O esvaziamento da política pela piada oca.
A nova cria da extrema direita se chama Marçal. Já nasceu e cresceu depredando o debate público. Um fenômeno que corrói a própria política para além das fronteiras da cidade de SP. O avanço de um coach incendiário, de passado coalhado de investigações, que aposta no caos e na “criminalização” da política pela provocação ou comportamento agressivo, interessado mais em circo do que em qualquer outra coisa, tenta chamar a atenção da maneira mais rasteira. Tudo feito para produzir fotos e vídeos e publicar em suas redes sociais, como fez no hospital para onde foi levado, isto é, uma busca desenfreada por exposição para atrair votos (do PRTB, seu partido, nada se ouviu sobre o comportamento de seu candidato, será por quê? É método mesmo do partido?). A cadeirada dada em Marçal teve outro propósito simbólico e catártico: “lavar a alma de milhões de pessoas”, isto é, descarregar a entalada raiva no inelegível e pregar a anistia. E na noite de 6 de outubro virá o juízo final: se saberá se existe bolsonarismo ou se ele é um vagão atrelado a uma locomotiva conservadora. Outro propósito é banalizar o desinteresse de votar e banalizar a própria importância do voto (depois de muitas besteiras e poucos debates verdadeiros, o perigo é se surpreender com muito voto jogado fora, no máximo, muita gente limitando-se a mostrar seu desconforto. Enfim, o que explica o silêncio e a falta de coragem da esquerda para enfrentar extremistas? Cadê os protestos inteligentes? Está sobrando perplexidade e faltando coragem. Será que estão achando que a vitória do Lula dará conta de tudo sozinha? Até quando? A esquerda está perdida na cortina de fumaça dos incêndios florestais e morais, com fogo nos biomas e labaredas de assédio moral e curto-circuito identitário na comunidade negra, feminina e LGBTQIA+. Péssimo sinal! Precisamos de um banho de água fria, rápido!
A era do vazio...
Há um atual vazio intelectual e existencial jogado na política, na cultura, na vida das pessoas...
O efeito contágio – o plano é não ter plano. “Não sou político”. “Não quero ser político”. O discurso antipolítica é uma tática política perigosa que visa negar a política para seduzir eleitores e conquistar votos. O tempero para isso é a esculhambação – vai de questionar a virilidade até xingar de arregão. O palco tradicional da eleição municipal foi capturado por outro tipo de show – a campanha foi capturada pela lógica das redes, que transformou tudo em escândalo e entretenimento. Forjado nesse ambiente, o caoch Marçal, por exemplo, conseguiu arrastar os rivais para a lama. Agora os políticos profissionais tentam imitar seus truques, num vale-tudo por cliques e audiência na internet. Enfim, apesar do discurso antipolítica, os arruaceiros praticam o que dizem combater. O único compromisso é autopromoção, zero ideias concretas. O problema é que esses candidatos já deixaram isso bem claro para o eleitor – o plano é não ter plano.
“Meu plano de governo, registrado na Justiça Eleitoral, está cheio
de propostas inviáveis” (Datena).
“Quem quer proposta de governo vai no site do TRE. Tá tudo lá”
(Marçal).
Campanhas 2024:
- marcada por ausência de racionalidade e violência inaudita;
- no campo da direita, há uma disputa pelo espólio bolsonarista;
- falta compostura, sobra baixaria nos eventos; episódios grotescos, fala como matraca e não raciocina, tensão, ataques, xingamentos, advertências, episódios de violência e radicalismo, política da cadeirada, contagiosa, bate-bocas, apelidos, avalanche de direitos de respostas, agressão física, ladrão disso, facção A ou Z, perda de compostura, crime 2 ou 3, baixaria, acusações em provas, provocações, tom de voz alterado, incidentes vexatórios, nível de decadência, acusações infundadas, incitação à violência, calúnia e difamação, a cadeirada como atentado, lesão corporal e injúria, embates acalorados...
A democracia é a busca de consenso político por meio do diálogo, sem o emprego da força. Quando esta desponta, logo é contida pela moderação de acordo com regras pré-estabelecidas. Em qualquer discussão, é preciso manter um mínimo de compostura. O objetivo do debate é informar o eleitor ou levar respostas/soluções aos temas que afetam o cotidiano da população (nas áreas de transporte, saúde, educação, segurança), não abrir espaço para gritarias, troca de ofensas, agressões e baixarias. Enfim, a democracia deve dar exemplos de civilidade e temperança a políticos, crianças e jovens, essenciais ao convívio democrático... Não se encaixam comportamentos agressivos e cadeiras aparafusadas ao chão para que não sejam arremessadas.
O teste
mais perigoso dessas Eleições Municipais 2024 é: saber se os candidatos pitorescos ganharão mais espaço ou peso político, tendo como foco a
vida real de São Paulo, onde a baixaria de campanha segue alimentada. Fanáticos
sem causa, são asteriscos que acabam esquecidos, assim como os eleitores que
neles voltarem, pois o fizeram esperando coisa alguma. O vazio será preenchido
pelo mercado, empresas estrangeiras e privatizações. Afinal, esse é o propósito
do esvaziamento da política.

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