· A economia criativa tem, junto à indústria da transição energética, um dos maiores potenciais de
crescimento econômico e ganho de estatura global no Brasil hoje. Resgatar o
reconhecimento internacional que o Brasil já teve na música, graças a
movimentos como a Bossa Nova e a MPB, e explorar cada vez mais o potencial
econômico de eventos culturais – não só o carnaval, mas o São-João do Nordeste
ou as festas do Boi, com suas diferenças regionais – não deveria ser reduzido a
um debate pobre e infantil entre o que é de direita ou de esquerda, mas tratado
como projeto estratégico de promoção social e construção educacional e cívica. O tema da economia
criativa e da cultura, como veículos para a redução das múltiplas desigualdades que castigam o
Brasil, tem de ser central nessa eleição municipal. O restabelecimento
de políticas culturais pelo governo federal e o fim de uma plataforma voltada
para marginalizar e até criminalizar produtores culturais, artistas e empresários
do setor certamente foram das mais relevantes.
· A
carne existe
com a dura realidade do mundo. Mas o pecado ou o abuso da carne têm seu começo
depois da descoberta e manejo do fogo. Junte carne e fogo, e você tem muito
mais que um churrasco. Você tem o gosto, o sabor, a gula, a fome, o deleite do
comer e do englobar. O gozo de ser canibalizado pela carne cozida que nos torna
humanos e, eventualmente, humanos com o direito ao deleite de gozar com nossa carne. Enfim, ainda estamos no campo
delimitado pelas regras que separam a necessidade do exagero.
· Complacência é um péssimo sinal de acomodação com o ruim.
· Carnaval:
cidade e cidadão (in)felizes. Na festa, tudo é alegria, prazer e liberação de
tensões. Válidos, mas, pelos excessos, esconde uma dura realidade: é um rápido
cancelamento/adiamento, um momentâneo alívio. Dores são aplacadas, lamentos são
adiados e perdas são esquecidas. Tudo é deixado de lado, menos as dores da
alma. Estas só serão dissolvidas quando se encontra o sentido e o significado
existencial, pois os problemas internos só são resolvidos com trabalho e
comedimento. Carnaval é um momento de
prazer que fala mais alto que a realidade. O uso contínuo de entorpecente para
suspender as amarras do passado dolorido e do presente incompleto. A cidade
densamente povoada e colorida também sofre dessa suspensão momentânea, pois,
passada a folia, segurança, saúde e educação continuam precárias – equipamentos
e serviços públicos continuam os mesmos (segurança reduzida, carência de
profissionais e condições de saúde, restrições de mobilidade, vandalismo nas
ruas, redução do período escolar). Após a festa, cata-se o lixo, desfaz-se o
circo e volta-se à rotina (até com outras dores, prejuízos, decepções e
frustrações). Carnaval é alegria e leveza, um anestésico que promete apenas
suspender a dor, logo não serve para mudanças profundas, nem na cidade nem no
cidadão. Afinal, não há desenvolvimento pessoal sem sacrifício nem
transformação social sem esforço, os caminhos mais reais para erradicar
problemas. Enfim, que tenhamos festa, mas não nos enganemos quanto às nossas
feridas interiores que carecem do devido cuidado. Viver exige renovação
constante, renascimento a cada fase existencial e ascensão em busca de si
mesmo.
· Carnaval e vulnerabilidade social. Apesar de o carnaval movimentar R$ 9 bilhões, há uma economia invisível. É aquela impulsionada pelos catadores, que costumam receber valores irrisórios vasculhando em busca de latas, plástico e papéis. O tamanho do desafio é imenso: 32 milhões de pessoas passam fome no Brasil, o equivalente a 412 mil ônibus lotados, e aproximadamente 1 milhão de catadores.
· Estado a serviço de grupos. Existe no Brasil uma grande confusão entre os conceitos de Estado e governo. Resumidamente, podemos dizer que o Estado abrange toda a sociedade política e é algo duradouro, enquanto o governo é apenas uma das instituições que o compõem – as outras são o Legislativo e o Judiciário. O governo administra apenas o Poder Executivo, e por um curto período de 4 anos, após o qual há eleições. O Estado não pode nem deve servir a nenhum grupo político, porque permeia tudo, sendo soberano, impessoal, estável e permanente. Infelizmente, no Brasil, o Estado tem sido capturado por grupos políticos por meio da figura dos cargos de confiança. A cada 4 anos, o Brasil troca completamente sua equipe dirigente nas várias instâncias do Poder Executivo, no âmbito dos governos federal, estaduais e municipais. A cada nova eleição, se o vencedor for da oposição, tudo o que o antecessor fez poderá ser jogado fora e, certamente, a roda será reinventada. Não é por outra razão que existem no país cerca de 1 milhão ocupando cargos de confiança (IBGE). Entre estes, apenas em Brasília residem 30 mil. O gasto total com os ocupantes de cargos de confiança beira os R$ 200 bilhões!
· Funcionário público. O grande problema não é nem o número de funcionários nem o valor gasto, mas que, a rigor, todo funcionário público deveria trabalhar para o Estado, nunca para atender um governante específico, menos ainda um partido político. Há uma captura do Estado. No entanto, nas discussões que hoje ocorrem, mesmo no Congresso, fala-se muito em aspectos ligados ao funcionalismo público, salários, quantidade de funcionários, estabilidade, métodos novos de avaliação de desempenho, formas para conseguir aumentar a produtividade da máquina pública etc. Tudo muito importante, mas nada é novo, e deve-se tomar cuidado para que, nas discussões, não se fuja do que é preciso fazer com os cargos de confiança, estes, sim, o fulcro daquilo que deveria ser a reforma administrativa: acabar com eles e fazer com que todo servidor público trabalhe para o bem do Estado, e não simplesmente para o governante daquele momento. Para que tenhamos um setor público moderno, precisamos exigir que os trabalhadores tenham sido aprovados em concurso e façam parte do quadro de carreira, seja do ministério ou da secretaria. O Brasil tem hoje 11 milhões de funcionários públicos. Não dá para acreditar que seja impossível encontrar os nomes necessários dentro desse enorme contingente. Quando chegar esse dia, provavelmente teremos o tão necessário plano de longo prazo e a estratégia de futuro para o país. Não temos nada disso, pois o horizonte hoje nunca ultrapassa 4 anos.
· Mudanças
climáticas vêm
servindo de muleta para tudo, em vez de motor para transformações. É o
conformismo devorando a crítica e a ação. Nossa mania de usar a realidade para
se justificar, tão só.
· Manguezal. Um hectare de
mangue captura cerca de 6 x mais carbono que uma floresta de igual tamanho na terra
firme da Amazônia. Essa toada verde não para e desafia a dinâmica da metrópole,
voraz consumidora de matéria-prima e predadora de territórios verdes.
· Poder
paralelo. A
perda de controle de vastas áreas do território das cidades para milicianos e
traficantes coloca políticos que têm nessas áreas suas bases eleitorais diante
de uma questão: como lidar com quadrilhas que exercem um poder que caberia ao
Estado? Ignorá-las não é uma alternativa. Infelizmente, é comum na política
carioca e fluminense haver algum tipo de acordo com o crime organizado. Só isso
coloca qualquer político no perigoso terreno da omissão e da conivência.
· Populismo. Um recorte da democracia e seus políticos são as construções de redutos eleitoreiros. Geralmente o político fica ligadinho ao governo no poder para obter os favores e benesses que movem sua máquina assistencialista de votos. E há aproximação até com milicianos.
· “A tentativa de golpe na estabilidade democrática do país, deve ser punida exemplarmente. Doa a quem doer” (João Doria).
· Arthur Lira deixou claro ao governo que, caso os 3 projetos de lei para a regulamentação da reforma tributária não cheguem ao Congresso até o fim de março, os textos dificilmente serão analisados ainda neste ano. Enfim, Haddad fazendo força-tarefa para atender o prazo.
· Regulamentar
as redes sociais e combater o populismo digital extremista. A regulamentação
do funcionamento das redes sociais e das empresas do setor, chamadas “big techs”
(pelas regras de transparência!). É preciso fazer avançar a matéria paralisada
do “PL das Fake News (PL 2.630/2020): restrição a contas falsas, disparos de
mensagens em massa por meio de robôs, exclusão de conteúdos racistas que violem
direitos de crianças e adolescentes, punição a criadores de conteúdos falsos,
atribui responsabilidades às big techs, que deverão adotar práticas de
transparência e de combate à violência em suas plataformas. Garante a liberdade
de expressão, mas coíbe abusos ao implementar obrigações de dever e cuidado.
Defende os direitos individuais e coletivos, a democracia e o Estado de
Direito. O exercício da Democracia demanda regulamentação, já que há negócios
sujos que fazem circular desinformação e discursos de ódio.
· O que vão fazer com a Covid-19? Varrer esta doença grave para debaixo do tapete? Acabou a recomendação de isolamento de 10 ou 5 dias ou é para ir ao trabalho com os sintomas? As autoridades de saúde pública já desistiram em definitivo do uso de máscaras, dos testes e do isolamento? As autoridades de saúde pública deveriam tratar a Covid de forma diferente de outros vírus respiratórios porque é mais mortal que a gripe e aumenta o risco de desenvolver complicações a longo prazo. Afinal, embora já se tenha disponíveis vacinas e tratamentos eficazes, o coronavírus continuará causando doenças graves, sobretudo aos mais vulneráveis (trabalhadores com comorbidades e que lidam com o público, como as escolas). Nos EUA, as infecções sintomáticas e assintomáticas permanecem elevadas, com cerca de 20 mil internações e 2.300 mortes por semana.
· Prisão eminente de Bolsonaro. Os bolsonaristas não veem um prejuízo para o PL nas eleições municipais de outubro. O plano inclui reforçar para o eleitorado do país que o partido e a direita são perseguidos. A sigla tem a meta ambiciosa de eleger prefeitos em ao menos 1.500 cidades. Em 2023, o PL tinha 371 prefeituras. O desafio do partido será levar o discurso ideológico ao interior do Brasil durante a disputa municipal como uma bandeira das cidades, onde as preocupações da população tendem a ser mais com saúde, educação e infraestrutura, por exemplo, e menos com o comando federal. Na prática, o número de chapas puras do PL disputando as eleições de outubro tende a aumentar.
· Deslocamento forçado de palestinos (início do conflito de Israel: 7 de outubro de 2023). Até o momento, a ONU estima em mais de 1,8 milhão o número de deslocados internos.
· Globo ironiza influenciadores x jornalistas. Para a cobertura de 2024, a TV Globo realizou uma significativa mudança na equipe de profissionais responsáveis pela transmissão dos desfiles de escolas de samba dos grupos especiais de SP e RJ. Os jornalistas foram substituídos por influenciadores e atores. O resultado tem causado a ira dos telespectadores nas redes sociais, que não conseguem acompanhar pela TV os detalhes dos desfiles com os antigos comentários precisos de quem entendia do assunto.
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