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“[...] acho que todo conhecimento deveria estar em uma zona de livre comércio. Seu conhecimento, meu conhecimento, o conhecimento de todo o mundo deveria ser aproveitado. Acho que as pessoas que se recusam a usar o conhecimento de outras pessoas estão cometendo um grande erro. Os que se recusam a partilhar seu conhecimento com outras pessoas estão cometendo um erro ainda maior, porque nós necessitamos disso tudo. Não tenho nenhum problema acerca das ideias que obtive de outras pessoas. Se eu acho que são úteis, eu as vou movendo cuidadosamente e as adoto como minhas” ("O caminho se faz caminhando - conversas sobre educação e mudança social", Paulo Freire e Myles Horton: p. 219).

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domingo, 13 de abril de 2025

Por trás dos EUA x China.

 

Uma luta pelo controle das indústrias tecnológicas

que definirão a liderança global nas próximas décadas.

No tabuleiro geopolítico, a guerra tarifária dos EUA é uma estratégia para enfrentar o progresso tecnológico da China. E a resposta do dragão é de que não haverá concessões.  

Assim, o que está em jogo é o domínio da indústria tecnológica global.

E o combustível que alimenta todo esse processo tem um nome: “Minerais Críticos” (lítio, cobalto, grafite, terras raras e elementos do grupo platina).

Já sentimos que tecnologias críticas são essenciais para o crescimento econômico e a segurança nacional. Os EUA também já sentiram que sua capacidade tecnológica de competição está abalada pela China. Assim, a jogada de tarifas imposta por Donald Trump visa mais que abalar o comércio bilateral. O que realmente está em disputa é o domínio da indústria tecnológica global.

A China representa o maior desafio de ritmo enfrentado pelos Estados Unidos — ou seja, é a China quem estabelece o compasso em diversas áreas de capacidades estratégicas, e é esse ritmo que os Estados Unidos precisam superar para dissuadir os chineses. Logo, o epicentro desse embate está nas cadeias de suprimentos, altamente concentradas na Ásia, e no avanço chinês em setores estratégicos dos EUA como baterias, semicondutores, telecomunicações e inteligência artificial. Ou seja, a China está avançando no terreno tecnológico controlado pelos EUA.

O combustível que alimenta todo esse processo tem um nome: “Minerais Críticos” (lítio, cobalto, grafite, terras raras e elementos do grupo platina – insumos essenciais para tecnologias estratégicas, como baterias, veículos elétricos, eletrônicos e energia renovável). O maior desafio para os EUA não é apenas ampliar a produção tecnológica no território nacional, mas garantir sua integração e implantação efetiva, o que remete a esses minerais críticos (não são escassos, mas de alto risco de interrupção no fornecimento, seja por disputas geopolíticas, barreiras comerciais ou dependência de poucos países produtores).

Por que o “tarifaço” de Donald Trump foi chamado de “bullying econômico” por Xi Jinping? Porque é exatamente isso mesmo o que acontece. A estratégia de Trump é desestabilizar o mercado chinês diante de seus parceiros comerciais. A volatilidade de tarifas e retaliações compromete a construção de um ambiente tecnológico estável – terreno sobre o qual a China avança porque tem condições físicas e humanas para tal. O controle sobre a extração de minerais críticos, refino e exportação tem se tornado um instrumento de poder geopolítico, com a China exercendo liderança global em boa parte dessa cadeia.

Veja a indústria global de semicondutores, por exemplo, ela envolve uma cadeia interdependente composta por projetistas de chips, fundições, fornecedores de equipamentos e produtores de materiais espalhados por diferentes países. Empresas americanas como NVIDIA, Qualcomm e Intel lideram o design de chips avançados, mas dependem de fabricantes localizados em Taiwan e na Coreia do Sul, que por sua vez contam com equipamentos do Japão e da Holanda, além de materiais processados na China. Enquanto os EUA se concentram no design — segmento de maior margem de lucro —, a produção é terceirizada para fundições como a TSMC. Após a fabricação, os chips seguem para o Sudeste Asiático, onde são montados, testados e embalados, antes de serem enviados para fábricas no mundo todo.

Entendeu? Tarifas sobre importações da China, México e Canadá — somadas às aplicadas sobre aço e alumínio —, além das medidas retaliatórias de outros países, elevam os custos de produção nos EUA, introduzem incertezas no mercado e podem afetar decisões de investimento, além de desencadear respostas como as já adotadas pela China, incluindo restrições à exportação de minerais críticos.

Durante o primeiro governo de Donald Trump, foi idealizado o CHIPS Act — aprovado pelo Congresso norte-americano e sancionado por Joe Biden em 2022. O objetivo da medida é incentivar a produção de semicondutores nos Estados Unidos por meio de financiamento federal. O texto deixa claro que os recursos não poderão ser utilizados para construir, modificar ou ampliar instalações fora do território americano.

·       Vantagens dos EUA: inteligência artificial, design avançado de semicondutores, biotecnologia, produtos farmacêuticos, supercomputação e computação quântica.

·       Vantagens da China: criptomoedas, pequenos drones, comércio eletrônico, veículos elétricos, reconhecimento facial, fabricação de dispositivos móveis, ferrovias de alta velocidade, tecnologia hipersônica, energia solar e eólica, além de telecomunicações.

Os impactos:

·       Queda de 8,8% nas ações da Apple — empresa norte-americana que mantém mais de 90% de sua produção na China (a empresa ainda pode enfrentar até US$ 39,5 bilhões em custos tarifários);

·       Os Estados Unidos importaram, no ano passado, quase US$ 486 bilhões em eletrônicos — o segundo maior setor em volume de importações, atrás apenas de máquinas.

·       O foco dos fluxos comerciais da China está mudando gradualmente. Isso se deve, em parte, à estratégia de diversificação comercial adotada por Pequim nos últimos anos. Em 2024, as exportações chinesas para os Estados Unidos representaram 14,7% do total — uma queda significativa em relação aos 19,2% registrados em 2018. Ao mesmo tempo, cresceram as remessas para países do Sudeste Asiático e integrantes da Iniciativa Cinturão e Rota. De forma mais ampla, cerca de 30% das exportações chinesas em 2023 foram destinadas a países do G7, contra 48% no ano 2000. Para onde está migrando?

·       O setor de baterias exemplifica a capacidade da China de dominar indústrias globais por meio de eficiência e integração da cadeia produtiva. Empresas como CATL, BYD e Ganfeng Lithium lideram o mercado global a partir dessa base. A China detém a maioria das refinarias e fábricas de componentes essenciais, como ânodos e cátodos, e é responsável por três em cada quatro baterias de íons de lítio vendidas no mundo, segundo a Agência Internacional de Energia.

·       A CATL, um fabricante chinês de baterias e empresa de tecnologia, é o símbolo desse domínio. Fundada em 2011, cresceu 110% ao ano entre 2014 e 2022 e vem ampliando sua autossuficiência: metade do refino de insumos críticos já é feito internamente. Além disso, constrói fábricas a custos quase 50% inferiores aos dos rivais internacionais.

·       Enfim, a guerra tarifária entre Estados Unidos e China escancara uma disputa que vai muito além do comércio: trata-se do controle das indústrias tecnológicas que definirão a liderança global nas próximas décadas.

Como a China ascendeu tanto tecnologicamente?

1.     altos investimentos em pesquisa científica de ponta;

2.     abundância de talentos em ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM);

3.     agilidade na transição da produção de laboratório para o mercado;

4.     domínio sobre o processamento de minerais críticos;

5.     capacidade de escalar rapidamente a produção comercial;  

6.     acesso privilegiado a mercados ao redor do mundo, especialmente no Sul Global. Notavelmente, a China está profundamente integrada às principais cadeias globais de valor tecnológico;

7.     Por exemplo, a aparição da IA Generativa chinesa, DeepSeek, que mesmo diante das restrições dos EUA à exportação de componentes de alta tecnologia para a China, como o chip H100 da Nvidia (de ponta mais alta) e o chip H800 (de ponta mais baixa), ambos amplamente usados em IA, a China conseguiu superar esses obstáculos e avançar no setor;

8.     Combinando apoio governamental maciço e espírito empreendedor, o país conseguiu criar um ecossistema completo — ou “o dragão inteiro”, como chamam — em regiões como Sanhe, no sul de Guangdong, onde a produção é integrada, da matéria-prima ao produto final;

9.     As tarifas, longe de frear o avanço chinês, expõem vulnerabilidades estruturais dos EUA — como a dependência de cadeias de suprimentos externas e o domínio chinês sobre insumos estratégicos;

10.  Enfim, além de participações significativas no mercado interno altamente competitivo e eficiente.

Para enfrentar esse desafio, não bastam medidas protecionistas. Será necessário um esforço coordenado de investimento em inovação, reindustrialização tecnológica e segurança de suprimentos.

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