Mais justiça, menos desigualdade...
“Se 2022 foi o ano da incerteza, 2023 é o ano da desigualdade. Como em outras crises, quem mais sofre é quem menos pode”.
Por que os meios de comunicação mostram deslumbramento por personalidades de êxito financeiro excepcional? Bilionários como Elon Musk (US$ 204,5 bilhões de fortuna, dono da Tesla, SpaceX e X, antigo Twiter), Bernard Arnault e família (US$ 207,8 bilhões, donos da LVMH) ou Jeff Bezos (US$ 181,5 bilhões, fundador da Amazon) vivem despertando encanto sobre gente comum...
O contraste de renda é tão abismal que, em vez de indignar pela injustiça, fascina pelas dimensões, como se o mundo estivesse coberto de maravilhas. Ou, o que pode ser pior nos tempos que correm, demonstram o interesse dos meios eletrônicos de informação em atender a uma demanda crescente, e talvez algo mórbida, por irrelevâncias ou banalidades. Buscam-se “likes”, em detrimento da informação de qualidade, que ajuda a formar a cidadania.
Os 5 bilionários mais ricos do mundo mais que dobraram sua fortuna desde 2020, enquanto 60% da humanidade ficou mais pobre (5 bilhões de pessoas). Se o cenário geral não mudar, em 10 anos teremos o primeiro trilionário, mas só conseguiremos acabar com a pobreza em 230 anos! Hoje, cerca de 700 milhões de pessoas em todo o mundo vivem em situação de extrema pobreza, com renda inferior a US$ 2.15 (cerca de R$ 10,60) por dia. A pandemia da Covid-19 teve efeito terrível sobre a renda global, fazendo o número de muito pobres crescer quase 10% entre 2019 e 2020. A nível de Brasil, 4 dos 5 bilionários brasileiros mais ricos aumentaram em 51% sua riqueza desde 2020; ao mesmo tempo, 129 milhões de brasileiros ficaram mais pobres.
Toda essa concentração de riqueza tem um legado histórico. Mesmo com o fim formal do colonialismo, as relações neocoloniais com o Sul Global persistem, perpetuando desequilíbrios econômicos e manipulando as regras da economia em favor dos países ricos. Ou seja, grande parte da riqueza nasceu da escravidão e da expropriação sistemática dos povos indígenas. Os ricos no norte global não surgiram por acaso.
Os super-ricos do mundo criaram uma nova era de poder corporativo e monopolista que garante lucros exorbitantes e também controle sobre as economias dos países (controla salários, preços da comida, sistemas de saúde e muito mais). Essas corporações e seus bilionários alimentam as desigualdades pressionando trabalhadores, negando direitos, evitando o pagamento de impostos, privatizando o Estado ou os serviços públicos e destruindo o planeta (colapso climático).
Enfim, o poder público precisa intervir na máquina corporativa de produzir desigualdade. Um mundo mais justo e menos desigual é possível se os governos redesenharem os mercados para serem mais justos e livres do controle de bilionários. Se quebrarem monopólios, derem mais poder aos trabalhadores, tributarem as corporações e os super-ricos e, principalmente, investirem em uma nova era de bens e serviços públicos.
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