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“[...] acho que todo conhecimento deveria estar em uma zona de livre comércio. Seu conhecimento, meu conhecimento, o conhecimento de todo o mundo deveria ser aproveitado. Acho que as pessoas que se recusam a usar o conhecimento de outras pessoas estão cometendo um grande erro. Os que se recusam a partilhar seu conhecimento com outras pessoas estão cometendo um erro ainda maior, porque nós necessitamos disso tudo. Não tenho nenhum problema acerca das ideias que obtive de outras pessoas. Se eu acho que são úteis, eu as vou movendo cuidadosamente e as adoto como minhas” ("O caminho se faz caminhando - conversas sobre educação e mudança social", Paulo Freire e Myles Horton: p. 219).

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terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

Balanço do Carnaval 2024 – Bahia.

Tema da festa: “Capital Afro”.

Refutar e Macetar!

O carnaval de Salvador voltou às suas origens, com públicos diferentes, mas igualmente apaixonados pela diversidade musical e cultural. Nossa energia ancestral voltou vermelhinha. Uma folia democrática que promete devolver o carnaval para aqueles que mais o merecem de direito – o povo!

Ivete Sangalo, dona do hit do ano em conjunto com Ludmilla, recebendo em seu trio Baby do Brasil, que já foi Consuelo, travando o diálogo-síntese não só do Carnaval de 2024, mas do momento atual do Brasil. 

O fato de o carnaval ser o sucesso que é, em diversas manifestações – só o carnaval de rua tem configurações absolutamente próprias como o daqui da Bahia –, a despeito da crônica desorganização, desses debates políticos de quinta categoria e da infiltração da contravenção e do crime justamente onde o poder público falha, mostra o quanto o país poderia alavancar seu desenvolvimento se desse a essa e outras expressões da brasilidade o caráter de uma prioridade, e não de um feriado a mais no calendário. 

A volta do carnaval verdadeiro está diretamente associada a três grandes movimentos que este ano completam uma década: 1. O Furdunço (aquecimento da folia, idealizado para fazer com que os turistas chegassem mais cedo a Salvador e garantir a permanência de soteropolitanos na cidade, ficando imune às pressões da indústria); 2. Navio Pirata da BaianaSystem (arrastar multidões e promover a redemocratização do carnaval e uma chama de resistência: raiz, democrático e libertador).

13 dias corridos de muita diversão!!! Tem que ter fôlego, disposição, saúde e dinheiro para aguentar a maratona de festas soteropolitanas. Elas começaram com a Lavagem do Bonfim (em janeiro). O feriado de Carnaval é celebrado hoje, dia 13/02. Amanhã, Quarta-feira de Cinzas terá o tradicional arrastão (na Barra-Ondina, puxado por: Carlinhos Brown, Ilê Aiyê, Olodum e Bell Marques). E agora ainda terá a primeira edição do 3. VIVA VERÃO: festival gratuito que começará nesta sexta e seguirá até o dia 24, na Praça Cairu, no Comércio. Será 18 atrações locais e nacionais, e tem como objetivo reter os turistas que visitam a cidade, assim como atrair aqueles que querem conhecer a primeira capital do país.  

Salvador foi apontada como o destino turístico mais desejado do Brasil para 2024, com uma média de interesse de 7.1 numa escala de 0 a 10 (pesquisa Ministério do Turismo), com folia tranquila e sem grandes contratempos do ponto de vista da segurança pública e também do ponto de vista de estrutura. Segue tudo sob controle!

Carnaval baiano: 1. Artistas famosos solo nos circuitos em seus trios elétricos: Ivete Sangalo, Daniela Mercury, Claudia Leitte, Margareth Menezes, Bell Marques, Durval Lelys, Léo Santana, Xanddy Harmonia, Carlinhos Brouwn e Luiz Caldas são alguns dos nomes. 2. Blocos-afro de representação de resistência e cultura negra: Olodum, Filhos de Gandhy, Ilê Aiyê. 3. Bandas: Armandinho, Dodô, Osmar, Banda Eva, Cheiro de Amor, Psirico, É o Tchan, Timbalada, BaianaSystem. Enfim, a capital afro. Nossa energia é ancestral! O carnaval deve ser assim: nada de caretice, nada de freio, nada de pensar duas vezes, afinal só se vive uma. Tem coisas que não têm a menor lógica, ainda mais por estes dias de carnaval. 

Pontos críticos:

·       Carnaval e vulnerabilidade social. Apesar de o carnaval movimentar R$ 9 bilhões, há uma economia invisível. É aquela impulsionada pelos catadores, que costumam receber valores irrisórios vasculhando em busca de latas, plástico e papéis. O tamanho do desafio é imenso: 32 milhões de pessoas passam fome no Brasil, o equivalente a 412 mil ônibus lotados, e aproximadamente 1 milhão de catadores. Enfim, muitos se divertindo, outros trabalhando de fio a pavio na luta pelas latinhas. Alguns empregos bem questionáveis, por submeter homens e mulheres a jornadas longas e quase desumanas.

·       Poucos viram suas fortunas aumentando, com a venda de abadás, camarotes, blocos, patrocínio comercial, shows e imagens na rede social.

·       Quando a festa terminar, as contas começam a chegar para os menos aquinhoados: anuidade escolar, IPTU, IPVA, cartões com limites estourados, cheque especial vermelhão, etc.

·       O carnaval também deu uma acalmada nas investigações sobre a tentativa frustrada da direita ensandecida em dar um golpe nas eleições de 2022, ferindo todas as regras democráticas.

·       Precisamos resgatar a alegria original do nosso carnaval e do nosso futebol. Nos últimos anos, a violência tomou a paz de nossas manifestações culturais mais genuínas. Não vejo por que não ver novamente a paz no futebol. Darmos um exemplo para o mundo. O baiano que faz o melhor Carnaval do mundo também é capaz de ir ao estádio ver seu maior clássico em paz!

·       Tradição: público aprova o aumento das atrações/trios sem corda e segue artistas que fizeram história. Em defesa de trios pequenos e da pipoca!!! Eis o carnaval real, original e democrático.

·       Visão conservadora do carnaval: “Influenciadores” ou políticos bolsonaristas tentam classificar o carnaval como festa promíscua, destinada à destruição dos valores religiosos e familiares. Faz mais ou menos assim: a festa carnavalesca é chula, desprovida da verdadeira alegria da alma, tudo fragmenta e deturpa! A esfuziante alegria coletiva é a farsa universal, onde o sexo é mecânico, como um sazonal gosto passageiro, que ao invés de preencher, esvazia a alma, de maneira tão profunda, que as sequelas oriundas das iniquidades ficam indeléveis, como tatuagens, no sofrido espírito devassado! O corpo, esse coitado... Como um sacrário desrespeitado, se transforma num poço pútrido, de ejaculações, sem amor nem critérios, da esbórnia enlouquecida e desvairada, adeptos do gozo passageiro, daí... Floresce o sofrimento, advindo da irresponsabilidade coletiva, dessa tal de liberdade, que a libertinagem alardeia, como felicidade! O corpo nu, sagrado e receptáculo da vida é maculado e se torna promíscuo. Carnaval já foi uma festa de alegrias... Hoje é uma desmedida patifaria instituída, onde as frustrações campeiam, como se assim fossem, um esgoto, de regurgitações a céu aberto! Infelizmente!

·       Os trios atualmente são imensos e estão ligados totalmente ao desenvolvimento tecnológico, mas isso também tem afastado os artistas do seu público. Mais do que se divertir e dançar, a festa sem equipamentos imensos ou cordas mostra melhor o que o Carnaval nasceu para ser: o contato com o público, com transmissão de emoção.

·       O carnaval de Salvador vinha grande, mas enfraquecido. Esse enfraquecimento fica na conta da profissionalização da folia a qualquer custo. Das grandes marcas que, sem pedir licença, se apossaram de espaços que não eram delas. Que em vez de aproximar, criaram um abismo, excluindo e afastando da festa quem mais merecia estar lá: o povo. Parte disso, graças ao loteamento ao qual as ruas de Salvador foram submetidas, com camarotes luxuosos e megas estruturas que remetem a qualquer coisa, menos às origens do carnaval. É preciso devolver o carnaval aos baianos e aos turistas! Artistas que só tocavam dentro de excludentes cordas acordaram e voltaram seus olhares novamente para a massa.

·       A folia está de novo nas mãos do povo! O Carnaval é a maior festa popular do planeta e umas das mais importantes manifestações culturais brasileiras. Turbina a alegria, impulsiona o turismo, gera renda e empregos.

·       Letras abordando questões sociais e reforçando mensagens. Repertório consciente: “Justiça é cega”. “Lucro é máquina de louco”. “Especulação imobiliária” e ganância na cidade. O direito de ir e vir, não construir prédios nas costas. Arrastar o proletariado...  


Bloco Mudança do Garcia.

“Carnaval sem mudança não é Carnaval. Aqui temos um ponto de encontro importante, onde as pessoas fantasiadas levam a mensagem de protesto e reivindicações”.

O “Mudança do Garcia” tem o primeiro registro conhecido, datado de 1926. A história oficial diz que começou como um movimento de ex-policiais dedicados a limpar as ruas do Garcia. Com o passar dos anos, o bloco evoluiu para além de sua função inicial, tornando-se um espaço sem cordas onde a comunidade pode expressar livremente suas preocupações sociais, políticas e culturais.

O bloco foi se consolidando como espaço que é, principalmente, na época da ditadura militar, onde não havia a liberdade de expressão e era a forma de, principalmente, movimentos sociais do partido de esquerda colocarem suas opiniões na sociedade, seja por faixa, cartazes ou alegorias e isso foi ao longo do tempo, se consolidando como um circuito alternativo.

O bloco é conhecido por fazer críticas políticas. Atrevimento, músicas e movimentos culturais. Mas, não só: manifestações e críticas, reclamações sobre temas diversos, fantasias e muita animação... Protestos irreverentes que fazem a mudança! Placas com piadas de cunho político. Assim, além de um festejo para o corpo e para os sentidos, o Carnaval no Garcia se mostra um festa para espírito crítico. A importância de dar visibilidade a questões cruciais durante o desfile, expor a dificuldade e a politicagem errada, as coisas erradas.

Irreverência e reivindicações sérias. Lembrando que, quem faz crítica passa de pedra a vidraça, também recebendo o teor dos protestos, porque é do jogo democrático.

Enfim, essa e outras lutas.

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