“A teatralidade inerente à política possibilita a distorção das eleições e da própria democracia”.
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O Brasil tem convivido bem com as eleições;
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Eleições são decisivas para o bom funcionamento da democracia.
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Por meio das eleições, mostra-se a qualidade da representação, a
resiliência da estrutura institucional e o desempenho governamental;
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Governantes são premiados ou castigados pelos eleitores quando
buscam a reeleição;
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Políticos insurgentes podem ganhar o palco da política quando
reúnem bons votos;
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Eleitores extravasam nas urnas suas esperanças, seu
descontentamento e sua desconfiança nos políticos;
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Pela via eleitoral, a possibilidade de ditadura é reduzida e até
desfeita, primeiro a partir das bordas e, depois, em seu sistema nervoso
central;
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Com os parâmetros fornecidos pela Constituição de 1988: o voto é
secreto, inviolável, auditável, acessível a todos a partir dos 16 anos;
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Com o processo legítimo e respeitado, vencedores tomam posse e os
incumbentes derrotados transmitem os cargos sem maiores acidentes;
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Eleições sempre serão processos complexos.
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São sujeitas a muitos acidentes de percurso e determinadas tanto
pelo sistema em que se inserem quanto pelos humores dos cidadãos e pelo estado
da sociedade.
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A proliferação das redes sociais e das tecnologias de informação e
comunicação, por exemplo, mudaram o modo como se organizam as campanhas e se
busca o voto, implicando grandes modificações na dinâmica eleitoral.
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É preciso punir candidatos oportunistas que emergem como bufão da
hora para bagunçar as eleições na cidade. São figuras histriônicas e vazias,
que criam seguidas arapucas para tentar macular os adversários, perturbar as
disputas presidenciais e iludir o eleitorado. Todos têm o mesmo foco: fazer das
eleições uma arena de disputas medíocres, demagógicas e virulentas. São
candidatos bufões, aventureiros, agressivos e com propostas mirabolantes, sem
nexos com a realidade e voltadas exclusivamente a embaralhar as disputas
eleitorais, outsiders, antipolítica. Prestam enorme desserviço: emporcalham o
trâmite eleitoral, fragilizam os partidos, fomentam o populismo mais rasteiro.
Põem em risco, assim, a própria democracia e sua institucionalidade. Além do
mais, disseminam ódio, raiva e desconfiança entre os eleitores, sequestrando um
precioso componente da vida democrática. Exemplos dessa gente: Marçal, Trump.
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Candidatos de “novo tipo” passaram a abusar das redes para
disseminar mentiras e ataques aos adversários, criando arenas manchadas por
sujeiras que espalham de forma tóxica, envenenando o eleitorado e alterando a
qualidade das disputas políticas.
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Eleições podem ser atacadas de diversas formas: abertamente
fraudadas, manipuladas em cédulas e urnas, na intimidação dos eleitores, na
repressão às manifestações e na perseguição aos que se opõem aos governantes
autoritários, sempre desejosos de dilatar seu tempo no cargo. Ainda tem o case de autoritarismo eleitoral: ao fim
de pleitos viciados, sem controle e sem transparência, se autoproclamam
vencedores.
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Fraudes diretas e desavergonhadas desprezam regras do jogo e
diálogos democráticos, montadas para fazer a festa e entronar ditadores. É uma
farsa, que desvirtua e cancela a democracia, por mais que o povo seja chamado
às urnas.
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Candidatos há que costumam fraudar eleições mediantes formas mais “discretas”:
mentiras, ataques pessoais, campanhas de difamação e autopromoção, fuga do
debate público, ausência de programas e intenções. Podem não rejeitar as regras
do jogo, mas pouco contribuem para qualificar as eleições, a política e a
democracia. Ajudam a converter as disputas numa espécie de circo em que se
desperdiça tempo e se intoxica o eleitorado.
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O fato é que a democracia, por sua complexidade, sofre quando as
eleições perdem o senso da História, da ética e da política. Disputas
eleitorais congestionadas de atitudes distantes do bom senso continuarão a
ocorrer, em que pesem todo o esforço cívico e toda a eficácia da estrutura
institucional.
· Cabe aos democratas consistentes – de esquerda, liberais, de centro ou conservadores – atuar para reduzir o espaço daqueles que procuram manipular eleições e impedir que elas produzam resultados que reforcem e qualifiquem a democracia.
· Radicalização e extrema polarização são, mais uma vez, os ingredientes que vão sendo aquecidos no caldeirão da ausência de propostas, incapacidade de diálogo e morte da política.
· O velho veneno de demonização da política: Pablo Marçal. Tem o perfil de um aventureiro não por acaso. Usa a impopularidade da esquerda como pretexto para atacar seu verdadeiro alvo: a política. Dizendo barbaridades, não apresentando propostas sérias e apostando no conflito radical, Marçal tenta cativar o eleitorado de Jair Bolsonaro, que ficou entranhado no sistema pelo bolsonarismo de herança, cresceu à sombra da descrença na política e da defesa de valores conservadores.
· Os aventureiros são sedutores, bons encantadores de serpentes. Mas a História mostra que projetos construídos de costas para a política terminam em decepção ou no autoritarismo de pretensos salvadores da pátria.
· Vamos fazer um exercício retrospectivo: em 1964, sob o pretexto de preservar a democracia, os militares tomaram o poder. E o que se anunciava como intervenção transitória, com ânimo de devolver o poder aos civis, se transformou numa longa ditadura. A imprensa foi amordaçada. Lideranças foram suprimidas. Muitas injustiças foram cometidas em nome da democracia.
· Quem resiste ao fascismo? O espírito liberal e independente, incompatível com a mentalidade de pensamento único, mas que provoca a ira dos donos do poder. Pessoas cultas e intelectualmente inquietas, podem resistir, mas também podem escorregar para o limbo do regime. Quem resiste, resiste empunhando as armas da inteligência e da autoridade moral que não cede à sedução do poder.
· A política brasileira está podre. Ela é movida a dinheiro e poder. Dinheiro compra poder e poder é ferramenta poderosa para obter dinheiro. O poder arrecada o dinheiro que vai alçar os candidatos ao poder. No Brasil, não importa o Estado, a única coisa que vira o jogo é uma avalanche de dinheiro. O jogo é comprado, vence quem paga mais. O sistema eleitoral brasileiro está bichado e só será reformado se a sociedade pressionar para valer. As eleições são livres, mas hoje o resultado é bastante previsível. Não se elegem os melhores, mas os que têm mais dinheiro para financiar campanhas sofisticadas e boa performance no mundo digital. A máquina de fazer dinheiro para perpetuar o poder tem engrenagens bem conhecidas no mundo político: emendas parlamentares, convênios fajutos e licitações com cartas marcadas. As classes dirigentes estão entupidas de privilégios. Os partidos são balcões de negócios.
· É preciso autocrítica para entender as razões de tamanha rejeição. Acredito no Brasil e na Democracia. Não se pode abafar o grito do desespero nem menosprezar a revolta do eleitorado. Mas não se reformará a democracia destruindo a democracia. É preciso valorizar ainda mais a política, o diálogo e as posturas construtivas. O Brasil não pode continuar refém de aventureiros. Precisa de estadistas que sejam capazes de descortinar sonhos e projetos do tamanho deste país continental.
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