Comer bem é um dos imperativos do nosso tempo (frutas, legumes, verduras, grãos, etc.). Mas, não é o único. O cenário social também clama por educação saudável – e a ludicidade é um desses ingredientes. Através do lúdico a criança tem acesso à cultura, à autoria nas produções, ao protagonismo compartilhado, ao desenvolvimento da criatividade (amo demais!), a descoberta, a inventividade, o interjogo entre as experiências internas e externas, a potencialização da sensibilidade (tenho muito), a experimentação, a performance e o imaginário (Cristina D’Ávila & Tânia Ramos Fortuna, pp. 15-16).
Quer saber “o que uma pessoa é” ou “como ela é”? Bote-a para comer. O jeito de comer revela o tipo de pessoa que você é: se a pessoa come apressada demais, ela pode ser ansiosa; se come mais do que deve, é gulosa; se come pouco demais é besta; se come e conversa com a boca cheia, é mal educada; se come cheia de rituais e requintes é fresca; se come fora dos horários, é desorganizada; se come só frituras, doces e salgados é uma pessoa mal instruída e pode ficar doente; se come mal é porque vai mal; se não tem comida na dispensa ou na geladeira, é pobre; se tem comida demais e joga fora ou desperdiça, é rica e burra (só uma pessoa ignorante é capaz de jogar comida fora, óbvio!). E por aí vai...
Assim também é com a Educação e a Ludicidade. Quer saber “o que uma pessoa é” ou “como ela é”? Bote-a para brincar/jogar. O jeito de brincar e viver revela o tipo de pessoa que você é: se brinca sozinha, é um criativo solitário; se não gosta de brincar, tem muitos problemas para esconder; se joga só para ganhar é um compulsivo perigoso; se joga só para perder é um idiota; se sabe jogar e brincar com os outros, é um cooperativo; se brinca para machucar os outros é um cretino em potencial; se brinca de escolinha poderá vir a ser professor; se brinca de médico poderá ser doutor; se brinca só de paciente poderá ser passivo; se só observa os outros brincando é besta (nem sabe o que está perdendo...). Enfim, por aí vai...
A ludicidade é um pêndulo que se move entre a fantasia e a realidade. O jogo ou a brincadeira é um modo de ser. Logo, uma boa maneira de conhecer e avaliar nossos alunos é observar cuidadosamente como eles brincam e jogam. “[...] quem joga não somente revela habilidades, dificuldades, temores e desejos, mas, sobretudo, torna-se quem é. Frente a isso, pode-se afirmar, desde já, que brincar forma” (Tânia Ramos Fortuna, p. 20). Por isso que tem gente que não gosta de jogar/brincar, porque tem medo de mostrar alguma coisa que “não deve”, algo a esconder (algum segredo, algum temor, alguma fraqueza, alguma tristeza). Brincar ou jogar é se libertar.
Portanto, se hoje você é uma pessoa saudável e com um forte sistema imunológico, você deve isso ao leite materno e aos alimentos saudáveis que comeu. Do mesmo modo, se você hoje é uma pessoa criativa, imaginativa e sonhadora, que encara os desafios da vida com dinamismo, você deve isso às brincadeiras da sua infância. A ludicidade não desaparece quando a infância acaba, mas se transforma em algo bom dentro de cada um de nós. “Ela não só persiste na vida adulta, como se metamorfoseia, assumindo formas que participam ativamente de nosso modo de ser, de pensar, de aprender e ensinar – de viver, enfim” (Tânia Ramos Fortuna, p. 20). Pessoas muito magras, vazias, ranzinzas e amarguradas da vida tiveram na infância insuficiência de duas coisas: brincadeiras e comida. Assim, tem bons motivos para se permitir a uma formação lúdica, e ser lúdico com os alunos que pretendem ensinar.
Enfim, o nível de bom ou mau humor que temos na vida adulta é indicativo da dose de ludicidade que recebemos na infância. Eu tomei muitas gotinhas, por isso não tenho medo de ser livre, nem tenho nada a esconder. Você tem? Se não tem, então venha brincar, e comer comigo... A gente vai se lambuzar de felicidade.
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