Se for pesada ou exagerada a expressão “esquerda fascista” aceite pelo menos então uma “esquerda” liberal prostrada e oportunista.
A “esquerda” não pode alimentar a direita!
Um avanço não pode ser contido justamente por quem o promove.
A menos que seja uma “esquerda fascista”
ou esteja passando por um dramático processo de degeneração política
e teórica.
“A cadela do fascismo está sempre no cio” (Bertold Brecht).
Mas, se a linguagem contratual é um típico instrumento de mercado,
característico das relações comerciais e que tem moldado o Estado à imagem e
semelhança de uma empresa, precisaremos ir além dos contratos. Esses que
servem, na verdade, de blindagem aos interesses privados. Aos que defendem
direitos, precisam transpor a sua luta apenas aos órgãos públicos competentes para
também os seus acionistas, exigindo prestação de contas e uma efetiva ampliação
e melhoria do serviço.
O confronto direto com a classe proprietária destes grupos
financeiros seria, portanto, condição necessária para que a luta dos setores
populares seja capaz de restaurar, em alguma medida, o poder
político-institucional em favor do enfrentamento das desigualdades e da
efetivação de direitos. Trata-se de uma estratégia incontornável para que se
avance, de forma efetiva, na construção de um poder político comprometido com a
classe trabalhadora e não com o grande poder privado.
“Voltar às bases” será, sim,
prioritário, mas tendo a clareza contra
o quê e porquê lutar.
A constatação de que há uma crise na
esquerda não é nova.
·
Qual seria a sua principal explicação: o distanciamento e o
descolamento em relação aos setores populares e à organização
das lutas
sociais;
·
As estratégias da esquerda sempre se
pautaram pela (falta de) compreensão
da dinâmica da acumulação capitalista e suas correlatas formas de dominação
política em cada momento histórico. Isso se perdeu?
·
Há um processo de institucionalização
dos setores progressistas. O que isso significa? Significa um descolamento das
“bases”, mais efeito do que causa do emparedamento da esquerda. A crise no
campo progressista é, antes, uma crise de horizonte, de projeto político. O
“voltar às bases” depende, inicialmente, do reconhecimento dessa falta de
horizonte.
·
Ninguém ignora que são várias as formas
atuais de revolta, mais ou menos organizadas, das grandes massas exploradas no
Brasil. Contudo, tais manifestações de revolta precisam ganhar um sentido
político maior, na direção do questionamento das estruturas de dominação e
exploração.
·
A
carência de horizonte político se relaciona diretamente com a falta de clareza, de
entendimento mesmo, sobre as formas atuais da dominação capitalista.
Se a
política está sendo tomada pela economia, a recuperação do horizonte político da esquerda? O
horizonte da luta social não pode mais se limitar a incidir somente sobre o aparato
estatal (que vem assumindo cada vez mais uma feição empresarial). O
horizonte político precisa se alargar, no sentido de abarcar a grande
propriedade capitalista, ou seja, a contestação e o controle social devem
alcançar, diretamente, a classe proprietária dos grupos financeiros.
Como o
capitalismo está organizado na contemporaneidade? Precisamos de clareza e de entendimento das suas formas atuais de
dominação.
Uma coisa é
certa no Capitalismo: continuar sustentado na
intensa exploração do trabalho. Mas, esse modus operandi passou por profundas
transformações na passagem do século XX para o XXI.
1.
A hipercentralização da propriedade capitalista em agentes
financeiros;
2.
Uma
força na direção de desfazer a separação, forjada pelo próprio capitalismo,
entre economia e política, mercado e Estado;
3. Uma absorção, quase que total, da
política pela economia, em que, de um
lado, o Estado capitalista se estrutura e age como empresa e, de outro, grandes
grupos privados assumem, abertamente, “poder de Estado”.
Consequências
disso:
·
A atuação de grupos
financeiros na prestação de serviços públicos essenciais privatizados, como nos
casos da educação, saúde, saneamento, energia, transporte, previdência etc.
·
A definição da taxa básica de
juros, que tem estrangulado há décadas o investimento público, pauta-se por
projeções feitas por esses mesmos agentes financeiros.
O
que seria uma “esquerda fascista”?
Uma “esquerda” no poder que não negocia se não for para engordar ou sobreviver.
·
Acha
justificável a matança policial (na Bahia sair vitoriosa em sua competição com
o Estado do Rio de Janeiro);
·
Chancela
cortes no BPC de idosos e deficientes carentes;
·
Faz
vista grossa à privatização de escolas públicas (PPP’s) com dinheiro do BNDES
em São Paulo, em parceria com os companheiros bolsonaristas;
·
Fica
sentada vendo, lendo ou só discutindo o povo sucumbir calado.
·
Convive
nos tristes trópicos, com o aumento do terrorismo de Estado e a degeneração das
condições de vida, tidos como velhos conhecidos, e vai levando sem qualquer
vislumbre de diminuição das taxas de lucro, estas tidas como “aceitáveis”.
·
Encara
como coerente com seus princípios, permitir a captura unilateral do direito ao
FGTS da classe trabalhadora pelos bancos transnacionais, em nome do
endividamento que os trabalhadores serão incentivados a fazer para garantir
necessidades constitucionais?
·
Dá
de ombros quando o vice-presidente nacional do PT promete como política de
segurança em Maricá (RJ), que em seu mandato “bandido vai pra vala”, com
direito a trilha sonora do filme Tropa de elite?
·
Julga
anti-fascista um novo Teto de gastos versão PT, que torna as novas PPP’s o
maior plano de privatização do investimento público da história industrial do
Brasil, paralelo ao avanço de todos e cada um dos dispositivos da reforma
trabalhista contra o povo?
·
Tem
até senador da república, Fabiano Contarato (PT-ES), cobrando do governo do seu
partido, o endurecimento da política
nacional de segurança, propondo inclusive, “aumento do tempo de internação de jovens infratores”?
·
Naturaliza
o aumento da musculatura das novas e velhas elites agrárias reacionárias,
através de um Plano Safra anti-povo, que prioriza o agronegócio da direita e
conduz ao aumento dos preços da cesta básica?
·
Tolera
a demagogia mais oportunista sobre a tragédia palestina, enquanto chama
imperialistas otanistas genocidas como Macron de “companheiro”, permite
negócios entre a Petrobrás e o sionismo, e não move uma palha para revogar os
abomináveis acordos militares entre Brasil e o “Estado” de Israel?
·
Que
se vê contemplada por um orçamento público que mata por inanição os ministérios
que concernem às demandas femininas, pretas e indígenas, proporcionando o
sequestro destas pautas pela direita chamada de direita?
·
Admite
transar com as ambições do mais profundo obscurantismo religioso, inaugurando
templos e fomentando a expansão dos projetos políticos do neopentecostalismo de
extrema direita que se prolifera velozmente?
·
Não
reage diante da transformação dos brasileiros em cobaias humanas de incontáveis
substâncias químicas industriais, proibidas mundo afora, mas toleradas pela
ANVISA, dada a mais completa submissão cúmplice deste governo?
·
Que
apoia a privatização de presídios? Mas não só isso, que fecha os olhos diante
da transformação do encarceramento de pretos (as) e pobres no Brasil em empresa
privada com dinheiro do BNDES? (Presídio de Erechim, RS, em 2023, entre
outros). E que diante do inadmissível, se limita a repetir o surrado mantra de
Breno Altman de que “é isso ou a volta da extrema direita, dada a atual
correlação de forças”?
·
Não
acredita que veremos novos 2013, novos 2017, com milhões de trabalhadores e
estudantes mobilizados, tomando novamente as grandes avenidas do país, como
sempre fizeram ao longo da história, já que o povo jamais sucumbiu calado.
O que a “esquerda raiz” ainda pode fazer?
· Abandonar o discurso vitimista de que se trata simplesmente de “ódio ao PT” ou de “fazer o jogo da direita”;
· Não acreditar que o problema é apenas a reconfiguração do mundo do trabalho e menos ainda uma suposta falta de combatividade do povo.
· Acreditar que novos 2013 virão, novos 2017, com 40 milhões de trabalhadores (as) e estudantes (as) mobilizados inundando as grandes avenidas de nossas capitais. Foi ontem! E virão por uma simples razão: porque eles sempre vêm! Porque o povo jamais sucumbiu calado, não há precedente.
· Impedir que a “esquerda” liberal prostrada e oportunista siga dominando os tatames onde lutamos, consumindo a pauta e a vontade de luta das massas capazes de recrutamento, em nome de uma esperança puramente eleitoralesca, abstrata e farsante.
· Construir uma frente realmente popular por espaços concretos e crescentes de poder contra o capitalismo dependente, abolir as ilusões e impedir que os encantadores de serpentes encham o povo de medo é a nossa tarefa. É urgente superar o dualismo direita tradicional versus cosplay de esquerda, ou liberalismo tradicional versus “liberalismo de esquerda”.
Enfim, estamos diante da aceleração
implacável de contradições imanentes à reprodução
histórica do capitalismo, tais como endividamento generalizado e superprodução de mercadorias ou subconsumo. Diante disto,
qualquer governo que se limite ao cínico debate de separar os banqueiros bons
dos maus, deve ser combatido sem vacilação.
O velho Marx, olhando pra
trás, dizia que a
história se repete primeiro como tragédia e depois como farsa. Já tivemos as
duas, e agora?
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