A importância da educação dos jovens para o mundo digital. Proibir não é a solução. Problemático é o jovem aberto à intolerância. Talvez a solução não seja proibir o jovem de estar nos ambientes virtuais. De nada vai adiantar: muitas vezes, eles burlam as regras e acabam criando perfis secretos. Aí, quando algo grave acontece, não podem contar aos pais, e a situação piora. O fundamental é ensiná-los a ser bons cidadãos on-line, capazes de identificar a desinformação e de recorrer a apoio se estiverem enfrentando problemas. O celular não vai desaparecer, então o melhor mesmo é encorajar discussões abertas sobre seu uso e impor limites sensatos.
O smartphone dificultou muito a vida de pais de adolescentes. A adolescência sempre envolve o afastamento gradual dos filhos e a perda de controle dos pais. Com o celular, a família passou a conviver com um mundo desconhecido, o que torna tudo mais angustiante e complicado.
Promover uma batalha contra a internet é inútil. Assim, o que fazer diante de conteúdos inapropriados, como os de teor misógino? Sentir repulsa e seguir em frente, e muito diálogo e formação do jovem, que está mais aberto à intolerância. Refletir sobre essa forma de tratar as mulheres. Precisamos ir à raiz da questão e encontrar maneiras de criar homens responsáveis e respeitosos.
Há um paradoxo: quem é rotulado como popular não é muito querido. Na teia de relações entre adolescentes, alguns jovens adquirem status de celebridade porque assumem grandes riscos e têm comportamento de adulto. Os demais acompanham sua vida de perto, mas não necessariamente os apreciam. Se você pedir para estes dizerem de quem realmente gostam, vão apontar as pessoas que as tratam com carinho e respeito.
O bullying é um fenômeno de difícil solução. Uma vez que se estabelece em um grupo, é duro pôr um fim nessa dinâmica. Mas há medidas que podem funcionar, como impedir a existência de locais desertos nas escolas, promover mediação entre alunos em conflito e impor punições. Em certos casos, o mais recomendável é mudar o aluno de colégio e dar a ele a chance de um recomeço.
“Para guindar o adolescente da galáxia paralela, recomenda-se oferecer atividades off-line atraentes e encarar tópicos que costumam ser empurrados para debaixo do tapete, mas não deveriam. Pornografia, círculos de amizade, bullying, se você não falar com seus filhos sobre isso, a internet vai falar por você”.
“A verdade é que não há transparência nem mecanismos para garantir que as plataformas não forneçam conteúdo indesejado aos jovens. O duelo é travado ainda com os algoritmos, que oferecem à turma jovem conteúdo inadequado em profusão. Entidades atentas aos riscos embutidos aí defendem que as plataformas sejam obrigadas a reduzir a frequência de envio de reels e criem atalhos para denúncia de material inapropriado, além de oferecer curadoria humana sobre o que é ventilado nas redes. As big techs resistem, alegando cerceamento à liberdade, naturalmente incomodadas com um conjunto de medidas que faz elevar custos e compromete a monetização. Em março, contudo, em boa iniciativa, a Meta, dona do Instagram, resolveu agir e passou a impor restrições para usuários com menos de 18 anos, oferecendo ferramentas para o controle dos pais e aprimorando o sistema de verificação de idade”.
“Muitos colégios estão perdidos, meio à complexidade trazida pela Internet”.
“As feridas abertas na adolescência podem custar a cicatrizar. Sentir-se inferior nessa fase é algo que impacta a vida para sempre. A extensão dos danos ocorre devido a enxurrada de hormônios e as modificações visíveis no corpo, pois a puberdade leva a uma profunda transformação cerebral. E os estímulos do ambiente, nessa idade, se tornam mais decisivos, sobretudo para a ativação do córtex frontal, região responsável pelo pensamento abstrato, pela memória e pela personalidade.”.
“Um entrave nessa engrenagem que desemboca no amadurecimento, lá pelos 20 e poucos anos, tem sido o contínuo uso de telas, que alimenta outra porção do cérebro, embalada a respostas rápidas. Na prática, isso atrasa o desenvolvimento de áreas que inibem comportamentos inadequados”.
“A distância entre os adolescentes e seus pais, que muitas vezes nem se dão conta de como os labirintos da internet os separam dos filhos e trazem risco”.
“A normalização de pensamentos contaminados por intolerância funciona como uma espécie de cola social, firmando laços entre alguns e deixando outros de fora. É uma ciranda perversa que existe desde sempre, mas que ganha nova roupagem nestes tempos em que as redes ampliam quase tudo. São impostas tarefas humilhantes, como abusar de vídeos e fotos ou mensagens distorcidas. Os abusos são conhecidos, mas um pacto silencioso, pavimentado pelo medo, geralmente encobre a prática. Mas, um dia a história aparece, e é preciso agir com rapidez, determinando além da suspensão, a participação dos envolvidos em encontros para refletir sobre a postura. Isso só reforça o compromisso de discutir relações de gênero, preconceitos e a masculinidade com todos os estudantes. O clima melhora, mas mentalidade não muda rápido”.
“Sob o ângulo geracional, o diálogo entre pais e filhos é hoje
mais assíduo e sincero do que no passado, quando assuntos espinhosos repousavam
no escaninho dos temas impronunciáveis. Mas antes não havia o mundo paralelo da
internet, com suas perigosas armadilhas e idioma próprio, cheio de códigos e
símbolos que soam como grego para os adultos. É, aliás, essa a ideia que move a
engrenagem dos emojis. Adolescentes
criam um vocabulário próprio como forma de se identificar e de dificultar a
compreensão de quem está de fora”.
·
Os
problemas abordados na série “Adolescência”:
- Cyberbullying
- Dificuldades
para controlar o tempo e o que os jovens fazem na Internet
·
Problemas na série que também angustiam as famílias
brasileiras:
- Cyberbullying;
- Dificuldades para controlar o tempo;
- O que os jovens fazem nas redes sociais;
- O mundo digital aumentou o fosso entre pais e filhos;
- Caixa-Preta: no isolamento do quarto: especialistas
recomendam romper o silêncio e dialogar.
- A atividade virtual, a partir da impressão dos adultos,
é de longe a mais buscada pela garotada: 48% a põem no topo das preferências
ante os 6% que escolhem encontrar amigos à moda antiga, olho no olho.
- Os filhos passam tempo excessivo isolados em seu
hábitat e se revela insegura em relação a interações seladas entre um clique e
outro, mesma proporção que diz saber que o jovem já foi alvo de bullying, dado
espantoso.
- É verdade que uma parcela considerável (58%) afirma
estar ciente do que se desenrola na caixa-preta daquele quarto trancado. Quem
lida com a delicada teia familiar (pedagogos e psicológocos), em fase de tantas
incertezas, sabem que, muitas vezes, os pais não têm noção do que está
realmente acontecendo, em processo de autoengano. “Eles parecem otimistas
demais, acreditando que os filhos estão protegidos, quando podem estar expondo
apenas parte do que fazem nas redes”.
- E dá-lhe vocábulos como: 1) incel (celibatários
involuntários); red pill (referência ao movimento misógino) e beta (homem
submisso), todos imbuídos da ideia de que a mulher é o algoz, vastamente
divulgada nas redes por gente crescida que se destaca como influencer,
disseminando aberrações no TikTok e no Instagram.
- Conteúdo tão distorcido presta o desserviço de martelar
na cabeça de uma juventude em plena formação um discurso envolto em ódio e um
festival de preconceitos. “Eles passam horas dentro do quarto, rindo de piadas
que rebaixam minorias”. É preciso agir em duas frentes: 1) proibir o garoto de
manter perfis nas redes; 2) levar à terapia.
- O cyberbullying, que não cessa quando o adolescente
cruza os portões escolares, pode ter consequências nefastas, deixando a pessoa
sem chão justamente quando começa a demarcar território. Em geral, quem é alvo
de maus-tratos virtuais se fecha e vive uma angústia solitária.
·
O
universo digital ajuda a exacerbar características já inerentes a esse intenso
período da existência. Sabidamente, os jovens buscam se afastar dos pais,
procurando apoio entre amigos, e ficam propensos a burlar regras. Meninos e
meninas vão tateando até onde podem ir e encontram no ambiente on-line um
espaço onde muita coisa é permitida, sem consequências.
·
Educadores
concordam que a proibição do uso de smartphones nas escolas, em vigor desde o
início do ano letivo em todo o país, freou um pouco alguns problemas
decorrentes das interações nas redes, mas isso nem de perto equacionou uma questão
de camadas tão fundas.
·
Uma
das cenas mais tocantes é 1) final do filme, “poderia ter feito mais”, do casal
que entabula um dramático diálogo a respeito do filho de 13 anos, submergido no
sombrio universos que o levou a um extremo imprevisível: estar preso sob a
acusação de matar uma colega de classe. 2) A parte com a psicóloga; 3) do
policias com o filho negro sobre os símbolos e significados nas redes.
·
“Ele não saía do quarto. Chegava, batia a porta e ia direto para o
computador. Nunca dizia nada”. Os contornos da distância que separava o filho do
mundo no entorno, e da mãe não ter conseguido se infiltrar no impermeável
cotidiano virtual do jovem, que sofria bullying.
· Competência em cutucar de forma dramática um tema universal: uma jovem geração que passa horas sugada pelos labirintos da internet, dissimulada atrás de uma barreira difícil de transpor. O objetivo é iniciar uma conversa entre pais e filhos. Disse Stephen Graham, ator e criador da série, que vive o patriarca dilacerado pela dor.
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