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Ø Se eu sou um especialista, então minha especialidade é saber como não ser um especialista ou em saber como acho que especialistas devem ser utilizados. :)



“[...] acho que todo conhecimento deveria estar em uma zona de livre comércio. Seu conhecimento, meu conhecimento, o conhecimento de todo o mundo deveria ser aproveitado. Acho que as pessoas que se recusam a usar o conhecimento de outras pessoas estão cometendo um grande erro. Os que se recusam a partilhar seu conhecimento com outras pessoas estão cometendo um erro ainda maior, porque nós necessitamos disso tudo. Não tenho nenhum problema acerca das ideias que obtive de outras pessoas. Se eu acho que são úteis, eu as vou movendo cuidadosamente e as adoto como minhas” ("O caminho se faz caminhando - conversas sobre educação e mudança social", Paulo Freire e Myles Horton: p. 219).

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domingo, 1 de setembro de 2024

A nova face do Eleitorado de Direita.

 “A nova cepa da direita”: bandeiras, símbolos, valores...

A continuidade da nossa Democracia depende da superação desse movimento de extrema direita que polariza e alimenta ódios no país. Para além das eleições municipais, esse movimento em curso certamente terá repercussão importante na disputa à Presidência em 2026.

Embora inelegível, Bolsonaro tenta reverter sua situação. Ele insiste em ser líder incontestável da direita no país, mas o tamanho político dele no futuro e o peso das maiores forças só ficarão mais claros após o saldo eleitoral deste ano. É o eleitor que está esperando se entregar para alguém!

Entender como o conservadorismo vai se comportar no pleito de 2024 vai dar pistas para a direita daqui a dois anos. Então...

Raio X:

·       Ameaça se desgarrar da liderança de JB, com dúvidas no horizonte sobre sua capacidade de comando absoluto da turma à direita – o ex-capitão tem se deparado com desempenhos pífios de seus escolhidos em pesquisas de intenção de voto em cidades importantes onde o mito decidiu lançar ou apoiar candidatos às prefeituras;

·       Em caso de confirmação de sua inelegibilidade, os nomes cotados/ventilados para “herdar” o espólio político de Bolsonaro (ocupar essa faixa política) são: Ronaldo Caiado (Governador do Goiás, União Brasil); Tarcísio de Freitas (Governador de SP); Ratinho Jr. (Governador do Paraná, PSD); Romeu Zema (Novo, Governador de MG). Se o escolhido for um dos membros dessa nova cepa de direita, em vez de propostas novas, há um risco claro de termos de forma amplificada as velhas queixas contra o “sistema”.

·       Assim, eles têm o bônus do bolsonarismo, sem o ônus do Bolsonaro. A visão é estreita, existe para oprimir adversários e trabalhar de forma perpétua para a manutenção do status quo.

·       O bolo do eleitorado da direita no país é composto por: evangélicos, liberais e militares;

·       Abraça cada vez mais o discurso antissistema (antipolítica) e agora ainda mais: é um niilista convicto;

·       Ou seja, os ingredientes dos discursos, das ações e dos símbolos são: elementos do protestantismo clássico, teologia da prosperidade, excentricidade e narcisismo,

·       São radicais livres;

·       O discurso rebelde e antissistema ressoa de forma mais efetiva entre os jovens porque: têm menos a perder e aderem com mais facilidade a extremismos e propostas irresponsáveis, além de um aspecto fundamental: a familiaridade com o ambiente tecnológico. O letramento digital dessa juventude reforça a lógica de rede em que se criam comunidades com um propósito – cada usuário se vê engajado no objetivo de espalhar uma mensagem com um potencial ilusório de “hackear” o sistema. Ainda, esse eleitorado é mais identificado entre os que ganham mais de 05 salários mínimos e na classe C, que se vê pressionada pela dificuldade de atingir metas materiais, como ter a casa própria. Por fim, esse público também é majoritariamente masculino, composto por homens que sentem ter perdido o poder de decisão num mundo no qual o patriarcado é cada vez mais questionado e relativizado.

·       Entoa os velhos gritos de guerra dos mais conservadores: discurso antipetista, mas acrescentou pautas da atualidade: desejo de empreender e de obter uma rápida ascensão social;

·       Um dos modelos mais admirados são os influenciadores digitais, a turma que muitas vezes consegue fortuna com um celular na mão;

·       A ojeriza ao establishment (ordem ideológica, econômica, política, cultural e legal que constitui o Estado/Sociedade) ganhou contornos ainda mais raivosos em meio ao movimento. A origem esteve nas manifestações de 2013: as sementes da revolta contra o “sistema”.

·       O maior exemplo de sucesso de um candidato/personagem ator outsider na política era justamente Bolsonaro (indivíduo que não pertence a um grupo determinado). Ator porque ele se vende como indeterminado (antissistema/antipolítica), mas na verdade é mais partidário do que ninguém. Trata-se de uma tática política sobre a psicologia. Na psicologia, o termo outsider pode ser usado para descrever alguém que se sente excluído ou marginalizado em um determinado grupo social. Essas pessoas muitas vezes enfrentam desafios emocionais e psicológicos por não se encaixarem nos padrões estabelecidos.

·       Porém, o candidato/personagem outsider da direita mostra seu partido (ator) depois da vitória numa eleição, pois não consegue manter essa imagem de forasteiro quando candidato, uma vez que, empossados, precisam investir em composições. Por exemplo: o que Bolsonaro fez no Palácio do Planalto e segue fazendo nas atuais eleições, como mostra a aliança em SP com Ricardo Nunes, um político muito mais próximo do Centrão do que do bolsonarismo raiz. Enfim, é por isso que dentro dessa engrenagem, o voto do outsider demanda uma novidade a cada pleito.

·       Facada e tiro. Lembra da suposta facada sofrida em Juiz de Fora (MG) pelo inelegível? Ou o suposto tiro na orelha de Trump? Pois é, o palhaço macabro (It) veste bem essa extrema direita, pois reforça ao eleitorado a figura de alguém que incomoda tanto o establishment a ponto de ser vítima de uma tentativa de assassinato (embora, pouco importa a verdade dos fatos, claro).

·       Reforça de forma estridente o combate às pautas progressistas;

·       Incorpora entre suas bandeiras temas como o empreendedorismo;

·       Aposta em Marçal (PRTB-SP), atual representante mais barulhento dessa onda: ele faz motociata como Bolsonaro, mas agora está em pé de guerra com a família. Fez fama como coach, usa o tom de discurso motivacional, prometendo progresso e riqueza aos seus eleitores. Ele mostra uma vida de luxo, mas não se porta como uma pessoa da elite.

·       Usa a força das redes sociais como meio de propagação de discursos, passando pela estratégia de campanha, até a forma de “fisgar o eleitor” com um tom agressivo e direto.

·       Veste a roupa da esquerda para vender o conteúdo da direita (enquanto a esquerda se descaracterizou imitando a direita em muitos aspectos, reforçando-a).  

·       O clássico e tradicional corpo a corpo com os eleitores virou peça secundária na campanha. Até porque, certas caminhadas por uma Avenida Paulista não têm durado metade de um quarteirão e aglutinado uma cinco ou seis dezenas de pessoas na rua. Já um vídeo feito para as redes sociais chegar ter 1,6 milhão de visualizações em menos de 24 horas. A forte presença na internet chega nem ser abalada por uma decisão da Justiça que às vezes derruba canais, seja por suspeita de abuso de poder econômico ou fake news, mas logo em seguida são abertos outros perfis que amealham de forma rápida milhões de seguidores.

·       O público disposto a apoiar esse tipo de político não cresceu no país ao longo da história, mas de uns tempos para cá deixou de votar por exclusão, passando a votar por convicção.

·       Durante muito tempo, grande parte desse público fechou com o PSDB, sendo que o partido jamais se assumiu coo uma sigla de direita. Com o surgimento de forças mais radicais na política, dispostas a empunhar de forma explícita bandeiras conservadoras, o mesmo grupo de eleitores saiu do armário.

·       Bolsonaro é um projeto criado pela direita para representar e identificar esse sentimento abafado por parte da população conservadora, muitas vezes por falta de capacidade de vocalizar. Esse resgate veio com ele. Depois de rasgar a fantasia e passar por um momento de autoafirmação em 2018, esses eleitores ganharam uma motivação extra na batalha contra propostas típicas do progressismo: a descriminalização do porte de maconha para consumo pessoal, a legalização do aborto, a liberdade da população LGBTQIA+. Ao mesmo tempo que essas questões importantes entraram no debate público, houve efeito colateral na forma de uma forte e agressiva reação conservadora a elas. Há poucos anos, essas discussões sequer existiam, porque havia consensos generalizados que foram quebrados.

·       Qual será o grau de vitórias nas eleições de 2024 dos candidatos emergentes da direita do país?

·       Para essa turma nenhum partido presta, o Congresso não presta, o Supremo também não, numa toada de teses incompatíveis com a democracia. Querer falar que vai governar sem isso é uma bobagem, não existe governar sozinho. A menos que você implante uma ditadura.

·       É histórica a investida do conservadorismo nas urnas ou eleições. Até chegar na atual edição do bolsonarismo, estreou e perdeu na eleição de 1945, com o brigadeiro Eduardo Gomes na UDN (União Democrática Nacional), defendendo a moralidade e o liberalismo clássico (e se opondo ao populismo de Getúlio Vargas). Porém, deixou um saldo/legado: 35% dos votos. Em 1960, chegou ao poder apoiando Jânio Quadros. No pós-ditadura, a direita (representada pelo PFL, herdeiro do Arena e antecessor do DEM) se dividiu entre Paulo Maluf, Aurelino Chaves e Ronaldo Caiado para depois se unir em torno de Fernando Collor para derrotar Lula. Motivada pelo antipetismo, a direita caminharia com o PSDB nas eleições presidenciais seguintes. Em 2018, despontou na figura de um candidato antissistema (PSL nanico), o Jair Bolsonaro, apoiado em temas como família, Deus, pátria e liberdade. Arrastou o eleitorado de direita e triunfou sobre Fernando Haddad (PT). Em 2022, candidato à reeleição após uma gestão tumultuado, marcada pela pandemia, pela tensão política e pelas crises institucionais, Bolsonaro arrancou na reta final da campanha, foi ao segundo turno e acabou derrotado por Lula, por apenas 1,8 ponto percentual. Atualmente, em quase metade do seu terceiro mandato, Lula.3 tenta unir e reconstruir o país sob uma forte pressão do Mercado, da mídia e dessas forças conservadoras.

·       O conservadorismo brasileiro atual tem como pensadores Roberto Campos e Mario Henrique Simonsen, e representantes mais destacados, com um debate de melhor nível: revista Veja, edições Globo, Brasil Paralelo e a galera dos cultos do Antigo Testamento. Ou seja, o PSDB disfarçados de bolsonarismo, por hora fracassado, mas concentrando suas forças num novo senhor dos anéis.

Enfim, a Democracia tem a capacidade de transformar tiroteios reais em debates entre adversários. Para fortalecê-la, precisamos evitar um debate eleitoral empobrecido pelos discursos dos outsiders, vazios de promessas e cheios de perigosos ataques à política. 





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