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“[...] acho que todo conhecimento deveria estar em uma zona de livre comércio. Seu conhecimento, meu conhecimento, o conhecimento de todo o mundo deveria ser aproveitado. Acho que as pessoas que se recusam a usar o conhecimento de outras pessoas estão cometendo um grande erro. Os que se recusam a partilhar seu conhecimento com outras pessoas estão cometendo um erro ainda maior, porque nós necessitamos disso tudo. Não tenho nenhum problema acerca das ideias que obtive de outras pessoas. Se eu acho que são úteis, eu as vou movendo cuidadosamente e as adoto como minhas” ("O caminho se faz caminhando - conversas sobre educação e mudança social", Paulo Freire e Myles Horton: p. 219).

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sexta-feira, 8 de março de 2024

Aborto e feminicídios.

 

França aprova o direito de mulheres interromperem a gravidez (vai pro texto constitucional). A inscrição na Carta Magna, inédita no planeta, sedimenta a garantia (não mais haverá risco de flutuar ao sabor de governos, ventos ideológicos, arroubos morais, convicções religiosas). A mudança foi aprovada por ativistas, organizações feministas, profissionais de saúde, estudantes, polícias, gente comum... A decisão foi interpretada como reafirmação do Estado laico. Também foi uma içada contraofensiva a um ambiente global crescentemente conservador, que avança sobre direitos sexuais e reprodutivos de mulheres (a começar pelos EUA, onde a Suprema Corte reviu, em 2022, decisão que garantia o direito ao aborto havia 49 anos, com a profundidade de um pires e a cegueira do fanatismo religioso). 

No Brasil, o ambiente é igualmente de retrocesso, resultado de um Congresso Nacional, a cada pleito, mais conservador, barulhento, numeroso e empenhado em impregnar com moral religiosa os direitos civis. A legislação que autoriza o aborto em casos de estupro e risco de vida para a gestante – mais tarde, o STF adicionou a interrupção em caso de feto anencéfalo – é de 1940. Fora isso, uma mulher que aborta está sujeita pelo Código Penal a prisão por até 3 anos (por ano, 400 brasileiras são denunciadas por interrupção de gestação). Isso é inconstitucional por comprometer a dignidade da pessoa humana, a cidadania das mulheres, o direito à saúde e à integridade física e psicológica! A medida também afeta desproporcionalmente mulheres pretas, pobres, indígenas, de baixa escolaridade, moradoras de áreas remotas. 

Talvez por princípios não se aprova nem se interrompe uma gestação, mas, e por razões socioeconômicas, familiares, de saúde, particulares? O que está em jogo é dar a mulher o direito a decidir sobre o próprio corpo, algo que jamais foi negado aos homens. É oferecer políticas públicas de educação sexual, acesso a contraceptivos e, se necessário, a interrupção gestacional segura, que não tire a vida nem adoeça meninas, jovens, adultas. 

Enfim, o fato é: aos 40 anos, 1 em cada 7 mulheres brasileiras já abortou, a esmagadora maioria por meios clandestinos. Com ou sem permissão legal. Ao STF caberá decidir – sabe-se lá quando – se uma mulher que interrompe a gestação deve ou não ir para a cadeia. No mundo político, há convicção de que, se o Congresso for provocado, virão proibição total e criminalização absoluta.


Nota de Pesar:Mulheres sofrem algum tipo de violação, de agressão verbal a tortura, de cárcere privado a estupro, de agressão física a assassinato. Desde a entrada em vigor da Lei nº 13.104/2015 torna o feminicídio um homicídio qualificado e o coloca na lista de crimes hediondos, com penas mais altas, de 12 a 30 anos. É considerado feminicídio quando o assassinato envolve violência doméstica e familiar, menosprezo ou discriminação à condição de mulher da vítima.

Conclusões:

·       No país como um todo, as mulheres eram só 12% dos prefeitos eleitos em 2020, e 16% dos vereadores;

·       Os dados evidenciam o tamanho da sub-representação das mulheres na política (devido a menor disposição delas para a competição, devido a fatores culturais, a visão tendenciosa de parte do eleitorado em relação às mulheres e o viés contrário a elas por líderes partidários). Os partidos, fechados a pessoas fora do círculo de poder, ainda são um importante empecilho para uma maior equidade de gênero na política;

·       Alguns estudos apontam a tendência de mulheres apoiarem mais a esquerda;

·       A insistência em Michelle Bolsonaro é estratégica. Seu discurso no último ato na Paulista pode ter sido um chamado importante para mobilizar candidaturas da direita conservadora, nos dois gêneros (contra o aborto, a igualdade de gênero e antifeminista);

·       É um problema, pois, quanto mais segmentos populacionais estiverem representados, mais robusta é uma democracia;

·       O eleitorado feminino é maioria em 2 de cada 3 municípios;

·       O maior eleitorado feminino não significa necessariamente uma disposição maior em votar em mulheres. Fatores estruturais também pesam nesse resultado, como a quantidade menor de candidaturas de mulheres e com menos apoios e verbas nos partidos;

·        Há evidências de que a representação política feminina melhora a oferta de serviços públicos de educação e de saúde nos países em desenvolvimento e também nos desenvolvidos induz políticas específicas como as de cuidado infantil, além de reduzir corrupção (no caso da saúde e da educação, entre as razões para isso, estão a preferência das mulheres por políticas distributivas e a maior preocupação em média com o bem-estar das crianças, documentadas em outros trabalhos, e o fato de elas serem as principais responsáveis por atividades de cuidado).

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