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“[...] acho que todo conhecimento deveria estar em uma zona de livre comércio. Seu conhecimento, meu conhecimento, o conhecimento de todo o mundo deveria ser aproveitado. Acho que as pessoas que se recusam a usar o conhecimento de outras pessoas estão cometendo um grande erro. Os que se recusam a partilhar seu conhecimento com outras pessoas estão cometendo um erro ainda maior, porque nós necessitamos disso tudo. Não tenho nenhum problema acerca das ideias que obtive de outras pessoas. Se eu acho que são úteis, eu as vou movendo cuidadosamente e as adoto como minhas” ("O caminho se faz caminhando - conversas sobre educação e mudança social", Paulo Freire e Myles Horton: p. 219).

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sábado, 26 de outubro de 2024

"Woke": curto-circuito das políticas identitárias.

Fraquezas morais que causam problemas.

Como lidar com termos/conceitos dúbios, que permitem duplas interpretações?

“Há um forte equívoco: a ideia de que a imensa variedade humana possa ser enquadrada em dois ou três pertencimentos coletivos: gênero, raça e orientação sexual. Há aqui um empobrecimento da ideia de diversidade. Ora, identidades podem surgir também: do cultivo de diferentes valores e formas de pensar, de vínculos afetivos, da religião, da formação cultural, de um ativo senso de individualidade, do amor à ciência, à dúvida intelectual, etc”.

“O que parece ter se perdido é a hipótese da aprendizagem. Ou seja, quando se desponta a possibilidade de um potencial conflito, simplesmente por uma questão de narrativa ou retórica, rapidamente se chama para um olho no olho, a conversa serena. A chance para o aprendizado, contra a guerra. Autoridades e instituições de ensino parecem não ter o sentido do diálogo e do aprendizado. Não podemos perder uma tradição iluminista elementar de que somos capazes de compreender as razões uns dos outros e revisar posições. E perdoar, inclusive, e não enfiar no pescoço a faca de uma virtude autoproclamada. Celebrar, em síntese, a incrível riqueza da diversidade, em vez de usar ideias generosas como uma nova forma de poder. Como, aliás, estamos cansados de observar, ao longo da história”.

Essa polêmica foi aberta com o termo “woke”, que significa “acordei, despertei”. Ou seja, “se você estiver acordado, entenderá”. A pessoa estar em alerta à (in)justiça contida ali, sobretudo, a depender da postura política que ela se identifica.

Logo, é uma questão-bomba, que pode influenciar significativamente os eleitores.

Parece algo bom, certo? Nem sempre, pois depende da pessoa a quem se faz essa pergunta. Pois, se num campo o termo pode trazer uma carga de boas aprovações, noutro, desaprovação e insensatez. Um verdadeiro prato cheio para a ironia cáustica, munição de primeira linha para extremistas e pessoas vis/más. Quando essas pessoas notam que outras se incomodam muito facilmente com estes assuntos, ou são provocadas sem outra intenção verdadeira de provocar alguma mudança significativa, elas atacam. E aí se salta do terreno da civilidade para o campo do assédio, da injúria, das ofensas e do Bullying.

A extrema direita tenta, a todo custo, abrir uma grave crise em um campo caro a governos petistas: o da proteção e fortalecimento de grupos vulneráveis. O episódio dá combustível para o fascismo colocar em colapso as pautas identitárias e atacar o governo, argumentando que o machismo estrutural e institucional também está presente não só na gestão de esquerda, como dentro da própria ideologia vermelha – convicções raciais e ideológicas podem levar à complacência diante de abusos morais e sexuais, descredibilizando vítimas e desencorajandos denúncias. Outro exemplo atual vem da aliança entre Elon Musk e Donald Trump, que pretende indicá-lo para chefiar um conselho econômico, é outro exemplo disso. Musk é dono da Tesla, que fabrica carros elétricos. Joe Biden investiu em energias limpas, enquanto Trump fala em perfurar poços de petróleo. A pauta conservadora de Trump, porém, reforça a cruzada de Musk contra a cultura woke, que ele responsabiliza por sua filha ter feito transição de gênero e rompido com ele, a ponto de mudar de sobrenome.

Ou seja, apesar da identidade racial e a melhoria econômica terem peso e importância na vida dos cidadãos/eleitores, as convicções religiosas alienadas à pauta moral (contra o aborto, contra as drogas, contra a liberdade sexual, contra as cotas, contra a liberdade da mulher, etc.) ainda são colocadas em primeiro lugar por muitos. Ou não foi a politização da moral que deu nova vida aos conservadores nos EUA e aqui no Brasil, e permitiu lá a eleição de Trump (2016) e de Bolsonaro (2018)? É um carnaval de tempos... E aí já se viu – o eleitorado desses mitos não costuma priorizar a proteção das mulheres contra esses abusos, mas podem usar essas acusações para atacar alguém de quem não gostam por razões ideológicas ou raciais (a esquerda, Lula). É um mundo de espelhos e hipocrisia.

Questões como desigualdade social, racismo e o machismo estão interligados e se reforçam com a extrema direita fascista. Se não tiver uma perspectiva interseccional [dessas questões], é possível que um homem negro tenha uma grande luta contra o racismo e seja um machista. Assim como a gente tem casos de mulheres brancas feministas que são racistas.

As "woke" também podem ser politizadas, seja na tentativa de garantir representatividade no Governo e fortalecê-las, ou para realizar ataques, causando panes e curto-circuito identitário. Para isso, tudo vale: suposto assédio sexual entre negros, positividade e violação de intimidades, escândalos diversos... 

Enfim, a cultura “woke” é “uma faca de dois gumes”, e abre uma Caixa de Pandora em instituições ainda frágeis que não costumam ter instâncias preparadas para lidar com apuração imparcial, dificuldades em provar o assédio, vulnerabilidade e medo das vítimas. E para atiçar fogo no parquinho e depois apagar o incêndio com gasolina, há palavras “woke” que, além da definição, pedem notas e advertências. Como lidar com elas e com isso? Evitando, não empregando descabidamente, não usando como antipolítica e discurso de ódio, não incitando. Logo, continue acordado e bem desperto, com muita consciência contínua dessas questões. Afinal, palavras têm poder para construir e destruir, acolher e ferir. As “woke”, muito mais!

“Há um forte equívoco: a ideia de que a imensa variedade humana possa ser enquadrada em dois ou três pertencimentos coletivos: gênero, raça e orientação sexual. Há aqui um empobrecimento da ideia de diversidade. Ora, identidades podem surgir também: do cultivo de diferentes valores e formas de pensar, de vínculos afetivos, da religião, da formação cultural, de um ativo senso de individualidade, do amor à ciência, à dúvida intelectual, etc”.

“O que parece ter se perdido é a hipótese da aprendizagem. Ou seja, quando se desponta a possibilidade de um potencial conflito, simplesmente por uma questão de narrativa ou retórica, rapidamente se chama para um olho no olho, a conversa serena. A chance para o aprendizado, contra a guerra. Autoridades e instituições de ensino parecem não ter o sentido do diálogo e do aprendizado. Não podemos perder uma tradição iluminista elementar de que somos capazes de compreender as razões uns dos outros e revisar posições. E perdoar, inclusive, e não enfiar no pescoço a faca de uma virtude autoproclamada. Celebrar, em síntese, a incrível riqueza da diversidade, em vez de usar ideias generosas como uma nova forma de poder. Como, aliás, estamos cansados de observar, ao longo da história”.

·       O mundo hiperconectado fez crescer a fragilidade de qualquer um: “minha identidade é um santuário; a do vizinho é uma perversão”. Quase tudo é convertido em retórica. É a obsessão! A migração, bastante sutil, da inclusão para a exclusão.

·       A traição da diversidade. Woke: a obsessão em torno de temas de gênero, raça e orientação sexual, as guerras culturais (e ainda no embalo das redes sociais). Ela se alimenta de “temas polarizantes” da agenda identitária.

·       Um exemplo: comercial da Bud Light com imagem da Dylan Mulvaney, a ativista trans, na latinha da cerveja. As vendas despencaram, a empresa teve um prejuízo histórico.

·       É ótimo cultivar valores como o respeito, a tolerância e o acesso a oportunidades. Mas é péssimo que esses valores, reunidos sob a ideia generosa da diversidade, se convertam em ideologia: em vez de abertura à diferença, o controle; em vez do respeito, a lógica do conflito permanente; enfim, o esquecimento dos melhores valores que já estavam lá.

·       Há um horror a quem pensa diferente.

·       Há medo e forte perigo de afetar reputações. Uma sutilíssima chantagem: somos minoria, mas se nossa pauta não andar, coisas complicadas podem acontecer.

·       Um traço da cultura woke é a conversão de quase tudo em retórica. A ideia de que um certo aspecto da realidade, exatamente aquele no qual eu acredito, é capaz de organizar o mundo e dizer o que define a justiça e a virtude.

·       Algo que já foi a ideia de “classe social”, para a esquerda, mas que em algum momento migrou para a órbita das “identidades”. E, a partir daí, a marcação cerrada, as paredes com slogans, o discurso emotivo. E logo a intolerância, a regulação da linguagem, do gesto. Tudo que vai virando o pão de cada dia. Mas que devagar vai gerando impaciência.  

·       Uma época de “sinalização de virtude” ou tagarelice do bem. O tipo que adora um jatinho, mas não perde a chance de falar em aquecimento global. 

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