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São Francisco do Conde, Bahia, Brazil
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"Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber" (Art. 205 da Constituição de 1988).

Ø Se eu sou um especialista, então minha especialidade é saber como não ser um especialista ou em saber como acho que especialistas devem ser utilizados. :)



“[...] acho que todo conhecimento deveria estar em uma zona de livre comércio. Seu conhecimento, meu conhecimento, o conhecimento de todo o mundo deveria ser aproveitado. Acho que as pessoas que se recusam a usar o conhecimento de outras pessoas estão cometendo um grande erro. Os que se recusam a partilhar seu conhecimento com outras pessoas estão cometendo um erro ainda maior, porque nós necessitamos disso tudo. Não tenho nenhum problema acerca das ideias que obtive de outras pessoas. Se eu acho que são úteis, eu as vou movendo cuidadosamente e as adoto como minhas” ("O caminho se faz caminhando - conversas sobre educação e mudança social", Paulo Freire e Myles Horton: p. 219).

domingo, 7 de julho de 2019

PARTE FINAL: A digestão do banquete.

Cada banquete é único. Do mesmo modo, ideias são peculiares a períodos históricos distintos. Ou seja, as ideias de cada período histórico diferem porque as práticas e instituições das sociedades são diferentes, e o significado das ideias muda com a história – trata-se do pensamento político ideológico.

Cada banquete é único porque cada anfitrião que o preparou tem seu jeito e suas próprias condições de prepará-lo. Assim, também, as ideias estão sujeitas à mudança histórica e vinculadas aos interesses das classes sociais, tais como os trabalhadores ou capitalistas, os quais serviram de base aos grandes “ismos” da política ideológica, do comunismo e o socialismo ao conservadorismo e ao fascismo.

Ao ser processada na boca e no estômago a comida passa pela digestão. Eu diria que a história é o sistema digestor das ideias. É ela quem processa os fatos, tornando alguns importantes e outros em desuso. Alguns exemplos de “excrementos históricos”: Platão e Aristóteles pensavam a democracia como um sistema perigoso e corrupto, ao passo que a maioria das pessoas no mundo moderno a veem como a melhor forma de governo. Regimes autoritários contemporâneos são encorajados a se “democratizarem”, como está acontecendo com o fascismo atual de Bolsonaro, um verdadeiro bueiro ou sistema excretor do Brasil. De maneira similar, a escravidão já foi pensada como uma condição natural que excluía muitos de qualquer direito, e, até o século XX, a maioria das mulheres não era considerada cidadã.

A ideia política de que uma classe dominante cria uma falsa argumentação para subjugar uma classe dominada, bem como da história como um biodigestor de fatos e valores é de Karl Marx e Georg Hegel. Aliás, Hegel dizia que as ideias políticas são uma abstração da vida de uma sociedade, Estado, cultura ou movimento político. Para que essas ideias façam sentido, bem como as instituições e os movimentos que elas explicam, é preciso examinar sua história e seu desenvolvimento. Tal história é sempre um relato de como chegamos ao ponto em que estamos hoje (“a coruja de Minerva só voa no crepúsculo”, isto é, a sabedoria ou o entendimento só acontece em retrospectiva). Ou seja, o surgimento de uma ideologia. Além das classes sociais de Marx, existem outras fontes de política ideológica mais recentes, que surgiram das evoluções ocorridas dentro do liberalismo, do conservadorismo, do socialismo e do nacionalismo.

Vivemos um presente e viveremos um futuro de disputa. Karl Marx dizia que “os filósofos têm apenas interpretado o mundo... A questão, porém, é transformá-lo”. Essa transformação ou saída do problema do conflito político viria do triunfo revolucionário das classes trabalhadoras e a vitória tecnológica sobre a escassez. Porém, Hegel adverte que não podemos olhar adiante e ver qual o rumo da história, isto é, nada de se ter o mesmo otimismo histórico de ideias sobre os rumos do futuro. Ou seja, a única certeza que temos sobre o futuro político é a incerteza. Uma incerteza recheada de disputas. Portanto, isso estremece a quem achar ser muito fácil ver-nos como a era mais progressiva, iluminada e racional de todos os tempos – afinal, acreditamos em democracia, direitos humanos, economia aberta e governo constitucional. Porém, essas não são de maneira alguma ideias simples e não são compartilhadas por todas as sociedades ou povos, nem mesmo hoje.

As últimas décadas nos mostraram muita instabilidade, o contrário do que esperamos dos políticos. Vimos o surgimento de novos estados-nação como resultado da retração e da descolonização imperial ou a fragmentação de novos estados; de um lado vemos o forte desejo pela soberania nacional e a luta de povos por seu Estado, enquanto de outro lado vemos nações desejarem federações e uniões políticas complexas, prezando pela união política e muitas outras organizações para cooperação regional. É justamente sobre essa dúvida do futuro que a Hegel se dá razão, pois velhas ideias de soberania estatal têm um papel incômodo na nova política mundial de soberania compartilhada, cooperação econômica e globalização.

Diante das incertezas e da fome violenta, apenas duas coisas são seguras: comida é uma questão muito séria para ser deixada apenas para os MasterCheffs. Todos nós precisamos saber lidar com a arte de cozinhar como uma questão de sobrevivência. Do mesmo modo, diria Charles de Gaulle: “Política é uma questão muito séria para ser deixada para os políticos”. Apenas os políticos... 

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