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“[...] acho que todo conhecimento deveria estar em uma zona de livre comércio. Seu conhecimento, meu conhecimento, o conhecimento de todo o mundo deveria ser aproveitado. Acho que as pessoas que se recusam a usar o conhecimento de outras pessoas estão cometendo um grande erro. Os que se recusam a partilhar seu conhecimento com outras pessoas estão cometendo um erro ainda maior, porque nós necessitamos disso tudo. Não tenho nenhum problema acerca das ideias que obtive de outras pessoas. Se eu acho que são úteis, eu as vou movendo cuidadosamente e as adoto como minhas” ("O caminho se faz caminhando - conversas sobre educação e mudança social", Paulo Freire e Myles Horton: p. 219).

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domingo, 6 de abril de 2025

O livre-arbítrio é um mito.

 

“Veja o presidente americano Donald Trump, o mais controverso líder da atualidade. Ele é um caso exemplar de como a combinação de genética e ambiente produz um humano capaz de ações pouco empáticas. O pai era um vigarista imobiliário e a mãe, um freezer no campo do carinho e do cuidado. Ele passou toda a vida sem saber se pessoas ao seu redor o amavam ou se só estavam ali por dinheiro. Não dá para esperar algo muito diferente do que estamos assistindo”.

Porém, o DNA diz respeito a potenciais, não a inevitabilidades. Não existe algo como um “gene do mal” que predestine alguém a cometer genocídios, por exemplo.

Já foi descoberta, por exemplo, uma variante genética relacionada à serotonina, o chamado hormônio da felicidade, que supostamente prevê níveis de agressividade. Curioso é que ela só é ativada em um único cenário – aquele em que o indivíduo foi criado em um contexto abusivo. Genética e ambiente caminham sempre juntos, delineando quem somos e como agimos.

A partir do momento em que entendemos as escolhas de cada um como uma expressão de sua natureza, há mais empatia e menos julgamento. O ódio é uma face sombria da espécie e deveria ser expurgado. Quem sabe a compreensão de que os indivíduos são diversos por definição, desde o princípio da vida, não contribui para um ambiente de maior tolerância, algo de que tanto necessitamos nos dias de hoje?

Temos que aprender a tirar o melhor proveito das circunstâncias.

As escolhas que fazemos no dia a dia são determinadas por fatores genéticos e ambientais. De tal modo que, o livre-arbítrio realmente existe?

Quais são as engrenagens por trás da tomada de decisões? A escolha dos indivíduos está quase que inteiramente dada por fatores genéticos e ambientais.

Existem momentos históricos em que a irracionalidade, uma marca humana, se pronuncia em graus especialmente elevados. É o que estamos observando agora. Em tempos de maior complexidade e turbulências, como o que estamos vivendo, é mais difícil para os indivíduos tomar decisões. Isso tem a ver com a presença de guerras, com as incertezas acirradas e com as rachaduras de sociedades polarizadas. Um ambiente inflamado pelo ódio, circunscrito a uma lógica do “nós contra eles”, gera medo e desencadeia um ciclo vicioso que atrapalha a tomada de decisões – uma ebulição que tem o cérebro como cenário.

A irracionalidade pode ser explicada pela neurociência. As pessoas ficam mais estressadas em eras tomadas por agitação, o que, do ponto de vista individual, libera hormônios que ativam estruturas no cérebro relacionadas às emoções, perturbando a função reflexiva do córtex frontal, que nos faz pensar antes de agir. Daí a propensão a comportamentos mais impulsivos, com tendência, inclusive, à radicalização e ao extremismo.

Durante décadas, à luz da ciência, constatei que as pessoas alimentam a ilusão do poder de escolha, quando, na verdade, o livre-arbítrio é um mito. Isso quer dizer que os indivíduos estão quase 100% programados a optar por esse ou aquele caminho nos vários escaninhos da vida. As decisões das pessoas são definidas por uma soma da genética com o ambiente que as cerca e as experiências que têm – estas, também, modeladoras do DNA. Logo, o processo humano de tomada de decisões pautado na objetividade, na imparcialidade e na racionalidade fica bastante comprometido. Ou seja, tudo está praticamente escrito em nós, uma ideia que colide com várias correntes de pensamento, como aquela que diz que “estamos condenados a ser livres”. Nossa suposta liberdade é bastante determinada.

Em outros termos, temos pouco controle sobre nossas escolhas. Embora uma porção importante do cérebro ajuda a pensarmos antes de tomar uma decisão, mas ela só se desenvolve por completo na idade adulta. Assim, os adolescentes são, em geral, mais impulsivos. Só que mesmo essa área ligada à razão é afetada por um conjunto de eventos tatuado no cérebro, o que torna a maior parte das escolhas que fazemos quase inescapável.

Esquecer é uma ferramenta de sobrevivência. Os humanos possuem uma série de mecanismos que os permitem negar a realidade, a fim de viver melhor. Todo mundo sabe que a morte é inexorável, por exemplo, mas seria doloroso demais passar 24 horas às voltas com essa ideia. O que fazer? Esquecer! Ligar o automático. A crença da espécie humana de que tem elevado comando sobre os rumos de sua existência – e de suas decisões – é uma ferramenta evolutiva.

Até que ponto a razão influencia o comportamento das pessoas? Ora, a ideia de racionalidade da espécie é outro mito. Os indivíduos têm a impressão de que é a mente que os move para certa direção, mas as emoções têm peso equivalente. Na arena da política, por exemplo, sobre eleições, comprova, a partir da neurociência, que o voto não se define pelas ideias de um candidato. Decisivo mesmo são os sentimentos que provoca e quanto eles têm eco nos medos e ansiedades de cada um.

Decisões de cunho político são também predeterminadas, estão mais sujeitas às circunstâncias. Elas entram no rol das outras, sob a mesma lógica. Veja o presidente americano Donald Trump, o mais controverso líder da atualidade. Ele é um caso exemplar de como a combinação de genética e ambiente produz um humano capaz de ações pouco empáticas. O pai era um vigarista imobiliário e a mãe, um freezer no campo do carinho e do cuidado. Ele passou toda a vida sem saber se pessoas ao seu redor o amavam ou se só estavam ali por dinheiro. Não dá para esperar algo muito diferente do que estamos assistindo.

Essa visão determinista aflige e atormenta bastante. Entender cientificamente as raízes dos equívocos humanos não significa que eles não causem repulsa. Porém, não dá para afirmar que o mal é predeterminado pela biologia (o que justificaria casos extremos, como o de Adolf Hitler, que exterminou milhões de pessoas na II Guerra). Não existe algo como um “gene do mal” que o predestinasse a cometer genocídios. Há o peso do ambiente em que Hitler estava imerso, que teve papel crucial em sua sombria trajetória, o que inclui uma infância complicada, o trauma da I Guerra, a crise econômica, a ascensão do nacionalismo – tudo isso alterou seu funcionamento, exacerbando o que pode ser lido como uma propensão à maldade.

Não há exatamente como saber, sob o ângulo da biologia, como o ambiente impacta as escolhas que fazemos. Já foi descoberta, por exemplo, uma variante genética relacionada à serotonina, o chamado hormônio da felicidade, que supostamente prevê níveis de agressividade. Curioso é que ela só é ativada em um único cenário – aquele em que o indivíduo foi criado em um contexto abusivo. Genética e ambiente caminham sempre juntos, delineando quem somos e como agimos.

Somos máquinas biológicas, sim! Essa ideia de que as pessoas são tão programadas faz o humano se assemelhar demais a uma máquina, porém, a diferença para a inteligência artificial é que humanos se revelam mais multifacetados, tendo a consciência de quais são nossos botões e onde estão. É um sistema sofisticado, mas não chega a dar para se gabar, não. Afinal, as mesmas enzimas cinases que acendem receptores quando aprendemos algo estão presentes nos cérebros de lesmas-marinhas.

Porém, não existem 100% de determinação em naturezas humanas, que são complexas e multifacetadas. Até sistemas caóticos são determinísticos, pois seguem regras fixas, mas mesmo eles exibem uma sensível dependência das condições iniciais. E é exatamente nesse ponto que uma minúscula variação pode ter vasto impacto com o passar do tempo, conduzindo a resultados imprevisíveis, drasticamente diferentes do esperado. Vejam os gêmeos univitelinos, por exemplo, nunca se tornarão pessoas idênticas nem parecidas no modo de ser, agir e decidir. É por isso que, embora haja a impressão de que praticamente tudo está escrito, ainda é muito difícil prever o amanhã.

Nesse caso dos gêmeos, desde o nível celular mais primitivo, notam-se distinções entre eles que só se aprofundam ao longo do tempo. Cada um terá sua trajetória e sofrerá influências de suas próprias experiências – algo que os marcará de modo decisivo. A questão é que nada disso é visível, daí ser impossível traçar cenários com precisão matemática. O que dá para depreender são tendências.

Compreender a tomada de decisões do ser humano nesse nível traz, sim, alguns benefícios. A partir do momento em que entendemos as escolhas de cada um como uma expressão de sua natureza, há mais empatia e menos julgamento. O ódio é uma face sombria da espécie e deveria ser expurgado. Quem sabe a compreensão de que os indivíduos são diversos por definição, desde o princípio da vida, não contribui para um ambiente de maior tolerância, algo de que tanto necessitamos nos dias de hoje.

Como lidar com criminosos dentro dessa lógica determinista, segundo a qual eles estariam “programados” para infringir a lei? Claro que precisa haver punição, mas o modelo em vigor em países como os Estados Unidos, deveria ser repensado à luz desses estudos. Não é para atenuar a transgressão praticada pelo bandido, mas entender que ele só vai evoluir quando exposto a um ambiente de convívio com os outros, capaz de estimular mudanças construtivas. Na Noruega, por exemplo, as prisões são guiadas pelo foco na reabilitação, à base de muita atividade e educação. É verdade que o investimento nessa direção é alto, mas há registros de queda nas taxas de homicídio e na reincidência de crimes variados. Tudo indica que vale a pena.

O determinismo também se aplica ao amor. Existe toda uma estrutura regida pela biologia que faz com que um indivíduo se apaixone pelo outro. A escolha por um parceiro também tem a ver com genética – até o cheiro de cada um influencia no acasalamento – e com o ambiente. Viver em um contexto parecido funciona como potente fator de aproximação.

Mesmo com tudo isso, não acredito em destino. O determinismo científico é diferente de predeterminismo protestante do século XVII. Este é fatalista e diz respeito à ideia de previsão do que vai acontecer, portanto ao destino. Mesmo com as limitações humanas, nós, cientistas, não achamos que o futuro seja imutável. Temos que aprender a tirar o melhor proveito das circunstâncias.

Enfim, precisamos buscar algum espaço para aprimorar e arbitrar de forma mais sábia. As pessoas podem amadurecer, recorrer à psicanálise de Freud e evoluir em áreas diversas. O cérebro é maleável e se transforma em resposta às experiências. Agora, há limites aí. A psicanálise fornece novas perspectivas que fazem sacudir padrões de pensamento e comportamento. Mas a maneira como circunstâncias alheias à nossa vontade nos marcam, do ponto de vista biológico, seguirá determinante para as decisões que tomamos. Mesmo assim, podemos mudar o suficiente para que a vida seja mais bem vivida.

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