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Ø Se eu sou um especialista, então minha especialidade é saber como não ser um especialista ou em saber como acho que especialistas devem ser utilizados. :)



“[...] acho que todo conhecimento deveria estar em uma zona de livre comércio. Seu conhecimento, meu conhecimento, o conhecimento de todo o mundo deveria ser aproveitado. Acho que as pessoas que se recusam a usar o conhecimento de outras pessoas estão cometendo um grande erro. Os que se recusam a partilhar seu conhecimento com outras pessoas estão cometendo um erro ainda maior, porque nós necessitamos disso tudo. Não tenho nenhum problema acerca das ideias que obtive de outras pessoas. Se eu acho que são úteis, eu as vou movendo cuidadosamente e as adoto como minhas” ("O caminho se faz caminhando - conversas sobre educação e mudança social", Paulo Freire e Myles Horton: p. 219).

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domingo, 4 de agosto de 2024

Narcisistas e o TPN.

 

O narcisismo é um traço de personalidade que envolve a autoestima. Todos nós, em algum grau, somos narcisistas. Ele tem seu lado bom – nos ajuda a enfrentar desafios, confiar em nossas habilidades e buscar reconhecimento por nossas conquistas. Assim, a personalidade narcisista, por si só, não causa transtornos para a vida do indivíduo. Logo, não há cura para o que não é doença.

A denominação é proveniente de Narciso, personagem da mitologia. Ele era um caçador belo e carismático que tinha a reputação de partir corações por rejeitar o amor dos outros. Reza a lenda greco-romana que, como punição, a deusa Nêmesis lançou um feitiço sobre Narciso: se apaixonar pela primeira pessoa que visse. Num dia quente, exausto após a caçada, ele decide descansar à beira de um lago. É quando, ao beber um pouco de água, se vê refletido na superfície e cai de amores por si mesmo. Apaixonado pelo próprio reflexo, termina morrendo afogado. Enfim, o amor por si mesmo acaba por matá-lo. Embora precisemos de um pouco de amor-próprio, o amor não basta a si. Ele foi feito para o outro e sobrevive dessa relação ou entrega recíproca. Mas, em uma medida equilibrada.

O narcisismo só se torna problemático quando é extremo e inflexível. Ou, ainda, quando traz prejuízos e provoca danos na vida afetiva, familiar, social, acadêmica ou profissional do narcisista. Quando isso acontece, o que era somente traço de personalidade vira transtorno psiquiátrico. Assim, o Transtorno de Personalidade Narcisista (TPN) é o tipo clínico ou psiquiátrico do narcisismo. “É uma condição de saúde mental caracterizada por dificuldades persistente tanto na regulação da autoestima quanto no relacionamento com os outros” (DSM, 1982).

Assim, a pergunta é: como reconhecer um narcisista e quando isso se torna transtorno? Essa condição é rara e pode causar sofrimento tanto ao paciente quanto às pessoas ao seu redor. Narcisistas existem muitos. Pessoas com TPN (Transtorno de Personalidade Narcisista), nem tanto (mas há tratamento e é difícil). Não passa de 1% da população mundial. No Brasil, algo em torno de 2,1 milhões de pessoas. Há lugar para todos no espectro do narcisismo, de namorados tóxicos a líderes megalomaníacos, inclusive mães.

Seu surgimento é uma combinação de fatores genéticos, biológicos e ambientais. Tais como: experiências traumáticas na infância, relações de apego na infância, estilo de criação e educação e necessidades de autoestima elevada. Um misto. Um exemplo: se a criança percebe que só é valorizada quando conquista algo e não pode demonstrar fraqueza, começa a acreditar que ter sucesso na vida é tudo o que importa.

Há três tipos de narcisistas:

1)     o grandioso: ambicioso, extrovertido e carismático. Tem autoestima elevada, quer ser o centro das atenções e não demonstra empatia. Também é manipulador, direto e arrogante. É o tipo que você mais verá na vida: vai trabalhar para ele, sair com ele e se divertir com ele.

2)     o vulnerável: é mais sutil, inseguro, introvertido e deprimido. Diz que tem baixa autoestima, mas prensa que merece tratamento especial. É carente, dissimulado e tímido. Serão mais difíceis de aparecer. São narcisistas enrustidos. Enquanto grandiosos são ofensivos, vulneráveis são defensivos.   

3)     um misto dos dois: é, por um lado, ambicioso e extrovertido e, por outro, defensivo e introvertido. Vive uma zona intermediária, sendo ao mesmo tempo grandioso (vai falar o que sua vítima quiser ouvir até ele próprio conseguir o que quer, depois, sobre o tom) e vulnerável (vai se fazer de vítima e dizer que a culpa não é dele, num arroubo de coitadismo).

Essa situação não tem cura, mas há tratamento. Vejamos mais. No geral...

·       Sintomas do transtorno:

- mania de grandeza;

- necessidade de atenção;

- falta de empatia;

- experimenta flutuações significativas na autoestima: ora são extremamente superiores, ora são profundamente inseguras. Isso pode levar a comportamentos aparentemente arrogantes e insensíveis, mas que, na verdade, são tentativas de lidar com dor emocional e medo de rejeição.

- a personalidade narcisista é caracterizada por uma admiração excessiva por si mesmo;

- Preocupam-se apenas com os seus interesses e as suas necessidades;

- No ambiente de trabalho, tem dificuldade para trabalhar em equipe, obedecer ordens ou receber críticas;

- Acham que suas ideias e opiniões são melhores que as dos outros;

- É mais comum em homens do que em mulheres – e em jovens do que em adultos;

- É multifatorial, ou seja, não há uma única causa;

- Dificilmente um narcisista procura atendimento. Quando o convívio é prejudicial à saúde mental ou provoca impacto negativo na qualidade de vida, o contato zero torna-se uma opção;

- É um transtorno de difícil identificação;

- Atribuem a si mesmos uma importância além do normal;

- Não basta supervalorizar a si mesmo, é preciso desvalorizar os outros;

- Tem mania de grandeza, não demonstram empatia, são o centro das atenções, não assumem seus erros e valorizam a aparência.

Como diagnosticar e tratar TPN? A nível de relacionamento amoroso, o relacionamento com um narcisista é como um passeio na montanha-russa: é empolgante e divertido em alguns momentos, e terrível e assustador em outros. E se o passeio durar tempo demais você acaba passando mal. No começo é um “bombardeio de amor” – jogam charme, dão presentes, elogios. Fazem o que podem e o que não podem para conquistar suas vítimas. Mas, passado algum tempo, o romantismo exacerbado cede espaço ao abuso emocional.

Para tratar, as terapias mais indicadas são: terapia cognitivo comportamental, terapia comportamental dialética, terapia do esquema, psicoterapia focada na transferência e terapia baseada na mentalização. Elas ajudam os pacientes a entender seus pensamentos e comportamentos narcisistas e a modificá-los. Porém, o difícil é convencer o narcisista que ele precisa de tratamento. Em geral, ele pensa que a culpa é dos outros. Ou seja, tratamento há, mas é difícil. Afinal, outra característica que já é parte do narcisista é não demonstrar remorso ou arrependimento. Na cabeça dele, não há por que ou do que se tratar. E tão comum quanto resistir ao tratamento é abandoná-lo antes do previsto.

Enfim, não há remédio para o TPN. Apenas em casos de comorbidade, é prescrito medicamento. É importante tratar do assunto com empatia e compreensão. Só assim vamos reduzir o estigma e encorajar aqueles que sofrem a procurar tratamento.

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