Por que está havendo rejeição dos ex-eleitores de esquerda? Esses eleitores precisam ser escutados seriamente e suas (des)motivações analisadas com cuidado. Se forem rotulados e atacados como incapazes de discernimento ou como neofascistas, não vai ajudar. Afinal, grupos socialmente vulneráveis acham que têm discernimento, acham que fazem escolhas deliberadas, ponderando alternativas e considerando valores. Mas, é um achismo perigoso. Eles estão se sentindo melhor, porque o governo Lula é melhor, mas a direita quer dissociar isso.
Estamos lidando com a alma corrompida pelo fascismo, o coração levado pelo capitalismo, a mente possuída por pastores, pela desinformação e pelos algoritmos das plataformas.
A mensagem que a esquerda recebeu nas eleições municipais é preocupante: sua relação com uma parte significativa dos eleitores vem se perdendo. Quando o PT se alia a outro partido de esquerda, como em São Paulo, não expande o eleitorado, mas o reduz. Aconteceu isso em muitas Federações. Em vez de unir, fragmentou e enfraqueceu.
Além da culpa das emendas parlamentares, da "normalização" das candidaturas aberrantes, do antipetismo promovido pela mídia etc. Há outro elemento: a relação da esquerda com os pobres vem sendo azedada pela direita – seja capturada pela "elite fascista" e suas crises identitárias de racismo, machismo, homo e transfobia. Não se pode mesmo ignorar o poder das mídias sociais, das igrejas neopentecostais, nem o massacre midiático que sofremos durante anos consecutivos, a força das fake. Cobra-se demais da esquerda, quando a responsabilidade não é só dela, pois todos os setores da sociedade estão sendo afetados. Ainda há a questão das emendas parlamentares que fortalecem o centro e a direita.
A maioria dos eleitores vem sendo convencida de que apresenta problemas morais e cognitivos, supostas falhas reproduzidas na mídia. E ainda temos o problema grave dos efeitos da fome: quem come três refeições por dia vota racionalmente, quem tem déficit proteico age e vota com mais dificuldade. Digamos acuados pelas circunstâncias – fome, ignorância e mando. Não é fácil!
Tudo o que a direita deseja é fazer a esquerda desacreditar em si mesma, abandonar a luta e o povo. Eles dizem: “A esquerda tem que lavar as mãos e deixar o povo sangrar com a direita. Nenhuma conquista é permanente”. O que significa que a fila do osso espera o povo, e isso precisa ser lembrado para ele. Autocrítica, mudança de direção, o guru Lula não é eterno. Precisamos formar novas lideranças, fortalecer o sindicalismo, insistir na melhoria das condições de vida para os brasileiros.
A direita deseja ressentimento e entrega ao seu plano de austeridade, na rancorosa expressão “a população precisa sentir na pele para aprender”. Vai ter sofrimento, direitos triturados, políticas públicas enterradas, filas do osso e os empreendedores precarizados vão perceber que dependem da classe média com emprego e renda, o que a direita e seu projeto de fazendão com igrejas não entrega. O risco é virarmos terra arrasada outra vez.
Ciclos de bonança e prosperidade favorecem doutrinas liberais, a ilusão do protagonismo individual, da ascensão social pelo mérito próprio. Porém, as vacas gordas não duram pra sempre e o precarizado só tem o Estado malvadão pra intervir por ele. A onda rosa da América Latina é o resultado das políticas neoliberais dos anos 90. Uma nova onda de liberalismo se aproxima, e seus resultados também virão. Precisamos nos prevenir.
Enfim, seguimos tentando entender
"por que galinhas votam em raposas?" ou "que contradição é essa,
um ‘pobre de direita’?".
Movimentos da política
nacional.
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Enquanto
a população fica na expectativa de que os políticos vencedores cumpram parte
dos compromissos assumidos em campanha.
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O
PT se deu mal nas urnas, agora se desentende sobre os motivos. “Em casa que falta pão, todo mundo briga e
ninguém tem razão”. O partido está na zona de rebaixamento. O PT paga o
preço por ter um governo de coalizão: muitos aliados no plano nacional são
rivais no plano local.
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O
Centrão, que se deu bem, está de olho nos próximos presidentes da Câmara e do
Senado.
·
Desempenho
dos partidos (PSD, MDB, PL, União, PP, Rep.): o Centro para a Direita têm mais
municípios e população para administrar. O PT aparece em 7º lugar na população
e na quantidade de prefeitos (252): em 10º lugar.
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Dominância
do Centrão e encolhimento da esquerda.
·
A
população optou pela moderação e equilíbrio (boas propostas para a cidade). As
questões ideológicas, a polarização e a nacionalização não prevaleceram. Dialogue
com as pessoas e apresente boa gestão!
·
O
prefeito ajuda a fazer o deputado federal. E este é importante para os partidos
porque é a bancada de deputados federais e um pedaço do Senado que se calcula o
dinheiro do Fundo Eleitoral e do Fundo Partidário.
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De
cada 10 prefeitos que disputaram a reeleição, 08 se reelegeram.
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Nas
capitais, dos 20 que tentaram, 16 conseguiram: índices altos de aprovação e opção
pela continuidade.
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Houve
crescente abstenção: 3 em 10 eleitores.
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Uma
abstenção que mudou de padrão. Mostrou isso na pandemia e persistiu.
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Eleição
de continuidade, baseada principalmente em campanha rica de recursos, do fundo
eleitoral e das emendas parlamentares. Destinadas em maior volume aos aliados
de quem controlou esse processo: os partidos do Centrão.
·
Encolhimento
da esquerda que não é trivial: ela já é minoritária no Congresso, nos governos
estaduais, está na Presidência, mas na capilaridade tem muito pouco terreno
para pisar hoje em dia.
· Uma direita fortalecida, mas sem um dono claro. Vários partidos nesse espectro se fortaleceram na eleição, mas não dá para dizer que tem um líder para conduzir esse processo.
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