Chega um momento em que é preciso dizer as coisas, por quem não se sinta obrigado a ceder à tagarelice “ideológica”.
Um poder burguês teria a
coragem de dizer: “Sim,
nós favoreceremos os capitalistas; sim, seremos generosos com eles em matéria
fiscal para não prejudicar os seus investimentos; mas, e daí? Vocês lucrarão
com isso”.
Um poder socialista teria a coragem de dizer: “Não, nós não viemos trazer-lhes a liberdade de informação, nem o pluralismo partidário; não, vocês praticamente não terão voz no capítulo; mas, e daí? A sua segurança cotidiana estará garantida”.
Suponhamos que a hipocrisia caia e, junto com ela, sua linguagem maligna, e algo se apresente de peito aberto, como vontades de potência não disfarçadas: por que se envergonhar?
Os homens talvez se tornassem espíritos livres. Parariam de adorar o “Poder” e passariam a exercê-lo. Não depositariam mais as suas esperanças no futuro, mas as escancarassem no presente, mais perto do Estado e longe do tirano. O poder não seria mais um escândalo ideológico, porém, única e francamente, uma questão política. Mas como esta rude franqueza poderá ser possível num mundo que foi, e continua a ser, educado pelo racionalismo grego e pelo cristianismo?
Enfim, se o homem é o lobo do próprio
homem, por isso mesmo ele precisa de um Estado para domá-lo. E é bem essa a função
boa do poder: “obter dos membros da coletividade o cumprimento de obrigações
legítimas, em nome de fins coletivos”.
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