Logo, toda essa onda de insegurança lá fora não é por acaso...
A promessa da “mão forte” que restaurará ordem, mesmo ignorando o devido processo legal, ganha força ao capitalizar o medo popular. Quem está insatisfeito com a democracia tende a aprovar mais a justiça com as próprias mãos.
A violência representa uma ameaça singular aos regimes democráticos. Quando bens públicos são testados (economia, saúde, combate à corrupção, etc.), apenas a segurança pública é capaz de fazer com que cidadãos abram mão de eleições livres e justas.
No Brasil, onde a violência urbana atinge níveis alarmantes, essa dinâmica já se manifesta. Entre aqueles com familiares vítimas de violência nos últimos meses, a insatisfação com a democracia aumenta. A pessoa é empurrada para a promessa da “mão forte” que restaurará a ordem, mesmo ignorando o desvio processo legal.
A sensação de insegurança opera de forma gradual, mas consistente. Entre os que se sentem muito inseguros, a insatisfação com a democracia ganha força. Já entre os muito seguros, essa descrença no regime cai. Desacreditar na capacidade da Justiça de punir criminosos eleva a insatisfação democrática. Não é apenas a violência em si, mas percepção de impunidade que corrói a legitimidade do regime.
O que torna a insegurança tão letal para a democracia é que ela ataca a articulação entre a dimensão formal do regime (instituições, eleições, divisão de Poderes) e sua dimensão substantiva (concretização de direitos e bem-estar). Diferentemente da insatisfação com economia e saúde – que geram descontentamento com governos específicos. Assim, a experiência traumática com a violência transforma frustração com uma política pública em desconfiança difusa no próprio arranjo democrático.
Os cidadãos estão dispostos a sacrificar não apenas eleições, mas sobretudo liberdades civis e controles institucionais quando isso significa viver num país mais seguro. Essa hierarquia de concessões ajuda a entender o apelo de discursos autoritários.
A desconfiança difusa paralisa a capacidade estatal de resposta. O ceticismo limita a formação de consensos para implementar políticas de longo prazo em segurança e justiça, criando uma espiral descendente; a ineficácia estatal reforça a desconfiança da sociedade, que perpetua a ineficácia. Tudo isso faz da violência ser hoje o problema que mais preocupa a população brasileira, e que será usado fortemente nas campanhas eleitorais de 2026, para o bem e para o mal.
Enfim, o que está em jogo não é apenas satisfação com governos específicos, mas a legitimidade do regime democrático no Brasil. E essa vulnerabilidade é universal, isto é, é uma evidência internacional e nacional. No contexto brasileiro, onde níveis críticos de violência se combinam com percepção disseminada de impunidade, a democracia está refém de uma espiral que só pode ser revertida com políticas efetivas de segurança pública – não como mera pauta governamental, mas como questão de sobrevivência do próprio regime.
Violência corrói bases da democracia.
Segurança pública é seu alicerce!
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