Bases e princípios
fundamentais para a formação do pensamento e das instituições das sociedades
ocidentais (graças à Filosofia):
1. Um
conhecimento não é algo que alguém impõe a outros e sim algo que deve ser
demonstrado por meio de provas e compreendido por todos, graças a argumentos,
debates e provas racionais.
- o conhecimento
verdadeiro deve encontrar as leis e os princípios universais e necessários do
objeto conhecido e deve demonstrar sua verdade por meio de provas ou argumentos
racionais;
- precisa ser
assim, porque a razão ou a capacidade de pensar e conhecer é a mesma em todos
os seres humanos;
- um
conhecimento só é verdadeiro quando explica racionalmente o que é a coisa
conhecida, como ela é e por que ela é.
- EXEMPLOS: A) ninguém impõe aos outros
que o círculo é uma figura geométrica em que todos os pontos são equidistantes
do centro, pois essa definição simplesmente ensina que onde quer que haja uma
figura desse tipo, ela será necessariamente um círculo; B) ninguém impõe aos outros que o triângulo é uma figura geométrica
em que a soma dos ângulos internos é igual à soma de dois ângulos retos, pois
essa definição simplesmente mostra que onde houver uma figura com tal
propriedade ela será necessariamente um triângulo. CONCLUSÃO: é por isso que a Matemática é considerada um
conhecimento racional verdadeiro, pois ele define racionalmente seus objetos, e
não os impõe sem antes demonstrá-los por meio de provas (os teoremas) fundadas
em princípios racionais verdadeiros (os axiomas e os postulados).
2. A
natureza segue uma ordem necessária e universal (fundamento da origem da
Filosofia - Cosmologia).
- uma lei natural é necessária porque nenhum ser natural, no universo inteiro, escapa
dela nem pode operar de outra maneira que não desta;
- uma lei da
natureza é universal porque é válida
para todos os seres naturais em todos os tempos e lugares.
- tal ideia fez
nascer a primeira expressão filosófica conhecida = cosmologia (conhecimento
racional da ordem universal).
- foi graças aos
primeiros filósofos gregos que o século XVII aflorou as ciências.
- EXEMPLOS: A) Galileu Galilei deu novo
impulso à física ao estudar o movimento dos graves ou “pesados” (estabelecendo as leis
da queda dos corpos) e demonstrar as leis naturais do movimento uniforme e do movimento
uniformemente variado; B) Isaac
Newton estabeleceu as leis matemáticas da física, a demonstrar as três leis do movimento e a “lei da gravitação universal”: toda
partícula de matéria atrai toda outra partícula com uma força que varia na
razão direta do produto de suas massas e na razão inversa do quadrado das
distâncias entre elas; C) Albert
Einstein estabeleceu uma lei válida para toda a matéria e energia do
universo: E = mc2 (energia é igual a
massa vezes a velocidade da luz ao quadrado).
3. Leis
necessárias e universais da natureza podem ser plenamente conhecidas pelo nosso
pensamento, sem apelar para revelação divina.
- não são
conhecimentos misteriosos e secretos, mas conhecimentos que o pensamento
humano, por sua própria força e capacidade, pode alcançar.
4. A
razão ou o pensamento também ele próprio opera obedecendo a princípios, leis,
regras e normas universais e necessárias.
- com os quais
podemos distinguir o verdadeiro do falso;
- por sermos
racionais, nosso pensamento é coerente e capaz de conhecer a realidade porque
segue leis lógicas de funcionamento.
- EXEMPLOS: A) nosso pensamento diferencia uma afirmação de uma negação.
Na afirmação, atribuímos alguma coisa
a outra coisa (“Sócrates é um ser humano”,
atribuímos humanidade a Sócrates); e na negação,
retiramos alguma coisa de outra (“Este
caderno não é verde”, estamos retirando do caderno a cor verde); B) Identidade = afirmar que uma coisa é
idêntica a si mesma (“Sócrates é Sócrates”),
pois, se negarmos sua identidade, estaremos retirando dela ela própria. Graças
à afirmação da identidade, o pensamento pode distinguir e diferenciar os seres
(Sócrates é diferente de Platão e ambos são diferentes de uma pedra); C) Contradição = é impossível afirmar e
negar ao mesmo tempo a mesma coisa de uma outra coisa (“O infinito é ilimitado e não é limitado”); D) Alternativa = ou a afirmação será verdadeira e real e a negação
será falsa ou vice-versa (“Ou haverá
guerra ou não haverá guerra”).
CONCLUSÃO: A descoberta de que a razão ou o
pensamento obedece à lei
da identidade, da diferença, da contradição e da alternativa
é de fundamental importância para estabelecer a diferença entre ILUSÃO e
VERDADE. Basta que nos lembremos como nos contos de fadas, nos mitos religiosos
e nas lendas populares as narrativas são maravilhosas justamente porque nelas
não funcionam essas distinções.
5. O agir
humano exprime a conduta de um ser racional dotado de vontade e de liberdade (e
não por imposições misteriosas ou incompreensíveis feitas por forças secretas
ou divinas).
- as práticas
humanas, a ação moral, a política, as técnicas, as artes dependem da vontade
livre, da deliberação, da discussão, de uma escolha passional (emocional) ou
racional, de nossas preferências e opiniões, motivadas ou por valores e padrões
estabelecidos pela natureza ou pelos próprios seres humanos (e não forças
invisíveis e impossíveis de serem conhecidas).
6. Possibilidade
do acaso, do acidental. Isto é, os acontecimentos naturais e humanos são
necessários, mas, também, sujeitos a circunstâncias e condições (que também não
são desprovidas de uma lei natural).
- embora os
acontecimentos possam ser apreendidos justamente porque obedecem a leis
naturais ou da natureza humana que podem ser apropriadas por nossa razão, não
se descarta a influência do acidental. Afinal, agimos ora por livre arbítrio
(escolhas e deliberações nossas), ora em condições determinadas.
- O que é o
“acaso”? O acaso é o encontro acidental de duas séries de acontecimentos
necessárias (Aristóteles). EXEMPLO: A) Uma pedra lançada ao ar cai
necessariamente por conta da lei natural da gravitação; B) Há capacidade
natural de locomoção humana graças às leis anatômicas e fisiológicas que regem
nosso corpo. C) Ocorre o “acaso”, o “acidental”: se uma pedra, ao cair
(necessário), atingir a cabaça
(acidental) de um passante (necessário).
- A lei natural
do acaso é, portanto, o encontro acidental de coisas que em si mesmas são
necessárias.
- O que altera e
difere a lei natural é o possível ou a escolha livre do ser humano. A ação
humana tem o poder de introduzir o possível no mundo, isto é, o que pode
acontecer ou deixar de acontecer, dependendo de uma escolha voluntária e livre.
EXEMPLOS: 1) É verdade que é por uma necessidade natural ou por uma lei da
natureza que ando. Mas é por deliberação voluntária que ando para ir à escola
em vez de andar para ir ao cinema; 2) É verdade que é por uma lei necessária da
natureza que os corpos pesados caem, mas é por uma deliberação humana e por uma
escolha voluntária que fabrico uma bomba, coloco-a num avião e a faço despencar
sobre Hiroshima.
7. A
diferença entre o necessário e o contingente (e dentro deste: acaso ≠
possível).
- NECESSÁRIO: o
que não pode ser senão como é. É o que não está em nosso poder escolher, pois
acontece e acontecerá sempre, independentemente de nossa vontade. EXEMPLO: não
depende de nós que o Sol brilhe, que haja dia e noite, que a matéria se
transforme em energia quando sua velocidade é o quadrado da velocidade da luz.
- CONTINGENTE: o
que pode ser ou não ser, o que pode ser de uma maneira ou da maneira oposta. É o
que pode ou não acontecer na natureza ou entre os homens.
- ACASO: é a
contingência nos acontecimentos da natureza. Também é o que não está em nosso
poder escolher, como no necessário. EXEMPLO: não escolho que aconteça uma
tempestade justamente quando estou fazendo uma viagem de navio ou de avião, nem
escolho estar num veículo que será destruído por um outro, dirigido por um
motorista embriagado.
- POSSÍVEL: é a
contingência nos acontecimentos humanos. Ao contrário do necessário e do acaso,
é exatamente o que temos poder de escolher e fazer, é o que está em nosso
poder.
8. Evitar
o fatalismo e o possibilismo.
- “Fatalismo”:
achar que tudo é necessário, que temos que nos conformar com o destino e nos
resignar com o nosso fado.
- “Possibilismo”:
a ilusão de que podemos tudo quanto quisermos, pois a natureza segue leis
necessárias que podemos conhecer (sendo que nem tudo é possível, por mais que o
queiramos).
9. Naturalmente
aspiramos conhecimento verdadeiro, justiça e felicidade.
- pois somos
seres racionais, dotados de vontade livre e de emoções e desejos.
- não vivemos
nem agimos cegamente, nem somos comandados por forças extranaturais secretas e
misteriosas.
- nós mesmos somos
capazes de nos instituir valores pelos quais dão sentido às nossas vidas e às
nossas ações.