O filósofo é aquele que é testemunha de sua própria desordem interior. Aquele que fala não porque tem algo a ensinar – o filósofo não é um pregador. E, sim, para poder aprender à medida que vai falando, acalmando a agitação de suas ideias quando as transfigura no corpo sutil das palavras.
Ao fazê-lo, realiza o trabalho da obra, trabalho que prosseguirá nos seus pósteros porque existe obra quando a escrita tem o poder de suscitar não apenas leitura, mas outras escritas, que devem à primeira o que esta lhes deu a pensar e a dizer.
Sim, somos finitos e carentes, cada um de nós é habitado pela falta, pela presença da morte, pela dependência, mas também, e por isso mesmo, pelo desejo de plenitude e de autarquia próprias do deus. A amizade é coisa santa, pois nela nos reconhecemos livres e iguais no bem querer e no bem fazer. Por isso a amizade é a imitação do divino, quem faz nos aproximar dele – o bem querer entre os amigos, partilhar e compartilhar com eles nossa vida, o desejar a cada um o que se deseja a si mesmo, a ajuda recíproca e desinteressada confere a cada um e à unidade por eles formada a mais perfeita figura humana da autarquia, da liberdade e da felicidade que pareceriam reservadas apenas ao divino.
Professor, amizade, filosofia, instigam o pensamento a explorar terrenos batidos para fazer surgir o inesperado. Serve-se do estilo dialético – o pensador vai propondo teses para logo destruí-las e recompô-las num novo registro de significação e amplitude. Não se afunda em um pântano de subjetividades ensandecidas. Pelo contrário, faz nascer a seriedade pela capacidade de rir dos outros porque se sabe rir de si mesmo, com inesgotável tolerância.
Enfim, o bom professor nos ensina a alegria e o risco de uma liberdade conquistada à medida que se efetua como prazer de pensar. Ele é um amigo. É alguém que, com e como a gente, ajuda a transformar a desordem interior em obra.
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