Continuo preocupado com a questão da governabilidade...
Lula precisa aglutinar mais de 308 votos na Câmara. Não só:
1. Reduzir e isolar ao máximo essa extrema direita;
2. Alcançar a necessária governabilidade no Congresso;
3. Minar o poder da extrema direita de colocar a sociedade num estado de sublevação permanente (capaz de obstruir estradas ou parar cidades com frequência que emparede o governo).
Já que não tem maioria ainda,
Lula se previne de crime de responsabilidade. Porém, recebe críticas, não seria
se entregar rápido e facilmente demais ao Centrão antes mesmo de iniciar sua
gestão? Vamos lembrar que o Centro é o centro da corrupção. Mas,
a questão é essa: vota-se num presidente de um partido, mas em deputados e
senadores de outros partidos. Então, como não negociar com o Congresso? No
Brasil, o presidencialismo é parlamentarista. 
Essa busca por apoio dentro do Centrão pode render muitas armadilhas. Só suas 3 siglas PP, PL e Republicanos somam 187 deputados eleitos. PL é oposição certa, porém dos 99 deputados mais de 40 podem ajudar se forem agraciados com cargos e emendas. PP quer em troca a reeleição de Lira na Câmara. Os Republicanos, sigla ligada à Igreja Universal, que já deu alguns acenos e 20 dos 47 eleitos não participaram da campanha do Verme no 2º turno (além do mais, Tarcísio está no governo de SP).
Vamos ver o que conseguiremos com as
siglas que ficaram neutras no 2º turno: PSD, MDB e União Brasil (juntos, os três somam 143 deputados na próxima Câmara). Lula sinalizou
na campanha que pretendia acabar com o doce deles, as emendas de relator. Aguardemos
as adesões individuais. Enfim, qual será o tamanho e a
qualidade da nossa oposição? Terá algum grau de consciência para deixar passar
o que for bom para o povo?
Lira e centrão ficam fortalecidos com PEC da transição articulada por equipe de Lula. Lira tem forte influência sobre o ritmo de análise da proposta em troca de sua reeleição na Câmara. O PT não pretende disputar o comando da Casa (marcada para 1º de fevereiro, quando os parlamentares eleitos tomam posse). Daí entrar o jogo de negociações:
1.     Uma proposta que
deve ter o aval do time de Lula é o do autocontrole sanitário — que é de
interesse da bancada ruralista, hoje próxima a Bolsonaro. O projeto está pronto
para ser votado no Senado e autoriza a contratação de empresas privadas para
realizar a fiscalização sanitária da atividade agropecuária, isentando o Estado
dessa responsabilidade e beneficiando grandes produtores que podem arcar com o
aumento nos custos.
2.     Integrantes da
cúpula do PT passaram a rechaçar a ideia de acabar com as emendas de relator no
momento para evitar ruídos desnecessários com o atual presidente da Câmara.
Esse tipo de emenda já foi criticado por Lula, mas é um dos pilares da
influência de Lira sobre os demais parlamentares.
3.    
Integrantes do PT dizem que vão
negociar com Lira e partidos do centrão uma lista de projetos que alinhe
interesses de ambos os lados. Isso significa que, em troca da aprovação
acelerada da PEC, a base política de Lula também deve desobstruir o caminho
para pautas essenciais para o grupo que deu sustentação a Bolsonaro no
Congresso.
4.    
A PEC será o principal desafio
político da equipe de transição de Lula. Se conseguir aprovar o texto até
dezembro (como o partido quer), o governo petista já vai começar sem a
dificuldade financeira —a falta de recursos para projetos foi motivo de
sucessivos desgastes de Bolsonaro.
5. Ao Painel o senador Renan Calheiros (MDB-AL) afirmou que a ideia da PEC é uma "barbeiragem". Segundo ele, não era necessário "se entregar dessa forma" ao centrão. "É uma barbeiragem. O centrão já não cabe no orçamento. É preciso ouvir as pessoas", diz. “O caminho mais adequado neste momento seria fazer uma consulta ao TCU (Tribunal de Contas da União), que poderia embasar e fornecer respaldo para garantir os recursos necessários para o início do próximo governo.”

 
 
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