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Ø Se eu sou um especialista, então minha especialidade é saber como não ser um especialista ou em saber como acho que especialistas devem ser utilizados. :)



“[...] acho que todo conhecimento deveria estar em uma zona de livre comércio. Seu conhecimento, meu conhecimento, o conhecimento de todo o mundo deveria ser aproveitado. Acho que as pessoas que se recusam a usar o conhecimento de outras pessoas estão cometendo um grande erro. Os que se recusam a partilhar seu conhecimento com outras pessoas estão cometendo um erro ainda maior, porque nós necessitamos disso tudo. Não tenho nenhum problema acerca das ideias que obtive de outras pessoas. Se eu acho que são úteis, eu as vou movendo cuidadosamente e as adoto como minhas” ("O caminho se faz caminhando - conversas sobre educação e mudança social", Paulo Freire e Myles Horton: p. 219).

segunda-feira, 24 de julho de 2023

Zooliteratura.

O novo lugar de fala... 

A nova tendência na literatura é animal! Bichos são narradores e protagonistas de recentes romances brasileiros.

Amo os bichos e passeio por esse lugar que não é meu como alguém que tenta aprender, mas sem utilitarismo. O convívio com os animais, tão ameaçados quanto o próprio planeta, nos permite colocar questões sobre o universo humano, dominado pela racionalidade, e sobre como o chamado progresso sempre recai em mitos.

 

A presença da bicharada na ficção só aumenta. Esses novos livros dão voz a bichos como protagonistas, mas essa característica já existia e só agora ganha mais notoriedade. De uns anos para cá, surgiram termos como zooliteratura (obras literárias sobre animais), zoopoética (estudo teórico destinado a essas obras) e ecocrítica (estudo das relações entre literatura e meio ambiente).

Desde a Antiguidade, os animais eram usados como alegorias, metáforas dos vícios e virtudes humanos. A partir dos séculos XIX e XX, vários autores abriram espaço para o protagonismo dos bichos. Olhe para “Baleia”, por exemplo, a cachorrinha de “Vidas Secas” de Graciliano Ramos, desponta com a força da inteligência contra um narrador que só enxerga a alteridade em determinadas molduras. Agora, com a catástrofe ecológica e o questionamento da soberania do humano sobre outras espécies, observamos a difusão da animalidade na literatura.

A zooliteratura não é só um pretexto para discutir questões demasiado humanas, mas também uma ferramenta de investigação das subjetividades de outras espécies. É uma troca que passa pela sensibilidade e pela imaginação. Compartilhamos experiências com os animais. Não só com os domésticos. Mesmo os animais enjaulados, que perderam sua autonomia, também são contaminados pelo contato humano. Com os animais, aprendemos até mesmo a nos reconfigurar como humanos.

Também sobre essa questão, a filosofia é rachada. René Descartes aprofundou a cisão entre humanidade e animalidade ao pregar que a razão era a faculdade suprema da existência, contribuindo para negar protagonismo literário aos animais. Mas, foi Charles Darwin que estendeu aos animais faculdades como inteligência, memória, humor, capacidade de sentir emoções complexas, de associar ideias e até autoconsciência. A partir daí, mudou o tratamento dado aos bichos, que passou a protagonizar ficções. Viva “A origem das espécies”!

Só sei que a inclusão da bicharada na literatura contribui para estimular a empatia entre as espécies. Até cientistas têm incorporado recursos literários ao escrever sobre animais. A exploração literária de alteridade animal surgiu como uma oportunidade para falar do estranhamento cotidiano vivido na pandemia.

Os bichos nos ajudam a abordar questões que afetam tanto a nós quanto a eles, como a higienização da morte e as condições de vida nos frigoríficos. Nossa sociedade camuflou a morte, inclusive a dos animais. Nossos entes queridos morrem longe de nós, os crematórios de bichos domésticos têm se multiplicado e até a carne do supermercado é embalada de modo a excluir a morte. Também não se fala sobre a dor moral e os efeitos psicológicos (inclusive nos humanos) do abate industrial de animais que são completamente objetificados, privados de um ciclo de vida saudável.

Enfim, cadê sua potência sexual? Perdeu? Vivam as obras literárias sobre animais. Viva a Zooliteratura!

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