“Tem existido uma superprodução de médicos mal treinados e não educados. Essa superprodução de pessoas mal treinadas se deve, principalmente, a um enorme número de escolas comerciais sustentadas por métodos de publicidade” (Relatório Flexner, EUA, 1910).
Estamos enfrentando tempos extremamente violentos, com guerras armadas e simbólicas.
Uma dessas guerras simbólicas é a ofensiva contra a medicina que acontece agora no Brasil. Os médicos brasileiros estão lutando pela sobrevivência da própria profissão. Os tiros, bombas e minas metafóricos na medicina são a desinformação da população e a invasão de outras profissões que flagelam a medicina diariamente.
A tecnologia deseja substituir a medicina por qualquer outra coisa mais rentável. O médico não tem mais lugar à mesa dos grandes debates nacionais, como descriminalização de drogas, aborto, eutanásia. O próprio diploma de médico praticamente já não é mais necessário para exercer a profissão. Contratos de trabalho são cada vez mais precarizados, e qualquer um se arvora a realizar procedimentos invasivos.
73% dos municípios brasileiros candidatos a receber escolas médicas não têm número suficiente de leitos de internação do SUS nem de Equipes de Saúde da Família ou sequer hospitais de ensino – critérios mínimos para o aprendizado médico (Dados do CFM). Não valem essas escolas de fundo de quintal, sem a didática e as condições necessárias.
A atenção primária tem que ser assistida por médicos extremamente capacitados, que resolvam os problemas das pessoas e evitem o agravamento de suas doenças. Não é um depósito de neófitos mal qualificados que não sabem ouvir o paciente, que não conseguem interpretar sinais clínicos sem dezenas de exames.
Jogar médicos no interior, sem o mínimo de apoio, também não resolve o problema da assistência. Pelo contrário, fragiliza ainda mais as relações de trabalho, pois sem CLT ou concurso, como na carreira judiciária, o médico acaba por não se fixar nos municípios menores, e termina sem um vínculo forte com a comunidade ou o hospital onde trabalha.
A fragilidade do Estado em preencher essa lacuna e a ganância do mercado em preenchê-la com baixos custos têm levado à invasão da medicina por profissionais de outras áreas ou por meros charlatães. Cursinhos de fim de semana, pós-graduações duvidosas e supostos doutores ensinam a qualquer um que queira realizar procedimentos estéticos e terapêuticos, muitas vezes invasivos e com resultados trágicos.
Enfim, quem sai mais prejudicado com tudo isso, quando não morto, é o paciente. Logo, nossa luta precisa ser para salvar vidas e qualificar o sistema de saúde. Pela atenção à população fragilizada!
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