Privilégio é uma vantagem usufruída por alguém por pertencer a algum grupo social dominante. Porém, direitos negligenciados para uns se transformam privilégios para outros, e aí adentra o racismo, a exclusão social ou alguma outra forma de negação e segregação.
Nesse assunto, é mais difícil conscientizar e tornar alguém mais sensível às demandas de negros, mulheres e LGBTQIA+ do que produzir embaraço, vergonha e autoconsciência culpada. Para ilustrar, funciona mais ou menos assim:
Todos se colocam atrás de uma linha como se estivessem na largada para uma
corrida – que representa a busca pelo sucesso na nossa sociedade. Quem conduz a
dinâmica começa a orientar os participantes:
- Dê um passo atrás se seus pais não concluíram o ensino médio.
- Dê um passo à frente se você aprendeu uma língua estrangeira num curso
pago.
- Dê um passo atrás se, para estudar ou trabalhar, você se desloca por
mais de uma hora no ônibus ou metrô.
E assim por diante. Ao fim do jogo, privilegiados e oprimidos estarão separados por dezenas de passos, demonstrando as iniquidades estruturais que organizam a corrida antes da largada.
Assim, o discurso do privilégio se propõe a superar as iniquidades sociais, mas é muito difícil entender como colabora para isso. Afinal, fazer pessoas se sentir culpadas por não sofrer racismo ou machismo não parece ajudar muito na promoção dos direitos. Aliás, essa gramática de culpa dos movimentos mais parece uma espécie de substituto da religião, que, na prática, etá orientada a promover rituais que condenam, fazem confessar e expiar os erros.
Enfim, não ganhamos nada fazendo com que o exercício regular dos direitos
seja entendido como privilégio e vivido de maneira culpada. Precisamos,
urgentemente, isso sim, é que esse direito, hoje usufruído apenas por alguns, seja
universalizado para todos.
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