Muitas virtudes, diversos defeitos.
A aprovação da emenda constitucional da Reforma Tributária, que ficou na agenda do país por 30 anos, deu sinal de uma pista livre para Lula governar, uma autoridade necessária. A PEC teve 382 votos, 74 acima do necessário, no 1º turno e 375, no 2º.
É natural que se pense nos R$ 5,3 bilhões de emendas parlamentares liberadas às vésperas da votação. Contudo, emendas são uma prerrogativa dos parlamentares e liberá-las é uma atribuição do Executivo. Se uma emenda manda kits de robótica superfaturados para escolas alagoanas, que essa questão seja resolvida pela PF.
A costura de um político habilidoso como Haddad e outro frio como Lira, mostrou que Haddad buscou uma coligação semelhante à que elegeu Lula no ano passado e os votos vieram – afinal, 20 deputados do PL votaram a favor da reforma. Chamados de ‘Comunistas do PL’, eles têm histórico pró-governo. Desses 20 deputados da sigla de Bolsonaro que apoiaram a Reforma Tributária, 19 votaram na Câmara a favor de iniciativas do Executivo, como o novo arcabouço fiscal e medidas provisórias do Mais Médicos e de reorganização dos ministérios.
Enfim, que venha o mesmo êxito no projeto de regulamentação das redes sociais.
Um Extra...
Medindo a correlação de forças no mundo político – quem ganha e quem perde com a aprovação da Reforma Tributária?
·
É
uma pauta que deve mudar substancialmente o regime fiscal do Brasil nos
próximos anos;
·
Ela
também teve efeitos que reconfiguraram a correlação de forças entre atores
políticos do país;
·
A
aprovação da proposta uniu partidos da base do governo Lula e até parte da
oposição, incluindo o PL do ex-presidente JB (como vimos);
·
Sobe. Um
dos maiores vencedores foi Haddad, graças seu trabalho silencioso nos
bastidores, atuando na articulação e negociação da proposta. Lula nem precisou
entrar no corpo a corpo da articulação pela proposta, pois Haddad “jogou bem”
(ele foi o vencedor de menções positivas nas redes sociais: 78% de menções
positivas contra 22% de negativas);
·
Sobe. Em
segundo lugar vem o presidente da Câmara, Arthur Lira, que concentrou seus
esforços para que a proposta fosse votada antes do recesso parlamentar e
assumiu a condução dos trabalhos como um projeto pessoal (antes de dar início à
votação, ele chegou a discursar no plenário em defesa da proposta, o que rendeu
elogios até de petistas como Haddad). Além disso, usou sua influência sobre os
partidos do Centrão para garantir uma votação com ampla margem favorável à
proposta;
·
Sobe. O
principal mentor da proposta da Reforma Tributária é o Bernardo Appy, economista
indicado por Haddad, que carrega a bandeira há anos. Desde 2007, quando
trabalhava no segundo mandato de Lula com o Ministro da Fazenda Guido Mantega,
ele elaborou um projeto que acabou naufragado no Congresso, mas que apontava a
necessidade de uma mudança no regime fiscal brasileiro. Passados 16 anos, de
volta ao governo como secretário de Reforma Tributária do ministro Haddad, ele
viu a nova proposta que vinha costurando desde 2019 ser finalmente aprovada em
Brasília. Para isso, negociou e construiu pontes com o Centro e a Direita;
·
Desce. Tarcísio
de Freitas, governador de SP, entrou numa arena perigosa ao abraçar a proposta.
O mundo bolsonarista ficou em polvorosa com a postura do ex-ministro,
principalmente com o fato de ele ter posado ao lado de Haddad em defesa da
reforma. Ele mostrou força ao ajudar a mobilizar seu partido, o Republicanos,
que apoiou de forma massiva a proposta. Esse movimento pode colocá-lo como
líder capaz de agregar o Centro e a Direita moderada. O que causou um sério
atrito, pois Bolsonaro colocou a artilharia de sua inflamada base contra o
ex-ministro;
·
Desce. Bolsonaro,
maior derrotado, alcançou o pior desempenho nas redes. Após ser condenado pelo
TSE a ficar inelegível por 8 anos, Bozo fez seu primeiro teste de força
política como líder da direita fora da corrida eleitoral ao tentar mobilizar o
PL contra a Reforma Tributária. Porém, a estratégia na funcionou e 1 em 5
deputados da bancada votou a favor do texto. Além disso, ele viu alguns de seus
principais aliados, como Lira e Tarcísio, se empenharem em aprovar o Projeto;
·
Desce. O
governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que tentou liderar um movimento de chefes
dos executivos estaduais contra a reforma, considerada “desrespeitosa” por ele.
Apesar de outros governadores também rejeitarem alguns pontos e fazerem
ressalvas à proposta, ele se posicionou de forma terminantemente contrária à
mudança nas regras. Para tentar frear a proposta, Caiado chegou a fazer apelos
à bancada de deputados goianos e aos representantes do Agronegócio no
Congresso. Porém, seus
esforços não foram suficientes, e a Frente Parlamentar do Agronegócio foi
favorável ao texto final. Junto com ele também desceu o governador de
Santa Catarina, Jorginho Mello, que saiu do silêncio para se declarar contra a
proposta, às vésperas da votação;
·
Desce. O
partido Novo, pois apesar de ter anunciado que era “institucionalmente” a favor
do projeto da Reforma, dois de seus 3 deputados votaram contra a proposta na
Câmara. Não houve consenso na bancada, e a legenda liberou o voto. Criado como
partido de viés liberal, que pretendia ser protagonista nos debates econômicos
do Brasil, o Novo acabou ficando de fora do núcleo das articulações de um dos
projetos mais importantes para o desenvolvimento do país.
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