“Por quem morreste?” / “Pela beleza” / “Pois/Eu, foi pela verdade. Ambas são o mesmo. / Somos irmãos, os dois”.
Concurso de miss não tem mais validade. Era o tempo em que padrões estéticos se baseavam em dogmas.
Havia ali uma “receita de mulher”: ser jovem (não se confiava em miss com mais de 28 anos); nem alta nem baixa (1,70m estava de ótimo tamanho); magra (a gordofobia ainda não tinha sido inventada). Curvas, sim, mas devagar (os famosos 90cm de busto, 60cm de cintura e 90cm de quadril, nem uma polegada a mais – que dirá duas). Solteira (virgem seria pedir muito) e, de preferência, branca e ocidental.
Foi o tempo (mas ainda há tempo)! Saem de cena as princesas e entram as protagonistas que protestam, se afirmam, se engajam. O feminismo criou caso com os concursos – pela objetificação do corpo feminino, pelo tratamento. Não é simples questão estética nem fofoca de capa de revista. É significativo que regimes opressores não apenas se empenham em calar as mulheres, mas imponham véus e burcas para cassar sua beleza.
“A beleza salvará o mundo”, profetizou Dostoiévski. Ele também não falava das misses. Mas, quando cabelos soltos desafiam a teocracia dos aiatolás e uma beldade vira símbolo contra a tirania sandinista, é reconfortante imaginar que essas duas irmãs, verdade e beleza – literal ou metaforicamente – possam mesmo nos salvar.
Enfim, a questão da beleza pode ser um bom ato de resistência ao horror da
guerra. E se ela for colocada no todo, ao invés das partes, melhor ainda!
Afinal, uma das verdades da beleza é que ela está no conjunto.
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