"As esquerdas perderam a capacidade de mobilizar e de sustentar atividade política forte no enfrentamento da extrema direita? Estão elas confundindo o papel do governo federal com os dos partidos políticos? Ora, a disputa política ocorre em duas vias principais: uma é pelo confronto de negações excludentes (que é mais apropriada aos partidos); a outra, pela construção de direção e sentido (mais própria dos governos). Aqui, Lula e sua equipe estão fazendo muito bem o dever de casa. Quem está fazendo falta são os sindicatos, a sociedade civil, os movimentos sociais e os partidos políticos".
São marcas da política brasileira suas crises intermináveis e a falta de perspectiva para o povo.
Tendo sido malsucedido em seus dois momentos cruciais de fundação: a Independência e a Proclamação da República, o país produziu mais líderes políticos "fracos" e dependentes de "forças auxiliares ou de forças mercenárias para governar". Sem autonomia, "ou eles perdem o poder, ou fazem enormes concessões aos aliados e terminam fracassados".
Esse quadro desalentador foi, evidentemente, agravado pela pandemia do novo coronavírus, quando o inelegível foi "contrário à liberdade, à democracia, ao Estado de Direito e à Constituição", exibindo seu descaso para com as vítimas no Brasil.
Esse nosso fracasso decorre da
inexistência de uma estratégia inovadora de mudança e de líderes dotados de
virtù, genuinamente populares e competentes, justos e capazes de subordinar sua
ambição pessoal à ambição da grandeza do Estado. Felizmente, o Brasil possui
uma rara exceção. Ela se chama Lula.3.
O jogo das aparências é um elemento constitutivo da política. Mesmo sabendo que tem adversários e inimigos, o presidente deve guiar-se pela máxima de que “o príncipe guerreiro e incrédulo deve proclamar incessantemente a paz e a fé”. É isto que está fazendo vô Lula.
Nossa conjuntura atual ainda é a de um país enredado com a fracassada tentativa de golpe e com o alto grau de polarização política. Logo, a responsabilidade ou tarefas do governo são:
1.
Deslocar
grupos polarizados para um campo despolarizado (aqui entram militares,
evangélicos, etc.). O atual momento não é de estimular divisões. Aqui, o
objetivo é enfraquecer os inimigos e agregar força, seja por adesão ou
neutralização;
2. Fechar as portas para o pronunciamento político da caserna, orientando-a para as missões profissionais e constitucionais. Aqui o objetivo é colocar um ponto final na intervenção militar na política, seja pela via de uma nova doutrina ou pela vedação legal e punição exemplar, seja pelo Judiciário, dos envolvidos na tentativa de golpe.
Foi certeira a lei do atual ministro da Defesa e o comandante do Exército que vedou o envolvimento eleitoral e partidário de militares da ativa e de sua participação em ministérios. A esquerda já deveria ter fechado legalmente as portas da participação dos militares na vida política e partidária desde a redemocratização!
Lula está acertando. Presidente é sinônimo de Ética, de responsabilidade, presidir “todo” o povo, ponto de convergência da unidade nacional, e agir para que ela se efetue ao máximo possível, dados os conflitos diversos inerentes à sociedade.
Agora, se o Governo está acertando, cadê o papel da sociedade e dos partidos? Desses, fraqueza e imobilismo. Esquerdas perderam a capacidade política de enfrentar a extrema direita, foi isso? Estão terceirizando tudo ao governo ou ao STF? Afinal, os debates e protestos contra o golpe, os atos de repúdio aos 60 anos do levante militar, a defesa da democracia e o combate ao golpismo bolsonarista é também, e sobretudo, de responsabilidade da sociedade civil, sindicatos, dos movimentos sociais e dos partidos políticos.
Enfim, o que Lula e os integrantes do
governo podem e devem fazer, neste momento de embates, eles já estão fazendo – reforçar o discurso em defesa da
democracia e dos benefícios que ela pode suscitar para a sociedade, para a
justiça social e para a liberdade. E estão fazendo muito bem, diga-se de
passagem. Entretanto, a disputa política não ocorre apenas pela construção de
direção e sentido, mais própria dos governos. Ocorre também pelo confronto de
negações excludentes, que é mais apropriada aos partidos, e da mobilização e
tomada de espaços públicos, tarefa de sindicatos e da sociedade civil. É disso
que estamos sentindo falta, muita falta.
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