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São Francisco do Conde, Bahia, Brazil
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"Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber" (Art. 205 da Constituição de 1988).

Ø Se eu sou um especialista, então minha especialidade é saber como não ser um especialista ou em saber como acho que especialistas devem ser utilizados. :)



“[...] acho que todo conhecimento deveria estar em uma zona de livre comércio. Seu conhecimento, meu conhecimento, o conhecimento de todo o mundo deveria ser aproveitado. Acho que as pessoas que se recusam a usar o conhecimento de outras pessoas estão cometendo um grande erro. Os que se recusam a partilhar seu conhecimento com outras pessoas estão cometendo um erro ainda maior, porque nós necessitamos disso tudo. Não tenho nenhum problema acerca das ideias que obtive de outras pessoas. Se eu acho que são úteis, eu as vou movendo cuidadosamente e as adoto como minhas” ("O caminho se faz caminhando - conversas sobre educação e mudança social", Paulo Freire e Myles Horton: p. 219).

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domingo, 7 de julho de 2024

Ouro brasileiro.

 

“Há uma tendência mundial de reduzir a dependência do dólar. A compra de ouro pelos bancos centrais no mundo cresceu 14% no ano passado. Pronto, está lançada a corrido do ouro e seus impactos diversos”.

O Brasil tem cerca de 12% das reservas de ouro do mundo (mas essa porcentagem pode ser apenas a ponta citada de um grande iceberg). Depende da qualidade e quantidade de estudos e pesquisas (e da divulgação deles). Há hoje 4.597 autorizações de pesquisa de ouro no país.

O país vive um novo ciclo do ouro, atraindo empresas estrangeiras (britânica, canadense, que vão investir entre 2024-2027, uns R$ 7,6 bilhões (US$ 1,4 bilhão) em dez empreendimentos em 09 estados (MG, Bahia, Pará, Goiás, MA, MT, RN, TO e AP). O valor é 75% maior que o aplicado nos últimos 10 anos.


Os Estados são os responsáveis pelo licenciamento de minas de ouro no Brasil, altamente pressionados pelas empresas e o que se chama de “segurança jurídica”, isto é, a manipulação do Legislativo a favor do Mercado Financeiro. Com as novas regras adotadas supostamente para coibir o outro ilegal no país (afugentando os mineradores pobres), houve um favorecimento e atração de grandes mineradoras, que usam novas tecnologias na exploração e produção. Ou seja, foi-se buscar, principalmente no exterior, investimentos no setor.

O ouro está altamente valorizado. A onça troy = medida que equivale a 31,1 gramas de ouro. Bateu de US$ 2,3 mil pela primeira vez e deve chegar a US$ 2, mil no fim do ano. Quanto mais alto o preço do ouro, mais viável se torna a prospecção de depósitos com menor teor, que antes não eram considerados viáveis.

Aqui na Bahia, por exemplo, uma nova área de produção de outro é ofertada à iniciativa privada pela CBPM (Companhia Baiana de Pesquisa Mineral) nos município de Brumado e Aracatu. A canadense Pan American Silver, dona de um complexo de 7 minas de outro subterrâneas na cidade baiana de jacobina, está investindo entre USS 20 milhões e US$ 30 milhões para aumentar a produção que foi de 195 mil onças de outro em 2022. Uma nova fase pode alcançar 350 mil onças anuais em 2027. Nossa Bahia também abriga as minas Fazenda Brasileiro e Santa Luz, nos municípios de Barrocas e Santaluz, ambas da Equinox Gold, autodeclarada maior produtora de ouro das Américas, que também atua em Minas e no maranhão. Nosso estado está entre os três maiores produtores do Brasil, atrás de Minas Gerais e Pará.

Mas, quem terá pensamento crítico para denunciar essa questão e conscientizar a sociedade baiana? Estão todos distraídos com as guerras culturais e seus assuntos pautados em costumes, quando não tomados pelo carnaval e outros festejos. Não que divertir seja ruim, mas quando ofusca a mente do povo se torna um verdadeiro pão e circo.

A mineração gosta de se instalar em regiões pobres, fixando uma população que vive do plantio de subsistência. Os salários das mineradoras ofuscam a renda local, causando desequilíbrios sociais nas comunidades, gerando violência, alta de preços no comércio e refinada especulação imobiliária. Isso sem falar dos impactos ambientais, basta pesquisar os danos causados nos últimos anos por mineradoras e suas barragens de rejeitos no Brasil.

Enquanto isso, o ouro é considerado um porto seguro por países e investidores. Agora, mais do que nunca! Desde o fim de 2022, a China vem comprando ouro num ritmo nunca visto para engordar suas reservas internacionais e ter uma alternativa ao dólar dos EUA. As tensões entre os dois países somadas às guerras na Ucrânia e no Oriente Médio, mudanças climáticas e o temor de novas pandemias contribuem para a maior demanda global de países, bancos e investidores pelo metal precioso, sinônimo de reserva e segurança há séculos.

Sempre que há conflitos geopolíticos e guerras pelo mundo, e o risco aumenta, o ouro desponta como porto seguro. É também uma forma de bancos centrais acumularem reservas internacionais. Portanto, temos um ciclo de novos projetos de mineração de ouro que é global.

Assim, o ouro teve valorização de 54% em 03 anos. Essa alta internacional do metal aquece a mineração e trás mais desafios – manter o controle sobre a extração, em meio ao garimpo ilegal e a danos ambientais, pressionando as autoridades.

Uma balela o mapeamento e as licitações de áreas de áreas de mineração, com míseros royalties de 2% a 6% perto do lucro que produzem e dos estragos que geram. A título de exemplo, só houve legalidade de 34% do ouro produzido no país entre 2019 e 2020 (governo Bolsonaro), com prejuízos socioambientais de R$ 31,4 bilhões provocado pelo garimpo ilegal no período, bem mais que os R$ 640 milhões arrecadados em impostos com o tal ouro legal.  Isso sem falar que nem há estimativa sobre o metal que escapou e escapa da Amazônia pelas fronteiras terrestres com Venezuela, Guiana e Bolívia, em rotas do crime organizado.

Veja só, a maior mina a céu aberto do país é a Morro do Ouro, em Paracatu. Explorada pela canadense Kinross, a empresa vai investir neste ano mais US$ 145 milhões (R$ 792 milhões) para ampliar sua produção. A iludida prefeitura da cidade de 100 mil habitantes estima que serão gerados 1,8 mil empregos diretos e mais 4 mil indiretos. Atraída momentaneamente pela arrecadação municipal de R$ 170 milhões em 2023 (só com a mineração), não percebe que esse negócio tem data de validade: as empresas vão embora quando a mina estiver exaurida. Quem está na liderança política da cidade também vai, geralmente leva o dinheiro arrecadado também. As empresas levam os lucros grandes; a má política local os lucros arrecadados. O que sobra para a população local?

A movimentação do comércio irregular de ouro em 2021 chegou a R$ 2,5 bilhões. Era um prato feito para a fraude. O Brasil tem hoje 811 concessões de lavra e lavra garimpeira de ouro. No ano passado (2023, governo Lula), foram reformuladas regras de comércio e transporte de ouro, tornando obrigatória a emissão de nota fiscal eletrônica nas operações de compra e venda. Isso provocou um choque no comércio de ouro, levando a uma queda de 29% nas exportações – menos de R$ 1,4 bilhão em relação a 2022 –, num sinal de freio na legalização de ouro irregular. Antes, valia a manifestação da boa-fé do comprador, que podia se fiar na declaração de procedência do vendedor, para legalizar o metal junto ao Banco Central e chegar a joalherias e instituições financeiras em barras. Consequências? Muitas fraudes.

Enfim, é preciso acontecer uma mudança comportamental profunda do setor e da sociedade em relação à mineração. Com rastreabilidade, é possível saber a origem do ouro. As cadeias de produção precisam ser melhor auditadas, melhorar o fluxo de controle e atentar para a posição jurídica sobre o assunto. Ainda há o gigantesco desafio de implementar práticas sustentáveis que não agridam o meio ambiente. Deve haver articulação entre os órgãos fiscalizadores de diferentes instâncias sobre o licenciamento ambiental das permissões de lavra. Por fim, deve haver regras claras e rigorosas de como o ouro deve ser garimpado. A extração nas lavras a céu aberto deixa extensas e profundas cavas no solo. A movimentação de terra e rochas descaracteriza o ecossistema e colocam vidas animal, humana e vegetal em potencial risco. Um preço que só os mais vulneráveis e lesados pagam. 


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