“O povo gosta de luxo. Quem gosta de miséria é intelectual”
(Joãozinho Trinta).
“A alegria é a prova dos nove” (Oswald de Andrade).
“A criança pode errar na gramática, mas ela nunca erra na poesia” (Manoel de Barros).
E no carnaval é quando estamos autorizados a viver poeticamente...
O Carnaval é uma grande festa da inclusão e da democracia, mas é temporário. Não é só um, mas muitos carnavais no Brasil. As festas permitem às pessoas de todas as classes sociais viverem fantasias grandiosas, deixando sofrimentos e dificuldades de lado, mas por apenas alguns dias.
É como se a desigualdade social fosse suprimida, suspensa, caindo no esquecimento uma realidade muito dura, realizando no imaginário todos os sonhos de interação e alegria – mas, ele vai embora.
As pessoas que reclamam dos carros alegóricos vivem em edifícios e apartamentos. Ao passo que, a pessoa que está ali de calção, muita purpurina e pouco dinheiro é edificada pela multidão. Ela fica poderosa no imaginário, mas é povo que vive em casebre, em rua de lama, no aperto. Pequenas coisas se transformam em grandes alegrias. A roupa é autoproduzida. Uma caixa de catupiry vira adereço. Voltamos à infância criativa, pouco preocupada. Somos todos transportados para outra dimensão mágica que só se encontra no carnaval.
Além de propiciar grande alegria, o carnaval traz o mundo inteiro para cá. Ele pode ser entendido como algum sinal de saúde mental coletiva. Uma alegria muito benéfica, que cura dores e sara feridas. O carnaval inclui todo mundo, mas não vai despolarizar a sociedade porque ele passa, acaba. Pena, porque agora ele faz a sátira da polarização, dos políticos, mas não continua. Quão crítico, pertinente e necessário ele é. Pena que é passageiro!
Há um deslocamento
espaço-temporal, acompanhado do reconhecimento pelos outros. Um milagre
passageiro que só dura no carnaval. O trio é um denominador comum, mas ele
passa como uma escola de samba. Os carnavais não deveriam ser só o dia do esquecimento, mas também a
nossa memória. O problema é que o Brasil não curte museu. O país é desmemoriado.
Enfim, o carnaval é uma trégua quase de paz ao ano de guerra que temos pela frente.
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