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"Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber" (Art. 205 da Constituição de 1988).

Ø Se eu sou um especialista, então minha especialidade é saber como não ser um especialista ou em saber como acho que especialistas devem ser utilizados. :)



“[...] acho que todo conhecimento deveria estar em uma zona de livre comércio. Seu conhecimento, meu conhecimento, o conhecimento de todo o mundo deveria ser aproveitado. Acho que as pessoas que se recusam a usar o conhecimento de outras pessoas estão cometendo um grande erro. Os que se recusam a partilhar seu conhecimento com outras pessoas estão cometendo um erro ainda maior, porque nós necessitamos disso tudo. Não tenho nenhum problema acerca das ideias que obtive de outras pessoas. Se eu acho que são úteis, eu as vou movendo cuidadosamente e as adoto como minhas” ("O caminho se faz caminhando - conversas sobre educação e mudança social", Paulo Freire e Myles Horton: p. 219).

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quinta-feira, 22 de junho de 2023

Livres, rebeldes e dóceis.

Desejo e frustração dos libertários.

Por que o rebelde de hoje transforma-se no dócil de amanhã?

Existem meios eficazes de nos opormos a invasão de nossas vidas pelo poder? De resistirmos a esta integração numa cidade onde obedecemos cega e, sobretudo, inconscientemente?

No Estado, a segurança precede a liberdade...

Ainda é forte a crença de que o funcionamento econômico só pode ser um fator de regulação e estabilização da sociedade – economicismo. Porém, na verdade, a liberdade econômica vem se tornando um fator profundamente perturbador do social, e por isso corre o risco de suscitar, enquanto reação, um poder que se encarregará de corrigir sistematicamente os desequilíbrios por ela produzidos. Assim, é o próprio jogo da liberdade econômica que acaba tornando cada vez mais profundamente necessária a intervenção do Estado. E isso em nome do interesse público.  

Não são “unicamente as classes inferiores” que aspiram ao controle do “aparelho político”, mas também “o próprio Estado”, que, à medida que a atividade econômica se torna um fator mais importante da vida geral, é levado pela força das coisas a cada vez mais vigiar e regular as suas manifestações. À medida que o papel do econômico se torna mais invasor, e mais complexo o seu funcionamento, a tarefa do Estado passa a ser cada vez menos proteger a liberdade de alguns, e cada vez mais garantir a segurança do maior número. Por quê? Por generosidade? Por amor aos pobres? É óbvio que não: por simples instinto de conservação. 

O que dizer, então, dos países nos quais uma parte da população não tem garantido sequer o mínimo vital? Neles, o único problema que se coloca é saber se a gestão capitalista será capaz de atender às exigências mínimas de uma “democracia social”, ou se deverá ceder lugar ao marxismo-leninismo. Num caso como no outro, a estatização – relativa ou absoluta – aparece como um destino inevitável.

O crescente controle do Estado sobre as atividades individuais (o que não quer absolutamente dizer: totalitarismo) é um fenômeno que parece ser irreversível. Por outro lado, a ilusão na qual assenta o liberalismo (o liberalismo parte de uma análise sumária e fraudulenta do problema político), pretende reduzi-lo ao resultado de uma partida: “Indivíduo vs. Estado”. E, o que é este “indivíduo”? De onde provém este átomo social zeloso por seus direitos? Ele já não foi fabricado, sorrateiramente, pelo poder?

Vivemos na corda bamba, entre a liberdade e a segurança. Essa ideia de que a aspiração fundamental do animal humano é a liberdade pura é uma tolice do liberalismo que devemos tirar da cabeça. No fundo, o que desejamos é segurança – a razão de ser do Estado. “Posso tudo” (isso é liberdade), mas “nem tudo a mim é permitido” (isso é segurança).

A liberdade é apenas uma necessidade secundária, frente à necessidade primária de segurança. Ou seja, a segurança precede a liberdade. A primazia desta necessidade de segurança foi evidenciada pelas grandes crises históricas que abalaram os séculos. Vejam a sede de “direitos” que prevaleceu sobre os voos transloucados do liberalismo clássico, fundado na livre disposição da propriedade. Ou ninguém deseja o  direito ao pleno emprego, direito a um salário constante, direito de os produtores venderem quantidades estáveis a um preço estável, direito a uma aposentadoria decente, etc. Entre estes “novos direitos humanos”, que nenhum Estado responsável pode ignorar, e as liberdades dos liberais, é preciso escolher.

Percebe a incompatibilidade? Ninguém pode ser favorável à Previdência Social e ao salário-desemprego, e ao mesmo tempo continuar professando um ideal minimalista do Estado. É incoerente considerar legítimo o “protetorado social” – e ao mesmo tempo erguer-se contra o Estado-Moloch (deus para quem sacrifico minha liberdade e vontade). Em suma, se vocês aceitam o que torna fatal a estatização, então deixem de bancar as belas almas, pôrra!

Onde ficariam nossa liberdade, nossa vontade e nossa autodeterminação, por exemplo, quando a maioria considera que o governo age mal, mas todos pensam que o governo deve agir sem parar e pôr a mão em tudo? E quando são os próprios governados, o mais das vezes, que forçam o Estado a colocar-se como instância tutelar e “providencial” (um pai/poder onipotente e onisciente)? E quando se evoca direitos extraordinários (incompreensíveis ao sistema jurídico clássico), como o “direito” à vida, à felicidade, ao corpo, à saúde, à satisfação das necessidades... Mas o que a história nos ensina é que estes direitos só podem ser satisfeitos à custa de um crescimento do poder estatal.

É verdade que a expressão “mundo livre” sem dúvida tem um sentido quando a opomos a “mundo totalitário”. Mas não nos enganemos: até mesmo nos países ditos “livres”, do Ocidente capitalista, a “liberdade” declina – tanto como realidade jurídica quanto como ideal político.

Enfim, enquanto a melhor forma de barrar o liberalismo é ameaçando a segurança do Estado, o melhor meio de neutralizar os revolucionários não é prendê-los, mas transformá-los em funcionários. Assistimos ao advento de um “novo despotismo, menos tirânico que administrativo”. O Estado tem suas manhas, para uns e para outros.

“Após ter assim tomado em suas mãos poderosas cada indivíduo e após ter-lhes dado a forma que bem quis, o soberano estende os braços sobre toda a sociedade; cobre-lhe a superfície com uma rede de pequenas regras complicadas, minuciosas e uniformes, através das quais os espíritos mais originais e as almas mais vigorosas não conseguiriam aparecer para sobressair na massa; não dobra as vontades, amolece-as, inclina-as e as dirige; raramente força a agir, mas opõe-se freqüentemente à ação; não destrói, impede o nascimento; não tiraniza, atrapalha, comprime, enerva, arrefece, embota, reduz, enfim, cada nação a nada mais ser que uma manada de animais tímidos e industriosos, cujo pastor é o governo

( Alexis de Tocqueville, na conclusão de sua obra-prima A Democracia na América (1835-1840)).

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