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São Francisco do Conde, Bahia, Brazil
Professor, (psico)pedagogo, coordenador pedagógico escolar e Especialista em Educação.
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"Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber" (Art. 205 da Constituição de 1988).

Ø Se eu sou um especialista, então minha especialidade é saber como não ser um especialista ou em saber como acho que especialistas devem ser utilizados. :)



“[...] acho que todo conhecimento deveria estar em uma zona de livre comércio. Seu conhecimento, meu conhecimento, o conhecimento de todo o mundo deveria ser aproveitado. Acho que as pessoas que se recusam a usar o conhecimento de outras pessoas estão cometendo um grande erro. Os que se recusam a partilhar seu conhecimento com outras pessoas estão cometendo um erro ainda maior, porque nós necessitamos disso tudo. Não tenho nenhum problema acerca das ideias que obtive de outras pessoas. Se eu acho que são úteis, eu as vou movendo cuidadosamente e as adoto como minhas” ("O caminho se faz caminhando - conversas sobre educação e mudança social", Paulo Freire e Myles Horton: p. 219).

quinta-feira, 21 de maio de 2020

Afagos ao Centrão...


Bolsonaro foi eleito e assumiu o mandato criticando o “toma lá, dá cá” – a troca de votos no Congresso por cargos em Ministérios e Estados. A isso damos o nome de “Velha Política”, cujo representante maior é o Centrão – uma base no Congresso formada por partidos que podem barrar o que for inconveniente para o Governo.

Em outras palavras, o Centrão refere-se a um conjunto de partidos políticos que não possuem uma orientação ideológica específica e tem como objetivo assegurar uma proximidade ao poder executivo de modo que este lhes garanta vantagens e lhes permita distribuir privilégios por meio de redes clientelistas.

Na verdade, tudo indica que o presidente sempre desejou aquilo que criticava, mas, para esconder o seu desejo, passou a ter uma conduta condenável, especialmente após o início da Pandemia de Covid-19. O desentendimento com governadores e prefeitos, a defesa do fim do isolamento social e o apoio a atos antidemocráticos imploravam, no fundo, um pedido de Impeachment. Agora que o impedimento ameaça ser real, Bolsonaro o justifica como a causa de sua aproximação com o seu antigo objeto de desejo – um Centrão.

O resultado disso é um caldeirão ainda mais borbulhante da política brasileira, com pessoas entrando para o Governo indicadas por partidos do Centrão, como o PL, o PP e Republicanos. Esses partidos têm muita força nas votações mais importantes da Câmara. Até agora, as nomeações do Governo para agradar o Centrão foram:
1.      Fernando Marcondes de Araújo Leão (ligado ao partido AVANTE). Assumiu a direção geral do DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, que faz parte do Ministério do Desenvolvimento Regional), sempre cobiçado por partidos, pois tem um orçamentode R$ 1 bilhão para a construção de barragens e perfuração de poços artesianos, principalmente aqui no Nordeste.
- Aqui, Jair Bolsonaro manteve no Conselho de Administração da Hidrelétrica de ITAIPU dois ex-deputados ligados ao Centrão:
A) José Carlos Aleluia (partido DEM);
B) Carlos Marum (partido MDB). Este era defensor ferrenho do ex-deputado Eduardo Cunha e do ex-presidente Michel Temer.
2.      Garigham Amarante (um advogado e amador indicado pelo partido PL). Vai assumir o cobiçado cargo da diretoria de ações educacionais do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), que tem um orçamento de mais de R$ 50 bilhões (só para este ano são R$ 9 bilhões)! Esse fundo é responsável pela execução da maioria dos Programas e ações da Educação Básica do país. Ele que cuida, por exemplo, da alimentação, do transporte e também dos livros didáticos.
3.      Também podem ser citados o senador Ciro Nogueira (presidente do PP) e o Deputado Arthur Lira (líder do partido na Câmara), pois estão sempre à frente das indicações. Os dois são réus em processo da Lava Jato no STF por Organização Criminosa.
4.      Entrega de postos do Ministério da Saúde para militares. Num único dia (19/05), foram 9. A área que deveria ser mais técnica vem passando por um processo de militarização. Ao todo, já são pelo menos 18 militares do exército nomeados para cargos estratégicos do Ministério, tais como planejamento, orçamento, logística e assessorias especiais. Representantes dos Sindicatos dos Servidores Públicos criticam a falta de experiência dos militares em gestão de saúde, inclusive do próprio Ministro Interino, Eduardo Pazuello.



domingo, 17 de maio de 2020

As 3 fontes de novidades ruins em relação à política...


1.      Atitude de desprezo, asco, nojo e tédio em relação à participação política (a concepção de política como sendo uma vida safada ou atividade vergonhosa e político como pilantra).
“[...] penso que há um tédio pela política, e esse tédio vem também porque nós, adultos, inclusive na escola, não conseguimos fazer com que o jovem se encante com a política sem contar com a presença do adversário, do inimigo. Existe um asco pela política, pois ela é associada à política partidária dos acordos espúrios e da corrupção, e existe um desprezo por se supor que política é uma coisa menor. [...]” (p. 30).

"[...] passamos a tomar o homem 'apolítico' como homem de bem. Se para Aristóteles o homem de bem era aquele que participava da política, vê-se que hoje prevalece a imagem oposta em frases do gênero: 'Ele é um homem de bem, nunca se meteu em política. Ora, esse nojo, esse asco lança o desafio para mim, como educador, de imaginar como é que vamos dar outro passo" (p. 34). 

2.      Idiótes como autodefesa.
Idiota (idiótes): “aquele que só vive a vida privada, que recusa a política, que diz não à política”. Aquele que vive fechado dentro de si e só se interessa pela vida no âmbito pessoal. “Não me meto em política!”.

"[...] Os atenienses iam para a praça de decisões políticas, a ágora, em média uma vez a cada 9 dias. A cada 2 anos nós vamos às urnas uma só vez, por ocasião das eleições; nesse espaço de tempo, eles teriam ido a umas 80 assembleias. [...] essa comparação suscita uma pergunta curiosa: como é possível que eles tivessem prazer em ir 80 vezes à ágora, quando hoje tantos se queixam de ter que votar uma vez a cada 2 nos?" (p. 35)

3.      O elemento da corrupção se tornou fortíssimo.
“[...] Defendo a ideia de que a corrupção não aumentou; ela só está sendo mais percebida. Acredito que, quando tínhamos ditadura e obras em concreto, era enorme a corrupção. Como temos, hoje, muito menos obras em cimento – parece que cimento atrai comissão, atrai propina –, como existe mais transparência, a denúncia é maior” (pp. 31-32).

A corrupção é o que há de mais antirrepublicano, porque vai na jugular da res publica, põe em xeque a coisa pública e o bem comum. Isso é paradoxal: exatamente no regime democrático, que significa “poder do povo”, muitos cidadãos se sentem sem poder para vencer a corrupção. A maior percepção da corrupção e a consequente aversão que ela provoca, que são dados positivos, trazem junto uma sensação de impotência” (p. 32).

"[...] há um jeito mais fácil de extinguir a corrupção. Como, para existir corrupção, tem de haver um corrupto e um corruptor, e como o corruptor, de maneira geral, é aquele que tem dinheiro para corromper, basta então que este indivíduo não corrompa a outros. Do ponto de vista operacional, não é difícil. Se o empresário é aquele que possui dinheiro e a corrupção é feita com esse capital, não o utilize para fazer isso e a corrupção acaba. Pode parecer óbvio, mas o espanto é grande, porque sempre se supõe que processo de higiene política tem de ser feito num outro lugar que não aquele em que estou" (p. 47). 

CONCLUSÃO: O nosso desafio na qualidade de educador é: como seduzir as novas gerações a fazer política sem que os jovens necessitem de um adversário externo, mas estejam imbuídos de uma compreensão ética? Como trabalhar a ideia de política para que ela seja entendida como o ápice da virtude do humano? Também não mitifico, claro, a democracia direta grega, não acho que ela seria a solução. 

"[...] Do ponto de vista dos direitos do cidadão, da expansão da liberdade individual, do acesso à informação, tivemos uma mudança para melhor. Mas, no que se refere à percepção da importância da política, acho que tivemos um mudança negativa, um movimento de desnobrecimento da atividade política, o que entendo como negativo do ponto de vista da sociedade [...] 'Os ausentes nunca têm razão'." (p. 36). 

É preciso estabelecer uma relação de prazer na companhia alheia, de convívio e crescimento com o outro. Política é saber conviver, mas, sobretudo, desejar participar - e participar de fato!


REFERÊNCIA: 

CORTELLA, Mario Sergio & RIBEIRO, Renato Janine. Política: para não ser idiota. - 9ª ed. - Campinas, SP: Papirus 7 Mares, 2012. - Coleção Papirus Debates.


quarta-feira, 13 de maio de 2020

As teias invisíveis...


Somos governados por determinações das quais mal temos consciência!

TEIA I: A liberdade individual como identidade é uma coisa boa, gostosa. O problema é o exagero pessoal que substitui o indivíduo pelo individual. Nasce o individualismo como obsessão da exclusividade, e ele é cego! Até aqui seu jeitinho de ser já se transformou numa libertinagem irresponsável, conivente e caprichosa. Em outras palavras, “eu estando bem, danem-se os outros, neh?”.

TEIA II: Os arrogantes que batem no peito e dizem: “essa é a minha religião”; “este é o meu jeito de alimentar”; “esta é a orientação sexual correta”. Mentira!!! Existe aí uma falsa liberdade. A indústria cultural e sua ideologia da sociedade industrial determina o tempo todo padrões de comportamento, inclusive o seu. No fundo, acabamos constrangidos, conscientemente ou não, a uma série de práticas que suponho serem minhas escolhas no mundo do consumo, da indústria cultural, mas que não são realmente minhas. “Mas quem disse que você escolheu tão livremente fumar? Quem disse que não houve uma propaganda maciça para levar você a escolher fumar (ou a escolher comida gostosa, escolher engordar)? Que liberdade é essa?”.

TEIA III: Dizem que o Sol nasce para todos, e que somos todos livres. Mas, de fato, algumas pessoas podem fazer escolhas mais livres do que outras. Por exemplo, aquelas pessoas com mais condições econômicas ou mais autonomia intelectual.

TEIA IV: A escravidão não foi abolida, apenas mudou suas estratégias. Se por um lado não é preciso matar pessoas, levá-las à fogueira ou ameaçá-las para conseguir que os comportamentos se ajustem ao que é socialmente desejável. Por outro lado, seguimos consumindo programas de TV, moldando nosso pensar e nosso agir pela propaganda e estragando nossa saúde com processados. Nesse quesito, temos um misto de avanço e de recuo. É ótimo que ninguém seja morto por divergir das correntes dominantes na política ou mesmo no comportamento (e olha lá), mas também é preocupante pensar que somos governados por determinações das quais mal temos consciência.

TEIA V: Você não tem apenas direitos, tem também os deveres. Seu direito termina quando o direito do outro começa. A esse respeito podemos ilustrar o exemplo: quando se aprovou em São Paulo a lei limitando o uso do tabaco em público. Muita gente a questiona de uma forma marota, mas, na verdade, o que a lei proíbe é que o indivíduo terceirize a sua fumaça. Não se proíbe ninguém de fumar, mas de fazer o outro aspirar o seu fumo. A proibição visa evitar que não fumantes sejam constrangidos pelos fumantes. Portanto, seu egoísmo não é a única coisa que lhe governa.

Esses exemplos são suficientes para demonstrar que existem alvos de “ns” constrangimentos que nos aprisionam em muitas teias com a falsa promessa de liberdade. Precisamos lançar luz sobre essas teias invisíveis que nos prendem para superá-las e tentarmos ser coletivamente melhores.