A ideia da extrema direita não é destruir a crítica, mas se apropriar dela. A reversão do que a esquerda tem de melhor é a sua pior arma. Estamos submetidos a um teste de reversão. Uma disputa política irresponsável que só favorece o autoritarismo ou enfraquece a democracia.
A munição da direita é o caos. Seu combustível é mais gasolina na fogueira. Afinal, o propósito é exterminar os mais fracos, portanto, quanto pior melhor.
No país, está em curso um esforço orquestrado para minar a confiança no Estado brasileiro. As armas da direita estão mirando na confiança da população nas capacidades de resposta do Estado e contra liberdades funadamentais, o que implica enfraquecer a democracia.
A máxima política aqui é: “guerras e catástrofes unificam o país”. O caos é provocado sob o discurso de união da nação em torno de uma liderança de poder extremada, mas antes explorada e reforçada por uma polarização insana. Na pandemia, o Brasil não se uniu, mas se dividiu, de maneira ainda mais aflitiva que em tempos de normalidade. Agora, com a tragédia no Rio Grande do Sul, perdemos outra vez a oportunidade de nos unir e dar as mãos em solidariedade.
Numa nação polarizada, todo fato explorado politicamente é desastroso. Imagine se esse fato já seja uma catástrofe ou tragédia. Enquanto meio milhão de gaúchos atingidos pelas enchentes teve de abandonar suas casas, uma enxurrada de publicações e mensagens no meio digital passou a atacar o governo e entidades governamentais – o discurso antigoverno. Vejamos em síntese:
·
“Não
só não se empenham em ajudar a população, como criam obstáculos”;
·
“Exigir
licenças de quem queria ajudar com lanchas, barcos e jet-skis ou notas fiscais
de caminhões e carros que levam doações”;
· Minar a confiança da população em doadores, no trabalho de bombeiros, policiais militares e do Exército;
Uma lenda urbana
prosperou durante a pandemia de Covid-19: superada a emergência sanitária, nos
tornaríamos pessoas melhores. A tragédia global teria o “lado bom” de turbinar
a solidariedade. O isolamento social nos faria redescobrir a vida como a arte
do encontro. Passado o flagelo, caídas as máscaras, haveria mais abraços, e
ninguém soltaria a mão de ninguém. Balela! A calamidade no Rio Grande do Sul
mostra que continuamos como dantes, uns contra os outros, enquanto a enxurrada
passa, arrastando vidas, histórias, História. Na disputa pelo poder, questões
de raça e gênero não só ficam em segundo plano como são a própria munição do
Mercado. Esse Mercado não deseja outra coisa senão a eterna briga entre Estado
mínimo e Estado paternalista – relegando sempre o Estado eficiente. Foi um
Concurso Unificado que foi cancelado! Perdeu o Estado. Perdeu a Democracia.
Perderam vidas! Perdeu a economia popular. Não basta o “racismo ambiental” causar
catástrofes em regiões de população majoritariamente preta e parda; os próprios
governos neoliberais pouco se importam com suas vítimas, sejam elas de
ascendência europeia ou o que for. Todos viram munição nas mãos do mercado
depredador. Um Mercado com tendência fascista.
Parece que o novo normal são os megadesastres naturais. E não bastará reconstruir o que se perdeu. Haverá que fazê-lo em novas bases. E aí o Mercado gosta!
Enfim, a mídia tradicional não só criou
e organizou o bolsonarismo, como também o legitimou/naturalizou. Era para ter
cortado o mal pela raiz, mas Bolsonaro continua solto. Agora, lidar com isso de
maneira equilibrada num momento de emergência humanitária e forte polarização
política é um desafio enorme.
Nenhum comentário:
Postar um comentário