Se eu pudesse comer o que
quisesse e na hora em que quisesse e o quanto quisesse, não haveria fome. Do
mesmo modo, se todos pudessem ter o que quisessem na hora em que quisessem, não
haveria aquilo que chamamos de política. Política é uma atividade complexa
porque tem diversas maneiras de ser compreendida (é um conceito multirreferencializado,
diria Roberto Sidnei Macedo).
Não somos como as plantas
privilegiadas, que realizam a fotossíntese. Se não temos a capacidade de
autoproduzir o próprio alimento, precisamos exercer a árdua atividade de
trabalhar. Assim, podemos concluir que a experiência humana nunca nos dá tudo o
que queremos. Por isso mesmo, há concorrência, embates, fazemos concessões e,
muitas vezes, temos de lutar pelas
coisas. É no centro dessa luta que está a atividade política, onde se
encontra o desenvolvimento de ideias e conceitos que nos ajudam a estabelecer o
que queremos e a defender nossos interesses.
Podemos então dizer que
certas ideias e conceitos, isto é, o desenvolvimento de uma linguagem para
explicar e justificar nossas demandas (como fazer a feira ou “supermercado”) e
para desafiar, contradizer ou satisfazer as dos outros (o almoço compartilhado):
é a própria atividade política. Quer dizer, essa pode ser uma linguagem de
interesses, tanto de indivíduos quanto de grupos, ou pode ser a linguagem de
valores, tais como direitos e liberdades ou divisão igualitária e justiça. Ou
seja, no final das contas política é uma feira de supermercado feita com uma
incógnita:
Comeremos o banquete sozinho ou
chamaremos outros para dividir a comida?
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