“Sobre o episódio de racismo
ocorrido na escola Vera Cruz com a filha da atriz Samara Felippo”.
Foi se o tempo do
ensino remoto e da gestão virtual das escolas, felizmente. Com a retomada do
presencial pós-pandemia, a escola, mais do que nunca, deve retomar suas
atividades coletivas complementares.
É no debate sério e
profundo no coletivo escolar que se constroem políticas de gestão
administrativa e pedagógica de qualidade, fortalecendo a instituição escola através
de regulamentações imparciais e pouco influenciadas pelas guerras culturais,
causadoras de ressentimentos e ódios. Afinal, questão
séria e profunda não pode mais ser reduzida a redes sociais. Quando o debate
cede lugar ao “Fla-Flu” das redes sociais sobre expulsão, por exemplo, se
compromete o acolhimento, a identificação dos responsáveis e a chamada para assumir
responsabilidades.
Outro ponto importante
é a comunicação com as famílias. A expulsão é a sanção mais extrema que pode
ser adotada pela escola e é uma opção quando deixamos de acreditar na
possibilidade de transformação dos sujeitos envolvidos ou na possibilidade de
cura da vítima diante da maneira como a ação sofrida a atingiu.
Então, como a
escola tem lidado com o assédio e as críticas? Qual é a política antirracista
da escola? 1) a dor da vítima é nossa também; 2) a dor da
mãe/família é nossa também; 3) lamentamos a exposição pública do caso,
inclusive envolvendo menores; 4) proteger e envolver, não expor; 5) não reduzir
o trabalho sério a um “Flá-Flu” das redes sociais; 6) a escola precisa ter uma
política humanística (porque aí não precisará ter uma política específica para
cada problema – antirracista, antixenófoba, antihomofóbica, antimachista, etc.).
Aliás, e ingênua a suposição de que uma escola que se propõe a um programa de
educação antirracista estará automaticamente livre do racismo, ao contrário,
torna-se ambiente onde as manifestações racistas podem ser nomeadas e não
silenciadas, onde os agredidos encontram espaço de proteção e, o que é mais
importante, de autoafirmação racial.
Não é assistindo a
palestras que se dá o letramento racial da comunidade escolar, mas, sim, com
cada um se defrontando com seu próprio racismo, quando a instituição diminui o
racismo institucional e aumenta a convivência inter-racial. O caminho é se
autoquestionar em relação aos nossos valores. Não é uma simples questão de
opinião. Pessoas, coletivos, escolas e instituições precisam sair mais
fortalecidos desses dolorosos processos. Um dos sinais disso é quando ocorrem
organizações autônomas para discutir coletivamente essas situações.
Algumas
dicas:
·
Rediscutir práticas pedagógicas e novas
abordagens;
·
O projeto pedagógico tem que ser geral,
com caráter humanístico, sem partidarizar um tipo específico de preconceito,
mas as discriminação de um modo geral no ambiente escolar;
·
Quando pensamos em seres delicados, como
crianças e adolescentes, punições mais rígidas tendem a não ser eficazes no
aspecto educativo. A punição não vai resolver o problema. Vai ser uma
experiência duplamente traumática para as meninas brancas e as pessoas negras.
A expulsão da escola pode sinalizar a todos que isso não é permitido, que é
muito grave, mas a função educativa da escola tem de se pautar por conscientização e
reparação;
·
A primeira coisa é escuta e acolhimento,
sem ter a dor minimizada. Não se pode passar pano ou perguntar o que ela fez
para aquilo acontecer (tentativa de culpar ainda mais a vítima). “Se pensar que
a lei antirracista é agir contra o racismo estrutural, um encaminhamento
adequado seria a punição legal dos pais e da escola. Racismo não é escolha
individual”;
·
Entrar em contato com o que nossos
alunos já são capazes de dizer e de pensar sobre isso. “Quando você começa a
trabalhar desigualdades, se não tiver um bom trabalho com conflitos, as tensões
da violência que era naturalizada passam a não ser mais. Todos estão mais
atentos. No final das contas, tem de defender as escolas nesse fortalecimento;
e não atacá-las”.
·
Não adianta a escola só ficar fazendo
palestra. São necessárias atividades duradouras, como leitura de livros de
histórias sobre princesas negras (resenha sobre livros ou pesquisas sobre
brinquedos, formação de professores). Isto é, fazer uma ação rotineira por
certo tempo na escola, com atuação mais sistêmica.
· A verdade é que não dá para você tirar de uma vez todos os racistas das instituições. Logo, é preciso focar o trabalho de construção de políticas de equidade porque a dificuldade de a alguém vítima conviver com agressores e persistente. Vai ser difícil, porque se vive todo dia. Mas, essa convivência é importante. É um trabalho desafiador de construção de políticas de equidade.
Enfim, é preciso ser
solidários com as dores de todos.
Racismo nas
escolas é desafio para pais e educadores. Como lidar com o problema?
O racismo é em geral
invisível quando as vítimas são negros pobres da periferia. Crianças e jovens
são alvos frequentes de humilhação hedionda em razão de cor da pele, religião,
características físicas ou intelectuais. Não se pode esquecer que a legislação
brasileira pune esses atos como crimes e que, perante a lei, os pais são
responsáveis pelo que seus filhos fazem.
Educadores não têm o
poder de manter o racismo, a intolerância religiosa e outros preconceitos fora
das instituições de ensino. Porém, a pior das decisões é tentar apenas agradar
ao tribunal das redes sociais ou dos grupos de mensagens quando o horror vem à
tona. Assim, é possível:
1.
Fazer um trabalho contínuo de prevenção;
2.
Criar canais de denúncia eficientes;
3.
Acolher e cuidar das vítimas e de suas
famílias;
4.
Identificar jovens agressores e tomar
medidas corretivas;
5.
O ato não pode ser tratado com leveza;
6.
Transformar os agressores em cidadãos
incapazes de cometer o mesmo crime.
Enfim, tudo isso sem
atropelo. Lembra que a escola é um ambiente que quer formar cidadãos.
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