Bateu, surrou, espancou, até que a vida lhe conseguiu tirar a inocência, isto é, a infância!
O menino Zezé, filho de uma família muito pobre, cria um mundo de fantasia para se refugiar de uma realidade exterior áspera. Assim é que um pé de laranja-lima se torna seu confidente, a quem conta suas travessuras e dissabores. No hostil mundo adulto ele encontra amparo e afeto em algumas pessoas, sobretudo em Manuel Valadares, o Portuga, uma figura substituta do pai. A vida, porém, lhe ensina tudo cedo demais. Enfim, é um livro para rir e chorar com as dores e as delícias da inocência arrancada de uma criança, “precocidades” de alguém que um dia fomos – curiosa e traquina, ingênua e inteligente ao mesmo tempo, movida pelo enorme desejo de aprender com as precariedades da família, do mundo da rua e da vida. “Esse passarinho cantante no nosso interior que vai indo embora quando vai chegando a ‘idade da razão’, um ‘pensamento’ que cresce e toma conta de toda a nossa cabeça e nosso coração. Vive em nossos olhos e em tudo que é pedaço da vida da gente”. Enfim, do mundo de fantasisas de uma criança para o vazio do desinteresse dos adultos (graças à consciência sobre a morte?). Sem encanto, o pé de Laranja-Lima vira uma árvore qualquer. Era difícil recomeçar tudo sem acreditar nas coisas. O que mata a fantasia de uma criança é a consciência da morte. Eu perdi, roubaram, levaram, eu dei... Tudo isso é diferente do entendimento de que “a vida me tirou”. Porque a vida sem ternura não é lá grande coisa.
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