·
Brincar
é coisa de bebê, seu filho precisa estudar: troque a brincadeira criativa com
bonecos, massinha e desenho por aulas particulares. Vale reforço escolar,
línguas, culinária, coaching;
·
Ocupe
a agenda com treinamentos para que ele possa ser um excelente executivo no
futuro. Afinal, ele vai viver num mundo altamente competitivo;
·
Nada
de brincar livremente com outras crianças: melhor ter um adulto comandando a
atividade;
·
Dê
um celular aos 8 anos e deixe que ele escolha o que vai fazer. Não se preocupe
com o tempo de uso nem com o conteúdo, assim ele se torna rapidamente um
viciado;
·
Permita
que ele seja exposto ao ódio, à intolerância e ao consumismo que reinam na
Internet. Melhor ainda: ele vai interagir com golpistas, predadores sexuais.
Talvez acabe até sofrendo ou praticando cyberlbullying. Ou, cereja do bolo,
aprendendo sobre sexualidade da forma mais inapropriada possível, com perfis
falsos nas redes e aplicativos;
·
A
publicidade é muito eficiente para acabar com a infantilidade. Ela é
onipresente nas telas, inserida de forma indistinguível com o conteúdo.
Passando horas na TV, vídeos e jogos seu filho será educado por publicitários,
mais que por professores ou pela família. Imagine se você liberar programas de
TV com classificação etária para maiores. O resultado é fácil de prever...
·
Ele
vai aprender os melhores valores e
ideais do mundo adulto: fama fácil, materialismo, narcisismo, sexismo, preconceito,
futilidade, consumismo, hipervalorização da aparência e de marcas. E
claro, sem o discernimento de um adulto para que possa proteger a si mesmo;
·
Escolha
uma escola de turno integral, conteudista e tradicional, e de preferência muito
focada na aprovação no Enem. Coloque-o em atividade de “treinamento” no
contraturno escolar: idiomas, computação... Esqueça teatro, expressão corporal
e música. É importante também que ele tenha muito dever de casa diariamente –
afinal, o ócio é a oficina do diabo;
·
Compre
somente roupas e brinquedos da moda; faça festas em casas de luxo ou em
limusines e salões de cabeleireiro. Ensine sua filha a se maquiar, a ser magra,
afinal de contas ela precisa ser sexy no futuro; mostre ao menino que ele
precisa ser forte, agressivo, dominante e que não pode chorar. Se tiverem
amizades com o sexo oposto, diga que estão “namorando”;
·
Nada
de parque e pracinha, isso é perda de tempo. Se for sair de casa, que seja para
um shopping. Leve nas lojas mais caras, compre roupas com logos de marcas e
faça um lanche num fast food que associa comida lixo aos super-heróis e
personagens infantis. Assim, bem cedo ele terá doenças de adulto também: diabetes,
hipertensão e outras;
· Contrate logo o psicólogo para o resto da vida – ele vai precisar. Começando na adolescência, que vai ser bem difícil e turbulenta. Afinal, o estresse tóxico resultante de todas essas escolhas vai danificar sua saúde física, mental e emocional;
Tem se tornado cada vez mais frequente em nossa sociedade a prática da adultização da infância, ou seja, o extermínio da inocência. A infância é uma fase essencial da vida, determinante para as etapas seguintes, e deveria sem muito bem vivida.
Uma infância saudável e feliz é plena de afeto, simplicidade, natureza, brincadeira livre e movimento, escola boa (que não precisa ser cara), comida natural, convívio com amigos e com a família, estímulos culturais bacanas, histórias. Essa é a melhor maneira de promover uma adolescência e vida adulta mais leves, felizes, produtivas, com bem-estar e cidadania. A gente colhe na vida adulta o que planta na infância. E ela deve ser preservada e cultivada.
Enfim, a infância continua durando os
mesmos 12, e é lá que mora a magia.
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