“Não existe democracia representativa forte sem partidos fortes. E não há partidos fortes sem conteúdo programático vivo e sem a permanente formação de novas lideranças”.
A falta de boas lideranças de esquerda no Brasil expressa a crise de suas formações políticas e públicas. De quem é o dever de capacitar e desenvolver essas lideranças?
Existe no Brasil uma série de entidades, bancadas com dinheiro público, que podem e devem fazer muito mais pela formação de novas lideranças políticas. São as fundações e os institutos vinculados aos partidos políticos, que, por lei, recebem ao menos 20% dos recursos do Fundo Partidário.
Segundo a legislação eleitoral, todo partido político deve ter uma fundação ou instituto de direito privado destinado ao estudo e pesquisa, à doutrinação e à educação política. Tal disposição legal expressa uma aspecto fundamental da natureza dos partidos políticos. Eles não são meras agremiações de pessoas. Devem ter um ideário e um conteúdo programático e, para tanto, precisam ser um espaço de pesquisa e foro de reflexão sobre os assuntos públicos. Mas não apenas isso. As legendas devem, como parte essencial de sua missão, formar pessoas – atrair e formar novas lideranças políticas.
Esse trabalho de reflexão, debate e formação de pessoas é fundamental para a democracia. Não basta haver Constituição e leis. Não basta ter sofisticação das estruturas burocráticas. Para que o regime democrático funcione é necessário ter pessoas bem formadas, com cultura política, com visão madura de país e de sociedade, com um olhar acurado sobre os problemas, os desafios e as oportunidades nacionais. Por isso, também em função da pluralidade que deve existir no cenário público, é natural que cada partido invista recursos na formação de seus quadros e lideranças.
No ano passado (2022), o valor total destinado às legendas por meio desse fundo foi de R$ 986 milhões. Ou seja, essas entidades receberam, só em 2022, cerca de R$ 200 milhões dos cofres públicos. O montante não seria tão expressivo se não fosse relevante para a Democracia. Ingenuidades à parte, pois se existem muitos recursos destinados a essas entidades, como eles são gastos ou investidos nessa direção de cursos e outros eventos formativos? É preciso transparência, controle e, a depender do caso, a devida responsabilidade jurídica.
Uma genuína renovação política passa necessariamente pelos partidos – e as fundações e institutos (que já existem, não precisa inventar nada) são fundamentais nesse processo. Basta agir certo e fazer o que deve ser feito, isto é, fazer acontecer.
Ora, os Sindicatos poderiam ser mantidos e fomentados com recursos públicos, tais como os partidos políticos. Por que o trabalhador precisa pagar contribuição sindical e os partidos não? Afinal, os partidos políticos são entidades privadas que devem ser mantidas por contribuições de seus associados e dos entusiastas do seu ideário. No entanto, se existe, no sistema partidário, uma destinação apta a merecer verba estatal em função de sua relevância pública, essa finalidade são as fundações e institutos de estudo, pesquisa e formação vinculados aos partidos. Entretanto, está estampada aí a crise.
Em suma, as fundações de partidos são mantidas com recursos públicos e têm a obrigação de formar suas novas lideranças políticas. Uma genuína renovação da política passa necessariamente pelas legendas. O desinteresse das pessoas em entrar de forma espontânea na vida pública e política é geral. Será que esse desinteresse é fabricado? Será que o esculacho da mídia e das redes aos líderes não é intencional?
Enfim, precisamos formar e valorizar
mais os nossos líderes de hoje e amanhã. Sobretudo, os bons! Tudo bem que os
melhores sejam forjados no fogo, na brasa e na labuta da vida engajada, calejados e lapidados pela história pessoal e
coletiva de luta. Vez ou outra surge um ali ou outro acolá, mas são raros. Não
podemos ficar à mercê do espontaneísmo histórico.
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