A construção do pensamento filosófico no mundo de hoje.
Hoje, há uma grande fragmentação do pensamento, de tal modo que fica difícil falar até em correntes e núcleos de pensamento. O que temos é uma triste acomodação acadêmica-profissional.
Alguém consegue ver o surgimento de um pensamento filosófico que dê conta da contemporaneidade? Você até tem discussões sobre questões impostas pela contemporaneidade, mas não tem uma concepção ao mesmo tempo crítica e alternativa, que em geral é o que cabe à filosofia. Crítica no sentido de fazer um exame e uma interpretação dos impasses existentes, por um lado, e, por outro, encontrar aquilo que poderíamos chamar de as condições reais de possibilidade do pensamento e da ação.
Mas, há possibilidades de surgimento de um pensamento filosófico consistente. Ele pode advir das reflexões a respeito da política ou das condições novas da ciência, particularmente da biologia ou genética. Por exemplo, a questão colocada da maneira pela qual a ciência, transformada em tecnologia, se transformou em força produtiva, e, portanto, numa força econômica.
Isso já aconteceu uma vez, e a história é testemunha, Paris de 1968. Ali, você tinha um movimento político que não era um movimento pela tomada do poder. Era um movimento de recusa das formas existentes de poder. A linha geral do movimento era: “nós somos contra a tomada do poder”. Em função disso, toda a reflexão e o remanejamento no interior da esquerda [Partido Comunista Francês, o Partido Socialista Unificado, as correntes Trotskistas e Maoístas], um forte conteúdo anarquista do período. Cadê essa força convergente, unificadora e pulsante da esquerda local, nacional e mundial? Não existe mais ou ainda não existe ou ressuscitou.
Em 1968, a Faculdade de Filosofia se considerava a vanguarda do proletariado avançado. Hoje ela é a retaguarda atrasada da classe média atrasada. Então, da parte do corpo docente não há muito o que se esperar. Talvez uma renovação por obra dos estudantes (greve reivindicando efetiva qualidade do ensino público, entrosamento entre o trabalho teórico e a compreensão da sociedade brasileira, direitos...). O conservadorismo é muito grande, uma desesperança é muito forte e tudo isso ligado ao operacional (produtividade) e ao funcional (adestramento e massificação). Meritocracia, avaliação por produtividade, tudo torna o professor, o pensador, o intelectual um “empresário de si mesmo”, isto é, perdido em relatórios, apresentação de serviço, com a produção em escala industrial de textos para congressos e revistas, etc. Tudo menos o formador, o pensador engajado nas causas e nos temas sociais.
Enfim, o que temos no presente são
reflexões isoladas. A esperança é a de que elas possam se aproximar e nos levar
a uma compreensão inovadora do presente. Tanto será mais original se o pensador
também for sinônimo de enfrentamento, luta, protesto, atuação política e
social. Esse casamento está falido?
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