ligados ao Centrão:
A) José Carlos
Aleluia (partido DEM);
B) Carlos Marum
(partido MDB). Este era defensor ferrenho do ex-deputado Eduardo Cunha e do ex-presidente
Michel Temer.
2. Garigham
Amarante (um advogado e amador indicado pelo partido PL). Vai assumir o
cobiçado cargo da diretoria de ações educacionais do FNDE (Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação), que tem um orçamento de mais de R$ 50 bilhões (só
para este ano são R$ 9 bilhões)! Esse fundo é responsável pela execução da
maioria dos Programas e ações da Educação Básica do país. Ele que cuida,
por exemplo, da alimentação, do transporte e também dos livros didáticos.
3. Também podem ser
citados o senador Ciro Nogueira (presidente do PP) e o Deputado Arthur Lira
(líder do partido na Câmara), pois estão sempre à frente das indicações. Os
dois são réus em processo da Lava Jato no STF por Organização Criminosa.
4. Entrega de
postos do Ministério da Saúde para militares. Num único dia (19/05), foram 9. A
área que deveria ser mais técnica vem passando por um processo de
militarização. Ao todo, já são pelo menos 18 militares do exército nomeados
para cargos estratégicos do Ministério, tais como planejamento, orçamento,
logística e assessorias especiais. Representantes dos Sindicatos dos Servidores
Públicos criticam a falta de experiência dos militares em gestão de saúde,
inclusive do próprio Ministro Interino, Eduardo Pazuello.